quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tristes Tópicos/ Perguntas de História Contemporânea Brasileira que o Leitor/Eleitor Deve Procurar Responder Para Votar Com Mais Consistência














Tristes Tópicos/ Perguntas de História Contemporânea Brasileira que o Leitor/Eleitor Deve Procurar Responder Para Votar Com Mais Consistência.

“Não há sentido no progresso quando precisamos esconder as misérias do passado”

Sobre “Solaris” de Andrei Tarkovski

Obs. Não acredito em objetividade total. Há sempre um dado de subjetividade em questão, ou melhor, nas questões.

Nelson

Bloco 1-

Quem matou e por que matou o prefeito Celso Daniel? Foi uma pessoa ou um complô? Como andam as investigações policiais sobre este caso? Estão paradas? Por quê? Já não era tempo de termos respostas concretas sobre o caso? É verdade o que relatou o jornalista Clovis Rossi na Folha de São Paulo: familiares de Celso Daniel tiveram de sair do país, pois aqui corriam perigo? Ou não? Por que não?

Bloco 2-

O escândalo do mensalão foi uma invenção do PIG (Partido da Imprensa Golpista)? Foi uma coisa à toa? Existe pequeno roubo e grande roubo ou existe roubo pura e simplesmente? Pode-se justificar falta de ética no governo petista alegando que no governo tucano a falta de ética foi maior ainda? José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Marcos Valério (e o famigerado valereoduto) etc. foram injustiçados? Lula, mesmo com sua inegável inteligência não sabia de nada? Ou sabia, era cúmplice e foi blindado para não se ter uma crise institucional no país com seu impeachment e José Alencar (totalmente despreparado) assumindo a presidência? Como andam as investigações sobre o mensalão hoje? Já se resolveu tudo? Pararam? Pararam por quê?

José Dirceu, deputado cassado, está por trás da campanha de Dilma? Que história é essa de que o PT será mais forte sob o governo de Dilma, uma declaração de José Dirceu ( O Globo/ 15/09/2010) ? Isto é bom ou ruim? Ou não?

O deputado Roberto Jefferson, pivô do escândalo, mentiu em tudo que disse? Ou não?

Aqueles dólares na cueca eram o que mesmo? Qual o objetivo?

Fernando Gabeira, Heloisa Helena, Chico Alencar, Frei Betto e outros saíram do PT por razões banais, radicalismos? Foram precipitados? Ou não?

Por que um dos maiores estudiosos de educação no país que é Cristóvam Buarque não conseguiu continuar no Ministério da Educação? É verdade que foi afastado por telefone?

Bloco 3-

Por que Lula/PT criticou tanto o Plano Real de FHC enquanto oposição e quando assumiu o poder manteve a estrutura do plano intacta, dando poderes a Henrique Meirelles no Banco Central, um dos pensadores baluartes da política econômica tucana? Lula e o PT sabiam o que estavam fazendo quando criticavam o Plano Real ou mudaram de ideia? Ou melhor, mentiam antes e agora aplicam a política macroeconômica que realmente desejavam? Ou não?

Por que durante anos ouvimos/líamos Aloísio Mercadante como o mais importante pensador de economia do PT (com Paul Singer correndo por fora), bastante crítico das políticas econômicas de FHC e quando Lula assume o poder, Aloísio não fica em nenhum cargo político importante da área econômica?

A política de juros do Banco Central é adequada e benéfica para o país? Ele deve agir independentemente do governo? Esta política ajuda os bancos a terem lucros recordes? Esta política prejudica as exportações? Como? Até quando? Ou não?

Bloco 4

É verdade que os sindicatos foram cooptados pelo governo, não tendo mais independência? O que fazem as novas lideranças sindicais que não ganham mais projeção como tinham Vicentinho, Luiz Marinho, dentre outros em sua época?

Bloco 5

A promessa petista de uma reforma agrária ampla foi para o espaço? Ou tudo está sendo feito no ritmo que deve ser feito mesmo? Mas se pensarmos que até mesmo países capitalistas como os EUA, o Japão (que após a segunda guerra implantou uma reforma agrária para fortalecer a debilidade econômica) etc. fizeram reforma agrária ampla há décadas, não estaríamos nós bastante atrasados, com os efeitos que conhecemos como as invasões legítimas de terras pelo MST, que cumprem a máxima de Vandré: quem sabe faz a hora, não espera acontecer?

Bloco 6

Por que as promessas de investigar/rever as privatizações do governo FHC que saneou com dinheiro público do BNDES estatais para depois vendê-las a preço de banana, como foi o caso da Vale do Rio Doce, não foram cumpridas? É verdade que um ano de lucro da Vale do Rio Doce já é muito mais do que foi pago por ela? Pois então, não seria o caso de rever este escândalo? Ou não? Tem razão o jornalista Elio Gaspari em chamar o que aconteceu nesta área de privataria (privatização que é coisa de piratas)? Caso afirmativo não seria uma obrigação ética e moral do governo que sucedeu FHC investigar estes fatos e punir os responsáveis?

Bloco 7

Lula antes da campanha eleitoral de 2010 iniciar fazia questão de estar com Dilma em palanques para inaugurar obras do PAC. Não era uma forma de campanha eleitoral? Isto é permitido por lei?

Bloco 8

Lula declarou ou não à revista ”Isto É” que um presidente não deve pensar, deve agir? Caso afirmativo, isto não é um disparate? Um presidente não deve examinar bem os problemas, pelo menos por certo tempo, para depois agir? Ou não?

Bloco 9

Marina Silva saiu do Ministério do Meio Ambiente e do PT por não suportar mais pressões para aprovar o que ela não considerava adequado, honesto. Carlos Minc assumiu seu lugar e resistiu um bom tempo. Marina era incompetente e/ou fundamentalista em termos de meio ambiente? Ou será que Carlos Minc fez concessões demais, teve jogo de cintura demais? E o presidente, não tem nada a ver com isto? Ou não? Por quê?

Bloco 10

Depois de tudo o que Collor aprontou com Lula: escândalo Lurian, com a ideia de aborto revelada e ainda tendo sido beneficiado pela inescrupulosa edição do debate, com o pior de Lula e o melhor de Collor pelo Jornal Nacional na véspera das eleições, a mando de Roberto Marinho (este num seminário internacional de acordo com a Tribuna da Imprensa declarou que fez isto sim porque “tinha de salvar o país, não o deixando cair nas mãos de Lula” (sic); esta edição foi fundamental para que Lula não se elegesse, pois havia um empate técnico e a maior parte dos eleitores tem de acordar cedo, não assistiu o debate (onde Lula apesar do nervosismo estava melhor), mas viu o Jornal Nacional....Enfim depois de tudo isto ( além dos escândalos de Collor que o levaram justamente ao impeachment), não chega a ser indecente, acabrunhante e deprimente ver Lula abraçado a Collor num palanque no Nordeste? Que interesses estão por trás deste abraço? Collor mudou tanto assim de caráter? Isto é possível? Pela extensão da corrupção de Collor e a morte suspeitíssima de P. C. Farias ( ou melhor Pati-farias...), esta história toda não deveria ter sido melhor investigada? E no entanto temos hoje, Collor, lacrimoso, comovido, apoiando Lula e este agradecendo o apoio. Repito: que interesses se escondem por trás de tudo isto?

Bloco 11

Sarney é inocente em relação a tudo o que foi escrito sobre ele, chegando até a se esboçar um movimento “Fora Sarney!”? Por que esta criatura que falsificou domicílio eleitoral (ou ele conseguia morar ao mesmo tempo no Maranhão e no Amapá?) para se candidatar é um dos sustentáculos do governo Lulo-petista? Mais uma vez: que interesses estão por trás de tudo isto?

Bloco 12

É verdade que o programa Bolsa Família foi criado no governo FHC e no governo Lula se deu alguns retoques? O que está sendo feito além do programa em si? Não são necessários novos programas? Já vieram? Se não vieram, por quê? Já não estão demorando? Ou não?

Existem ainda pessoas passando fome no país? Caso afirmativo, por quê? Não seria obrigação de um governo que apregoa governar para todos acabar com isto de vez? Caso negativo, como explicar as imagens atordoantes que o cineasta José Padilha (o mesmo de ”Tropa de Elite”) colheu para seu documentário “Garapa” (Brasil/2009), onde dentre muita miséria material e espiritual, vemos crianças debilitadas ingerindo apenas uma mistura de água com açúcar, a tal garapa, pra “saciar” a fome?

Bloco 13

É necessária uma Reforma Política urgente neste país. Ou não? Caso afirmativo, por que o presidente e /ou os políticos do PT e da base aliada do governo não a promovem? Que interesses estão por trás desta inação? Não será porque não querem cortar da própria carne que os favorece e obscurece a democracia?

O jurista Fábio Konder Comparato tendo em vista que esta reforma não sai (para ele deveria , com toda razão, haver um recall de políticos submetidos a novo escrutínio no meio do mandato para confirmá-lo ou não). É o que declara na revista Fórum de julho de 2010 onde é enfático: “A nossa democracia é uma farsa”. Ou não é? Por que o não?

Bloco 14

Os hospitais públicos estão em boas condições de atendimento à população? Gabeira fez que ia visitar certo hospital e visitou outro de surpresa e foi este o resultado: várias macas no corredor com pessoas esperando horas para serem atendidas. Não houve tempo para maquiagens.

Tive um problema de saúde sério bastante comum que foi resolvido, pois tenho plano de saúde privado que me permitiu fazer exames rápidos e logo ir para uma mesa de operação para retirar o mal. A pergunta que não quer calar: e o pobre hein? Vai ter de esperar meses para ver estes vários exames feitos e quando então for para operação pelo SUS seu organismo estará comprometido de tal forma que não mais adiantará esta operação e morrerá? Ou ele tem outra saída pelo SUS que aí está? Saúde não devia ser tão prioritária quando comer, ter renda? Por que não foi? Foi? Aonde?

Por que não há durante o ano todo propagandas governamentais massivas de prevenção a Aids e DSTs, em vez de haver só durante o carnaval? Será que a Igreja Católica não permite?

A Época de 13 setembro de 2010 tem matéria de capa em que conta a história absurda do menino que morreu aos 14 anos porque as autoridades médicas se recusaram – mesmo com ordem da justiça- a fornecer um aparelho para ajudá-lo a respirar que custava R$520 reais. Enfim Fábio de Souza Nascimento morreu esperando que União, Estado e Município decidissem quem pagaria o aluguel do concentrador de oxigênio que poderia salvá-lo.

Essa história é verdadeira ou é mais uma invenção do PIG para caluniar nosso sistema de saúde pública? Caso verdadeira não é absurdo que num governo do PT e Lula de tantos sonhos (agora tornados pesadelos?) isto ainda aconteça?

Pago bem caro o Plano Privado de Sáude hoje e à medida que vou envelhecendo vou ter de pagar mais ainda, quando mais precisarei dele (pelo menos é o que me informaram numa planilha). Não seria um caso de intervenção governamental para defesa do cidadão?

Com 8 anos de Lulo-petismo não deveria já ter havido um IM-PAC-TO na saúde? Sem saúde mal conseguimos comer muitas vezes. Assim não seria a saúde uma questão tão grave quanto as pessoas terem comida e renda? Ou não?

Bloco 15

Todo estado deve ser laico, sem interferências de qualquer religião que seja, por mais secular que ela seja, pois mais que ela, em tese, seja a da maioria das pessoas do país. Ou não?

O Estado Brasileiro na prática não é laico, devendo muitas satisfações à Igreja Católica e aos evangélicos que fazem parte da base de sustentação do governo. Ou não? Questões importantíssimas como planejamento familiar sério e amplo, do Sul ao Norte/Nordeste; aborto; eutanásia; união civil de homossexuais; leis avançadas contra homofobia etc. não passam pelo lobby desta gente a quem o governo dá satisfações, está amarrado. Ou não? Por quê?

Lula numa eleição passada esteve no palanque de Crivella, não indo ao de Wladimir Palmeira que é membro legítimo do PT. O pragmatismo de Lula com sua base de sustentação evangélica não tem ido longe demais? Ou não? Por que o não? Wladimir aceitou as desculpas de Lula. Isto vindo de um ex-líder estudantil que polarizava os estudantes com seus inflamados discursos. Pode-se dizer sem dor que os tempos são outros e concessões devem ser feitas? Qual o limite delas? Já não foram ultrapassadas? Não foi uma humilhação para Wladimir? Ou não? Por que o não?

Bloco 16

Para a assim chamada governabilidade o governo Lula apoia-se em gente da pior espécie como caciques do PMDB, que é um partido sem personalidade (para sermos eufemistas..), com gente como Sarney e contando ainda com pessoas como Collor e Renan Calheiros. Isto faz parte de uma política com a qual sonhávamos? Quais os interesses maiores que estão por trás de tudo isto? Esta governabilidade a este modo é benéfica para o país? Esta é uma base de sustentação ou de intimidação, cobrando sua fatia na repartição no poder? Qual o preço que pagamos vendo os velhos oligarcas ainda no poder? Ou estamos no melhor dos mundos? Ou não?

Bloco 17

Devemos fechar questão em relação à inocência de Erenice Guerra e do empresário citado pela Veja em relação a lobbies, envolvendo a empresa EDRB dado os desmentidos deles? Ou mesmo assim temos que investigar até as últimas consequências este novo escândalo, que pode ter sido plantado por uma revista certamente de má reputação que é a Veja, mas caso contrário pode trazer novas luzes do como se dão os lobbies de empresários com o governo, pois conforme matéria da Folha de São Paulo, circulam pelo palácio e congresso engravatados estranhos ao pessoal ativo destas casas? Será mesmo um caso em que inventaram tanto a fumaça como o fogo? Não deve tudo ser investigado imparcialmente pela Polícia Federal, sem pressões governamentais? Segundo O Estado de São Paulo de 14/9/2010 um assessor de Eunice foi demitido pelo governo. Mas se a Veja mentiu em tudo, por que sacrificar este assessor? Ou não? Por que o não?

Bloco 18

Existe realmente ainda trabalho escravo no Brasil, conforme matéria da revista Caros Amigos recente onde até mesmo alguns locais onde isto se dá são citados? Caso afirmativo, os escravagistas vão ficar impunes? Dado a gravidade e urgência do problema não deveriam ser iniciadas investigações para detecção de focos desta infâmia que já deveria ter sido erradicada no Século XXI?

Bloco 19-

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/05/472030.shtml

Analisemos a matéria do site mídia independente acima.

"Dilma Mentira a Outra" Falsifica o Currículo


Por Leandro Teles Rocha 24/05/2010 às 14:12
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A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, admitiu nesta terça-feira que não concluiu os cursos de mestrado e doutorado em Ciências Econômicas na Unicamp, apesar de a informação constar em seu currículo no site do ministério.



Dilma, pré-candidata à sucessão presidencial, afirmou que concluiu todos os créditos dos dois cursos, porém alegou que não teve tempo hábil para defender as respectivas teses porque as funções públicas que ocupava não lhe permitiram.


Reportagem da revista Piauí questionou o currículo de Dilma divulgado pela Casa Civil.


"Eu fiz doutorado em 1997 e 1998, concluí todos os créditos, eu tinha um prazo para fazer a tese. Enquanto não me jubilarem eu sou doutoranda", disse Dilma a jornalistas após cerimônia no Rio de Janeiro.


A ministra disse que havia um erro nas informações divulgadas pelo Sistema de Currículo Lattes, que mostrava que ela cursou ciências sociais.


"Aquela ficha do Lattes era de 2000. Eu era secretária de Minas, Energia e Telecomunicações (do Rio Grande do Sul). Eu não tinha mais nenhuma vida acadêmica. Eu era doutoranda porque eu não tinha sido jubilada, era doutoranda", acrescentou.



"Ao que me parece, eu fui jubilada (da Unicamp) em 2004, mas não fui comunicada", disse, acrescentando que tem interesse em concluir o doutorado.


Depois do questionamento da imprensa, o site oficial da Casa Civil informa que ela é formada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e foi aluna de mestrado e doutorado em Ciências Econômicas pela Unicamp, "onde concluiu os respectivos créditos".

As explicações da Dilma são satisfatórias? Ou não? Um amigo professor de História me disse que só se constrói o Currículo Lattes com senha pessoal. Outra pessoa esteve de posse desta senha? Ou não? Então Dilma fez o que quis com o currículo. Ou não?

Bloco 20

Lula quando deputado disse que no Congresso Nacional havia 300 picaretas. Mudaram os tempos e não há mais picaretas? Ou não? Assim, agora o presidente tem apoio da maior parte destes picaretas? Ou foi uma injustiça chamá-los de picaretas? De qualquer modo os Paralamas do Sucesso fizeram uma música com o tema. Com alguns retoques a música continua sendo atual? Ou não? Por quê?

Eu faço questionamentos. O jornalista Augusto Nunes é afirmativo ( http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/tag/baruk/

Bloco 21

A inflação está realmente controlada? Aqui no Humaitá, Rio de Janeiro o preço de bens e serviços tem aumentado, não tanto, obviamente, como na Era Sarney, mas têm aumentado. Será que terei de ir a Niterói fazer compras de verduras, legumes e frutas em sacolões onde me dizem que aí sim os preços estão em conta?

O preços para cinema e principalmente shows, concertos, dança, teatro (com exceção do CCBB-RJ, Caixa Cultural e nos Sescs) estão em alguns casos chegando a absurdos mesmo com patrocínios. Os produtores ou por ganância e/ou por saberem que existe um enxame de carteirinhas falsificadas colocam os preços em alta. Não existe solução para o problema? O Ministério da Cultura não tem nada a ver com isto?

Bloco 22

Por que Gilberto Gil depois de anos apoiando Lula como Ministro da Cultura, sai do Ministério e se torna eleitor de Marina Silva? Ingratidão, fidelidade partidária, lucidez? Ou não?

Quando teremos políticas realmente eficazes de proteção ao Cinema Brasileiro contra a hegemonia dos blockbusters americanos que muitas vezes no seu conjunto ocupam mais de 90 % das salas de exibição no país? O Ministério da Cultura não tem nada a ver com isto?

Bloco 23

Depois de votar em Lula para presidente por umas cinco vezes não é desanimador ver todos os petistas históricos eclipsados e surgir uma candidata apoiada pelo presidente que nem participou da fundação do partido, tendo sido ligada ao PDT de Leonel Brizola, alguém que nunca escondeu suas desconfianças em relação a Lula, cunhando até a expressão pejorativa “sapo barbudo”? Ou não? Por quê? Por que o não?

Bloco 24

O caso Receitagate deve ser investigado até suas últimas consequências? Ou não? Quebra de sigilo fiscal é crime? Ou não? Por que o não? Você gostaria de ter seu sigilo fiscal quebrado mesmo que não tenha nada a temer? Ou não?

Bloco 25

É verdade que Dilma quando ministra gritava com seus subordinados? Ou não? Caso afirmativo será que ela vai gritar com seus ministros também se eleita?

Bloco 25

Por que intelectuais históricos do PT como Marilena Chauí passaram a silenciar sobre os prementes fatos que foram ocorrendo, não dando mais entrevistas à grande imprensa e dando uma ou outra à imprensa dita independente? Este silêncio é devido à que a grande imprensa como um todo e seus leitores não merecem crédito ou se deve a uma grande dificuldade em explicar todas as contradições em que Lula e o PT se enredaram? Ou não?

Bloco 23

Pode-se argumentar que a esmagadora maioria das pessoas que dá tão alta popularidade ao presidente, a qual alavanca a candidatura Dilma, não tem ideia, nem se questionam com relação nem a 2% do que foi elencado. Ou não? Caso afirmativo pode-se dizer que a popularidade do presidente se deve mais à ignorância (no sentido não pejorativo, mas daquele que ignora) do que aos reais valores do seu governo? Ou não?

Bloco 24

Lula e o PT avançaram na questão premente da ética na política? Ou não? Fora da ética há salvação? Ou não? Por quê?

Bloco 25

Milícias nas favelas ainda existem em tempos de UPPs? Os envolvidos foram todos presos e condenados? Houve fuga recente de milicianos presos com regalias e provavelmente com cobertura para tal. Isto ficará impune? Ou não?

UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) são suficientes? Ou não? Que mais dever ser feito? Está sendo feito? Por quê não? Ou não?

Bloco 26

Por que na cidade do Rio de Janeiro não podemos parar cinco minutos que seja na cidade, Centro ou Zona Sul, lugares que mais frequento, sem que apareça criança, adolescente, adulto ou velho pedindo esmola ou dinheiro para comer algo? Ou não? Por que a tão decantada melhora da economia não chegou para estas pessoas?

Bloco 27

“Entreatos” (Brasil/2004) de João Moreira Salles sobre a campanha presidencial de Lula para seu primeiro mandato o mostra preocupado, dizendo algo deste teor no avião: “Agora está chegando a hora em que como presidente vão me cobrar as promessas de campanha”. Não estaria já ali um embrião de tudo o que aconteceu depois? Ou não? João tem muito material filmado que só tornará público não se sabe quando. Não seria um ato patriótico trazer todo este material à tona imediatamente? Ou não? Por quê?

Bloco 28

O próprio presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), o economista Márcio Pochmann declarou em entrevista à Revista Caros Amigos de 161/2010 que a desigualdade no Brasil é coisa de sociedade feudal, que a estrutura fundiária é pior hoje do que era nos anos 50 e que estamos iniciando o século XXI com problemas do século IX. O que o governo Lula fez de avanço realmente concreto além deste diagnóstico previsível deste órgão ligado ao Ministério do Planejamento? Fez? O quê? Como? Aonde? O bolsa-família de novo?

Bloco 29

O neoliberalismo tem como pedra fundamental a máxima darwinista de Adam Smith “cada um cuida de si que a mão invisível do mercado cuida de todos”. Alguém em sã consciência acredita nisso? Pois este é o dogma que estão nos vendendo desde sempre com os mais variados nomes. Para Freud, não há civilização sem repressão ( lei). Para a segunda lei da Termodinâmica a tendência natural é a entropia (desordem); não é à toa que os físicos dizem que a tendência do universo é se destruir. Pode-se então acreditar que esta entidade chamada mercado seja privilegiada e possa agir sobre a sociedade sem controle do estado? O governo Lulo-petista fez algo realmente significativo para romper com este dogma que nos é imposto goela abaixo? Pode-se dizer que este governo não é na prática neoliberal? Pode-se dizer que é social-democrata? Como? Por quê?

Etc...etc.........etc.........etc..........etc.............

Expostos estes 29 blocos perplexos e tendo algumas respostas particulares para eles, garanto ao leitor que não estou de forma alguma de malas prontas para embarcar na candidatura Serra/PSDB/Índio da Costa/DEM. Fiquem tranquilos! Deste mal não morrerei...Em que pese alguns radicalismos com os quais não concordo, eu que dou tanta importância à pessoa como ao partido em que ela se insere, só me resta ir com todas as minhas bagagens para votar no PSOL de cabo a rabo.

Meu candidato a deputado federal é Jean Wyllys, 50005, alguém que, sem peleguismo, pode tanto ajudar a realmente avançar as questões GLBT com as quais sempre sonhei como a criminalização da homofobia, união civil para homossexuais para todos e não ao sabor de concessões de algumas empresas, como também pode propor questões/ aprovar que fogem desta área e que são também muito importantes para se ter um ótimo deputado federal. Inteligência, talento, cultura e sensibilidade não lhe faltam.

Na presidência voto em Plínio de Arruda Sampaio, sendo que é uma pena que ele não tenha mais espaço na mídia televisiva e impressa para se expressar. Alguns dizem que ele está muito velho. Preconceito bobo.

Para Deputado Estadual voto em Marcelo Freixo, 50123. Este por indicação de pessoas que admiro.

Para Governador Jefferson Moura, 50. Para o Senado, Milton Temer, um grande batalhador de anos que nunca se deixou vender. Como há outro senador fico com a tenacidade de Lindenberg Farias (PT.......), mas sem entusiasmo.

“O P-Sol há de brilhar desta vez, a luz há de apagar a escuridão. Do mal será retirada a semente. A ética na política será eterna novamente”.

Ps1 Se tivesse um segundo turno entre Dilma e Serra eu, com muito aborrecimento, votaria em Dilma pois acredito que um governo Serra/PSDB/DEM seria ainda pior. Votar em branco pra mim é como um suicídio para se resolver as questões candentes da vida.

Ps2 Em Marina Silva não voto porque não vejo no que propõe nenhuma crítica ao poder predatório em si do capitalismo. Para ela, segundo expressão feliz de Plínio Arruda podemos viver bem com o ecocapitalismo.

Em Gabeira , em quem já votei mais de uma vez, não voto de forma alguma agora pois apoia e é apoiado por César Maia, uma peste ( do DEM!) que se abateu sobre a cidade do Rio de Janeiro por anos e ainda por um bom tempo estaremos pagando por ela.

PS3 Para não dizer que eu não falei de flores, declaro que se fosse votar pela libido votaria para governador em Sérgio Cabral. Bonito, sensual, simpático e sedutor. Mas aí é que mora o perigo...Enquanto a polícia....bem chega!

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Nelson Rodrigues de Souza

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

“O Signo da Cidade” de Carlos Alberto Riccelli / A dor humana mitigada pela solidariedade na aglomerada solidão da metrópole













Este texto contém spoilers, ou seja, detalhes de filmes são revelados para serem mais bem analisados.

“O Signo da Cidade” de Carlos Alberto Riccelli

A dor humana mitigada pela solidariedade na aglomerada solidão da metrópole

Uma das “sete pragas do Egito” que assola parcela da crítica cinematográfica contemporânea brasileira é a detonação quase que automática de filmes corais. Filmes corais são obras em que várias vozes são ouvidas em histórias que se desenvolvem paralelamente, algumas com defasagens de tempo e que aos poucos vão sendo mais bem compreendidas, tendo às vezes um personagem principal catalizador ou não, com uma tendência a dar importância e peso equivalente à maioria deles. Claro que há muitas variações dentro desta estrutura coral e personagens de exceção. O equívoco desta crítica impiedosa é acreditar que depois das obras-primas do gênero que o gênio Robert Altman construiu como “Nasville” (1975), “Cerimônia de Casamento” (1978) e “Short-Cuts- Cenas da Vida” (1993) e que outro gênio, Jean Renoir, também, de certa forma, antecipou com o clássico “As Regras do Jogo” (1939), o resto tende a ser diluição oportunista. Nada mais falso: Paul Thomas Anderson no magnífico “Boogie Nights-Prazer Sem Limites” (1997) e na obra-prima “Magnólia” (1999), com sua catártica chuva de sapos apocalíptica, se mostrou um discípulo extraordinário e comovente de Altman, com filmes corais de grande impacto.

Estas obras de Thomas conjugadas nos mostram um precioso e devastador painel dos desencontros e descaminhos da sociedade americana em que as pessoas se afogam no narcisismo, na catatonia, na alienação, no hedonismo, no individualimos, no racismo, na misoginia, etc., temas também caros a Altman. Numa chave mais particular ( principalmente em “Magnólia”) as pessoas deixam aflorar a sua humanidade em situações limites como doenças terminais que levam enfim pais a se reconciliarem com filhos, mesmo que por um tempo exíguo. Nada mais humano. Infelizmente nada mais tão execrado por parte da crítica que parece estar sempre ávida só por filmes que nos deixem sempre com a boca amarga após as projeções ou então por filmes totalmente escapistas. Como reconhecimento à sua veia altmaniana, Paul Thomas Anderson teve a honra de ser escolhido pelos produtores de “A Última Noite”- EUA/2006 (provavelmente com o aval do próprio Altman) para ficar de stand-by nas filmagens desta obra derradeira da carreira de Altman que este rodou em precárias condições de saúde, mas conseguiu concluí-la (está longe de seus melhores trabalhos) e como este artista maior morreu logo depois, passou a ser um premonitório testamento cinematográfico, com seu clima de fim de uma era, no caso um programa musical de rádio, com personagens naïves inadaptados ao pragmatismo que passa a ser reinante.

“Crash-No Limite” (2005), com direção e roteiro de Paul Haggis (roteirista de obras-primas de Clint Eastwood” como “Menina de Ouro”-2004 e “A Conquista da Honra- 2006 ) num elaborado retrato multifacetado das tensões sociais, raciais e políticas de uma Los Angeles devastada do pós 11 de setembro ( “onde as pessoas dão encontrões uma nas outras para sentirem alguma coisa, ou seja colidem uma com as outras para terem uma forma de contacto humano ainda que precário, tão fechadas que estão por detrás dos vidros de seus carros”), foi reduzido até mesmo a pó de traque por parte da crítica, havendo até quem escreva que não é cinama. É certo que o filme apresenta alguns truques narrativos talvez demasiadamente visíveis, algumas coincidências excessivas que podem desafiar a nossa suspenção da descrença (mas a vida não é cheia delas?), num filme de tomada de posição estética realista. Mas no conjunto e em detalhes e seqüências eloquentes ( principalmente no grandioso conjunto de eventos que faz com que um iraquiano falido atire num chaveiro, estando este com uma criança no colo,o que gera um bastante expressivo cartaz da obra), temos um filme muito bom e nada negligenciável e descartável como advogam muitos, captando com a antena que os artistas têm, o ar pesado de Los Angeles, suas teias de aranha de intolerâncias mútuas, onde negros, brancos, mexicanos, coreanos, muçulmanos, latinos de modo geral etc. se contaminam todos por uma forma de opressão, quando não de omissão, relativizando a noção de o bem e o mal. Basta lembrar a negra que nega assistência médica ao pai do policial racista, escudando-se em minúcias da burocracia, tecnicalidades que poderiam ter sido relevadas.

”Crash-No Limite” ganhou surpreendentemente o Oscar de Melhor Filme em 2006, quando o grande favorito, merecidamente, era o extraordinário “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005) de Ang Lee, este sim uma obra-prima que já tinha ganhado praticamente todos os prêmios importantes, até mesmo um Leão de Ouro em Veneza de melhor filme. Mas esta flagrante injustiça dos membros da Academia de Hollywood não pode nos deixar cegos quanto às grandes e evidentes qualidades de “Crash-No Limite” apesar de seus defeitos (por exemplo: o policial que no abuso de suas funções apalpa a mulher de um negro, casal que tinha sido flagrado num fellatio num carro, com o silêncio temeroso do marido diante da ofensa à mulher, numa averiguação racista, sendo que depois este mesmo policial salva esta mesma mulher de um acidente de carro, com explosões sucessivas, sem economia de dramaticidade, com tudo em câmera lenta, enfim estas correlações todas carregam em si uma obviedade desnecessária). Em outros aspectos “ironias do destino” o filme é muito mais bem sucedido, tendo uma força apreciável e compondo um quadro de uma Los Angeles/América em derrisão, apocalíptica, com maiores ressonâncias, muitas vezes atordoante e pungente.

Quando de sua exibição nos cinemas, chegou a vez da detonação por alguns críticos de “O Signo da Cidade” (Brasil/2007), outro filme de estrutura coral, com roteiro de Bruna Lombardi e direção de Carlos Alberto Riccelli, segundo filme da dupla que vive entre São Paulo e Los Angeles há anos ( o primeiro, “Stress, Orgasms and Salvation” (2005), seria lançado em 2008, o que não aconteceu, tendo sido exibido só na Mostra de São Paulo). Segundo Riccelli lançar um filme brasileiro é uma tarefa mais difícil do que realizá-lo, sentimento que é comungado por muitos outros cineastas brasileiros. Lançado em meio ao burburinho de filmes ganhadores do Globo de Ouro e concorrentes/ganhadores do Oscar no início de 2008, este fundamental trabalho passou quase que despercebido pelo público, o que é uma pena, pois grandes qualidades não lhe faltam. Se “Magnólia” e “Crash-No Limite” nos impressionam pela contundência, “O Signo da Cidade” sem abdicar de mostrar a dureza que é viver enredado na ”aglomerada solidão” ( expressão muito feliz de Tom Zé em “São, São Paulo, Meu Amor”) de uma grande metrópole, não deixa de mostrar muita poesia neste cotidiano de vidas anônimas, muitas delas desesperadas.

As histórias paralelas que acabam se tocando de alguma forma são universais, mas a cidade de São Paulo pelas panorâmicas e minúcias arquitetônicas escolhidas a dedo, também é um grande personagem de “O Signo da Cidade”, conforme acontece com muitas obras do absurdamente subestimado grande cineasta Walter Hugo Khoury (do seminal clássico “Noite Vazia”-1964), com o essencial “São Paulo S/A” (1963) de Luis Sérgio Person e mais recentemente com as obras de Ugo Giorgetti ( do extraordinário e demolidor “O Príncipe”-2002), “A Via Láctea” (2007) de Lina Chamie e “Não Por Acaso”(2007) de Philippe Barcinski ( uma bela obra, mal lançada e pouco vista que num certo aspecto também dialoga com o filme em questão, com o tema da força da existência do acaso ( ou não....)), dentre outras homenagens que a cidade de São Paulo recebeu.

Em “O Signo da Cidade”, Teca (Bruna Lombardi) é uma astróloga que trabalha num programa de rádio à noite (com o título do filme) onde ouve os dilemas, angústias, as encruzilhadas humanas etc., por telefone, de anônimos e procura orientá-los dentro de seus limites, transparecendo honestidade, sinceridade e delicadeza naquilo que faz para pessoas que não têm outros seres para ouvi-las com a atenção que merecem, sendo que o grau de exposição de suas almas só aflora com o carisma da formosa bruxa. Em seu consultório ela também joga tarô, buscando a mesma seriedade onde dentre outros atende o jovem depressivo e suicida Luís (Thiago Pinheiro). Teca vem de uma separação dolorida e acaba se envolvendo afetivamente com Gil (Malvino Salvador), vizinho extremamente mal-casado com Lydia (Denise Fraga), que tem um caso extraconjugal com uma pessoa perigosa, o que esconde do marido, passando a procurar ajuda esotérica de Teca, criando situações éticas melindrosas.

Mônica (Grazielle Moretto) é a assistente de Teca na rádio, pragmática, cínica, divertida e que se envolve com Devanir (Fernando Alves Pinto) que conhece num assalto e que promete levá-la para uma viagem dos sonhos em Cancún. Cristina Mutarelli é uma dondoca que procura Teca sem saber bem o que quer e tem uma relação bastante superficial com o filho (“Gostou da camisa que lhe dei?”- pergunta num momento de encontro com o filho, com o tempo de uma faísca), o que se mostrará um desastre. Sombra (Luis Miranda) é um enfermeiro generoso que segundo colegas entra em “transe mediúnico” e cuida das pessoas com sucesso, com a destreza de um médico formado. Josialdo (Sidney Santiago) é um consciente e atrevido (no bom sentido da palavra) travesti que se prostitui nas ruas. Biô (Bethito Tavares) sem que a mãe (Ana Rosa) saiba, muda seu look ao sair de casa, tem uma grande amizade com Josialdo e trabalha na rádio com Teca. Gabriel (Kim Ricelli) vende até seu instrumento musical, juntando dinheiro para proporcionar uma viagem a Cancún para a mãe Isadora (Irene Stefânia), prisioneira da depressão e de remédios de tarja preta, que chega até a procurar pelo telefone ajuda de Teca em seu programa de rádio, uma ajuda em que ela se auto-sabota.

Zécarlos Machado é um delegado que ao mesmo tempo em que hipocritamente encosta Teca na parede questionando a seriedade de seu trabalho, sai à noite em busca de travestis. Adélia (Eva Wilma) criou Teca depois que o pai Aníbal (Juca de Oliveira) desapareceu sem mandar dinheiro, quando a filha era jovem, com mais empenho ainda depois que a mãe de Teca, Helena morreu. Celeste (Selma Egrei) é uma amiga de Adélia que surge en passant dentro da obra, servindo café com um sorriso luminoso. Júlia (Laís Marques) é uma jovem de tendências suicidas que faz um aborto clandestino, ex-namorada de Luís e que acaba encontrando na incansável Teca, uma tentativa de ajuda para sair do inferno em que vive. Orievaldo (Rogério Brito) tanto vive experiências como um assaltante gauche, um pai desesperado com o filho doente, como também como um segurança desastrado e perigoso em seu serviço. Rafa (Marcelo Lazzaratto) é um enfermeiro gay, evangélico e dedicado que cuida de Aníbal. Este último como parente espiritual de “o louco em cima de uma árvore” de “Amarcord” (1973) de Fellini, quer ver uma mulher (e nua....), para levar esta sensação para a eternidade. Rafa atende seu pedido e consegue que a enfermeira Yolanda (Valéria Lauand) generosamente (“Um dia podemos estar no lugar dele...”) realize um streap-tease para o velho Aníbal. Tanto este episódio como o das revelações especiais até então caladas na alma de Adélia (que sempre reiterou seu ódio por Aníbal e diz a Teca para apenas rezar por ele e não visitá-lo no hospital) são momentos dos mais intensos, belos e tocantes da História do Cinema Brasileiro). Estas como outras seqüências só não comovem os que têm coração de pedra, ou para usar uma expressão de Luis Fernando Veríssimo que vale a pena sempre citar, as pessoas com coração de uva passa, as quais estão sendo produzidas aos borbotões nesta era de individualismos tão consagrados. Iara Jamra é uma agente de viagens cujos olhinhos brilham ao se deparar com notas de dinheiro “vivas”. Wandi Doratiotto compõe um cara que trabalha num estacionamento e que será testemunha de um dos momentos mais difíceis desta delicadíssima tapeçaria de destinos humanos entrecruzados que Bruna Lombardi construiu com seu roteiro e Carlos Alberto Riccelli deu uma vida cinematográfica fantástica e exemplar.

Caetano Veloso imortalizou São Paulo, ao seu modo instigante, no clássico “Sampa”. Numa cidade mais dura ainda em suas contradições do que a que o poeta retratou, não deixa de ser sintomático tê-lo cantando numa belíssima seqüência que acompanha a desolação de Gabriel com a morte da mãe. Vale a pena reproduzir aqui na íntegra a letra de Bruna, com alguns realces, que foi musicada por Carlos Alberto Riccelli:

Sozinho na Cidade

Pra onde ela foi a cidade que eu tinha

e tudo o que era meu...

Eu tinha o chão, tinha o céu e agora

nem sei o que aconteceu.

Você foi embora e a rua vazia

a casa vazia doeu...

ainda queria dizer tanta coisa,

mas não deu...

Pra onde foi tudo o que eu tinha

pra onde você foi

e eu

vou pra onde?

Aonde a gente se esconde

do que aconteceu...

ainda queria dizer tanta coisa

mas não deu...

nessa cidade tão cheia de gente

ninguém sabe o que você sente

ninguém quer saber de ninguém

Está tudo escrito ou a gente pode mudar?”- pergunta Gil a Teca. Ao seu modo delicado e requintado “O Signo da Cidade” é uma obra que tem como centro esta questão, cujos impasses humanos que se criam a partir dela, só vão encontrar solução amenizadora na grandeza com que um espírito mitigador de solidariedade ecloda para aplainar conflitos sociais e existenciais. Sim, é preciso que tenhamos ainda solidariedade até mesmo com nossos defeitos graves, procurando mudá-los. O filme nos aponta para a necessidade de uma relação dialética para lidarmos com o que pode ser mudado e o que tem que ser aceito porque foge dos nossos domínios. É uma obra que passa longe de qualquer visão conformista e não pode ser confundida com o didatismo de obras de autoajuda, pois no filme estamos mesmo é no reino da pura poesia.

“O Signo da Cidade” é um trabalho feito com muito amor ao cinema (que resplandece no roteiro de Bruna Lombardi, na direção de Carlos Alberto Riccelli, na fotografia muitas vezes expressivamente granulada de Marcelo Trota, na montagem fundamental de Márcio Hashimoto Soares, na trilha sonora de Sérgio Bártolo e Zé Godoy, que tem até o Cartola de “As Rosas Não Falam”, em instrumental, pontuando dramaticamente uma cena marcante etc.), com muito amor ao ser humano e os labirintos em que a vida o coloca, muito amor aos atores (alguns, autênticos ícones do melhor cinema que já se fez em São Paulo, como Irene Stefânia, Eva Wilma e Selma Egrei), com muito amor à cidade de São Paulo, com sua “feia fumaça que sobe apagando as estrelas”, tendo sua beleza e solidão ressaltadas por suas torres de transmissão e belos ângulos na captação de suas paisagens, seja em planos próximos, médios ou panorâmicos.

Defeitos? Se procurarmos o filme têm (temos que entender bem os efeitos do álcool das bebidas e do álcool puro; algumas coincidências podem soar excessivas; alguns personagens renderiam mais se tivessem um tempo maior de exposição; algumas situações são por demais elípticas, o roteiro talvez seja por demais enxuto). Mas dado a excelência do conjunto e de muitos magníficos e antológicos detalhes e seqüências, procurar estes defeitos é como agir como um neurótico que tem diante de si um grande banquete e começa a procurar moscas que possam estar ali passeando.

Com Aníbal muito mal em seu leito no Hospital, Sombra lê um belíssimo poema que merece ser citado:

Poema do Sombra

Se perdem gestos,

cartas de amor, malas, parentes.

Se perdem vozes,

cidades, países, amigos.

Romances perdidos,

objetos perdidos, histórias se perdem.

Se perde o que fomos e o que queríamos ser.

Se perde o momento.

Mas não existe perda,

existe movimento.

Assim, o que a obra tenta nos mostrar, não sem sofrimento, é que “não existe perda, existe movimento”. Numa canção também linda com letra de Bruna e música de Riccelli, “Sorte”, que Maria Bethânia canta, está uma das outras chaves do filme: ”Pode estar escrito em algum lugar ou a gente escreve ao caminhar”. É no movimento e não na inação que as “soluções” podem aparecer. E mesmo quando não há movimento possível, este paradoxalmente comparece. A poetisa Adélia Prado, a “Dona Doida” sublime nos explica melhor: “Eu sempre sonho que uma coisa gera. Nunca nada está morto. O que parece vivo, aduba. O que parece estático, espera”.

A grande beleza, sensibilidade e o grande talento artístico de Bruna Lombardi ( aqui também num belíssimo trabalho de atriz como Teca, mesclando suas certezas, incertezas, seus desesperos, suas dúvidas, suas tristezas e coragem etc.) e do marido Carlos Alberto Riccelli (aqui com um grande trabalho de direção, tendo atuado exuberantemente como ator no clássico “Eles Não Usam Black-Tie (1981) de Leon Hirszman e nos muito interessantes “Brasília 18%” (2006) de Nelson Pereira dos Santos e “Ele, o Boto” (1987) de Walter Lima Júnior, dentre outros filmes), o casamento humano e artístico dos dois, gerando o belo e promissor filho e ator Kim Ricelli, enfim toda a dádiva deste encontro ( estava escrito nas estrelas?) “é uma prova da existência de Deus”......Ou dá para acreditar que de acaso em acaso, juntando-se moléculas com moléculas, após um Big-Bang, com adaptações sucessivas darwinianas à natureza etc. tenham surgido estas maravilhas? Quem puder que dê outra explicação. Mas crente ou não, não perca este grandioso e emocionante filme brasileiro. Se você chorar em muitas cenas, respeite e não se envergonhe de suas lágrimas. Elas são genuínas diante da beleza ( atroz e/ou amena) do que se vê e se sente.

Ps1. O filme recebeu os seguintes prêmios: Melhor filme do júri popular do 4º Amazonas Film Festival, Melhor Filme, Roteiro, Ator (Juca de Oliveira), Ator Coadjuvante (Luís Miranda) no 3º FestCine Goiânia, Melhor Filme do Júri Popular do FIC- Brasília 2007. Merecia ter tido uma carreira maior em festivais de mais prestígio.

Informações preciosas para o texto foram obtidas através do site, também belo e imperdível, www.osignodacidade.com.br .

Ps2 Em 2010 um belíssimo filme coral de Rodrigo Garcia, “Destinos Ligados/ Mother and Child” (EUA/Espanha/2009) foi pessimamente lançado no Rio de Janeiro, tendo uma carreira canhestra que não foi à altura da grandeza da obra.

Ps3 Este texto foi originalmente escrito para o jornal Montblãat, estando aqui com cortes, correções e acréscimos.

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Nelson Rodrigues de Souza