quarta-feira, 6 de março de 2013

O Cinema ao Meu Redor




"O passado é o que você lembra, imagina que se lembra, se convence que se lembra ou finge que se lembra"
Harold Pinter

O Cinema ao Meu Redor

 Caverna dos Sonhos Esquecidos  de Werner Herzog

Werner Herzog teve acesso. com câmera especial  3D para filmar o interior da Caverna Chauveu no sul da França descoberta em 1994. A caverna tem cerca de 400 desenhos e pinturas pré-históricas, datadas de 30 mil anos atrás. O acesso só é permitido a cientistas que passam por uma estreita passarela para observações, análises e teorias . As pinturas espantosamente remetem a  trabalhos contemporâneos , principalmente cavalos com patas a mais que insinuam movimentos cinéticos. O acesso restrito se deve ao fato de poder danificar pintura até mesmo com a respiração, o que aconteceu com raridades de uma caverna próxima.
Werzog filma tudo que pode com maestria e é o narrador e que  colhe depoimentos. O filme se ressente,  entretanto. por restringir as entrevistas a cientistas que tendem a fazer observações uniformes .A grande descoberta nos provoca indagações metafísicas e depoimentos de místicos e professores de História da arte enriqueceriam mais o filme que é muito bom mas não tem a estatura de vária obra primas do diretor. De qualquer modo é um trabalho autoral  pois o diretor continua com sua fascinante obseção em nos mostrar paisagens e  personagens que não conhecíamos, que não supúnhamos existir. O apogeu desta tendência, ao meu ver é o magistral “O Enigma de Gaspar Hauser”. Mas em resumo “ Caverna dos Sonhos Esquecidos” é uma iguaria cinematográfica que não se pode perder. Temos a possibilidade de fazermos uma grande viagem no tempo da espécie humana por muitos anos atrás e constarmos como a arte é fundamental. 

O Som ao Redor de Kleber Mendonça

O trabalho de Kleber é mais uma bela e grande constatação de que vivemos sob a égide de O Leopardo de Visconti  baseado em Lampedusa: “É preciso mudar para que tudo continue como está” . No início do vemos imagens fixas em  preto e branco de um casarão do interior e de gente paupérrima. Corte e estamos num playground de um prédio  onde crianças brincam de pedalar uma bicicleta . A maioria dos prédios da rua pertencem a Francisco ( W.J.Solha) e como são rodeados por favelas há muitas grades de segurança. Francisco mora numa casa. Milicianos aparecem quase impondo um suspeito trabalho de segurança. O chefe é vivido por Irandhir Santos em mais um desempenho arrebatador e camaleônico.
“O Som ao Redor” nos apresenta vários personagens em diferentes situações mas não é um filme coral  trivial e clichê . Um delicado quebra-cabeças  vai  se montando ao poucos. Uma mulher obcecada,,Bia (Maeve Jinkings)|  por eletrodomésticos e aparelhos como uma televisão não dorme direito  devido a um cachorro que vive latindo. Ela lhe atira um bife com soníferos e resolve o problema por um tempo. Na carência de transas com o marido ela parte para uma insólita masturbação com uma máquina de lavar, confirmando sua obseção . Também costuma fumar maconha para  aliviar as tensões. Seus dois filhos para um “grande  futuro” estudam tanto inglês como chinês . Um dos netos de Francisco, João( Gustvo John),  que viveu na Alemanha trabalhando da noite para o dia por sete anos agora é corretor de imóveis do avô, mas  primo seu mais novo , com ranços autoritários de quem será herdeiro deste latifúndio urbano e vertical  chega a a arrombar o carro da namorada João, deixando patente depois que faz outros roubos ,mas Francisco adverte os milicianos que não se metam com seu neto pois ele já está dando muito trabalho  ao pai . Francisco , “senhor de engenho da cidade grande” é dono da maioria dos prédios da região mas é o único que mora numa casa e com  sua  arrogância vai  tomar banho noturno no mar, numa  área em que está  bem visível uma placa que adverte que pode haver tubarões ali. Esta atitude já é mais um marco de sua prepotência..
Bia tem um aparelho importado que queima por descuido da empregada que não usou transformador para alterar a voltagem e  esta leva o maior esporro  mesmo que ela proponha  um  desconto em seu salário pelo seu erro. Uma mulher ao celular é mal-educada com um empregado e como vingança ele risca o carro dela.
Numa das sequências mais   significas da  mentalidade de classe média emergente tem-se uma reunião de condôminos de um dos prédios há o julgamento do destino de um porteiro que tem dormindo a noite e isto é comprovado por filmagens de um adolescente com os recursos dihaispsços digitais em voga. Há quem queira demitir o porteiro por justa causa sem pagar-lhe nada  pelos serviços prestados s durante anos. Uma mulher em mais um movimento de humor crítico do filme reclama indignada  que sua Veja tem vindo sem plástico.
Um das sequências mais significativas do filme  dá quando o neto e sua namorada vão ao casarão e tomam em conjunto um banho de cachoeira felizes e de repente a água fica avermelhada remetendo  a sangue caindo.
“O Som ao Redor” é um filmaço,  magnificamente dirigido com planos  próximos e distantes. movimetos de câmera de forma a pensarmos que não há outra forma de filmá-los . Claro que há. Tudo depende da sensibilidade do  autor para a  história  que deseja   contar e do clima que deseja criar.  Mas outras sensibilidades teriam outras opções. Mas a impressão que Kleber nos passa é o que indica seu talento como diretor.
Numa sequencia a filha de Bia vê vários meninos subindo uma árvore Alucinação ou realidade? Noutra em que o miliciano chefe transa num quarto de um apartamento vazio, vê-se um vulto passar bem rápido pela porta. Projeção do medo de serem pegos em flagrante num apartamento que não é deles?
Ao final temos o momento mais impactante do filme, fechando o quebra –cabeças até então. Mas mesmo assim temos um forte final em aberto.
“O Som ao Redor” está mesmo à altura dos elogios e prêmios recebidos tanto no Brasil como no exterior, sendo um retrato de um momento histórico com estética completamente diferente de “Terra em Transe”  (não tem nada de barroco),  mas trás um desencanto com  a sociedade brasileira que a rigor  não muda e como disse Cacá Diegues o filme de Glauber  Rocha  está sempre em cartaz. Será que com  “O Som ao Redor”acontecerá  o mesmo conforme vaticinei no início do texto? O filme aponta para o fato da ideia oficial de espetáculo do crescimento ser uma falácia. Vendo os Franciscos que ainda dominam e ditam a política brasileira num país no fundo neo- escavocrata, não há como não ter esta expectativa. Em “Noites do Norte” Caetano Veloso espantosamente põe música num texto de Joaquim Nabuco que ecoa até hoje: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. Vale a pena conhecer o texto todo: http://letras.mus.br/caetano-veloso/568970/

Bárbara de Christian Petzod

Bárbara (Nina Hoss) de Christian Petzod tem problemas parecidos com “Morrer como Homem” de João Pedro Rodrigues , por mais diferentes em termos de estilo e temática. Ambos diretores/roteiristas sabem muito bem aonde querem chegar e constroem finais belíssimos para seus filmes . Não conto como são para o espectador usufruí-los. O problema surge quando assistimos a tudo que antecede estes finais. Ambos, me valendo de uma expressão popular me pareceram “enchendo linguiça”. 
Em “Barbara” temos a história de uma médica que na guerra fria queria ardentemente fugir da Alemanha Orienta,  sendo os dissidentes bastante vigiados pela Stasi conforme vimos no extraordinário “A Vida dos outros”. Há campos de trabalhos forçados e é para onde vai uma jovem que odeia viver no país tendo tido sucessivos internamentos. A única pessoa que a entende bem e tem muita paciência com ela é Bárbara que está ali naquele hospital de província como castigo por ter tentado fugir desta Alemanha super-autoritária e controladora. 
Barbara fica muito amiga de um médico que está ali por ter sido responsável por um acidente numa incubadora, morrendo dois bebes. Isto porque uma assistente confundiu graus Celsius com Fahrenheit. Ambos se solidarizam e criam forte amizade tendendo a paixão.
Bárbara é profissionalíssima a e não é fria , não perde a dimensão humana com seus pacientes. Uma médica assim é indispensável naquele hospital. Daí surge o conflito: no fundo quer abandonar o país sendo bastante vigiada pela polícia política, mas também tem consciência da falta que faria se deixasse o hospital. Até aqui uma ótima intriga, um ótimo conflito ético pessoal.  O problema vem quando o filme para mostrar o caráter forte de Bárbara, sua noção de ética, nos oferece uma overdose de cenas médicas que soam no conjunto um tanto desagradáveis.
Mas como vivemos num mundo em que noções de ética pessoal e profissional tem ido para o espaço, um filme como “Bárbara” torna-se indispensável.

Segredos da Tribo de José Padilha

Com “Segredos da Tribo”, sendo tribo antropólogos queimando na fogueira das vaidades, José Padilha conforma ser o mais importante cineasta brasileiro contemporâneo . Não existe filme dele que não seja superlativo, de “Ônibus 174” (um dos mais contundentes documentários feitos no país), passando pelos essenciais “Tropa de Elite”, Tropa de Elite 2” ( é sintomático que parte da crítica  tenha ignorado, desdenhado do Urso de Ouro que “Tropa de Elite” ganhou tendo como presidente do júri Costa Gravas, um dos papas do Cinema Político que escolhe temas contundentes mas não esquece da linguagem  cinematográfica, dotando seus filmes de fortes pulsões de interesse. Padilha fez ainda “Garapa”, um filme de doer os ossos mas alguém precisa mostrar que para combater a miséria precisa-se ir além de um bolsa família.
“Segredos da tribo” se estrutura em depoimentos de ianomanis que confirmam denúncias  feitas  e no campo acadêmico, principalmente na grande animosidade que existe entre Napoleon Chagnan  e Keneth Good. Existem outros depoimentos,  mas os destes são mais contundentes. Chagnan com vários livros publicados e estudados em cursos de antropologia cai em desgraça quando o acusam de ter cometido um genocídio com experiências  de vacinação contra sarampo. Seus livros passam a ser proscritos e ele com humor lembra que Galileu Galilei levou 400 anos para ser reabilitado pela Igreja Católica. Ele não pode esperar tanto tempo assim. Mesmo com todo este histórico Chagnan é homenageado na Associação de Antroplogia  Americana, onde se vê livros de antropologias dos mais variados. Neste momento Padilha permite ao filme uma trilha sonora bem humorada, numa ironia cortante.
Kenetth Good é acusado de pedofilia junto a uma menina ianomani.  Sua justificativa é que viveu bom tempo com os índios e isto era um costume deles e ele teria direito ao mesmo. Não via então sua atitude como pedófila. Chega a trazer com ele a menina para a “civilização”.
Há ainda Lizet que não quis dar depoimentos ao filme que é acusado de induzir índios a práticas homoeróticas.  Sobra até para Claude Lévi-Strauss,  tido como o melhor antropólogo do Século XX pois ele teria acobertado “mal-feitos” de um assistente.
Aqui não se trata de dizer que antropólogos não são santos. Nenhum profissional é. O que acontece com os antropólogos no filme é gravíssimo. Compromete muito o exercício da profissão no século passado.  Chagnan tem até suas estatísticas contestadas,  mas isto não poderia mais ser provado pois o tempo foi outro, a população já é outra.
Algo que se discute muito no filme é o porquê dos ianomanis entrarem em guerra. Uns tem a tese de que havia a busca por mulheres para aumentar o poder na tribo. Outros que havia carência de elementos para alimentação como carne. Enfim polêmicas não faltam .  Parece que estamos no reino de “Assim é se lhe parece” de Luigi Pirandello ou de “Rashomon” de Akira Kurosawa, onde diferentres  personagens tem versões divergentes para um mesmo fato. O que acontece em “Boca de Ouro” de Nelson Rodrigues também.
No lançamento de “Os Últimos Passos de Um Homem” de Tim Robins , sobre pena de morte, o diretor afirmou que a função do Cinema era abrir janelas para onde as pessoas não querem mais olhar. O cinema de José Padilha é assim. De Marcos Prado que divide produções com Padilha também é assim, como vimos no extraordinário “Estamira”.
Ps1. Há anos atrás quando trabalhava num convênio DAC/Infraero pensei em fazer mestrado na UFRJ tendo a intenção de depois ser professor por lá. Quando passei a conhecer as “panelinhas” que disputavam o poder entre si desisti.
Ps2 Um ex-colega do curso de Engenharia do Ita, bastante estudioso, com doutorado nos EUA ocupava um cargo elevado numa prestigiada universidade brasileira. Eu lhe perguntei o que poderia galgar mais. A resposta dele foi desconcertante,  mas ao mesmo tempo confirmava  o que eu intuía. Ele preferia ficar onde estava, pois as cobras dali ele já conhecia. Se subisse na hierarquia  teria que descobrir e lidar com novas cobras e suas artimanhas.
Conclusão: o que ocorre com antropólogos também acontece em outras profissões. Até hoje é um mistério do porque uma cantora extraordinária como Cláudia ficou treze anos sem gravar, surgindo recentemente com um belíssimo CD com canções raras, pouco conhecidas de Caetano Veloso, ficando com outro exemplo.

O Amante da Rainha de Nicolaj Arcel

“O Amante da Rainha” é uma agradável surpresa. Tudo sugeria um sonífero filme acadêmico, mas é puro classicismo, estruturado por um ótimo roteiro ( premiado no Festival de Berlim -2012),contando ainda com atores formidáveis: Rainha Caroline (Alicia Vickander ) que veio da Inglaterra de forma  imposta para se manter boas relações com a Dinamarca ,ocorrendo o casamento em 1776 com um insano Chrstian VII( Mikkel Boe Folsgaard, premiado em Berlim 2012 como melhor ator) que precisa da ajuda do médico alemão Johhan Strueense ( Mads Mikklsen).
O médico ao mesmo tempo em que cativa o Rei, levando-o até  a bordéis, procura incutir-lhe ideias Iluministas numa Europa que vociferava contra os regimes absolutistas apoiados pela Igreja Católica como foi o caso da Dinamarca. Os dois desenvolvem uma amizade sincera. Diante de uma corte que tenta boicotar suas ideias avançadas que alega falta de dinheiro, quando dão voz de prisão ao médico, o rei dissolve a assembleia e introduz Struense como seu único auxiliar e conselheiro.
No entanto a rainha (que já tinha um filho com o rei) e o médico se apaixonam, tornam-se amantes e ela fica grávida novamente sem que o rei tenha lhe tocado há um ano. A partir daí o drama que parecia algo mais intimista ganha ares épicos, com muitas intrigas palacianas. Desde o início sabemos que a história não terminou bem, pois a rainha no exílio escreve uma carta para os filhos. Da Idade Média com as reformas de Struense apoiadas pelo que vislumbrou no Iluminismo, a Dinamarca passa a ter um novo padrão de vida para seu povo, com o rei apoiando também. Com a desgraça do médico regride à Idade Média e  segundo o letreiro final só é eliminada a nobreza cruel e parasita 55 anos depois dos trágicos acontecimentos, pelo filho da rainha.
Com belíssima reconstituição de época, fotografia exuberante, “O Amante da Rainha” foi candidato selecionado para o Oscar de melhor filme estrangeiro pela Dinamarca ,  mas “Amor” é realmente algo de outro mundo e este filme do qual tratamos aqui é muito bom mas está longe de chegar a tanto.

César Deve Morrer de Paolo e Vittorio Taviani

Na prisão de segurança máxima de Rebbibia na periferia de Roma há detentos com os mais variados delitos: furtos, assassinatos, colaborações  com a Camorra, etc. O que diferencia  esta prisão de outras é que ali parte dos presos pratica a arte teatral. Os irmãos Taviani não fizeram um doc e sim um filme que se aproxima do teatro. De início vemos uma representação de sucesso do grupo de presos para Julio Cesar   de Shakespeare.  Terminada a peça, depois dos aplausos, voltam todos para suas celas.
De início o que vemos é a cores, com destaque para Brutus pedindo que lhe matem, pois ao mesmo tempo que queria o melhor para Roma , era amigo de Julio Cesar, daí vindo a célebre frase que teria sido dita por Julio em seus estertores: “Até tu Brutus?”
Esta parte inicial talvez seja mesmo um doc, mas os ensaios seis meses atrás  em preto  e branco feitos  em longos corredores são dirigidos tanto pelo diretor da peça na prisão quanto pelos Tavianis. Para adequar prisioneiros a personagens, eles são instados a um pequena performance: dizer nome , data de nascimento, endereço, nome do pais, numa ocasião em que lhe pedem  isto com carinho e noutra em que é feita com brutalidade . Os temperamentos bem diferentes projetam na tela uma comovente humanidade ( característica dos Taviani),  para arrepio daqueles que desejam pena de morte para os presos.
Numa das partes do ensaio um dos atores sai do texto e passa a acertar conta com seu antagonista. Chegam até a sair de um recinto para resolverem divergências na porrada. Os outros presos saem para apartar  um briga que não vemos. Uma curiosidade fica no ar:  estas cenas de desentendimento são reais ou encenadas?
Julio Cesar é uma peça que cai como uma luva para os presos  representarem,  pois  há nela todo um lado sombrio da alma humana: a disposição para o assassinato por um suposto bem maior,  coletivo ( no caso libertar Roma de um tirano), desejos de vingança, arrependimento ambíguo ( que é o que acontece com Brutus que por isso quer morrer e acaba encontrando um colegionário que atende seu pedido).
Os assassinos fogem e são perseguidos por centuriões  chefiados pelo filho de César e numa estrutura circular vemos as pessoas chegarem ao teatro e aplaudirem os atores que fazem uma festa no palco. O colorido voltou assim como os presos voltam todos às suas celas. De dentro de uma das celas em forma frontal, o que indica que os Taviani tiveram permissão para filmar lá dentro, um preso declara algo que deve servir para seus colegas atores: ”Desde que conheci arte esta cela se torno uma prisão”. 
Sem estar no nível de obras-primas dos irmãos como “Pai Patrão”, “A Noite de São Lourenço”, “Kaos”, etc., “César deve Morrer” é uma mais que uma bem vinda volta deles à tela grande, pois eles tem trabalhado mais para a televisão.
Ps1 Tive oportunidade de assistir uma conversa com eles no MAM nos anos 70/80. A unidade de pensamento me impressionou. O que um dizia era complementado pelo outro sem nenhum traço de descontinuidade e vice-versa. .
Ps2 Há poucos anos atrás assisti com a presença de um dos irmãos a “La masseria delle allodole” , sobre o massacre dos armênios pelos turcos. Tem uma das cenas mais impactantes do cinema. Sabendo que ela e seu filho pequeno irão morrer nas mãos dos turcos, uma mulher prefere sacrificar antes sua criança. Assim fica com uma amiga de costas  uma para outra e esmagam a criança. Nosso miserável circuito exibidor jamais se interessou pelo filme, mesmo com a importância dos cineastas para o cinema contemporâneo. Uma série deles feita para a televisão poderia ser exibidas  nos cinemas em versão reduzida como aconteceu com “Cenas de Um Casamento” e “Fanny e Alexander” de Bergman..
Ps3 Encontra-se fácil o DVD de Julio César na versão de Joseph L. Mankiewicz. É um daqueles filmes incontornáveis, conforme acepção dos franceses. O discurso de Marco Antônio (Marlon Brando) para o povo romano diante do cadáver de César é um dos momentos sublimes e superlativos do cinema, embora sempre achemos os chatos de sempre que  vão dizer que é tudo teatral demais. Vai saber.

Para Não Dizerem Que Eu Não Falei do Oscar.

O Oscar antes de tudo é uma festa, uma celebração do Cinema. Eles cometem injustiças claro, mas é preferível que isto ocorra ( o que acontece também em Festivais como Berlim, Cannes e Veneza) do que não haja festa nenhuma. O grande problema está mais no público  no que nos acadêmicos  de Hollywood. Estes não dão a mínima para o César, o David D’Donatello, o Bafta, o European Film Awards, etc. Os jornalistas também pois ante da premiação escrevem muito sobre os concorrentes e depois, com exceções, não se dão ao trabalho de fazer comentários além de que houve piadas de mal gosto de sempre.
 E o Brasil que criou o Grande Premio  do Cinema Brasileiro..... Pra que este nome longo explicativo e  óbvio? Poderíamos ter o Glauber, o Oscarito ( uma apropriação de influência Oswaldiana com seu manifesto antropofágico). Por que este prêmio é distribuído de forma tão tardia, não alavancando em nada o faturamento destes filmes premiados no Cinema. Para se ter uma ideia a festa relativa aos filmes de 2011 só foi realiada em 15 de outubro de 2012 onde por exemplo concorriam a melhor filme de ficção:”Assalto ao Banco Central” , “ Bróder” ,”Bruna Surfinha”, “O Home do Futuro”,” O Palhaço”. Me poupem.  Será que estão mesmo é interessados em alavancar a venda de DVDs? É obvio que esta premiação dever ser feita em janeiro ou fevereiro de uma ano sobre os filmes do ano anterior.
Oscar 2013

Amor “de Michael Haneke

Amor “de Michael Haneke deveria ter ganho todos os prêmios ao qual concorreu  ( filme, diretor, atriz,  roteiro original, filme estrangeiro) .Mas seria demais esperar isto de um filme tão corajoso e singular como é “Amor” que ganhou o esperado Oscar de melhor filme estrangeiro. O Bafta reconheceu o trabalho extraordinário de Emmanuelle Riva,deixando de fora as favoritas Jessica Chastain ("A hora mais escura") e Jennifer Lawrence ("O lado bom da vida") .
O que é o filme de Mihael Haneke? É o que diz o título: uma história de “Amor”com A maiúsculo . Mas até as suas últimas consequências. Só a sequência em que Jean-Louis Trintignante olha para a mulher na mesa e vê no rosto sinais de paralisia (o que gerou dois cartazes publicitários belíssimos: um sobre o ponto de vista dele, outro sobre o dela) já vale o filme. O que se vê depois é uma progressiva degeneração onde a mulher pede ao marido que jamais a ponha num hospital. Ele contrata duas enfermeiras e demite uma por julgá-la incompetente. O desfecho do filme é super-impactante, mas está totalmente de acordo com a história que vinha sendo contada até então. É a morte como ela é. É natural então que Haneke mostre sua personagem debatendo-se com as pernas. Logo de início vemos bombeiros entrando  na casa, arrombando-a e com máscaras pois temos um corpo em decomposição  O que vemos depois é um longo flashback .
O Cahiers Du Cinéma considerou que mesmo aqui, num filme que trasborda humanismo, o diretor de filmes polêmicos como “A Fita Branca”, Caché”, “Violência Gratuita”, “A Professora de Piano ( todos filmes do quais gosto muito)  Mike Haneke mostra-se um misantropo ( uma pessoa que odeia a humanidade) . Ora é uma piada e vamos responder aqui com uma piada: pelo menos com Isabelle Hupert ele tem relações. Ela mais uma vez trabalha com ele , sendo a filha do casal de musicistas aposentados que se vê mais do que impotente para ajudar os pais. Ela é malcasada com um inglês. Em sua relação não há o amor que os pais se devotam, num contraponto elucidativo das intenções do diretor.
Deixando “Amor” hors concours. o filme que mais gostei foi “Django Livre” de Quentin Tarantino.  Com um roteiro extraordinário ( premiado com um Oscar), locações impecáveis,  fotografia esplêndida, montagem exuberante, com uma  história em que nunca se sabe ao certo para onde vai, fazendo a paródia da paródia  que eram os westerns espaguetes, temos diversão e reflexões de primeira qualidade.  
Há aqui a sanguinolência típica de Tarantino, mas ela é ambígua como nos outros filmes do diretor: ao mesmo tempo em que temos os efeitos sérios de confrontos com armas, há um lado até risível e paródico do outro. Numa outra chave é o que faz Pedro Almodóvar com os melodramas. Ele se apropria de um lado kitch que temos até em Douglas Sirk, o papa do gênero e imprime muita verdade em suas cenas. “Tudo Sobre Minha Mãe”, ao meu ver , é o auge deste dispositivo.
Anos antes da abolição da escravatura, um caçador de recompensas alemão encarnado por Christoph Waltz (Oscar de ator coadjuvante) liberta o escravo Django com a condição de que ele o ajude a encontrar dois irmãos que lhe trarão recompensa. Ao mesmo tempo vai adestrando Django com um revolver. Resolvida esta questão os dois partem para libertar a companheira de Django com origens alemã também (uma grande coincidência de roteiro que um filme paródico se permite) fazendo passar-se por compradores de mandigos ( escravos que lutavam até a morte). Há quem diga que estes nunca existiram. Mas aqui estamos no terreno de John Ford: “quando a lenda é mais forte do que a verdade, imprima-se a lenda”.  Para isto os dois tem de travar contacto com um personagem de Leonardo Di Caprio (excelente, numa chave bem diferente da que o temos visto até então), que adora esta luta de escravos, oferecendo até instrumentos para o vencedor matar de vez o vencido. A companheira de Django , agora um exímio pistoleiro, está presa e maltratada neste  cenário. Um jogo de gato e rato se inicia.
Django Livre mesmo com seu espírito “não me levem tão a sério assim” não deixa de ser um retrato candente das condições sub-humanas em que os negros viviam.
Não vi “O Lado Bom da Vida”, pois não acho graça nenhuma sobre a descoberta amorosa entre dois portadores de Síndrome Maníaco-Depressiva. Vi o musical “Quase Normal” dirigido por Tadeu Aguiar e é uma peça espantosa: além das belas canções que impulsionam a narrativa, trata o tema da bipolaridade com a maior seriedade. Duvido que o trabalho de Jennifer Lawrence (premiada como melhor atriz) supere  por exemplo o de Jessica Chastain em “A Hora Mais  Escura”. Este ao meu ver foi o filme mais injustiçado da noite, mais ainda do que “Lincoln”.
“A Hora Mais Escura” de Kathryn Bigelow está ganhando vários prêmios de Associações críticos  nos Estados Unidos. Estes não se deixaram levar pelo erro quer assolou “Tropa de Elite”: confundir diretor com personagem. O filme vai mostrando paulatinamente o porquê da agente da Cia ficar cada vez mais obcecada pela caça a Osama Bin Laden. Chega a mostrar cenas de tortura durante o governo Bush logo de início. Durante o governo Obama, um agente da Cia lamenta que a tortura não pode mais ser empregada para obter informações preciosas. Mas aqui não temos a visão da diretora e sim de um personagem seu.
A tomada da casa mesmo que  vejamos pela ótica dos soldados que usam óculos para enxergar no escuro não deixa de mostrar o apavoramento de mulheres e crianças, sendo uma mulher morta de modo absurdo. Mas um dado de Kathryn para mostrar a falibilidade da Cia. É a agente da Cia  que confirma que o homem capturado é Bin Laden. A rigor os soldados não tinham certeza se realmente capturaram “o homem mais temido do planeta”. Algo que o filme mostra é como a Cia tinha/tem bases mundo afora além de Guantánamo, mas também na Polônia e Paquistão. Além da temática solidamente desenvolvida temos uma pulsação cinematográfica que nos faz não despreender  os olhos da tela por um segundo que seja.
Não há como comparar “Argo” de Ben Afleck com “Django Livre” “ A Hora Mais Escura”. “Argo” é um filme ok, não mais que isto. De início somos informados de que os americanos interessados em petróleo eram comparsas da ditadura do Xá Reza Pahlavi. Mas depois que o filme começa com o governo do fanático "ayatollah" e chefe de estado iraniano, Ruhollah Khomeini , após uma revolução os iranianos, todos são considerados como fanáticos e veremos a luta do bem ( pessoas americanas que escaparam do ataque de uma multidão e se isolam na embaixada do Canadá, agentes da Cia) e iranianos malavados que enforcam pessoas em guindastes. A partir daí temos uma história em a Cia fica bem na ficha ao concordar que o agente vivido por Afleck leve adiante seu plano mirabolante de ir ao Irã fazer um filme, Argo, uma sub-ficção científica de quinta categoria, convencendo as autoridades iranianas de que os americanos presos na embaixada fazem parte da equipe de filmagem. Este fato real tinha sido escondido por algum tempo e depois revelado. Um dos problemas do filme é que se Ben Afleck domina o trabalho de direção, como ator é um tanto inexpressivo, ficando o tempo todo com uma expressão só que muda apenas quando revê a família ao final.Qualquer ator presidiário de “César Deve Morrer” é mais expressivo que Bem. Dito tudo isto pode-se afirmar que “Argo” é um filme de ação que se vê bem mas de modo algum merece a consagração que teve como melhor filme, roteiro adaptado e melhor edição.
Foi uma grande surpresa Ang Lee ganhar o Oscar de melhor diretor com “As Aventuras de Pi”. Com “Brokeback Mountain” ganhou também como melhor diretor e merecia ainda o de melhor filme, dado ao bastante inferior  “Crash-No Limite”. O grande trabalho de direção em “As Aventuras de Pi” são dos responsáveis pelos efeitos especiais ( estes sim mereceram o Oscar). Estou entre aqueles que não se incomoda nem um pouco com a versatilidade de Ang Lee( não levo a ferro e fogo as lições de autor do Cahier Du Cinéma) que já nos deu tantos filmes diversos como “Razão e Sensibilidade”,”O Banquete de Casamento”,“Desejo e Perigo), “Tempestade de Gelo”, “O Tigre e o Dragão”, etc.  Este “Pi” é o que me interessa menos . Uma das razões é o tempo excessivo em que há o embate entre o rapaz e o tigre na embarcação. Eles acabam indo depois de muito tempo para um ilha coalhada de bichinhos,  mas Pi descobre que é uma ilha carnívora e chama o tigre para voltar com ele. O tigre fica e logo aparecem pessoas para socorrer Pi. Uma outra história nos é narrada de forma muito rápida e depois somos instados a escolher  qual história é real. Ang Lee quer que vejamos o filme de novo. Mas terei de levar algo para enjoo. Se não saímos do cinema  mais espiritualizados como deseja Ang Lee, temos diante de nós apesar das imperfeições um espetáculo que se impõem e vale a pena ser visto.
“Lincoln”, dizem, é uma grande surpresa na carreira de Steven Spielberg. mas não é. “Munique”, “O Resgate do Soldado Ryan”, A Lista de Shindler” assim como os subestimados “AI-Inteligência Artificial”, “Minoryt Report-A Nova Lei” etc. já tinham uma grave uma capa  sob  um suposto escapismo. Há os que tenham afirmado que os melhores Spielberg são “Tubarão” e o primeiro “Indiana Jones”. Pelo amor de Deus. Respeitemos as diferenças mas aqui é demais.
O que nos causa estranheza em “Lincoln” é o lado bastante teatral e a ênfase no trabalho dos atores. Mas temos cenas externas de guerra que valem por várias. Lincoln vencedor dos seus desejos passeando entre vários cadáveres é coisa que não se esquece. Lincoln, esplendidamente vivido por Daniel Day- Lewis ( ganhando seu terceiro Oscar merecidamente; os outros  foram por “Meu Pé Esquerdo” e “Sangue Negro” ) desejava de uma vez que fosse aprovada uma emenda que ao mesmo tempo acabasse com a guerra civil e escravidão dos negros. Curiosamente na época os republicanos eram mais progressistas que os democratas. Aprovar apenas uma lei que acabasse com a guerra, sabia Lincoln que os Estados do Sul se  reorganizariam , mas manteriam a escravidão. Para isto não hesita em aplicar a chamada Realpolitk, promovendo benesses a quem apoiasse a emenda que ele desejava. Para isto chega a bater na mesa com energia. Assim conseguiu que ao mesmo tempo se acabasse com a guerra e com a escravidão, algo que difere muito do nosso mensalão onde a Realpolitk se deu para tomada ou manutenção no poder. O mais importante em “Lincoln” é que não temos uma hagiografia.
Será que se os vencedores fossem “Django Livre” ou “Lincoln”ou ainda   “A Hora Mais Escura” teriam chamado Michele Obama para entregá-lo. Isto confirma que “Argo” tem um quê de patrioteiro. Não muito, mas tem.
 “Os Miseráveis” deTom Hooper é um musical exuberante do começo ao fim, sem respiro. Se alguns momentos não soassem piegas (o desfecho principalmente) o filme seria melhor. Há também algumas quebras de roteiro: quando o ex-prisioneiro Jean Valjean (Hugh Jackman) por ter roubado um pedaço de pão resolve dar a volta por cima acaba ficando rico. Mas como este milagre aconteceu? Quando está convidado a escolher entre a vida e a morte estava doente de quê?
 Russell Crowe é Javert, perseguidor implacável de Jean e tem  "Physique du Rôle" bastante adequado para o papel e canta bem. Mas para um personagem bastante presente seria necessário cantar melhor ainda. Hugh Jackman se sai bem melhor: tudo é adequação nele.
O prêmio de melhor coadjuvante para Anne Hathaway é mais do que merecido. Sua entrega ao anjo caído Fantine que vê a vida passar de uma forma muito longe dos seus sonhos é arrebatadora e comovente.
“O Mestre” de Paul Thomas Anderson é um filme bastante estranho. O  duelo de interpretações entre  Joaquin Phoenix e Philip Seymor Hofman é o que o filme tem de melhor. Dizem que o filme foi levemente inspirado pela  cientologia a qual pertencem astros como Tom Cruise e John Travolta. Mas mesmo “este levemente” compromete a cientologia. O que temos no filme chamado de A Causa é um samba do criolo doido aplicado ao Kardecismo com ares científicos. Só um ator do calibre de Seymor para dar credibilidade a Lancaster Dodd, o mestre de A Causa.
Estamos nos anos 50, depois de segunda guerra mundial . Freddie Sutton vivido por Joaquin com grande intensidade e verdade acaba tendo seu caminho cruzado com Dodd. Por acaso ou porque assim estava  escrito?  Os dois passam a ter uma ligação obsessiva. Há um clima de homoerotismo no ar, pois Dodd passa a esquecer seus adeptos endinheirados ( a mulher de Dodd é que passa a fazer isto) e se concentra numa relação tortuosa com Freddie. Este chega a agredir um editor que diz que não vai publicar um livro de Dodd. Ou este homoerotismo é de vidas passadas?
Há algumas sequências em ficamos de início em dúvida se é realidade ou imaginação dos personagens. A mais evidente é quando as mulheres numa sala passam a andar nuas. Logo percebemos que é imaginação de Freddie. Mas o que isto realmente acrescenta ao filme?  Sinto-me pesaroso ao dizer que nada para um diretor que já nos deu os extraordinários “Magnólia”, “Sangue Negro e o muito bom “Boogie Nights”. Li que “O Mestre” foi feito para uma tela grande. Seria muito mais belo em suas imagens. Eu o assisti na acanhada sala 2 do Estação Botafogo e com ar condicionado ainda com problemas. Se o circuito exibidor (  o que eu duvido) exibir o filme nas condições desejadas sou capaz de dar uma nova chance ao filme. Mas acredito (posso estar enganado) que a essência de minha crítica se mantenha.
Correndo por  fora no Oscar houve um filme bastante inspirado e poético que é “Indomável Sonhadora”.Uma menina de por volta de 6 anos, Hushpuppy ( Quenzhané Wallis) vive com seu pai Wink (Dwight Henry) numa região bem pobre,  numa embarcação que chamam de a banheira. A história nos é contada por monólogos  interiores da menina. Isto fez com que aproximassem o filme de Benh Zeitlin ( Câmera de Ouro no Festival de Cannes para melhor diretor estreante) com os de Terrence Malick.Há  a fixação por monólogos interiores sim mas “Indomável Sonhadora” tem um frenesi, um corre corre que não vemos em Malick. Não temos aqui um filme realista mas sim que flerta com a poesia. Assim vemos a menina passar pelos maiores perigos e sobreviver. Numa sequência inicial ela solta fogos e isto num sentido inverso remete à famosa foto da menina correndo do Napalm  no Vietnã, notou com razão um crítico de Globo.
 Ébrio, muitas vezes o pai maltrata a filha. Mas quando fica doente não quer ficar no hospital e amplia sua relação com ela. Indomável sonhadora” é um filme que não veio para mudar a história do cinema mas acrescenta pontos para os filmes que são pura poesia em imagens.
 
Melhores Filmes Vistos em 2012 no Circuito Exibidor.

Por problemas de saúde não pude acompanhar os filmes lançados o ano todo. Assim dentre os que vi, cito sem ordem de importância:

Pina de Wim Wenders
Luz nas Trevas- A volta do Bandido da Luz Vermelha de Helena Ignez e Icaro Martins

A Separação de Ashgar Farhadi

Noite de Sombras de Tim Burton

Deus da Carnificina de Roman Polanski

Shame de Steve McQueen. 

 Aqui é Meu Lugar de Paolo Sorrentino

 Habemus Papa de Nanni Moretti

 O Homem Que Não Dormia de Edgar Navarro

L’Apolonide – Os amores da casa de tolerância de  Bertrand Bonello

A Febre do Rato de Cláudio Assis

Rock Brasília de Vladimir Carvalho

Tropicália de Marcelo Machado

Na Estrada de Walter Salles

Corações Sujos de Vicente Amorim

Cara ou Coroa de Ugo Giorgetti

Um Método Perigoso de David Cronenberg

Cosmópolis de David Cronenberg

7  Dias Com Marilyn de  Simon Curtis

À Beira do Caminho de Breno Silveira

O Artista de Michel Hazanavicius


Uma Longa Viagem de Lúcia Murat

A Maior Decepção

“Fausto de Alexander Sokurov, ganhador do Leão de Ouro no Festival  de
Veneza.
O ambiente mostrado é por demais sombrio. Por isso é que quando chega ao Inferno após a cobrança do diabo (caracterizado com um rabo ridículo), Fausto ouve de um os mortos que prefere o ambiente ali do que o da Terra.O uso da tela quadrada foi, ao meu ver, um tiro pela culatra. Com a visão do mundo contemporâneo de que muita gente vendeu a alma o diabo  concordo.Mas com a estética que diretor utiliza para dar força à sua história não. 

Nagisa Oshima- O Maior dos Transgressores

Morreu este ao em janeiro, com 80 ano, de pneumonia um maiores cineatas  de todos os tempos. Antes já havia sofrido um AVC que o impossibilitou de continuar filmando.
Nagisa conseguiu um prodígio que nenhum cineasta havia logrado antes: um filme passado quase o tempo todo numa cama onde dois personagens transam o tempo todo, sem o menor vestígio de pornografia com planos perfeitos para capturar “O Império dos Sentidos” em que Sada (Eiko Matsuda) e Kichizo (Tatsuya Fuji) vão até as últimas consequências radicalizando a ideia de que o orgasmo  e a  pequena morte. Estamos em 1936 e quando um batalhão de soldados desfila por rua, Kichizo está caminhando em sentido contrário, sozinho.  O que faz a grande diferença entre este os filmes pornôs é que no filme de Oshima transparece muitas emoções, o que os filmes pornôs não têm, parecendo sessões de ginástica e com ângulos filmados grotescos, para dizer o mínimo.  Esta grande obra-prima do cinema mundial abriu espaço para que  Patrice Chéreau filmasse o belo “Intimidade” com muitas cenas de sexo explícito e que Ang Lee introduzisse em seu esplêndido “Desejo e Perigo” cenas de sexo explícito também, ainda que sejam mais esporádicas. Para quem achar o final de ‘O Império dos Sentidos” demais é bom lembrar que o filme é inspirado numa história real, onde uma prostitutas foi encontrada vagando louca com o pênis decepado de  um amante. .
Em “O Império da Paixão Nagisa Oshima faz um contraponto a “O| Império dos Sentidos”. Há aqui uma dimensão maior da paixão dos amantes do que do desejo. É por isso que Seki e Toyoji matam o velho Isaburo, marido da jovem. Com o que não contavam é que o falecido voltaria como fantasma a atormentá-los e nem que a polícia iniciasse um inquérito. Será a paixão que dois sentem suficiente para enfrentar estas agruras, principalmente morando num pequena aldeia “onde tudo se sabe sobre a vida alheia”?
Em 1983 Nagisa Oshima volta a surpreender com o sensacional “Furyo-Em Nome da Honra”( “Merry Christmas Mr. Lawrence”). Os japoneses fizeram de ingleses prisioneiros mas o chefe Capitão Yonoi ( Ryuichi Sakamoto), passa a nutrir uma  forte paixão homoerótica pelo Major Jack 'Strafer' Celliers (David Bowie) e este, ambíguo e sibilino percebe esta pulsão sexual desviante, passando a sentir o mesmo. O          Coronel John Lawrence (Tom Conti) passa a ser o elemento conciliador entre os  dois universos, desenvolvendo forte amizade com  Sargento Gengo Hara (Takeshi Kitano, futuro grande cineasta). Numa das sequências mais atordoantes temos por amizade Gengo perguntando para Lawrence, sem nenhum cinismo : Mas porque é que você não se matas?”.
Yonoi começa a matar ingleses indiscriminadamente. Chega então a reunir dois pelotões. Um inglês atrás com muitosw feridos e outro japonês na  frente. O que se segue a seguir é uma das grandes cenas do cinema. Se você leitor prefere saber depois que ver o filme em DVD  é bom parar por aqui. Celliers sai do seu lugar é vemos seu caminhar em câmera lenta, aproximando-se de Yonoi e dando-lhe um beijo na boca, que era no fundo o que mais desejava o japonês. Mas como o  espírito de honra deve permanecer Celliers é todo enterrado, só com o pescoço  pra cima  de fora e deve morrer de insolação.
Terminada a guerra, Lawrence vai visitar Gengo na prisão. Depois de trocarem algumas palavras e o primeiro sair, ouve de Gengo uma frase que explica o título original do filme: Merry Christmas Mr. Lawrence. Oshima definiu seus filme como “O Beijo do que o Ocidente deu no Oriente”. A trilha sonora de Ryuichi Sakamoto é uma das mais belas da história do cinema pontuando os momentos dramáticos com muita força. O filme só não ganhou a Palma de Ouro em Cannes porque surgiu um filme ainda mais fundamental que é “A Balada de Narayama” de Shohei Imamura. outro cineasta japonês bastante inconformista.
O seu último filme foi “Tabu” que se não é uma obra-prima como os outros é bastante interessante e revelador. No universo dos samurais a homossexualidade é permitida desde que os samurais envolvidos sejam grandes guerreiros. Um jovem efeminado samurai, Kano, chega a um clã. Ele é muito corajoso e cruel com os inimigos. O problema surge quando ele passa a ser disputado por dois samurais.
Dos filmes anteriores vi no MAM por acasião de uma visita de Nagisa Oshima para lançamento de Furyo-Em Nome da Honra”  três filmes. Dos depoimentos lembro pouco. Apenas que ele pagou uma refeição a Glauber Rocha, talvez em Paris. Será que a tese de Paulo Francis de que os amigos de Glauber o abandonaram tem sentido? Cheguei a ouvir o psicanalista Eduardo Mascarenhas  dizer na televisão que quando Glauber procurou a psicanálise já era tarde. Glauber aprontou um auê no Festival de Veneza porque seu filme “A Idade da Terra” perdeu para nada nada menos de Louis Malle(Atlantic City) e John  Cassavetes (Glória. um filme eletrizante que influenciou “Central do Brasil”). Irônico é que Glauber apresentou à imprensa uma lista com os cineastas que considerava neo-acadêmicos e nesta lista estava Nagisa Oshima, Bernardo Bertolucci. Nelson Motta escreveu “A Primavera do Dragão” sobre o jovem Glauber. Seria interessante que pesquisassem muito bem e escrevessem “O Outono do Dragão”.
Mas voltemos ao filmes de Nagisa Oshima.  Em “A Cerimônia” o noivo ou a noiva ( não me lembro ao certo) faltam à cerimônia de casamento e tudo é encarado com falsa naturalidade e o ritual todo da cerimônia é feito mesmo que com a presença de um só dos noivos, revelando o automatismo da sociedade japonesa. Noutro filme um soldado americano negro é capturado pelos japoneses, preso a uma árvore e sofre horrores nas mãos de crianças. Noutro mais poético um garoto vende um pombo que acaba  sempre voltando para suas mãos,possibilitando-o a novas vendas. Uma cliente acaba se aproximando dele e desvendando o truque.

http://migre.me/dyJM7 Caverna  dos Sonhos Esquecidos´
http://migre.me/dyJOC O Som ao Redor
http://migre.me/dyJGv Segredos da Tribo
http://goo.gl/JJZL8   O Amante da Rainha
http://migre.me/dyKKb Django Livre
 http://migre.me/dyLeT O lado bom da vida
http://migre.me/dyRyg   A Hora mais escura
http://migre.me/dyLSY As aventuras de Pi
http://migre.me/dyMf3 Os miseráveis
http://migre.me/dyMvX    O Império dos Sentidos
http://migre.me/dyML0   Intimidade
http://migre.me/dyOaC Desejo e Perigo
http://migre.me/dySrr  O império da paixão
http://migre.me/dyNtb Furyo-Em Nome da Honra
http://migre.me/dyO1L A Cerimônia 

Nelson Rodrigues de Souza


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Mergulhos, Pedregulhos e Pérolas




Mergulhos, Pedregulhos e Pérolas
“O fato de os americanos
desrespeitarem os direitos humanos
em solo cubano é por demais forte
simbolicamente para eu não me
abalar

A base de Guantánamo
A base da baía de Guantánamo
Guantánamo”
Caetano Veloso em “zii e zie” com a banda Cê

Obs. Todos os textos&frases são meus, exceto os que vierem com outras assinaturas.
Nelson Rodrigues de Souza
O fato de Lula em quem votei durante anos
Desrespeitar nossos sonhos e planos
Turvar nosso democrático sol
E ainda posar junto a um procurado pela Interpol
É por demais forte e de amargar
Simbolicamente para eu não me abalar

A foto de Lula com Maluf
A foto de Lula com Maluf
A foto de Lula com Maluf

Escola de Samba Brasil/ Enredo Eterno em Transe (?): “Lampedusa/Visconti na cabeça! É preciso mudar para que tudo continue como está”

O Inferno é um lugar onde se fala em Economia durante 24 horas por dia e ninguém pode dormir.

Todo gay é um pouco Madame Satã.

A diferença entre eu e Madame Satã é que ele usava a navalha propriamente dita. Já eu me valho do poder de navalha das palavras.

Quem vê PIB não vê coração nem vísceras.

O amor é a ausência de estratégias.

Não é que eu não me aceite enquanto homossexual. O que não aceito é essa farisaica e hipócrita que não me aceita e  os que contribuem para que ela continue assim, como a presidente e seus acordos para a “governabilidade”, tornando o Estado na prática nada laico.
Estamos sendo usados pela presidente, diz João Silvério Trevisan na 15ª Parada gay de SP.
Em entrevista na 15ª Parada do Orgulho Gay de São Paulo, João Silvério, um dos fundadores do movimento homossexual no Brasil, afirmou que o movimento LGBT virou "moeda de troca" de parlamentares.


O grande desafio do ser humano é em tudo e por tudo procurar o caminho do meio budista,  mas sem cair na mediocridade ( as cordas do instrumento não podem estar frouxas senão o som sai muito ruim, mas não podem estar por demais apertadas senão arrebentam).
Com quem eu gosto eu quero que caiam  todas as paredes e o mundo inteiro saiba.

Se formar Engenheiro do ITA
Para o Bem e para o Mal
Uma façanha bonita?
Não é para qualquer mortal...

A perfeição é inimiga da realização.

Deus não criou o pau para o Diabo criar o ânus com suas maravilhosas profundezas de zona erógena bastante especial.   Para Adelia Prado

O eufemismo mais sórdido no novo milênio é chamar corrupção de mal-feito.

Bolsonaro declarou à  Playboy que ter vizinho gay desvaloriza o imóvel e nada aconteceu. E se tivesse dito, judeu, negro, mulher, deficiente etc...o que aconteceria? Choveriam processos e manifestos. E uma lei anti-homofobia não sai. “Eles” têm medo até de um kit anti-homofobia. Será que vamos ter que esperar para que de forma análoga um político de alto escalão em Brasília passeando com seu filho, tenha sua orelha quase que decepada  como aconteceu em São Paulo com um pai e filho, num ataque de neo-nazistas, impunes até hoje?????


A carne mais barata do mercado não é a carne negra. É a do “veado”.

O filme mais intensamente erótico que já assisti é “Mulheres Apaixonadas” ( Inglaterra/ 1969) de Ken Russell, baseado na obra homônima de D.H.Lawrence. É um cult movie aqui em casa. A sequência de luta entre Oliver Reed e Alan Bates que culmina na descoberta enquanto seres desejantes e apaixonados é arrebatadora, inesquecível. Isto vai determinar a relação que terão com as mulheres apaixonadas do filme. A aceitação conduz à potência de viver, a se impor diante de obstáculos.  A negação de si mesmo, aliada ao ambiente alienante e hostil de uma sociedade exploradora de minério desumana e rotineira, anti-vida,  conduzirá um personagem ao suicídio. Façam suas escolhas após descobrir aquilo que não se escolhe. Como Pasolini, D.H.Lawrence era alérgico à sociedade industrial. Como eu sou também.   


 “Escrevo, logo existo”. Não. Clarice Lispector não escreveu isso. Mas poderia tê-lo feito com o maior mérito.

Pelas suas intervenções descabidas, Lula está mais para um “rei da cocada preta” do que para um ex-presidente.

O que a gente considera uma declaração de sabedoria, pode ser lido por outros como uma platitude. E aqui não temos uma exceção.

Os meus desafetos não vão comemorar. Mas para o bem e para o mal, eu sou um brasileiro com memória afetiva de elefante. Posso perdoar mas esquecer jamais.

Cada um sabe o quanto lhe dói o “eu me calo”.

Vivemos sob a égide da ilusão de liberdade, da crônica e assumida desigualdade e a total falta de solidariedade.

As religiões são instrumentalizadas para ser o ópio dos povos. Não que necessariamente, assim o sejam.

O futebol não é, mas se tornou, instrumentalizado, o crack das massas-povo brasileiras. Nada de “Veneno Remédio”. É “Veneno Veneno “ mesmo, Zé Miguel Wisnick.

Não é sintomático que membros da corrente “Construindo um Novo Brasil” deturpem as eleições em Recife 2012 para prefeito , impondo um candidato externo às prévias  já realizadas que davam força a uma nova candidatura do atual prefeito e que isto tudo tenha o apoio autoritário do ex-presidente?

Não é entrar pelas portas dos fundos na Rio+20, um país que ainda não tem um Código Florestal devidamente discutido e aprovado e como se não bastasse na cidade onde se deu o evento planeja-se a destruição de várias árvores centenárias para construção de uma estação de Metrô? E o que dizer dos incentivos às montadoras automobilísticas, via isenção de IPI quando caos é uma palavra fraca para explicar o que acontece com o trânsito nos Centros Urbanos, com o excesso de automóveis ( poluidores...), com fraca política de transportes? Maldição seria uma palavra melhor.

Não entendo quase nada de futebol, mas não é digno do Guinnes um time estar ganhando e levar três gols em seis minutos do segundo tempo?

Malha-se tanto o socialismo ao Sul do Equador enquanto a Europa tenta reerguer-se justamente pelos ventos novos que vêm com a eleição do socialista Hollande na França democraticamente. Nada a ver com comunismo, ditadura do proletariado, partido único e nem tentativas de cercear a liberdade de imprensa. Já no Brasil o que temos é só fachada e peleguismo, fora o PSOL. PSTU e parentes são radicais demais pra meu gosto. E viva o euro-bônus, como uma ideia inicial.

BRICS
Guarda chuva chinês
No camelô a cinco reais
Não dura nem um mês
Assim eu não compro mais

Para a condição kafkiana do homossexual não vale o adágio popular: “Quem não deve, não teme”. Há muito que se temer sim. Mesmo sem dever nada.

Será que a presidente tem tido tempo de ir á missa aos domingos?

Para acabar com o aparelhamento do PT@companheiros&comissários(as)  do Estado Brasileiro sou capaz até de fazer uma loucura: votar no PSDB!!!!

Mais loucos e irresponsáveis do que estes papas que durante séculos pregaram contra os preservativos e métodos contraceptivos são os fiéis que esperaram Bento XVI ter certo lampejo de lucidez (depois de ter pregado contra até na África com tantos HIVs positivos) e não mais torná-los proibitivos “em certos casos” *, para então passarem a  utilizar as populares camisinhas. Até então HIVs, DSTs ( como a perigosíssima hepatite C) e filhos não desejados, cresceram  e se multiplicaram .... 

Depois de tantas utopias falhadas e/ou pervertidas o mundo não só não melhorou como aumentou a imundície.

Como tem comissárias mulheres no governo Dilma! Será meritocracia ou nepotismo sexista? Tudo bem. Quando eu me eleger presidente com coligações até com Malafaias, Bolsonaros, Crivellas etc.  vou escalar João Silvério Trevisan para o Ministério da Cultura, Gilberto Scofield Jr. para  Planejamento, Luiz Mott para Educação, Jean Wyllys para Relações Exteriores,  André Fisher como Porta-Voz do Planalto, Ney Matogrosso para Saúde, Ana Carolina para o Trabalho, Sérgio Bianchi para Defesa, Ângela Rô Rô para Agricultura, Luis Carlos Lacerda para a Pesca, Rogéria para o Trans-portes and soo n.....Ah sim...Os coligados eu os indicarei  para Embaixadas em países em guerra civil.....

O “Amai-vos uns aos outros” se transformou mesmo em “Armai-vos uns e outros”.

Se meu mundo cair eu que aprenda a “negociar”.

No Brasil em vez de “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”  tem-se “Grandes Empreitadas, Gigantes Negociatas”.

O sistema capitalista é tão bom que o sonho de muitos empregados é terem os seus próprios negócios e dar as costas aos patrões  ( “Fui!...), num ambiente de trabalho bastante “salutar”. E repetirão este círculo vicioso os que conseguirem.

O “Patrão Nosso de Cada Dia” é meu Senhor e tudo me faltará com tantas flexibilizações trabalhistas.

Quando a CPI do escândalo Cachoeira em curso, rejeita a convocação do ex-presidente da Delta, Cavendish, uma figura chave a se ouvir diante de tudo o que ocorreu, confirma Caetano: “Aqui tudo parece que é ainda construção é já é ruína” ( Fora da Ordem).

A retórica é o conto do vigário dos pseudo-filósofos.

O combustível que movimenta o país do “Nunca Antes “ é a corrupção em suas variadas camuflagens.

Minha proposta aqui
Que não sei se será bem sucedida
É escrever com humor, ironias
E por que não alguma poesia?
Sobre mazelas do nosso Haiti
Visando de forma mais decidida
Solapar, dissolver teias de hipocrisias.

O político é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é louvor, o que é corrupção evidentemente.  ( As exceções que me perdoem...os demais que vistam a carapuça....).

Algo que não se discutiu na Rio+20 foi como se dá sustentabilidade a uma família com pai, mãe e filho cuja única fonte é o salário mínimo ...( Peguem um dicionário de Economia, façam as contas e constatem que o valor praticado é anticonstitucional).

Eu prefiro ser poeta menor
E ter uma vida maior em todos os sentidos
Do que ser marginal genial numa curta vida
Colhendo flores só após a morte e dos arrependidos
A vida vencendo com mais astúcia
E não a arte em suas corridas.

Do jeito que estão as coisas temos que ter não um Plano B,  mas Planos C, D,E, .......Y,.Z e se possível ainda alfa, beta e gama.

Cabalistas e astrólogos precisam nos explicar porque em 2012 se comemora tantas efemérides: é trinta anos disso, 100 anos daquilo, 70 anos dacolá, 50 anos então...and so on....Vontade sincera de prestar homenagens, ou desespero de marketing e/ou de pauta para jornais????Estão comemorando até os 15 anos de Rede Cinemark!!!!

Rainer Werner Fassbinder, um genial diretor, ator, autor que foi “um artista que se deixou consumir pela própria arte” ( Macksen Luis) afirmou: “O amor é a maior forma de tirania que existe”. Eu não chego a tanto, mas que “o amor pode se transformar na maior forma de tirania que existe”, eu acredito. Já constatei/vivenciei.

Poetas de todos os países e matizes, uni-vos
Lancemos com força nossos uivos
Diante do Estado das Coisas tão nocivo.

Meu interior é decorado com as lágrimas vertidas quando você foi embora e com as flores que não mais lhe dei.   A Marcelo Jeneci  e Marisa Monte

Fanatismo é algo sempre perigoso. Mas o mais predatório deles é o religioso.

Quanta feiura e dor com a ausência de sua beleza e prazer.

O homem é uma ilha rodeada de mentiras por todos os lados.

Não é integrado nem apocalíptico. É político.

A Paisagem Carioca é agora merecidamente Patrimômio Mundial. Falta agora o Cristo Redendor acordar e nos proteger realmente de nossas autoridades. Estes braços não parecem abertos, mas cruzados.    A Cazuza

Dado a gravidade e afronta à dignidade da associação Lula/Maluf e o fato do primeiro ser presidente de honra do PT, partido que permite boa governabilidade à  presidente, não seria o caso da Interpol interpelar o governo brasileiro? Que edifício poderemos construir sobre estes alicerces tão apodrecidos?

Leitura afins:



“Até hoje se deve a esse articulador de consensos o exemplo de que um líder político pode ser esperto sem deixar de ser honesto, hábil sem apelar para trapaças.”- Zuenir Ventura








Em certas circunstâncias o filet mignon do amor é a solidão.

Eu acredito no sobrenatural. Este é o natural desconhecido, camuflado, que muitos não querem conhecer, até mesmo cientistas, filósofos, psicanalistas, psiquiatras. No fundo o receio maior é de perda de reserva de mercado.

Mesmo com a derrocada econômica e social dos EUA após a explosão da bolha imobiliária e com o navio europeu movido a euros naufragando, ainda há muitos dogmáticos que defendem o fim das ideologias e proclamam o capitalismo de mercado como o melhor dos mundos, sendo que os gravíssimos acontecimentos teriam sido apenas acidentes de percurso. O que é muito curioso (repito mais uma vez para ver se aprendem.....)é que o naufrágio europeu só encontrou saídas e esperanças através da eleição na França de Holland pelo Partido Social Democrata , sendo ele um agente catalisador que tem feito a neo-Margareth Thatcher, Angela Merkel, rucuar de algumas posições de “austeridade” para países se suicidarem.

“Não existem Ciências Econômicas. O que existe são Políticas Econômicas”. – Olgário Mattos

Paul Krugman, colunista e Prêmio Nobel de Economia escreveu que o problema da região do euro é o próprio euro, uma péssima ideia que surgiu, pois criou-se uma moeda única mas sem um comando político geral  que gerisse essa moeda.  Sempre tive a mesma opinião. E como Saramago que escreveu “A Jangada de Pedra”, onde Portugal se descola da Europa em vez de a ela se unir artificialmente, nunca consegui separar Economia de um país de sua cultura. Assim, dizer que os gregos são assim...assado...é má  fé..bobagem. Leiam o conto que escrevi no Blog, onde quase tudo é verdade ( aconteceu comigo), com as mentiras sinceras da ficção.

As canções da Bossa Nova não dão mais conta do que é a cidade do Rio de Janeiro hoje. A  mais certeira é de Fausto Fawcett: “Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”.

Um dos sete cavaleiros do apocalipse é o mantra “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, muitas vezes repetido em ambientes civis e militares. Não. O mantra sagrado, não este maldito, deveria ser: “Manda quem tem poder e necessidade de mandar e com rápidas considerações ( de ordem interior e exterior) só obedece quem  considerar que quem mandou realmente tem juízo”.      Ao Capitão Sérgio Macaco, o brasileiro mais importante depois de Tiradentes, um herói brasileiro da abertura democrática que se recusou a explodir o gasômetro a mando do Brigadeiro Burnier
Leitura afim: “Tenho reiterado a necessidade de que todo o povo brasileiro conheça melhor e se engaje nos debates sobre esse setor estratégico para o país. A Defesa não pode ficar restrita ao meio militar. Nem mesmo deve a discussão sobre ela ficar limitada aos círculos governamentais. Deve ser assunto de todos os brasileiros.”- Celso Amorim


Alma é aquilo que em nós vibra quando somos expostos ao que se chama poesia/arte.

Que inocência a minha. Eu pensava que crakcolândia do Rio de Janeiro era o lugar abandonado onde jovens também abandonados viciados em crack se esbaldavam no consumo e ali moravam..O meu grande erro foi acreditar que existia  “A crackolândia”,quando o que existe são várias, até numa delegacia sucateada da Zona Norte.

Concordo com Seu Jorge. Uma UPP é uma ditadura militar. Tem de ser formados líderes comunitários, com a polícia só no seu papel de formação. Policial militar não é treinado para ser “juiz de paz na roça de Martins Pena”. E  por UPP eu entendo , Unidade de Polícia Para Futura Pacificação. É um caminho. Não é o destino final. O resto é propaganda eleitoral.
Leitura afim:

Ah! Se soubessem quanta antipatia
Tenho por esta epidemia de franquias
(Até mesmo independentemente da qualidade)
Que dominam o mercado exibidor brasileiro
Inundando as telas de todas as cidades
Como as águas inundaram as serras
Fazendo como que o Cinema Brasileiro, sem exagero
Continue “estrangeiro em sua própria Terra”.
A Paulo Emílio Salles Gomes

No O Globo de 12/07/2012: “ Calote do brasileiro cresceu 19% este ano”.
Cazuza num Centro Espírita: “ Eu alertei :” Meu cartão de crédito é uma navalha”


Num momento bastante infeliz de sua vida nos primórdios do aparecimento de vítimas fatais da  Aids, Dom Eugênio Sales , então arcebispo do Rio de Janeiro, declarou  que era um castigo de Deus para os homossexuais, o que deve ter amplificado a homofobia ( atávica) do machismo brasileiro . Só que este Deus do arcebispo além de muito cruel era burro, pois conforme se constatou depois os grupos de risco formam todos nós e numa análise comparativa as lésbicas mais bem comportadas teriam risco menores  do que casais heterossexuais e gays...

O historiador Helio Silva no fim da vida se resguardou em algo como um mosteiro católico em Minas Gerais. Ele era formado em Medicina ( Urologista) e nos anos 80 ( quando a OMS já não considerava mais a homossexualidade uma doença) apresentou-se de seu refúgio na TVE como alguém sem preconceitos , enfatizando como médico, que o ânus não foi feito para o pênis anatomicamente .....Em que mundo viveu Helio Silva? Será que nunca soube que de tempos imemoriais sempre se praticou a sodomia por diversas sexualidades, homo ou não, por se lidar com uma das zonas erógenas mais prazerosas do corpo humano? Será que ele nunca conversou seriamente com os amigos artistas de seu neto diretor e ator Buza Ferraz?
Leitura afim:
“Seu papel mais importante na TV, no entanto, foi na novela "O Rebu" (1972), que exibiu o primeiro caso homossexual da teledramaturgia nacional.”
Ps .A sexualidade de Buza Ferraz não me interessa. Aponto aqui a possibilidade que Helio perdeu em não aprender algo mais substancioso  sobre homoerotismo através dos contatos de Buza.


Já assisti a um longo e muito bom documentário sobre vida/obra de Rainer Werner Fassbinder com diversos depoimentos e abordagens . Mas sobre sua (bi) homossexualidade nada! Sobre as drogas, remédios, álcool, stress que o levaram à morte sim. Conclusão: Thanatos é bastante exposto. Eros não poderia. É maldito. Pegaria mal para um diretor que realizou três obras-primas, no mínimo, sobre relações homoeróticas: “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”, “O Direito do Mais Forte a Liberdade ( Fox e Seus Amigos)” e “Querelle”.......

Na Literatura Brasileira quem era mais dionisíaco (“mal-comportado”)? Mário ou Oswald de Andrade? Claro que Oswald de Andrade que nos legou o “Manifesto Antropofágico”, “O Rei da Vela” com tantas influências como no Teatro de Zé Celso Martinez Correa e no Tropicalismo etc. Num dos seus poemas Mário relata que não há barulho mais bonito do que o cair de um cinto de um negro num quarto de hotel. No entanto quando os dois Andrades se desentenderam  e não se falaram nunca mais, uma das razões ( talvez a principal) tenha sido o fato de Oswald chamar  o homossexual Mário de forma pejorativa, sem atenuantes carinhosos: bicha/viado!  Reza a lenda que Oswald teria lançado a boutade: “Mário é um Oscar Wilde de costas”. Por ironia Zé Celso, o artista brasileiro mais influenciado por Oswald que conheço, com a clássica montagem “O Rei da Vela”, marco do Teatro Brasileiro, tem se esmerado em fazer espetáculos que transcendem bastante  o que se costuma considerar Teatro e com seu grupo Uzina Uzona do Teatro Oficina tem montado autênticos rituais dionisíacos consagrados ao Deus Baco e sempre que podendo carregando bastante no homoerotismo. Tempo...tempo...tempo....tempo...Zé Celso deve ser o cavalo do espírito de Mário “para se vingar de Oswald....”. And last but not least vale a pena lembrar que com tantas discussões que “Desde que o Samba é Samba” de Paulo Lins pode trazer, o romance tem sido criticado por alguns por conter diálogos com conversas sobre homoerotismo entre Mário de Andrade e Assis Valente....As tentativas de suicídio e o final tristíssimo de  Assis podem ser narrados, mas que ele era homossexual não...Haja preconceito...

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Mundo imundo
Se eu me chamasse Dênis
Seria uma rima para meu pênis
E não uma solução
Para minha solidão.

Eu sempre fui muito mais sexo&cinema@mpb. Minhas drogas&rock and roll estrangeiro já estão no DNA da minha sexualidade desviante do que tolos chamam “a norma”.

Tá legal eu aceito o argumento. Mas não me alterem nomes tanto assim: Citibank Hall, Arena HSBS, Teatro Maison Du France PSA Peugeot  Citroën, Itau Arteplex, Espaço Sesc de Cinema, Cine Bombril, Teatro Net Rio, Vivo Rio, Estação Vivo Gávea etc. Olha  que  rapaziada está sentindo a falta de nomes afins enfim. E quando só houver sustentabilidade como Teatro Municipal EBX Eike Batista me avisem antes, que eu volto danado pra Catende....

Desde que eu me entendo por gente eu virei bicho para enfrentar estas selvas de pedra.

A evolução natural darwiniana após um Big-Bang ( do Nada/Vazio veio que energia para provocar esta explosão?) pode explicar a existência de um urubu mas jamais a beleza de um pavão macho de asas abertas, com seus infinitos detalhes, conforme nos mostra Fellini em “Amarcord”, numa epifania yunguiana. Há um Joãozinho Trinta por trás de toda estas belezas da Natureza,  homens e bichos incluídos. Este João muitos chamam de Deus.

O que é supersitição para uns pode ser rito sagrado para outros.

Para se ter fé em Deus, tem-se que aceitar o corolário popular: “Deus escreve certo por linhas tortas”. O desfecho de “PIckpocket-O Batedor de Carteiras” de Robert Bresson é exemplar neste sentido: “Que longo e tortuoso caminho eu tive de percorrer para chegar até você”.

O homem contemporâneo não só vendeu a alma ao Diabo do consumismo desvairado como também vendeu bem barato.

Dizem que rima na prosa é pobreza, vício de linguagem. Mas o que posso fazer se isto está na minha natureza, se vejo aí beleza para passar minha “mensagem” com a inteireza  desejada?

Vejam só como interpretar um texto está sujeito bastante a subjetividades. Sempre que ouço a belíssima “Nobreza” de Djavan ( “Uma grande amizade é assim/Dois homens apaixonados/.......Acenando pra gente/ O amor crescendo enfim/Como capim para os meus dentes”), eu logo imagino um fellatio homoerótico.Sendo bem objetivo: o que cresce é o pau do amante, o capim são os pelos ao redor. É por isso que desconfio de todas as críticas de arte (qualquer arte) que querem se mostrar bastante distanciadas, independentes e objetivas. Há que se deixar sempre graus de incerteza em muitos aspectos.


“Deus ajuda quem cedo madruga”. Este dito popular se tomado literalmente é uma bobagem.  Todos os artistas da noite, por exemplo, estariam condenados ao Inferno em vida. Mas se entendermos madrugar como batalhar para realização de nossos sonhos e desejos ( “não esperar cair do céu....”) aí sim faz sentido. Deus dá um empurrãozinho definitivo para as realizações.

“Nada me mete mais medo do que governos que  tratam criminosos com aperto de mãos e  artistas de maneira criminosa”- Felipe Hirsch em O Globo, 16/07/2012.  E eu incluo “ artistas e homossexuais”.


Minha beat generation são os tropicalistas. Caetano é meu Jack Kerouack. Gil meu Alan Ginsberg.  Ou seria o contrário? Mas meu Burroughs. certamente é Tom Zé.

Sim gente. Vamos contribuir para a reciclagem do lixo. Mas por favor, não confundir: reciclar políticos que se mostraram/mostram um  lixo de modo algum. Procurem outras opções para o voto consciente.

Deus não dá asas a cobras. Mas muitos povos majoritariamente já deram, dão e continuarão?

Do jeito que avançam as notícias sobre os tentáculos da corrupção do caso Cachoeira, vamos acabar chegando à  conclusão que a política no Brasil é uma escola de samba patrocinada em maior parte por um bicheiro.

Dentre incontáveis malefícios causados pela Ditadura Militar está a confusão entre o exercício da autoridade e autoritarismo. Até pais confundem estes conceitos em relação à educação dos filhos gerando muitas vezes desmandos e em outras permissividades e omissões.

O Mercado reagiu,sinalizou, transmitiu, reclama, ameaça, aquece, esfria etc. Até artistas se rendem e se referem ao “aquecimento do mercado” de musicais por exemplo. Meu Deus ! Ressuscite seu filho para expulsar com seu chicote os novos vendilhões do Templo Mercado, a religião hegemônica e mais fundamentalista e cheia de dogmas do mundo de hoje.


Sem nenhuma ironia, claro que sou a favor da ideia em prática  da Lei de Acesso à Informação Pública para tornar transparente os gastos em várias instâncias. Afinal o dinheiro vem dos impostos altíssimos que pagamos. Mas quem trabalha na chamada iniciativa privada dá sua força de trabalho, muitas vezes superando seus limites com efeitos até na saúde. Não seria o caso também de tornar transparentes balancetes de empresas etc, bens e salários de empresários, de executivos, enfim de todos os trabalhadores, para que se possa saber se o salário pago está sendo realmente justo e trabalhadores poderem então através de seus sindicatos reivindicarem o que merecem ganhar, tanto nas pequenas, médias ou grandes empresas?????. Ganhar remuneração à altura do trabalho realizado é tão importante quanto não pagar impostos abusivos e ter estes recursos bem empregados. Demonizar o Estado e achar que o mercado regula o resto é conto da carochinha. Trabalho não pago....Olha a mais valia de Marx aí gente se fazendo presente. Não se é contra o lucro. O problema é o lucro que vem do trabalho mal remunerado. Extração da mais valia era o que se dizia, mas a queda do muro não apagou esta mancha. Trabalhar cansa. Que seja bem pago o trabalho. Algo análogo também não deveria haver com serviços particulares pagos como planos de saúde etc.? Enfim: o corpo do trabalho social como um todo deve ser transparente, desnudado. O resto é empulhação e hipocrisia.


Sauna Rodriguiana Catolaica Evangelista
Todo Sêmem Derramado Será Castigado.

A UFRJ recuperou a posse do terreno do Canecão e nada faz com ele. Não fode,  nem sai de cima. Ninguém vai tomar nenhuma atitude?

E aí em Bruzundunga foi instalada uma CPI das CPIs anteriores para entenderem de uma vez por todas por que todas acabaram em pizza.  Desta vez até o presidente resolveu fazer parte da comissão de notáveis escolhidos.  Quando descobriram que um dos membros ( bem graúdo) era um das chaves do enigma, entenderam o que procuraram saber, foi lacrada e mais uma CPI acabou em pizza.

“Uma pessoa pode estar com a cabeça no congelador de uma geladeira e os pés numa bacia de água escaldante. Na média ela está bem”. É uma anedota apenas?Não. Atenção consumidoro&eleitor&cidadão&afins ! Muitas estatísticas oficiais e privadas que lhes são lançadas estão contaminadas por esta piada mortal. E não adianta apelar para o Batman. O Coringa está onde menos se espera também.

A mais bela obra de Oscar Niemeyer é sua frase que ele gosta tanto de repetir e está coerente com sua vida, sua invejável longevidade e criatividade. :”A Vida é mai importante que a Arquitetura”. O que ecoa também em Elis/Belchior: “Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa” em Como Nossos Pais, um clássico da MPB.

Estou fundando uma religião. Principal princípio: Vida (assim com V maiúsculo mesmo) antes da morte. Basta de “cadáver adiado” que procria ou não, conforme Fernando Pessoa sintetizou.

Deus é um fogo. Não podemos provar sua existência, mas podemos sentir sua fumaça ( como nos terreiros de candomblé e umbanda). E todos sabemos que onde há fumaça, há fogo.
A Prefeitura de Eduardo Paes resolveu dar ordem unida aos ônibus da Cidade do Rio de Janeiro. São todos agora brancos .  Asim eu que há uns 40 anos já estava acostumado em distinguir ao longe as linhas circulares ( vermelho e branco), a linha 409/410 para Tijuca ( azuis), etc. ando agora me  perdendo. Quando me dou conta o ônibus já está passando pelo ponto. Outras pessoas comentam a mesma coisa. Como se não bastasse trocaram números desnecessariamente. Não temos mais 571 e 572 (Glória-Leblon). Seriam agora 161 e 162? O caos é total quando se tem fileiras de ônibus brancos num ponto só. Quem planejou isto não entende nada de transportes e odeia os pedestres. A cereja do bolo teria sido pintar os ônibus de azul barateia ou verde oliva....Claro que o distintivo Cidade do Rio de Janeiro está impresso nos ônibus fazendo marketing.

Há anos atrás um chefe numa avaliação me disse: “Você é tímido”. Respondi de bate –pronto:  “Eu não sou tímido, eu sou intimidado”.

Quando tive minha primeira carteira assinada em regime de CLT um item logo me assustou: “Em caso de dúvidas sobre segurança pergunte ao seu capataz”(sic). Um grande avanço que nos foi concedido pelo ditador  Getúlio Vargas, segundo alguns historiadores.
Leia também:
Nazismo à Brasileira –Renato Grandele- O Globo-sábado  25.08.2012
“Com a conivência do governo de Getúlio Vargas, nazistas chegaram a explorar até mesmo a Floresta Amazônica”

“A História é um Pesadelo do qual estou tentando acordar”- James Joyce


Sou socialista democrático convicto. Não acredito em nenhuma forma de capitalismo, brando, médio ou selvagem. Numa análise lacaniana básica os capitalistas se entregam. Não há nada de humano na palavra capitalismo. Já socialismo nos lembra o básico: somos seres sociais. Já comunismo é outra onda na qual nunca surfei.

Quem ler meus contos de temática homoerótica já incluídos no Blog ( com a ressalva que também há aqueles em que esta temática não comparece) perceberá que procuro sempre articular “questões GLBT” com corrupções dos mais variados graus. Minha maior perplexidade na vida é porque vivo num país ( e no mundo todo?), em que de modo geral , com poucas exceções, é tão homofóbico e machista , intolerante neste aspecto vital pra mim e tolerante, submisso, subserviente, omisso, passivo e/ativo em relação aos “mal-feitos” (sic), numa relação de servidão voluntária  conforme enfatiza Étienne de La Boétie* ?

Uma dúvida atroz: haverá espaço ainda para a construção de um Monumento aos Mortos de uma Terceira Guerra Mundial?

Mais uma prova de que o acróstico BRICS como “países do futuro” é mistificador é o blackout para  670 milhões de indianos em dois dias seguidos( agosto/julho de 2012) em 20 estados dentre 28 da Federação. O Governo Federal culpou os estados por excesso de consumo de energia elétrica. ....Será que ainda há alguém realmente sério que acredite que PIB é um indicador apropriado para avaliar real desenvolvimento?

“A mais triste nação na sua época mais podre compõe-se de um grupo de linchadores”- Caetano Veloso em “O Cu do Mundo”. Deve-se fazer Justiça aos réus do mensalão, mas acrescento: “ A mais triste nação em sua época mais podre compõe-se  de grupos de pessoas que se lixam para a corrupção, sejam juízes ou “baixo clero” que se embriaga com Olimpíada em Londres e/ou Futebol etc.   (2/08/2012)

Anteontem morreu  o grande cineasta Cris Marker.  Ontem Gore Vidal, um escritor com E maiúsculo (seu romance “Juliano” é um dos mais influentes em minha visão de mundo) .Outros grandes em suas áreas também se foram nos últimos tempos. Enquanto isto tem várias criaturas por aí com seus “sacos de maldades” “fazendo hora extra”, esticando-a. Deve ser verdade mesmo que “vaso ruim não quebra.” ( 1/08/2012)

 Policiais federais ameaçam fazer operação padrão em fronteiras, portos aeroportos. Ou seja, ameaçam seguir leis de operação para segurança  ipsis litteris , o que provoca transtornos. Isto é mais um sintoma do surrealismo irresponsável brasileiro. Tudo se passa como se dissessem ao governo: “Olha, atendam nossas reivindicações salariais, de efetivo etc. ,senão cumpriremos as normas à risca conforme determina a lei. Quer dizer então que cotidianamente em condições normais  trabalham na ilegalidade? Estas leis de operação conforme estão esmiuçadas são realmente necessárias  ou precisam ser mudadas, para sairmos do ridículo impasse? ( agosto de 2012)

Perto de casa há um amplo tapume nos fundos de um hospital onde deve ser proibido colocar cartazes há anos, mas a prática com o famoso jeitinho brasileiro já vem de anos. Há cartazes lado a lado em disputa, havendo sucessivas renovações. Assim observa-se um festival de anúncios de shows pela cidade de A, B, C....na Lapa, na Barra, no Recreio, na Lagoa, no Centro etc. Mas não se esclarece onde haverá o evento. Na Lapa pode ser Fundição Progresso, Circo Voador, Bar Semente etc....Na Barra HSBS Arena, Citibank Hall etc. Na Lagoa Miranda.... Assim temos um sintoma da sociedade brasileira metaforizado: produtores fingem que cumprem a lei e pode público finge que fiscaliza. Como disse Stanislau Ponte Preta: “Ou nos locupletemos todos, ou restauremos a moralidade”.

Em termos de delito não vejo diferença entre camelôs que vendem DVDs piratas para sobreviver e  pessoas da classe média ( incluindo a tal “emergente”) que faz downloads em casa, grava em CDs, tira cópías e distribui para os amigos e a pessoas que se tornam amigas ( entenda-se aqui amizade não como aquela que é integra e verdadeira mas sim aquela que é puro verniz social). Estes últimos passam a ser convidados para festas, reuniões, ganham convites Vips, DVDs, camisetas e outros regalos. A diferença maior mesmo é que os primeiros põem suas caras à tapa e trabalham com dinheiro vivo. Os segundos operam em surdina e trabalham com escambo. Acredito que seja desnecessário acrescentar,  mas não resisto: se tenho alguma simpatia e solidariedade nesta história toda é com os primeiros....Com os segundos tenho feito cortes de escorpião, meu signo que tem um arquétipo com o qual me identifico.

Não são apenas os Bolsonaros, Malafaias, uma porção de evangélicos, católicos, grupos da família (sic) etc. que devem temer uma lei anti-homofobia séria, bem feita e que seja realmente bem aplicada, (como a Lei Afonso Arinos para os negros, a Lei Maria da Penha para as mulheres), não sendo mais uma lei que “não pega” na sociedade brasileira. Algumas autoridades que tem o poder de recomendação de filmes em cinema ou DVDs com cenas de homoerotismo que imprimem o anátema “desaconselhável para menores de 16/18 anos por conter cenas de desvirtuamento ético.” também deveriam ser enquadradas nesta lei.

Eu sei que sou suspeito,  pois com exceção de Copas do Mundo de futebol, acompanhar esportes em que mídia for ou ao vivo me provoca profundo tédio. Mas a impressão que tenho é que a máxima do espírito olímpico “O importante não é ganhar e sim competir” está cada vez mais rara, se é que já não acabou de vez.

Deus: a metáfora de todas as metáforas.

Tédio, resultado do assédio do tempo sobre os sonhos.

Enquanto os pobres vêm e vão de vans (muitas clandestinas), os ricos vão ao divã.

Viver é a arte de administrar o cobertor curto da existência. É só nos descuidarmos por um lado que sentimos um frio na alma por outro.

Para quem quiser relaxar um pouco diante de tantas questões colocadas sugiro, mui amigo, a visão deste filminho que Glauber Rocha fez por encomenda de José Sarney: “Maranhão 66 “

Antes de chegar no Rio de Janeiro para trabalhar e aqui me estabelecer até hoje, em janeiro de 1979, eu ouvia falar que a Lapa era um dos bairros mais famosos do Rio, principalmente pelos sambas históricos e seus Arcos. E assim continuei pensando, morando de início no contíguo bairro da Glória. Não é que em 2012 surge a criação do finalmente oficial,  pela prefeitura, do Bairro da Lapa, com limites que vão até perto da Cruz Vermelha? O que esperar de uma cidade onde isto acontece? Se não era um bairro era o que então? Se falassem em ampliação do bairro eu entenderia, mas criação? O espírito de Madame Satã e até do Noel de Vila Isabel, devem  estar aturdidos como eu, dentre outros.
Leitura afim:

Para mim o rock do anos 80 ( o chamado BRrock segundo Artur Dapieve), o iê-iê-iê de Roberto, Erasmo e da Jovem Guarda, o samba, o xote, o xaxado, o baião, a ciranda, o choro, o sertanejo, a milonga gaúcha, o samba-enredo, a bossa nova,  o tropicalismo, o funk e rap das periferais, o mangue-beat etc., tudo é MPB ou seja Música Popular Brasileira, onde as qualidades estarão nas músicas e não no gênero, para não cairmos numa geleia geral de aceitarmos tudo com sendo bom. E não é que ainda há premiações que separam discos de samba, pop e de MPB? Mais popular e brasileiro que o samba impossível! É preciso sempre relembrar Gilberto Gil: raiz é mandioca. Será que ainda temos  Jotas Ramos Tinhorões na praça? O próprio é um grande pesquisador da Musica Popular ( só ele mesmo para fazer uma História neste sentido na Literatura Brasileira). Mas ele superpõem ideias marxistas a sentimentos mais legítimos e íntegros, impalpáveis mas reais. Ele parece se comunicar mais com a  sociologia que estudou do que com a própria alma. Descartava o genial Johnny Alf ( o grande pai da Bossa Nova)  só pelo nome americanizado. Juro que li no JB. Não foi delírio meu.  Tinhorão: “Gonzaguinha não passa de um Ari Barroso” (sic). Sobre Elis escreveu que ele não entendeu Cartola em “Basta de Clamares Inocência”, como se houvesse uma forma só de se interpretar Cartola.

Uma crítica de shows do JB, Maria Helena Dutra chegou a escrever que “Conversando num Bar-Saudades dos Aviões da Panair era “uma das piores canções de Milton Nascimento” (sic).  E Sílvio Lancelloti um dos que mais detonaram “Odara” de Caetano Veloso  por supostamente ser algo bastante alienante numa era de ditadura militar  ( quando no fundo é um hino à alegria de viver e dançar) que de crítico musical passou a ser crítico de gastronomia....E pra terminar estes verbetes sobre MPB: reza a lenda que quando disseram que Maria Bethânia desafinava as vezes ela declarou: “Mas  se a gente desafina na vida, por que é que não pode desafinar na música?


Do jeito que anda a Medicina hoje, conforme acompanhamos pelos jornais e Michael Moore expôs muito bem com seu humor afiado ( necessário senão o filme ficaria doloroso demais ) em “Sicko-$O$ Saúde”, sobre planos privados americanos que inspiraram planos de outros países ( Brasil incluído), acredito que há médicos que fizeram não o juramento de Hipócrates, mas para o “deus” Hipócritas mesmo.

Vamos ao Cinema (com spoilers,detalhes adiantados para a análise pretendida) 

Quando assisti em 2011 “Melancolia”( Dinamarca/2011)de Lars Von Trier pela primeira vez não tive dúvidas: é uma obra-prima do Cinema Mundial. Um clássico instantâneo. O que se confirmou numa revisão. Não bastasse sua visão aguda do que é o universo da depressão ( como já fizera em “Anti-Cristo”), ele nos conduz tanto a especulações metafísicas  com a uma visão do mundo contemporâneo em derrisão, especialmente da Europa que parece estar a beira de ser destruída pelo planeta Melancolia. Logo depois aconteceu o que já previa ( um filme superararia ainda mais “Melancolia”): assisti no Cinema cada vez mais encantado e maravilhado quatro vezes  “A Árvore da Vida” de Terrence Malick, (EUA/2011),  um filme deísta que aponta para várias religiões mas não fecha com nenhuma. Isto irrita tanto materialistas empedernidos como religiosos fanáticos que ficam desapontados por não enxergarem no filme com mais ênfase a religião que cultuam. Mas aonde entra “Melancolia” em “A Árvore da Vida” ( filmes complementares cuja simultaneidade de lançamento mundial não foi por acaso).Ora, nos olhos tristes e desencantados de Jack ( Sean Penn) tanto em elevadores de edifícios modernos, no ambiente de trabalho, na relação fria dele com uma mulher separada, distante no leito etc. É esta melancolia que o move à busca de resgate com o pai fanático religioso Sr. O’Brien ( Brad Pitt, magnífico),músico frustrado que tentou impingir aulas de música aos filhos, descartado do trabalho depois de anos de dedicação, como algo agora imprestável,como tem acontecido neste nosso mundo de perversas reengenharias . “Trabalhar Cansa” (Brasil-2011) de Juliana Rojas  e Marco Dutra,  também trata deste tema com um final tão impactante e “lógico” dentro da narrativa quanto o de “Melancolia”, com o grito primal animal de Marat Descartes, digno de qualquer antologia do Cinema, fazendo a ponte entre tudo o que havia de estranheza com o que sai das vísceras de um homem humilhado por gerência de recursos humanos nazista).
Jack é movido também à busca do Pai, da transcendência. Considero muita arrogância quem assisti a estes três filmes tão ricos, singulares  e complexos ( principalmente o de Malick) uma única vez e já emite juízos definitivos. A rigor toda obra de arte tem de ser assistida, lida, ouvida, contemplada mais de uma vez. O que acontece com músicas que a princípio não nos seduzem, mas que depois de outras audições tornam-se repertórios de nossas vidas, também vale para todas as artes. O problema é que tudo agora é para ser rapidamente consumido, inclusive cultura. Está aí o gigantismo tolo persistente do Festival do Rio para confirmar isto ( Leia http://pelaluzdosmeusolhos.blogspot.com.br/2010/12/consumir-cultura-e-um-bom-negocio.html  e http://pelaluzdosmeusolhos.blogspot.com.br/2010/09/vem-ai-mais-um-festival-internacional.html ). Claro que há os fatores tempo, dinheiro, locomoção, oportunidade etc. que conspiram contra esta atitude necessária . Se críticos de arte pudessem em muitos casos não ter de dar respostas mais imediatas às mídias que os sustentam creio que a História de todas as artes que temos como legado seria outra. Até mesmo os ensaístas são afetados por estes fatores circunstanciais.  
“A Árvore da Vida” ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2011. Nas premiações de final de ano no mundo anglo-saxônico se destacou quase que como unanimidade “O Artista” de Michel Hazanavicius, um filme simplesmente muito bom, não havendo nada que o eleve ao patamar de clássico instantâneo. Até mesmo a premiação de Jean Dujardin é questionável. Brad Pitt está magistral no filme de Malick. É terno, cruel, fanático, pleno de fé, angustiado, opressor, sutil, oprimido, rude, agressivo, castrador, com religiosidade “fora de lugar”, com uma pletora de emoções das mais díspares. Já “Melancolia” recebeu o European Awards de melhor filme europeu de 2011, dentre outros prêmios.

PS1 O Deus Cronos ( que come os próprios filhos ou as horas ) está associado à  melancolia/depressão e ao tempo.

PS2 Cabala corresponde a “A Árvore da Vida”. Mas o cabalismo se encontra em várias culturas, não apenas na judaica. Há judeus que se apoiam simplesmente no Torá , mas há outros que incorporam o cabalismo como o Rabino Nilton Bonder, que não por acaso escreveu “A Alma Imoral” que tanto sucesso fez e ainda faz no monólogo com desempenho assombroso de Clarice Niskier. O filme é uma viagem no tempo não cronológica que vai do Big-Bang a Jack atravessando um portal onde encontra redenção e se regenera.
 The  End 

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Quando uma regra passa a ter um considerável número de exceções é por que nunca se tratou mesmo de uma regra. Pessoas por aí ditando regras sejam estéticas, ideológicas etc. já são suspeitas e de certo modo ridículas. Quando comparecem muitas exceções é algo mais ridículo ainda.

Muitos escritores relatam que houve pessoas importantes na família que foram boas contadoras de histórias.  No meu caso só minha querida mãe exerceu esta função. Mas foi com limitações, pois havia muitas histórias interessantes exaustivamente reiteradas. Assim, em retrospecto, o grande contador de histórias para mim foi o Cinema, depois o Teatro e por fim a própria Literatura lida nestes anos todos, aliados às histórias que se pode depreender de muita coisa da MPB ( Já reparam que Lupicínio Rodrigues é além de tudo o mais, um grande contador de histórias?) e as ditas reais, extraídas de jornais, revistas,  docs., cursos livres feitos etc. Tudo isto é ainda conjugado com experiência pessoais ( como incursões em cultos afro-brasileiros) e  observações privilegiadas de outras pessoas ( incluindo artistas consagrados etc.). Este amálgama influenciou muito meus escritos, muitos ainda fantasmas de gaveta que estão clamando por arrombar cadeados.  Resolvido um problema de herança que se arrasta há mais de dez anos terei capital próprio para bancar minhas edições impressas sem cortes de editores em livros. Não me satisfaz ter textos só na web, que são só uma pequena parte do que já tenho escrito. E mais esboços anotados não faltam para serem mais trabalhados enquanto poemas, contos, crônicas de cinema etc. Mas não à exaustão. Não tenho nenhuma vocação para busca de perfeccionismos como Flaubert e João Cabral de Melo Neto tinham, por exemplo.

Wim Wenders tem um dos títulos de filme dos mais interessantes: “O Medo do Goleiro Diante do Pênalti”. Sempre que vou à Copacabana vejo sempre o mesmo filme: “O medo do camelô de DVDs piratas diante do “rapa” “

A montagem recente de O Beijo no Asfalto de César Rodrigues com Roberto Bomtempo  é excelente. É uma das grandes obras-primas de Nelson Rodrigues, onde um homem atropelado agonizando pede a um estranho que o acode que lhe dê um beijo na boca. Este ato poético de compaixão, generosidade será o estopim de uma desagregação familiar, de uma tragédia. Há muito machismo, truculência policial, sensacionalismo barato da imprensa, preconceitos que tecem ficções como se fatos fossem. É atualíssima. Vertiginosa. Nelson não dá um ponto sem nó. O texto não tem nada de datado. Foi escrito nos anos Jânio Quadros e sua temporada de um ano e meio no Teatro Ginástico próximo à embaixada americana, região palco de muitos conflitos de rua após a renúncia com o “Fi-lo-por-que-quilo”, foi suspensa por segurança. Uma peça que foi escrita por encomenda para Fernanda Montenegro fazer Selminha. Não vejo nela nada de  homofobia de Nelson ao mostrar o perverso sogro homossexual apaixonado pelo genro, corroído pelo ciúme. Não podemos esquecer que o autor é um anjo pornográfico. Não podemos enxergar só o substantivo ou o adjetivo. É nesta visão de mundo que Nelson desmascara grandes hipocrisias sociais, sempre eivado de sórdida e pura poesia.
Leia


Existem os gays, lésbicas e bissexuais no armário. Mas também existe os “homofóbicos no armário.”, ou seja, posam de liberais, simpatizantes, amigos do pessoal GLBT mas é tudo puro fingimento. Na hora em que algum desentendimento forte ocorrer ( um “Deus da Carnificina” de Polanski/Yasmina Reza atacar....) , pode surgir com toda força o preconceito enrustido ( “Seu viadinho filho da puta!”, por exemplo). De forma análoga existe o racismo no armário. Pessoal GLBT e negros/morenos devem estar mais alertas e precavidos.

O caminho mais curto entre dois pontos é uma reta, mas o mais bonito é uma curva bem sinuosa. As curvas do Pão de Açúcar são muito mais interessantes que o caminho reto do bondinho.
Quando faço uma ligação e ouço: “Seu recado será convertido em texto e enviado por torpedo” tenho vontade de puxar meu revólver.

Gosto muito da Língua Portuguesa, mas não ao ponto de estar disposto a servi-la. Eu gosto de me servir dela para expressar o que desejo/sinto. Minha pátria é minha língua até certo ponto.

Atenção bolsonaros, malafaias, crivellas, papistas e congêneris! Tirem os espinhos que lançaram no meu caminho que eu quero e vou passar com meu amor.

Prefiro muito mais ser mais um Ed Wood das Letras do que um Orson Welles de maratonas culturais sublimadoras, excessivas, sem o menor vestígio de criação artística.

Seriam os críticos de modo geral, estilistas de idiossincrasias?

Essa grande obsessão de muitas pessoas trazerem para o tempo que passa, signos artificiais da juventude me cheira a mofo.

O que distingue filmes de arte que abordam sexo de forma bem explícita (como “O Império dos Sentidos” de Nagisa Oshima, “Intimidade” de Patrice Chereau, “Desejo e Perigo” de Ang Lee etc.) de filmes pornôs é a carga de emoções em suas variadas formas. Os filmes que eu chamaria de pornô ( sem nada de moralismo) seriam aqueles onde não haveria a menor emoção nas relações explícitas ( além de  conter ângulos dos mais deploráveis em termos estéticos, onde se tem a impressão de vermos um parafuso sendo apertado), acrescidos de um clima que sugere mais uma prática de halterofilismo, uma ginástica vulgar. Estes me entediam profundamente. Os primeiros me deixam aceso, quando não despertam tesão. Sou um voyer. Mas um sofisticado voyer. Creio eu.

Não. Ele não vendeu a alma ao Diabo. Vontade não lhe faltava. É que já  tinha vendido à Satanás.

Da mesma forma que dizem “quem não cuida da política, a política acaba cuidando dele”, podemos dizer nós GLBTs que “quem não cuida da religião, a religião acaba cuidando dele”. Eu, pelo menos, não tenho a menor vocação, para a servidão voluntária à repressão dos meus desejos mais íntimos e legítimos me submetendo a obscuros desígnios.

Quando leio num jornal que certo líder político está em processo de fritura no Planalto, confirma minha impressão de que se tem alguém na Caldeira do Diabo. Por pior ou melhor que seja um líder, se governado por pessoas honestas,  deve ser chamado logo para conversas claras e objetivas e decisões superiores imediatas devem ser tomadas. Frituras política me soam como atividades mafiosas homeopáticas no mínimo, algo desprovido de noções éticas básicas.
“O deputado Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara, está em processo de fritura no Planalto.Não se sabe se fritarão também suas guarnições no Ministério da Saúde e nas agências reguladoras do setor.”- Elio Gaspari

O Brasil anda tão mal que não sabemos mais nem quem é Luiza Erundina: aquela que desistiu de ser vice de Haddad pela foto de Lula com Maluf ou esta que agora é vista em fotos fazendo campanha para Haddad. Isto agora confirma o fio da suspeita que me acometia: afinal Erundina deixou de ser vice por causa da foto, mas teria continuado se estas costuras políticas tivessem sido feitas nos bastidores? Este pragmatismo desvairado vai nos conduzir ainda a mais pragas e abismos.
Leituras afins:
Não concordo com muita coisa a varejo que Arnaldo Jabor escreveu mais adiante. Ele continua ignorando a privataria tucana, segundo aguda acepção de Elio Gaspari; não comenta a compra de votos para reeleição de FHC; ignora o pé maldito do tripé do Plano Real  que são os juros altíssimos que  provocaram desendustrializaçao no país etc. Mas no atacado Jabor está corretíssimo. E eu prefiro mil vezes Jabor com suas hipérboles poéticas apocalípticas tucânicas do que o silêncio conveniente das Marilenas Chauís que não publicam mais nada na chamada grande imprensa, pois ela seria golpista. No atacado concordo em muito com Jabor e este mundo descrito por ele me assusta bastante também, ainda mais sendo homossexual, conhecedor do que podem fazer evangélicos fanáticos com as causas GLBTs e outros “islâmicos”.


Mas uma luz no fim do túnel chega, sem que seja a de um trem camuflado. Imperdível o artigo irretocável de Francisco Bosco.

Ou o Rio de Janeiro acaba com a cultura de VIPs com a fatia do Leão em espetáculos singulares ( como os de Peter  Brook no Rio de Janeiro) e a patuléia  ignara, a choldra, a chusma indócil que se estapeie  pelas sobras, este num caso mais agudo, dentre tantos outros, ou estes VIPs e patrocinadores acabam com a Cultura do Rio de Janeiro.

Entreouvido no Complexo do Alemão: “Meu filho, o que você quer ser quando crescer”. “Eu quero ser VIP para arrombar bocas livres”.

Quando a barra econômica pesa, muitos executivos despedem não quem realmente presta para o trabalho, mas quem se presta a ....( vocês sabem.....).
O máximo de ironia é estar sendo torturado na Ditadura Militar ou numa delegacia do novo milênio e ouvir ao longe uma rádio tocando: “O melhor  lugar do mundo é aqui e agora”. Lembremos de Millôr: “A música é a única arte que nos ataca pelas costas”
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Para chegarmos até à Arte podemos pegar os atalhos do coração, mas para atingir a Ciência não há como evitar os caminhos ásperos da razão.

Existe algo de muito errado em um mundo onde o que muitos homossexuais mais desejam receber de forma natural e legítima é por muitos dirigidos a outros em momentos de raiva extrema como se prazer e legitimidade nesta intimidação não existissem e sim vergonha.  Ora, vão tomar cuidado com frases tolas!

A grande genialidade de Nelson Rodrigues está em captar o que há de mais irracional nos sentimentos e relações humanas, dostoievskianamente, com a maior clareza e “lógica narrativa possível”, com histórias que fluem como água no torvelinho do ralo.

Há intelectuais que citam Adorno só para adornar suas pensatas.

O meu suposto niilismo é apenas um chiste diante do abismo: “A mim, não me tragas não”.

Acreditando estar pleno de altruísmos no fundo estava vazio com seus truísmos banais, simplistas, conformistas.

Quando alguém diz/escreve que acabaram todas as ideologias, esquece-se de que esta afirmação já é uma ideologia. O verso mais preciso de Cazuza seria: “Eu quero uma ideologia decente para viver”.

Brasil, de1500 ad aeternitatem : “Desculpem o transtorno. Estamos em  obras.”

Um dos quesitos para não sermos hipócritas é termos um razoável discurso teórico comprovado por nossa prática. Coerência total é impossível. Lembremos que aquele que disse “Amai-vos uns aos outros”, perdeu a paciência, com toda razão e expulsou com açoites os vendilhões do templo.Mas acrescento: há incoerência perdoáveis e outras nem um pouco.

Ampliando Bertold Brecht: “Primeiro comer depois a moral”. Para os políticos eleitos, primeiro a moral ,depois pensar /agir sobre com dar de comer aos famintos.

Ah!Meu sacro-santo! Quanto pendor tenho para confundir/fundir o sagrado pelo/com o profano.

Para uns Deus é um delírio. Para mim é um colírio para as infecções das janelas da minha alma.

Não perca por nada o lançamento em DVD de “Elvis e Madona” de Marcelo Laffitte. O filme seria assinado por Pedro Almodóvar sem nenhum favor. Só que sai a Espanha e entra o Brasil pela ótica de Copacabana. O conceito de “de perto ninguém é normal” ou seu equivalente “de perto todo mundo é normal” almodovariano encontra sua melhor expressão aqui, dentro da História do Cinema Brasileiro. Em suma trata-se de uma grande história de amor ( improvável?) entre uma lésbica fotógrafa que ganha a vida entregando pizza Elvis ( Simone Spoladore, esplêndida) e um travesti que vive como michê e sonha em fazer um grande show, Madona  ( Igor Cotrin, não menos esplêndido). Tudo no filme é excelente: direção, fotografia, roteiro ( premiado no Festival do Rio), atores principais e coadjuvantes, montagem, música. Os críticos estrangeiros que trabalham no Brasil deram prêmio este ano de interpretação aos dois atores principais, algo mais do que justo, o que me espanta não ter acontecido em outras premiações. A história caminha de forma vertiginosa até um desfecho arrebatador. Marcelo Laffitte precisa ser descoberto pela produtora El Deseo de Pedro e Agustin Almodóvar, que já produziu filmes de Lucrecia Martel. O filme passou batido pelo circuito de cinemas. Mas o vi três vezes, maravilhado. É um show de humanidade e humor, às vezes negro. O roteiro vive de dar rasteiras no comodismo e preconceitos do público médio. Espera-se que o filme encontre melhor o público de modo geral em seu lançamento agora em DVD. Como os de Almodóvar não é filme de gueto.

Nelson de Souza- nome de batismo
Nelson Rodrigues de Souza- nome artístico, incorporando o Rodrigues de minha mãe.