quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Um filme onde se vende armas como se fossem pães quentinhos


Um filme lançado em 2005, disponível em DVD, muito pouco visto e mal comentado, mesmo sendo extraordinário, é “O Senhor das Armas” de Andrew Niccols. Sua candente atualidade e pertinência vêm do fato de tratar com argúcia e técnica impecável de um problema que pelo andar da carruagem ainda vai nos afetar por um bom tempo: a fabricação de armas em massa e seus corolários. Há hoje uma demora inquietante para se resolver a situação do Iraque e os conflitos do Afeganistão aumentam, com forte presença americana. Claro que o poder das indústrias de armamentos é um dos fatores fortes que está por trás destes dilemas. Como complemento a este estado das coisas, temos o ciclópico cinismo dos novos velhos tempos, conforme matéria de O Globo de 16 de fevereiro de 2009, onde se lê: “EUA trocam cidadania por serviço militar- Carentes de recrutas para as guerras no Iraque e Afeganistão, os EUA vão oferecer cidadania americana a emigrantes qualificados, com pelo menos dois anos de residência, que se alistem nas forças armadas.”

"O Senhor das Armas" é simplesmente um dos melhores filmes americanos de teor fortemente político a chegar às telas brasileiras nos últimos anos. Com direção do roteirista Niccols, escritor do também excepcional "O Show de Truman" de Peter Weir, temos agora um ácido retrato do mundo contemporâneo, em sua falta de ética globalizada, onde os imperativos do lucro a qualquer preço fazem do personagem pragmático e hiper-individualista, de discreto e venenoso charme, Yuri Orlov (Nicolas Cage, num dos seus melhores trabalhos, um dos produtores do filme), um traficante internacional de armas que aproveita as guerras e tentativas de revoluções mundo afora (abortadas ou não), para vender seus produtos letais, com a voracidade dos abutres por carne putrefata.

Narrado pelo protagonista, criando um distanciamento da história que a torna uma fábula cruel, com cortante ironia, o filme avança de forma bastante dinâmica, esculpindo um cipoal de perversidades e corrupções, onde um gesto grandioso só se manifesta num ato de desespero suicida.

Yuri vem de uma família imigrante falsamente judia e ao presenciar um atentado da máfia tem um insight: porque não ganhar a vida com armas? Seu irmão é envolvido num negócio inescrupuloso, mas as seqüelas do poder econômico recém-adquirido e seus vícios, com o sentimento de onipotência, o transformam num cocainômano, tirando-o temporariamente do circuito da contravenção. Solitário, com uma mulher que ignora seus negócios nocivos, Yuri tentará manter-se no ofício, ainda que um agente da Interpol, Jack (Ethan Hawke) esteja sempre em seu encalço, procurando provas concretas dos seus atos ilícitos, paradoxalmente "lícitos", com uma boa dose de esperteza e maquiagens, como passaportes falsos, etc.

"O Show de Truman" exigia certo grau maior de "suspensão da descrença" para ser fruído como uma fábula inquietante que era, premonitória da abulia coletiva, do fascínio do mundo virtual que tenta tomar o lugar da vida real e da proliferação dos famigerados reality-shows que infestam as televisões hoje em dia, onde se vive não a própria vida, mas a vida dos outros. "O Senhor das Armas" não pode ser visto também, sob uma ótica estritamente realista. O que emerge desta operação, a que o espectador é convidado, é um dos mais atordoantes painéis sobre a desvalorização das vidas humanas, a banalização da violência como uma força motriz das sociedades, com um sarcasmo que nos lembra o fundamental "A Laranja Mecânica" de Stanley Kubrick.

Tudo no filme é brilhante: roteiro; diálogos, pensatas retóricas e falaciosas do narrador protagonista, fotografia, direção, montagem, interpretações e o que é melhor, com meticulosa transparência, sem hermetismos, mas sempre contundente. "O Jardineiro Fiel" de Fernando Meirelles tem quase todos estes predicados também (aliás são filmes que tematicamente se complementam e ajudam a entender melhor os flagelos por que passa o continente africano e outras plagas), mas tem certas lacunas no roteiro, pois chega a ser inviável e tortuoso tentar entender todos os meandros da teia de corrupção e andanças, com a qual se defronta o diplomata vivido por Ralph Fiennes. É um problema que também afeta “Syriana- A Industria do Petróleo” de Stephen Gaghan com George Clooney como um agente veterano da CIA que aos poucos vai descobrindo com sua vida está contaminada pelas engrenagens suspeitas da organização. Já no filme de Niccols tudo é cristalino, mas sem nenhum didatismo chato.

Depois do controvertido, mas excepcional "Tiros em Columbine" de Michael Moore, não se imaginava que o cinema fosse abordar tão cedo e tão bem, a questão das armas com tanta virulência e de forma oportuna, ainda que de um novo ângulo. É o que acontece aqui com o “O Senhor das Armas”. O protagonista é de um cinismo atroz. Sua logística assassina de executivo de "coração de uva-passa" (valendo-me aqui de uma expressão de Luis Fernando Veríssimo) é avassaladora. Claro que não nos convence, se formos lúcidos e não oportunistas. Mas em outros setores que não os dos armamentos, como as indústrias farmacêuticas, o mundo das finanças ( e num grau menor, a política de juros dos bancos brasileiros e do Banco Central), despejo de empregados e cortes de direitos pelas empresas, ampliando as legiões de excluídos, etc., grassa no fundo o mesmo espírito de razão cínica, tema bastante estudado pelo psicanalista Jurandir Freire Costa, o que Yuri leva ao paroxismo. O filme neste sentido transcende o universo da produção de armas, com correlações que se pode fazer com aspectos da política brasileira, americana e mundial.

O filme, entretanto, não é cínico como seu personagem e trabalha um tema de alto teor político com muita arte. Há cenas belíssimas. Da abertura desconcertante que acompanha a trajetória de uma bala ao desmantelamento surreal de um avião por famélicos africanos, dentre outras, temos uma estética apuradíssima, que confirma Niccol não apenas como um grande roteirista, mas um grande diretor.

A história foi baseada em traficantes de armas reais e faz referências aos tráficos oficiais de artefatos mortíferos (travestidos de comércios legítimos), que no fundo são mais perigosos que as atividades clandestinas de Yuri.

Há quem acredite que o filme lance tanto argumentos a favor do desarmamento que foi discutido no Brasil, como para o armamento de pessoas comuns. Não concordo. Ao mostrar a devastação provocada pelo mundo das armas, o filme deixa inequivocamente um grande alerta: armas existem para serem usadas e em mãos inábeis ou corrompidas (a maioria), fatalmente ampliam o terror e as misérias que se apossam de nossa civilização combalida, nestes tempos pós-utópicos, que estão muito, mas muito longe, do que pregavam aqueles que sonhavam com um Era de Aquarius. Hoje o lema tem sido: "crie desamor e faça a guerra...". Alguma solução realmente inovadora e eficaz à vista?

Nelson Rodrigues de Souza

3 comentários:

  1. Mais uma vez Mauro Santayana nos ajuda a expandir as questões que o post levanta.
    Nelson


    Coisas da Política - A retórica e seus limites

    Mauro Santayana- JB- 26 de fevereiro de 2009

    Churchill lamentava que os homens de Estado de seu tempo estivessem privados da leitura dos clássicos – e dos cavalos. Da falta dos clássicos se entende, embora seja mais difícil entender, que necessitem de cavalos em nosso tempo. De acordo com Shakespeare, Ricardo III, depois de cair do seu, abatido por um arqueiro, ofereceu o reino por nova montaria. Churchill se referia aos cavalos concretos, mas o animal serve de metáfora à política. O homem de Estado deve estar montado em um projeto. No dorso de seus cavalos firmavam-se Alexandre e César, Napoleão e Ricardo III, mas também seus objetivos, alguns vitoriosos, outros não.

    No discurso de anteontem ao Congresso, o presidente Barack Obama foi enfático na promessa de que o seu país sairá mais forte da crise atual. Está respeitando a retórica, mas desatento com relação à História. Talvez, para lembrar Churchill, lhe faltem os clássicos. É claro que o presidente os conhece de Harvard. Mas uma coisa é o conhecimento de um texto e outra, a constante meditação de suas lições – quando trazem lições. A História nos mostra que os impérios, uma vez em declínio, não se recuperam – cedem praça a novas forças. Isso não significa que os Estados Unidos não venham a restaurar sua economia. Para recuperar-se politicamente no mundo, só dispõem de uma saída: deixar de ser o que têm sido. Se Obama dispusesse de força, teria que sair amanhã do Iraque e do Afeganistão, e concentrar toda a capacidade de trabalho árduo dos americanos (a que se referiu) para a retomada da construção do país, na busca da igualdade social. Em suma: os Estados Unidos que ele construiria seriam outra nação, talvez menos temida, mas provavelmente mais respeitável. Para resolver o problema de saúde – que ele reconhece ser inadiável – não bastarão os recursos orçamentários, que são limitados. Ele terá que se confrontar com o poderoso lobby da indústria farmacêutica e dos hospitais privados a fim de que reduzam seus lucros, e os gastos sejam suportáveis pela sociedade. Outro desafio é o da energia renovável. A indústria do petróleo resistirá para não perder o lugar que ocupa na economia nos últimos 100 anos. Outro problema grave é o dos automóveis: o aumento de circulação dos veículos exige investimentos pesados na infraestrutura das cidades e das estradas, na mineração e na siderurgia. Se os norte-americanos fossem capazes de substituir a cultura do automóvel, estariam dando excelente exemplo ao mundo. Obama, no entanto, foi corajoso, ao dizer, claramente, que é preciso reduzir a renda dos mais ricos, em favor dos mais pobres.

    A chave de tudo, no entanto, está na regulamentação das atividades econômicas. O Estado não pode cruzar os braços e esperar que o mercado estabeleça o equilíbrio. Isso podia ocorrer no passado, quando não havia monopólios, cartéis e oligopólios privados, que hoje determinam, com seu poder, o comportamento da economia. No topo do capitalismo encontra-se o sistema financeiro. Os grandes bancos sempre se esquivaram do controle das instituições políticas, mas a partir do governo Reagan, nos Estados Unidos, foram além e se livraram de todos os constrangimentos. Estimulados pelo governo para que sonegassem impostos, pela via dos paraísos fiscais, muitos deles, protegidos pela omissão do Fed, lavaram dinheiro sujo, e esconderam o butim nos bancos suíços, tradicionais em guardar valores roubados. E se essas fraudes contábeis, conhecidas como paraísos fiscais, não forem devassadas imediatamente, e não se proibirem operações off-shore, haverá tempo para que novas manipulações garantam a impunidade dos criminosos. Daí a necessidade de que o Estado passe a administrar diretamente o sistema financeiro, como voltou a defender ontem, em editorial, o New York Times. Depois de informar que os assessores do presidente Obama estão ansiosos para que o governo encontre uma forma de assumir as operações dos grandes bancos, o editorialista conclui: "If Mr. Obama has a better plan, the nation needs to hear it soon".

    A nova queda da Bolsa de Nova York, ontem, logo depois do discurso, dá outra razão ao grande jornal. A opinião pública espera uma decisão clara e imediata. Como aconselhava o economista chileno Jorge Ahumada, em certos momentos é preferível uma solução rápida e certa, ainda que imperfeita, a nenhuma solução. A hesitação dos governantes, em uma situação de urgência, costuma ser perversa.

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  2. Será que estou muito impaciente? Retirada do Iraque até 31 de agosto de 2010 não é muita protelação não? 18 meses de espera?
    Nelson

    Tropas estarão fora do Iraque até 2011
    JB- 28 de fevereiro de 2009

    Plano anunciado por Obama representa a retirada de até 107 mil dos 142 mil soldados no país

    O presidente Barack Obama anunciou a retirada das forças de combate do Iraque dentro de 18 meses, e apresentou uma nova estratégia que prioriza a diplomacia e o envolvimento com inimigos como Irã e Síria. Embora não tenha falado em números exatos, o plano de Obama representaria a retirada de entre 92 mil e 107 mil dos 142 mil soldados que atuam no país até 31 de agosto de 2010.

    Encerrar a guerra do Iraque permitirá a Obama ampliar o contingente no Afeganistão, que ele declarou ser a frente principal na luta dos EUA contra o terrorismo. Ajudará também a controlar o explosivo déficit público, previsto neste ano para 1,3 trilhão de dólares.

    – Estamos deixando o Iraque para o seu povo, e começamos o trabalho de acabar com esta guerra – disse Obama, quase seis anos depois de as forças dos EUA derrubarem o regime de Saddam Hussein, numa busca por armas de destruição em massa que afinal não foram encontradas.

    A guerra foi enormemente custosa para os EUA e marcou o governo de George Bush. Resultou na morte de 4.250 militares americanos e abalou a imagem do país.

    – Escolhi um cronograma que irá remover nossas brigadas de combate ao longo dos próximos 18 meses. Deixem-me dizer isso o mais claramente que eu puder: até 31 de agosto de 2010, nossa missão de combate no Iraque irá terminar – disse Obama, diante de esparsos aplausos da plateia de cerca de 2 mil militares no quartel Camp Lejeune, na Carolina do Norte.

    Obama disse que entre 35 mil e 50 mil soldados permanecerão no Iraque para treinar as forças locais, proteger os projetos civis de reconstrução e realizar operações limitadas de contraterrorismo.

    Ele salientou que a intenção de retirar todas as tropas até o final de 2011 respeita um acordo entre Washington e Bagdá firmado no ano passado, e, dirigindo-se diretamente ao povo iraquiano, disse que os EUA não reivindicam o seu território nem os seus recursos.

    O secretário de Defesa, Robert Gates, disse ser favorável a uma presença militar modesta dos EUA para ajudar as forças do Iraque, mesmo após 2011, desde que Bagdá solicite.

    – Minha opinião é de que deveríamos estar preparados para ter uma presença modestíssima para treiná-los e ajudá-los com seu novo equipamento, e fornecendo talvez apoio de inteligência – declarou Gates a jornalistas.

    Obama disse que Washington perseguirá uma estratégia diplomática regional, ajudará a reassentar milhões de iraquianos expulsos pela violência e tentará ajudar as lideranças locais a resolver questões políticas que dividem o país:

    – Os Estados Unidos irão buscar um engajamento com princípios e sustentável com todas as nações da região, e isso incluirá Irã e Síria.

    Washington acusa Irã e Síria de interferirem nos assuntos internos do Iraque, acusação que o governo local nega. O governo Bush tentou dialogar com o Irã sobre a estabilização do Iraque, mas acusações mútuas prejudicaram o processo.

    Obama disse que a retirada de tropas passa "um claro sinal de que o futuro do Iraque agora está sob sua própria responsabilidade".

    – Não podemos sustentar indefinidamente um compromisso que sobrecarregou nossos militares e irá custar ao povo americano quase 1 trilhão de dólares – acrescentou.

    Embaixador

    Obama nomeou o diplomata veterano Christopher Hill como novo embaixador do país no Iraque. Hill, que encabeçou a delegação americana no processo de negociações para pôr fim ao programa nuclear de Pyongyang, que envolve seis países (China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e Rússia), sucederá Ryan Crocker em Bagdá. Segundo a imprensa americana, Hill não fala árabe e não é especialista na região.

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  3. Sobre a delicada investida do Governo Obama no Afeganistão cabe pensar bem sobre os efeitos colaterais bem analisados no artigo adiante.
    Nelson

    Jornal do Brasil, 1 de março de 2009

    Um novo front à beira do colapso

    Investida americana no Afeganistão poderá dispersar células talibãs no país vizinho

    Joana Duarte

    Circundado por Irã, Índia e China, o Paquistão tem um problema geográfico crônico, que se agrava com a instabilidade que reina em seus 2.400 km de fronteira com o Afeganistão, área montanhosa que abriga diversas bases terroristas. Somado à recente "talibanização" do Vale do Swat, zona no noroeste do país uma vez conhecida como a "Suíça da Ásia", mas que hoje é santuário de clérigos pró-talibã que administram a região pela lei islâmica, o Paquistão se encontra hoje à beira do colapso político, econômico e da fragmentação geográfica.

    Em vista disso, a decisão do presidente americano Barack Obama de enviar um reforço de 17 mil soldados ao Afeganistão até meados de 2009 e de atacar com mísseis não-tripulados as bases de grupos terroristas ao longo da fronteira poderá intensificar a ameaça de talibãs no Paquistão. Segundo informaram autoridades da própria inteligência paquistanesa no início da semana, a nova investida americana deverá dispersar células talibãs, que buscarão novos enclaves no país vizinho.

    – A crise de Estado moldará o futuro do Paquistão – indica Teresita Schaffer, diretora do Programa de Estudos Estratégicos e Internacionais para o Sul da Ásia Central do CSIS, um think tank sediado em Washington. – Uma manifestação disso é o problema da falta de uma governança central na região. Outra é a precária relação entre civis e militares. Na minha visão, os Estados Unidos precisam começar a ver o futuro político e o bem-estar econômico do Paquistão como a maior prioridade de toda a região, mais até do que o próprio Afeganistão. Não acho que podemos remediar o problema do Afeganistão sem que se tenha um Paquistão melhor governado, com um poder central bem definido.

    Para Alexander Thier, cientista político do Instituto Americano pela Paz (Usip, na sigla em inglês), o Paquistão vive um período especialmente perigoso pois o grau de radicalização no país tem sido utilizado para inflamar a população com nacionalismo exacerbado e xenofóbico. E o pior, observa Thier, é que o governo paquistanês perdeu o controle sobre essa retórica, que foi adotada com sucesso por extremistas.

    – Essa tática de usar o nacionalismo como elemento catalisador da radicalização funciona no Paquistão pelo fato de os jovens não enxergarem outra alternativa política. A única opção viável para participarem ativamente do governo é pelo nacionalismo radical. Isso serve como um enorme estímulo para se unirem aos movimentos jihadistas, originalmente concentrados na fronteira, mas que já chegaram até Islamabad.

    Thier destaca que o recente acordo entre rebeldes talibãs do Vale do Swat e autoridades regionais paquistanesas, bem como o re-estabelecimento da lei islâmica (sharia) na região, servirá apenas para fortalecer a militância islâmica no noroeste paquistanês, ameaçando ainda mais a integridade geográfica de um país já bastante fragmentado.

    – A questão fundamental que mais me preocupa nas negociações em Swat é o fato de se classificar a sharia, estabelecida pelos talibãs, como sendo a lei islâmica, porque isso faz parte de uma batalha muito maior sobre quem tem autoridade para definir e interpretar o significado da lei islâmica.

    O analista diz considerar o acordo perigoso porque, por meio dele, o governo paquistanês entrega aos mullahs radicais da região o poder de estabelecer interpretações perigosas e inflamadas para quem tem motivações políticas radicais.

    – Isso pode levar até mesmo a uma nova interpretação do que é o Islã, impondo definições e influências radicais na segunda maior população muçulmana no mundo.

    Thier diz ainda que, da perspectiva dos EUA, o Paquistão se tornou, nos últimos anos, a nação mais perigosa da região, no sentido de que a combinação de seu poderio nuclear com uma população de jihadistas radicais, agravada pelo atual colapso econômico, faz da região o cenário ideal para uma situação catastrófica e de proporções imprevisíveis.

    Falta capital

    Steve Cohen, analista sênior do Instituto Brookings e autor de Idea of Pakistan vê na economia, que ameaça levar o país à falência, o maior obstáculo do atual governo paquistanês. Para ele, a possibilidade de o Paquistão permanecer como uma "aristocracia benevolente" é hoje menos provável do que há quatro anos.

    – Durante o governo Pervez Musharraf, a economia não prosperou e hoje não está preparada para encarar a globalização modernista. Acho bastante provável que uma ditadura militar seja instaurada mais uma vez.

    Para Cohen, um dos raros fatores positivos no país é que, pela primeira vez na História, todos seus vizinhos não querem ver o pior acontecer no Paquistão, e até mesmo torcem pela volta de sua estabilidade, por também dependerem dela.

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