sábado, 10 de julho de 2010

Seriam os Bonequinhos, as Estrelinhas e Cotações Diretas Dados aos Filmes Algo Ridículo, Um Mal Necessário ou Algo Mais?




O célebre crítico de teatro Yan Michalski, que escreveu durante anos no Jornal do Brasil nos seus áureos tempos, sempre resistiu quando lhe propunham dar signos de valoração aos espetáculos. Acreditava Yan (com certa razão) que esta atitude desestimularia o leitor a meditar sobre os textos que escrevia e tirar suas próprias conclusões. De minha parte considero os signos um mal necessário. Sim: existe o perigo de que Yan nos fala, mas também há grandes vantagens nestes signos. Eles ficam mais facilmente na memória dos leitores do que os textos e os leitores preguiçosos pelo menos terão algum dado crítico sobre os filmes. Mas a maior vantagem desta atitude, creio, está nos quadros com vários signos segundo a mesmas convenções que podem ser construídos, com posicionamentos de diferentes críticos e personalidades do mundo das artes. È algo que pode ser encontrado no site eletrônico Contracampo (http://www.contracampo.com.br/) e que havia no site Cinequanon (http://www.cinequanon.art.br/). Este último parou com as cotações não sei o porquê.

A Folha de São Paulo tem inúmeros críticos de cinema (um tanto excessivos pelo meu gosto) e se furta a apresentar um quadro comparativo de cotações, o que permitiria ao leitor relativizá-las. Por exemplo, o excelente “O Pequeno Nicolau” de Laurent Tirard foi muito mal recebido por André Barcinski. Na ausência de outras críticas, um quadro que relativizasse as diferentes visões poderia ser bastante útil ao leitor e mais justo com o filme. Claro que os espectadores devem sempre desconfiar do que lêem e ( utopicamente) conferir tudo. Mas sabemos que a maioria não tem tempo, dinheiro e gosto para fazer isto. Da forma como foi feita, a Folha prestou um desserviço aos seus leitores que acreditarem na crítica.

Em O Estado de São Paulo temos dois críticos de cinema: Luis Carlos Merten e Luiz Zanin Oricchio há anos. Há um bom contraponto entre os dois, pois nem sempre concordam. Merten é mais receptivo ao cinemão hollywoodiano. Zanin tem mais restrições a este cinema e visão diversa sobre outros filmes. Isto não impede de concordarem muitas vezes. Mas O Estado de São Paulo se ressente também de um quadro onde se possam ter outras cotações diretas (ótimo, bom, etc...) sobre as obras, o que poderia ser feito com manifestação de outros profissionais da área de cultura da casa.

O jornal O Globo há anos tem o clássico bonequinho em diferentes estados de espírito. Às vezes há duas críticas para o mesmo filme, chegando a haver casos em que o bonequinho aplaude de pé e outro vai embora, para um mesmo filme. Mas isto é pouco. Sabemos que provavelmente poderia haver opiniões não tão extremas. Como O Globo tem um número razoável de críticos, seria muito interessante um quadro comparativo de posturas do bonequinho diante de uma obra. O leitor ganharia em dialética e suas escolhas cinematográficas como consumidor seriam mais nuançadas. Teria de decidir se vai ver um filme ou não com mais cautela, com mais risco.

Quando há um bonequinho só em questão, já vi ocorrerem efeitos perversos na recepção dos filmes no circuito de arte do Rio de Janeiro. Filmes dos quais gostei muito fracassaram neste circuito por causa de um bonequinho dormindo ou indo embora. Sabemos que a primeira semana é decisiva para a carreira de um filme e uma cotação negativa pode afastar público sem que haja tempo para que o trabalho do boca a boca reverta esta situação. Um quadro relativizado que polemizasse com estas reações negativas seria de grande utilidade para o leitor que não está disposto a conferir tudo. Nem todo espectador é cinéfilo inveterado. É forçoso reconhecer que bonequinho aplaudindo de pé (o que tem acontecido em excesso) tem feito filmes ganharem uma boa sobrevida nos cinemas do circuitinho, englobando aí as ousadias do Arteplex.

O Jornal do Brasil apresenta um quadro comparativo. O problema é que os filmes são em pequena quantidade e há demora em haver atualizações. Além do mais, muitos colaboradores vêem poucos filmes, o que enfraquece o quadro. Curiosamente o colaborador que mais filmes vê é o crítico musical Tarik de Souza! Assim há algo de muito errado com o quadro que deveria ser corrigido. Quem se dispõe a ter seu nome como avaliador têm de ter a generosidade (e honestidade?) de ir ver o máximo de filmes possíveis.

Eu sou viciado em ler críticas de cinema, seja dos grandes jornais como dos sites eletrônicos. Mas gosto de ver também as cotações dos filmes e procuro confrontar os diferentes signos que muitas obras recebem. Eu também tenho as minhas próprias cotações que gravo mentalmente. Não as anoto para não ter cristalizado uma visão que pode ser mudada mais tarde. Mas como este blog trata de cinema (e outras perplexidades...) e tenho visto muitos filmes que não consigo comentar aqui, vou passar a fazer cotações. Espero que os leitores não me levem a ferro e fogo e confrontem minhas avaliações com o de jornais, sites eletrônicos, blogs e as próprias. A última coisa que gostaria de fazer no mundo é desestimular alguém de ver um filme que lhe poderia trazer muito prazer. Se o espectador for ver um filme bem cotado e não gostar o mal é menor.

Por mais responsável que seja um crítico de cinema e leve a sério seu trabalho, se o que faz não for relativizado (o que pode ser feito com um quadro comparativo, insisto) seu esforço pode ser como o de um baloeiro que lança enormes balões. Balões podem cair no mar, num prédio, numa escola, numa mata, num rio, numa igreja, etc. Enfim, os efeitos podem ser perversos.

O crítico de arte Rodrigo Naves (de quem assisti ótima palestra num dos seminários que Adauto Novaes organizava, o que resultava em alentados livros da Companhia das Letras) lança agora pela mesma Companhia das Letras “O Vento e o Moinho-Ensaios sobre arte moderna e contemporânea”, com reflexões que cobrem trinta anos de atividade. Na revista Bravo! de julho de 2010, numa excelente matéria sobre a pintora mexicana Frida Kahlo, Naves comenta que a pintura dela tem o prestígio que hoje o mundo das artes lhe dá muito mais pelo trágico acidente que ela sofreu quando jovem, com reflexos para a vida toda, do que por seus méritos artísticos. Segundo Naves o trabalho de Frida seria mediano!(sic). Eu que freqüentei vários museus e exposições seja no Rio de Janeiro, Nova York, México, Paris, Barcelona, Madri, no fundo me considero amador (no melhor sentido desta palavra: aquele que ama) em artes plásticas. No entanto deixo declarado aqui que sou apaixonado pelo trabalho de Frida Kahlo. Só um exemplo: o quadro O que a água me deu de 1938 reproduzido numa página inteira da revista é deslumbrante e dá conta do complexo mundo interior da pintora, suas fixações e angústias. Um dos mais belos filmes que vi na vida foi “Frida:Natureza Viva” do mexicano Paul Leduc, que entrelaça vida e obra da artista de forma magistral.Como as esculturas de Camille Claudel, Frida desperta em mim fortes emoções com seus trabalhos.Sua obra pra mim é um monumento.

Claro que Rodrigo Naves tem todo o direito de não se entusiasmar com a obra de Frida. Mas quem acreditar nele neste quesito pode estar perdendo maravilhas da história da arte. Se isto acontece com Naves o mesmo pode estar acontecendo com muitas avaliações de críticos de cinema, ainda que eles sejam responsáveis e sinceros. Pessoas geniais como Frida (ou nem tanto), enquanto cineastas, podem estar sendo alvo de depreciações injustas.

Depois de todas as considerações acima, esperando que o leitor não me leve a ferro e fogo e procure por outros posicionamentos, vão adiante cotações para filmes que vi ultimamente, de acordo com o seguinte critério:

0- péssimo

* ruim

** regular

***bom

**** muito bom

*****obra-prima

(Sou bonzinho. Não adoto bolinha preta para péssimo, mas uma bolinha branca.....)

Agora a cotação para filmes vistos:

Descobrindo o Cinema Filipino- CCBB-RJ

Serbis de Brillante Mendoza *****

Manila de Adolfo Alix Jr. e Raya Matin****

Manila nas Garras de Neon de Lino Brocka ****

Kinatay de Brillante Mendoza ****

Um Pequeno Filme Para o Índio Nacional (Ou a Prolongada Agonia dos Filipinos) de Raya Martin*

Independência de Raya Martin ***

Circuito Exibidor:

Brilho de Uma Paixão de Jane Campion ****

Em Teu Nome de Paulo Nascimento **

O Escritor Fantasma de Roman Polanski ****

A Jovem Rainha Vitória de Jean-Marc Vallée ***

Mademoiselle Chambon de Stéphane Brizé ****

Olhos Azuis de José Joffily ***

Patrick 1,5 de Ella Lemhagen **

O Pequeno Nicolau de Laurent Tirard *****

O Profeta de Jacques Audiard ***

O Que Resta do Tempo de Elia Suleiman ***

O Segredo dos Seus Olhos de Juan José Campanella ****

Toy Story 3 de Lee Unkrich ****

Tudo Pode Dar Certo de Woody Allen ****

Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz *****

Vittorio de Sica- Minha Vida,Meus Amores ****

E vocês, qual a cotação segundo meu critério que dão aos filmes vistos? Não se intimem. Manifestem-se.

http://i.indiewire.com/images/uploads/i/20090128serbis.jpg

http://i2.r7.com/data/files/2C92/94A3/2583/B17E/0125/8826/94AF/5591/viajo-porque-preciso-mp-20091213.jpg

http://www.saladacultural.com.br/imagens/upConteudo/o-pequeno-nicolas/cartazes/hi/SaladaCultural.com.br-o-pequeno-nicolas-cartaz.jpg

Nelson Rodrigues de Souza

3 comentários:

  1. Achei que sua volta merece*****,ou seja, está maravilhosa.
    Obserservo que você nesta volta ao Blog se expressa de uma forma muito mais clara,aberta,intensa, enfim linda!
    Continue porque seu talento é inegável.
    Ana Vargas

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  2. Muito bem argumentado, Nelson, tanto pela utilidade das cotações (se me perguntassem antes, ficaria dividido; agora, tendo a abraçar seu ponto de vista) quanto pelo desejo de que sejam várias (concordo enfaticamente; opiniões, quanto mais melhor).

    Sobre as cotações, assinalo os filmes que cotaria diferentemente:

    O Woody Allen merece o quinto *, e talvez Mlle Chambon e O Segredo dos seus olhos também.

    Por outro lado, Viajo... é bom, mas nem tanto; seria *** para mim. O que resta do tempo eu reduziria para **, e Patrick 1.5 para *, no máximo.

    Não vi Em teu nome, nem nenhum dos filipinos. Sobre os demais, concordo com suas cotações (mas sabe-se lá se pelos mesmo motivos...)

    Claudio Faria

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