domingo, 5 de abril de 2009

"Brown Bunny": Simples, Objetivo, Certeiro , Essencial



Quando foi lançado no Festival de Cannes “Brown Bunny” de Vincent Gallo foi muito mal recebido. O diretor preparou nova versão para o Cinema e aí passou a receber boas críticas. 

Godard numa entrevista ao Globo em 1985 mostrou-se bastante amargo e pelo jeito, ineroxoravelmente, estava bastante desiludido com o Cinema Contemporâneo. Dos seus colegas de nouvelle vague só Eric Rohmer não teria se vendido ao circuito comercial ( o que é, ao meu ver, um grande disparate e preconceito) . Do filmes que já tinha visto recentemente só um realmente achava grandioso: “Brown Bunny” de Vincent Gallo ( outro grande exagero de quem  vê as coisas fora de foco na vida, sem moderação). O grupo Estação chegou a tirar uma cópia do artigo e ampliou a parte que se refere a "Brown Bunny" colocando com peça de marketing ostensiva em suas vitrines. Nada contra. O cinema de “circuitinho” precisa destes estímulos. 

Fui ver “Brown Bunny” alertado por algumas pessoas de que o filme seria péssimo. Resultado: não senti o êxtase de Godard nem o incômodo de muitos, mas considerei o filme muito bom. 

Adiante vai uma pequena crítica que fiz do filme na época, com alguns acréscimos e correções. 

Simples, Objetivo, Certeiro, Essencial 

 “Brown Bunny”, escrito, produzido, dirigido, fotografado e interpretado por Vincent Gallo é uma mais uma prova da vitalidade do cinema contemporâneo com suas diversas manifestações dentro do “Infinito Cinema”. Um piloto de motocicletas (Bud) parte com sua van, com sua moto dentro, em busca de seu amor Daisy, para um ajuste de contas que não sabemos qual é. Só vislumbramos a solidão e a angústia do personagem, realçada por  paisagens desertas e algumas mulheres  também com nome de flor, que ele encontra pelo caminho, mas que não o satisfazem. O clima é de documentário: é como se os personagens estivessem respirando ali na nossa frente, comungando do nosso ar. No caminho passa pela casa dos pais de Daisy, conversa melancólica e laconicamente com a mãe dela, tendo o pai em plano mais próximo, alheio, absorto em suas inquietações. Bud se depara com um coelhinho marrom e chega a se interessar pelo bichinho: “Quanto dura a vida dele?”.

Com planos e planos seqüências belíssimos, uma música aliciante, uma segurança narrativa ímpar, vamos acompanhando com esparsos flash-backs a trajetória de Bud até um encontro que se constitue numa das mais pungentes e belas seqüências do Cinema em termos de erotismo e suas implicações. Não poderia ser de outra forma, senão seria hipocrisia do autor. Com um fellatio explícito, impregnado de raiva, amor, dor, prazer, culpa, falação, com emoção intensa (como em o genial “O Império dos Sentidos de Naguisa Oshima), com o que os filmes pornôs vagabundos ostensivamente nos negam ( pois para eles o que interessa é o atletismo sexual, a performance,  a aeróbica), com todo esse astral de contradições, temos revelações surpreendentes que redimensionam tudo que vimos antes. 

Enxuto, corajoso e vigoroso, “Brown Bunny” é um ensaio sobre a culpa e a complexidade do ser humano. Afinal Bud e Daysy são vítimas ou algozes? O inferno são os outros? São questões que o espectador emocionado deve carregar em si, para responder depois do final esplêndido. Se é que isto é possível. 

Nelson Rodrigues de Souza

http://i.s8.com.br/images/dvds/cover/img3/21252443_4.jpg 

http://www.betaparticle.com/blog/images/brownbunny13.jpg



3 comentários:

  1. Para mim Bud e Daysy são algozes do público. Assistir a Brown Bunny foi um exercício de tortura a que me submeti por amor
    à sétima arte. Amor este que Vicent Gallo com certeza não tem. (E digo isto simples e objetivamente, sem complexidade e nem culpa!)
    Abraços.
    Gina

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  2. Oi Nelson:Este filme é um de meus preferidos, e na época do lançamento escrevi um pequeno comentário que a Cinequanon publicou.
    Concordo com o que V. escreveu, e mais ainda poderia ser escrito.
    Todos os nossos outros colegas detestaram.Sonia Gigeck , sabendo que gostei, me presenteou com um DVD original, quando ela viajou aos E.U.
    Parabens e um abraço, Elie

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  3. Pessoal,

    Desculpem-me uns erros de edição que agora já corrigi.
    Abraços,
    Nelson

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