Poemas do Subterrâneo- Parte 2
Ódio ao Trabalho
Este trabalho tão aético
Neste ambiente anti-séptico
Faz-nos perder a calma
Faz-nos vender a alma
Ao primeiro diabo que aparece
Este trabalho tão anêmico
Neste sistema neurastênico
Faz-nos sentir covardes
Faz-nos ansiar pela tarde
Enquanto a mente demente entorpece
Este trabalho tão aviltante
Nesta prisão sufocante
Faz-nos cair em arapucas
Faz-nos sonhar com bazucas
E clamar aos céus com uma prece
Este trabalho tão mesquinho
Nesta sala em desalinho
Faz-nos entornar o caldo
Faz-nos soçobrar como rescaldo
De um eterno incêndio que acontece
Este trabalho tão deletério
Neste espaço cheio de mistérios
Faz-nos morrer de tédio
Faz-nos do salário um assédio
Que trata a fome e ao espírito empobrece
Este trabalho tão superficial
Neste refúgio banal
Faz-nos ter os nervos em frangalhos
Faz-nos funcionar como quebra-galhos
Para um fim que a gente, alienados, desconhece
Este trabalho tão subalterno
Neste pelourinho moderno
Faz-nos mergulhar em desvarios
Faz-nos ficar tão sombrios
E a memória, angustiada, só grita: Esquece!
Este trabalho tão surreal
Neste poleiro infernal
Faz-nos sair com evasivas
Faz-nos desperdiçar a saliva
E o coração, na contramão, enrijece
Este trabalho tão enganoso
Neste terreiro nervoso
Faz-nos pisar em falso
Faz-nos ascender ao cadafalso
E o capataz, falaz, nem enrubesce
Este trabalho tão infrutífero
Neste sótão soporífero
Faz-nos corroer as entranhas
Faz-nos apelar pra artimanhas
Enquanto o erário enfraquece
Este trabalho tão desgastante
Neste clima reinante
Faz-nos sofrer com trapaças
Faz-nos prever só desgraças
Enquanto o algoz enriquece
Este trabalho tão mecânico
Neste recanto satânico
Faz-nos sorrir entre dentes
Faz-nos ficar doentes
Não criando nada que interesse
Este trabalho tão lúgubre
Neste tugúrio insalubre
Faz-nos virar do avesso
Faz-nos ficar travessos
E cínicos diante do que aparece
Este trabalho tão inefável
Neste ambiente nada amável
Faz-nos levantar a lebre
Faz-nos ficar com febre
Enquanto o ânimo enfraquece
Este trabalho tão impessoal
Nesta região abissal
Faz-nos sentir malditos
Faz-nos dizer o dito pelo não dito
E a voz envergonhada enrouquece
Este trabalho....Este trabalho...
Este trabalho....Este trabalho...
Este trabalho....Este trabalho...
Este trabalho....Este trabalho...
Este trabalho....Este trabalho...
Até quando?
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Nelson Rodrigues de Souza
Como ex-vendora Avon, acho que o poema é muito oportuno. Laudely Peçanha
ResponderExcluirTem dias em que este poema se encaixa como uma luva. Carla Carvalho de Souza. Belém - PA
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