quinta-feira, 11 de junho de 2009

As Idiossincrasias Refinadas e Estilizadas de Cada Um





Vi três filme esta semana: "A Mulher Invisível" de Cláudio Torres, "Caramelo" de Nadine Labaki, "Um Homem de Moral" de Ricardo Dias. Adivinhem o filme que mais gostei: "A Mulher Invisível” claro! Não posso ser preconceituoso e ter hipocrisias ( ainda mais com a minha condição de homossexual em que já sofri muito por estes mesmos motivos encalacrados em outros). Claro que nem sempre consigo: atingir esta meta integralmente é tarefa para santos que não sou.

Não posso negar, no entanto, que ri muito com a comédia de Cláudio Torres. O filme foi tido como veiculando valores machistas. Está aqui havendo outra confusão entre personagens e autor. Cláudio Torres não avaliza as idéias de seus personagens. Ele simplesmente os mostra. São inúmeras as situações hilárias e Selton Mello (Pedro) constrói em sua vasta galeria mais um grande personagem, com sua fragilidade enternecedora. Abandonado pela mulher passa a ter visões de uma mulher ideal, aquela que perdoa suas traições, fica com uma camiseta de futebol assistindo jogos de terceira divisão, arruma toda a bagunça da casa, etc. Luana Piovani (Amanda) está ótima na captação desta mulher de fantasia,com sensualidade arrebatadora e ótimo senso de comédia. Selton, brilhante na composição do ex-marido solitário, injeta grandes doses de humanidade em seu personagem machista. O amigo vivido por Wladimir Brichta ( Carlos) também se apaixona por Maria Manoella ( Vitória), viúva de um policial, que está vidrada no vizinho Pedro, o que vai provocar várias confusões. Ao mesmo tempo em que procura ajudar o amigo que percebe estar sendo vítima de uma alucinação tem de lidar com o fato de sua amada Vitória estar mesmo bem interessada é no amigo Pedro. E as confusões estão criadas com situações irresistivelmente cômicas, com toques de romantismo.

Cláudio Torres já havia acertado bastante com o surpreendente e barroco carrossel de emoções e mesquinharias que foi “Redentor”, um filme operístico (com excelentes efeitos especiais), como há muito não se via no cinema brasileiro desde os tempos de Glauber, numa fábula irresistível sobre ambições desmedidas e trapaças mútuas.

Agora num tom mais leve e eficiente tem tido enorme bilheteria como o amável e inteligente “O Divã” de José Alvarenga, adaptação de um original de Martha Medeiros que já havia feito muito sucesso no teatro com uma aliciante e comovente Lilia Cabral que exita entre vários homens que surgem em sua vida. São filmes que não revolucionam a linguagem cinematográfica e num tom bastante popular piscam para o público e obtêm sucesso, uma das maneiras válidas de se fazer cinema no Brasil.Taxar estes filmes tão dinâmicos e perspicazes de televisão filmada revela muito mais preguiça mental de quem quer analisar estas obras apressadamente do que de fato os fenômenos que estão ocorrendo.

“Caramelo” de Nadime Labaki tem ótima cor local ao focar suas histórias paralelas de mulheres vinculadas a um salão de cabeleireiro, numa paisagem rara: Beirute no Líbano. São nos mostrado o preconceito contra uma mulher que tem um amante casado, uma que manifesta desejos lésbicos, uma que tem que esconder a perda de virgindade para poder se casar, etc. O problema com o filme é que num exagero de elipses muito bem fotografadas, o filme aborda superficialmente todas estas histórias e nos faz pensar que se o filme não se passasse no Líbano cairia na irrelevância.

“Um Homem de Moral” de Ricardo Dias é um bom filme que faz um ótimo apanhado do processo criativo do compositor e biólogo Paulo Vanzolini, autor de clássicos como “Ronda”, “Volta por Cima”, Na Boca da Noite”. Vários intérpretes surgem para dar voz a canções de Vanzolini formando um ótimo mosaico de sua obra, telas divididas. O problema com o filme é que Ricardo Dias já havia feito dois filmes com Paulo Vanzolini, enfocando sua carreira de biólogo, algo que não temos obrigação de saber e “Um Homem de Moral” se ressente de mais informações sobre a personalidade cativante e bastante comunicativa de Vanzolini., um ser que emprega todas as partes de seu cérebro com chama interior muito forte, com memória prodigiosa., podendo fazer tanto impecáveis trabalhos na área biológica ( como análises de impacto ambientais em obras), como também passar meses para descobrir a palavra certa para uma música. Faltou mais elementos para conhecermos melhor este homem polivalente, o que deve estar em parte nos outros filmes, mas que não temos nenhuma obrigação de os termos visto.

Inácio Araújo arrasa com “A Mulher Invisível” em seu blog. Uma injustiça tão forte como a que faz com Bertolucci em sua sessão de filmes para televisão na Folha de São Paulo, onde considera sua obra de modo geral apresentando mais estilismo do que estilo.

07/06/2009

Blogo do Inácio Araújo -Cinema de Boca em Boca

Não dá pra encarar a "Mulher Invisível"

Do título “Mulher Invisível” o que conta é o segundo termo. Com bastante esforço cheguei a uns 40 minutos de filme e me mandei, pensando na frase antológica do Jairo Ferreira: já perdi o meu dinheiro, não vou perder meu tempo. Com 5 minutos já havia uns 30 lugares comuns em circulação.

Depois entra a Luana Piovani. Aí serviu para lembrar um velho anúncio de lâmina de barbear. Entrava uma loira platinada tipo “sedutora de terceiro grau” (ou primeiro, não lembro), como dizia Anna Karina em “Alphaville” e dizia: “Eu sou a platina de Platinum Plus. Experimente minha suavidade. E depois deixe-me se for capaz.”

Bem, o filme parece acreditar que essa história de “sedutora de terceiro grau” era a sério, que o mundo é assim mesmo, um clichê. Ou acredita que Luana Piovani é isso. Ela é dada como pessoa de mau humor. Vendo o filme eu acho que compreendo.

Parece que a gente está vendo um anúncio de sabonete, só que não dura 30 segundos. Não acaba nunca.

Não vi um plano sequer inspirado. Não tem ritmo. O roteiro é escolar. Na maior parte do tempo parece que a câmera está na distância errada.

Tudo isso aceita-se. O que me embrulha o estômago é que esses filmes argentários parecem feitos como uma fórmula para ganhar dinheiro. Não há nenhum sinal de que, antes de tudo, alguém pense: eu gostaria de elevar, por pouco que seja, os espectadores deste filme. Ao contrário: parece que a intenção é rebaixá-los, desconsiderá-los. Como se dissessem: o que importa é botar as pessoas na sala, não vale a pena fazer nada melhor.

Isso é triste de ver no cinema brasileiro, porque é pior que a TV.

Na TV, com toda a limitação de um veículo de massa, pelo menos na Globo, pelo menos na Globo do tempo em que não havia concorrência, parecia haver a preocupação de dar o melhor possível para as pessoas. Então, não dá nem para dizer “isso é televisão”. Melhor dizer: isso não é nem televisão.

A Conspiração se supera.

TELEVISÃO

Crítica

"Assédio" é filme de rara sensualidade

INÁCIO ARAUJO

CRÍTICO DA FOLHA- 10 de junho de 2009

Durante quase toda a vida, Bernardo Bertolucci nos deu mais estilismo do que estilo, é mais ou menos o que diz Jonathan Rosenbaum, o grande crítico americano. Fiquei feliz de descobrir essa afinidade: também não sou fã do italiano e também fiquei fascinado com "Assédio" (TC Cult, 1h55, classificação: não indicado para menores de 12 anos).

Este filme de 1998 de certa forma se constitui num aberto desafio à moda não-me-toques que os EUA andaram exportando. Aqui, há um músico (ou pintor?) inglês que, na Itália, assedia descaradamente uma jovem africana e negra. Existem entre eles todas as distâncias do mundo, se se quiser.

Mas existe a proximidade do desejo, do homem, primeiramente, existe, portanto, o assédio, a vontade de vencer resistências. Existe, com isso, um filme de sensualidade rara (dez vezes mais que "O Último Tango em Paris", por favor!) a que as ruas e cores de Roma servem como baliza.

Rosenbaum chama o filme de obra-prima. Talvez seja.

Prefiro os milhões de brasileiros que vão ao cinema assistir a um filme despretensioso e cativante como “A Mulher Invisível” do que pensar na idéia de que jovens influenciados por Inácio Araújo passem a levar a sério demais sua visão de Bertolucci e evitem este autor tão essencial, que nos deu tantas obras-primas com “O Último Imperador”, “O Último Tango em Paris”, “1900”, “O Céu Que Nos Proteje, “O Conformista”, “La Luna”, dentre outros.

Cid Nader no site Cinequanon tem uma visão positiva de “A Mulher Invisível” com a qual concordo em linhas gerais. Como fã de Selton Melho em vários trabalhos, desde “Lavoura Arcáica” passando por “O Cheiro do Ralo” e “Meu Nome Não é Johnny”( não gosto mesmo é dos atores em “Os Desafinados”, incluindo Selton”).etc, não concordo que ele só agora dá um show. Mas em linhas gerais gosto bastante da crítica. e assino embaixo em muitos aspectos, descontado também o fato de que não faço generalizações sobre a produção múltipla da Conspiração Filmes, que já nos deu uma obra prima como “Casa de Areia” de Andrucha Waddington e um filme bastante amável e cativante como “Eu, Tu, Eles” do mesmo Andrucha.

A MULHER INVISÍVEL:

Fonte: [+] [-]

Original: Idem

País: Brasil

Direção: Cláudio Torres

Elenco: Selton Mello, Luana Piovani, Maria Manoella, Vladimir Brichta, Fernanda Torres, Paulo Betti, Lúcio Mauro

Duração: 105 min.

Estréia: 05/06/2009

Ano: 2009

"A Mulher Invisível" – desta vez, Selton Mello bem aproveitado e dando show

Autor: Cid Nader –Cinequanon

Tenho uma certa precaução quando sei que vou cruzar com filme originado nas sinuosidades da “Conspiração Filmes” - apesar de achar bem interessante o “Redentor” (2004), dirigido pelo mesmo Cláudio Torres que dirige esse A Mulher Invisível -: não gosto dos discursos saídos lá de dentro, que sempre e sempre “arrotam” arrogância e superioridade imaginativa, nunca e nunca se concretizam na prática na tela, não vemos como obra concluída. Fiquei muito mais precavido ainda quando percebi a associação da produção à “Globo Filmes”: tenho dito em várias ocasiões o quanto desgosto da ingerência estrutural nos filmes da produtora platinada, que procura distanciar os seus produtos cinematográficos das linguagens mais apropriadas ao veículo, direcionando-os ao caminho bem mais simplificado e “malandramente” fáceis que o veículo televisão exige e entrega – como que querendo crer numa burrice imaginada do público, e na não possibilidade de agradar com as possibilidades que o cinema criou e imaginou.

Continuando nos quesitos desconfianças ante o produto, aqui no site, internamente, aconteceu uma discussão bastante ampla, e que se amplificou a mil discussões paralelas, surgida sobre um questionamento que indicava (supunha) uma acomodação de nossa cinematografia recente (aquela que tem angariado as maiores bilheterias) ante a possibilidade de se faturar com produções que representariam a classe média carioca, vista com superficialidade e propícia a servir de mote para arrancar risos fáceis. Questionou-se a origem de nosso melhor cinema (quase sempre brotada dos nossos cafundós abandonados: mas nem sempre, e isso é importante saber) e os caminhos que tais produções estariam indicando como os “únicos” a serem percorridos por quem ainda imagine faturar financeiramente com a arte aqui no Brasil. Pois bem, A Mulher Invisível se insinuava com um produto típico dessa linhagem – e até se revelou como tal mesmo.

Ressabiado por ressabiado: a presença de Luana Piovani (aqui como Amanda) e sua sexualidade estonteante como possível gancho gratuito, ou os maneirismos repetidos de Selton Mello (Pedro, um controlador de tráfego abandonado pela mulher) no seu modo de atuação. Sim, eles também me fizeram tentar “antever” um desastre que parecia inevitável, muito por conta de suas muitas gêneses contaminadas.

Pois bem, filme visto e um monte das desconfianças jogadas no lixo. Mesmo já sabendo de ante-mão – por conversas com quem viu, por reações de listas de discussões – que uma saraivada de “maus” tiros receberá o filme, vou me colocar na posição de quem o recomendaria para quem está com vontade de dar boas e sinceras risadas. Vale lembrar que entre os “mitos” caídos, se salva, e bem, a utilização de Luana como o símbolo sexual desejado e desejável – dentro do que se poderia esperar dela, e com a esperteza do diretor sabendo que seu forte mesmo está na sua imagem e numa composição “ingênua” entre corpo e sorriso rasgado. Vale lembrar que, entre o que não era mito, se sai extremante bem a atriz Maria Manoella – vinda de trabalhos mais “dramáticos”, digamos assim -, com seu jeito mais cool, introspectivo, e que dentro de uma “trama galhofa” é responsável pelo contra-peso entre comicidade pura e ingenuidade romântica (sim, o filme é também um produto similar aos produtos românticos de estirpe hollywoodiana – no melhor dos sentidos), sonho/desejo e realidade.

Entre mitos desmantelados e certezas concretizadas, o que, realmente, acaba se caracterizando como o grande trunfo do filme, a grande sacada, o resultado inquestionável, é a atuação “repetida” de trejeitos e sorrisos irônicos (um tanto sarcásticos) do Selton Mello. Se Cláudio Torres pensou no filme como obra que exigia a presença de Luana, Selton é o grande responsável pelo ritmo obtido – dentro do campo das atuações, que acaba avalizando toda a dinâmica narrativa. Ele domina o ambiente e a tela. Há segurança nos seus atos – diria que há muito da repetição do que ele tem feito ultimamente -, e o fato de se perceber “ele” de sempre no filme, resulta numa desmistificação sobre cacoetes e macetes. Se ele é ator que sabe interpretar com alguns mecanismos que se repetem, cabe ao papel escolhido e à sagacidade do diretor saber aproveitá-lo dentro “desses conformes”. Aqui, a química deu uma baita liga e o filme se beneficia bastante disso. Mesmo percebendo-se a similaridade com comédias românticas americanas, mesmo se capturando algo de denso numa camada inconsciente que pode levar ao desejo incontrolado com reações complexas (quando ele se recolhe e enclausura no apartamento), o principal mesmo está na atuação de um ator que resolveu dar showzinho..

Vá ver os três filmes sem preconceitos por sua conta e risco e comente aqui sua visão sobre estas questões emaranhadas tão contraditórias.

http://www.adorocinema.com/filmes/mulher-invisivel/mulher-invisivel-poster01.jpg

http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/foto/0,,20794677-FMM,00.jpg

http://www.pedacodavila.com.br/imagens/fotos/foto720-1.jpg

http://www.cinefrance.com.br/_images/filmes/caramel_f01cor_2007110526.jpg

Nelson Rodrigues de Souza

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