domingo, 17 de outubro de 2010

Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro de 2010- Fica O Que Significa












Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro de 2010- Fica O Que Significa*

*Marilena Chauí

“Film Socialisme” de Jean-Luc-Godard

Um Godard aos 80 anos que está em plena forma, único como ele só sabe ser/estar no Cinema. Se não for atrevimento escolher um fio que perpassa toda a obra eu diria que se trata de um inventário ensaístico e poético sobre o que foi feito dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, mas sem chorar o leite derramado e sim com precisão cirúrgica, um distanciamento crítico formidável apoiado em imagens de tirar o fôlego de tanta beleza. De Dziga Vertov de “O Homem com a Câmera”, um dos filmes que deve ser um dos Faróis de Godard, vem uma montagem magnífica, sensorial. Mas ao contrário de Vertov, Godard não abre mão de suas pensatas e das que recolhe em livros (muitas geniais) de autores citados no começo do filme, como por exemplo: “O Islã é o Ocidente do Oriente”- Rudyard Kipling.

Godard faz da filosofia poesia e da poesia filosofia, que ora acompanha as imagens, ora corre em paralelo. Mas tudo com muita beleza. Não há um plano que não seja construído de forma bem pensada, lembrando-nos sua visão de que a escolha de um plano é uma decisão quase que ética e moral.

Se o espectador não embarcar nas especulações filosóficas&poéticas que jorram aos borbotões, ainda é possível curtir a obra pelo seu lado sensorial, com belíssima utilização da música.

Godard é único na História do Cinema, um dos grandes revolucionários da linguagem cinematográfica. Ele se permite uma liberdade invejável na composição de seu filme. Algo que mimetizado por quem não tem sua genialidade pode redundar em fracasso total, algo que tem acontecido mundo afora.

Numa sequência final de “Fama” de Alan Parker há uma sintomática sequência bastante cruel. Uma das atrizes formadas aceita trabalho de um jovem com tiques de Godard. Vai até o apartamento dele e se trata de um tarado à cata de uma vítima.

“Filme Socialisme” é ousado até no título, pois socialismo é considerado hoje uma palavra morta. Godard nos remete à Grécia e à herança grega e ao seu modo antecipa a crise na Comunidade Europeia que começou justamente por lá.

Não compartilho de muitas opiniões que Godard emite sobre o Cinema em geral. Em sua briga com Truffaut estou do lado deste. Mas quando sua visão de mundo está a serviço de um filme, o encantamento é incontornável. Godard mesmo aos 80 anos está antenadíssimo com o mundo que o rodeia. É um grande poeta, cerebral como João Cabral de Mello Neto, mas que não deixa de ser um grande poeta do audiovisual. Um cineasta que podemos dizer que é um gênio sem medo de cair no lugar comum.

“Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas" de Apichatpong Weerasethakul

Por mais que mergulhemos na incontornável angústia metafísica “quem somos, de onde viemos, para onde vamos”, paira sempre um grande mistério. Por mais que perguntemos “ O que é arte? O que não é arte?” paira também um grande mistério. “Tio Boonmee....” sem nenhum proselitismo, sem didatismo fácil, sem direcionar o espectador, sem nenhum pieguismo, sem ser sentencioso ( armadilhas em que caiu “Nosso Lar”), vai de encontro a estes mistérios imbricados e nos oferece uma obra única no panorama do cinema mundial.

Como nos filmes dos grandes cineastas não há plano ou sequência que não sejam elaboradíssimos, mas sem perder a singeleza e a espontaneidade. A aparição dos fantasmas se dá com delicadeza e naturalidade com soluções plásticas simples e convincentes. A mulher que ressurge do mundo dos mortos, bem como o filho peludo são aparições que passam a léguas de um terror barato. Ao tio Boonmee que sabe que vai morrer por insuficiência renal, tudo soa como presságio de seu destino e ele se prepara estoicamente para esta passagem. Perguntado sobre o céu, a mulher diz que não sabe que espaço espiritual é esse: ela revive depois da morte como que fazendo parte da natureza. Neste sentido para quem no Brasil tem alguma familiaridade com os cultos-afrobrasileiros não há espanto algum: temos aqui também forças da natureza que se manifestam no ego profundo dos seres como se o inconsciente fosse.

“Tio Boonmee Que Pode....” pode soar a um espectador algo cético e inconvincente, tanto quanto o espetacular “O Amuleto de Ogum” de Nelson Pereira dos Santos. Ambos retratam elementos enraizados da cultura dos povos que representam. Mas até mesmo para o cético que não acredita em transcendência espiritual , “Tio Boonmee....” pode ser fruído dentro de sua lógica interna , com imagens e sequências solidamente construídas: o peixe que transa falicamente com a mulher no rio é algo que se retém para sempre, assim como o abraço apertado que Boonmee recebe da mulher, dentre outras.

A relutância do monge entre dedicar-se ao mundo espiritual ou ao material é mostrada com grande poesia, deste que é um dos mais singulares cineastas em atividade, com um tempo narrativo pleno de paciência, mas que não exorbita, não saturando os planos sequências como já virou moda e clichê num cinema que se pretende cult.

Mais belo e intrigante que “Síndromes e Um Século”, “Tio Boonmee...”exige bastante do espectador em termos de mudar suas noções de velocidade competitiva e nos convida a conhecer um outro universo. É um filme transformador. Se não passamos a recordar nossas vidas passadas ao sair do filme, passamos no mínimo, a recordar a vida por que temos passado nesta encarnação. E quiçá, procurando transformá-la.

Tim Burton, outro grande cineasta que também toca os mistérios da arte&vida&morte não poderia ter ficado indiferente a “Tio Boonmee......”. Daí a Palma de Ouro de melhor filme mais do que justa que Apichatpong Weerasethakul recebeu em Cannes 2010.

“Nostalgia da Luz” de Patricio Guzmán

No deserto de Atacama no Chile, bastante elevado e seco, cruzam-se entrevistas com três tipos de arqueólogos: arqueólogos propriamente ditos que pesquisam inscrições e vestígios pré-colombianos; astrônomos- arqueólogos que pesquisam estrelas que já morreram quando observadas para criarem novas estrelas, dentre outros fenômenos; mulheres que na expressão feliz de Luiz Fernando Gallego são as “novas Antígonas”: não descansam enquanto não encontrarem vestígios de parentes mortos pela repressão de Pinochet, dado que instalações em que mineiros da virada do século XIX para o XX moraram se transformaram em campos de concentração após a queda de Allende e seus prisioneiros foram mortos e enterrados em Atacama.

O que poderia ser apenas um ótimo argumento, na direção e roteirização de Gusman se transforma em joia raríssima. A narrativa é a todo o momento poética e emocionante. Os depoimentos são sempre superlativos e reveladores daquelas almas atreladas ao deserto. Há ainda uma captação técnica dos vestígios e telescópios que resultam em belíssimas imagens.

Dentre vários relatos emocionantes destaca-se o de uma jovem casada, mãe de filhos, que teve os pais mortos pela repressão, foi criada pelos avós e agora integrada à vida, trabalha com astronomia, fala sem amargura que tem um defeito de fabricação, mas fica feliz que os filhos não terão este problema.

“Nostalgia da Luz” é um filme que irradia luz por todas as fendas que abre para o passado que incomoda o presente, para termos um futuro mais digno.

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No post

QUINTA-FEIRA, 30 DE SETEMBRO DE 2010

Alguns Filmes Já Vistos no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro de 2010

encontra-se comentários mais detalhados sobre alguns filmes selecionados e alguns mais sucintos sobre outros. Aqui se fará comentários mais ou menos sucintos sobre mais uma leva de filmes vistos, bem como alguma complementação a filmes citados no referido post.

Cotações

0- péssimo

* ruim

** regular

*** bom

**** muito bom

***** obra-prima

Filmes vistos em ordem alfabética:

À Oeste de Plutão de Henry Bernadet e Myriam Verreault- ***

A Woman, A Gun And A Noodle Shop de Zhang Yimou- ****

Alila de Amos Gitai- ****

Amores Imaginários de Xavier Dolan- *

Andrés Não Quer Dormir a Sesta de Daniel Bustamonte- ***

Resistência e colaboracionismo com a ditadura militar argentina nos anos 70 sob a ótica de uma criança vis a vis a de uma velha senhora. O filme perde um pouco o foco.

Ano Bissexto de Michael Rowe- ****

Não é um filme extraordinário, mas é daqueles que carregamos para sempre pela sua contundência e ousadia em seus vários planos (e planos...). Se sentir vontade de ir embora, fique, resista. Tudo fará sentido ao final que é simples, inesquecível e brilhante. O filme chegou a perturbar meu sono de tanto que me impregnou. De quebra temos indiretamente um vigoroso comentário sobre a crise econômica mexicana que incita as pessoas a correrem riscos de humilhação nos EUA. Dizem aqui no Rio que as mulheres adoraram e os homens detestaram. Será que porque sou gay, eu gostei bastante?....rsrsrs

Biblioteca Pascal de Szabolcs Hajdu- ****

Surrealismo bem construído no Cinema como há muito tempo não víamos, tendo como apoio uma base realista. O espectador decide: fica com o surrealismo ou o realismo (ou os dois...). Sua sequência final, uma grande ironia sobre a sociedade de consumo desenfreado, é extraordinária.

A Boca do Lobo de Pietro Marcelo- 0

Carancho de Pablo Trapero- ***

Um filme muito bem dirigido e interpretado, mas que tem como apoio um truque digno de Janet Clair: o “homem-abutre” que procura lucrar com acidentes por todos os lados envolvidos, tem forte relação amorosa com uma paramédica que cuida dos feridos, com um desfecho que não é difícil de se prever.

Copacabana de Marc Fitoussi - ****

Cópia Fiel de Abbas Kiarostami- *****

Um ensaio cinematográfico sobre arte e suas “cópias fiéis” que acaba tendo ressonâncias num relacionamento amoroso conturbado pela passagem do tempo (realidade ou fantasia dos personagens?). A rigor, uma poderosa meditação sobre o poder da ficção em criar “cópias fiéis” do mundo dito real. Juliette Binoche está tão extraordinária que faz o bom ator protagonista soar quase que como um canastrão, na comparação, o que ele absolutamente não é...

Dois Irmãos de Daniel Burman- ***

Um roteiro um tanto tênue demais e um tanto inverossímil, mesmo para um tom cômico, mas que é defendido com brilhantismo pelos atores protagonistas e que valem a ida ao cinema. Aqui e ali, humor de primeira.

Embargo de Antônio Ferreira- ****

Baseado num conto de José Saramago temos mais uma situação limite e os reflexos provocados: no caso a escassez de combustível. A história promete o que o cartaz anuncia: temos um clima à la Irmãos Coen, mas à moda portuguesa, com certeza.....

A Empregada/The Housemaid de Im Sang-Soo- ****

A Esperança Está Onde Menos Se Espera de Joaquim Leitão - ****

Um técnico de futebol desce ladeira abaixo na vida por não compactuar com corrupção. Seu filho e mulher sofrem também as consequências. A redenção já insinuada no título é construída de forma brilhante, inusitada e comovente.

Essential Killing de Jerzy Skolimowski - *****

Fé de Burhan Qurbani- ?

Visto em condições de grande cansaço. Enfim: precisa ser revisto.

Filho Eterno- O Projeto Frankestein de Kornéi Mundruczó - *

Uma chatice, mas tem gente que adora.

Film Socialisme de Jean-Luc Godard- *****

Flandrers de Bruno Dumont- ****

A guerra e seus efeitos mostrados de forma suis generis.

França de Israel Adrián Caetano- ****

Por trás de uma narrativa dinâmica e aparentemente infantil, uma visão bastante crítica de como o mundo adulto trata uma criança e esta reage em sua carência, enquanto pais estão numa ciranda amorosa egoísta.

Free Zone de Amos Gitai- ****

O encontro de três mulheres é o encontro de três culturas próximas e distantes que se chocam desconfiadas, em meio à barbárie. Só o pranto compulsivo de Natalie Portman no início já justifica o filme.

Hiroshima de Pablo Stoll- 0

Um filme que se pretende minimalista, mas que resulta mínimo, mínimo e descartável. Estamos longe do brilhante “Whisky” do mesmo Stoll e de seu parceiro codiretor que se suicidou. Creio que este está fazendo mais falta ainda do que se supunha.

Independência de Raya Martin - ***

Inegável grande beleza plástica. Mas um tanto lacônico e elíptico demais.

José & Pilar de Miguel Gonçalves Mendes- *****

O melhor documentário sobre escritor que já assisti. Se alguém conhece outro que me dê dica. Poucas vezes no Cinema se falou tanto na morte com tanta vitalidade e amor pela vida. Saramago é um mago da língua portuguesa e o filme não deixa de aproveitar este dom. Pilar é de uma consciência e força admirável (como o companheiro). Nunca o ateísmo nos foi mostrado com tanta espiritualidade (talvez só em Buñuel). Em Saramago escritor e cidadão se confundem, não sabendo nós qual possui mais bela grandeza e expressão. Saramago e Pilar viajam pelo mundo incansavelmente com muito vigor e bom humor, levando suas palavras quase que num tom missionário, mas sem um traço sequer de pieguismo e oportunismo.

Kaboom de Gregg Araki- ****

Kadosh- Laços Sagrados- ****

A praga do fundamentalismo religioso judaico oprimindo mulheres e sacrificando suas vidas, mostrada com rigor cinematográfico e interpretações poderosas.

Os Lábios de Santiago Losa- *

O que já virou clichê perigoso no cinema contemporâneo que é a interpenetração entre documentário e ficção, aqui resulta em clichê mesmo, sem transcendência. Se salva o trabalho das atrizes (atrizes?).

Líbano de Samuel Maoz- *****

O Louco Amor de Yves Saint Laurent de Pierre Thoretton- ****

Parceiro de uma vida de Yves, o empresário Pierre Bergé nos introduz ao mundo da moda extraordinária de Yves em alta costura e pret a porter, bem como à sua personalidade frágil num mundo que conspira contra os talentos e homossexuais, sendo este amante o sustentáculo do estilista, sem o qual seu mundo desmoronaria. Mesmo quem não é ligado em moda como eu, tem prazer em ver um universo amplo e particular desvendado.

Memórias de Xangai de Jia Zhang-ke- ****

Enveredando mais uma vez por mostrar as transformações por que tem passado a China, se concentrando agora em Xangai e cidades correlacionadas pela vida de alguns depoentes, Jia perde a chance de fazer uma obra-prima, pois exagera tanto na quantidade de entrevistas com na duração delas. Um pouco mais de edição faria muito bem ao filme. O curioso é que seu “Inútil”, sobre o mundo da moda, peca no sentido contrário: é muito sucinto.

Minhas Mães e Meu Pai de Lisa Cholodenko- ***

Monstros de Gareth Edwards- ?

Estava muito cansado e mal vi o filme. Carece de revisão. Numa primeira e frágil visão a materialização dos monstros deixa muito a desejar. Melhor seria tê-los ocultado.

A Mulher Sem Piano de Javier Rebolo- *

Como muitos filmes do festival, mais um sobre uma mulher casada de vida vazia. Mas aqui vigora uma falta de energia criativa que quer se fazer passar por distanciamento narrativo. O espectador fica quase que sem filme.

O Mural de Hector Oliveira- ****

Nascidas Para Sofrer de Miguel Albaladejo- ***

Nostalgia da Luz de Patricio Guzmán- *****

La Nostra Vita de Daniele Luchetti- ****

O mundo da construção civil com trabalho de imigrantes ilegais e um pai que tem de criar os filhos após a morte da mulher num parto nos é mostrado com exuberância de sentimentos latinos e crueza, numa combinação que só o cinema italiano é capaz. Junto com “Rif-Raf” de Ken Loach, a melhor abordagem deste universo no cinema que conheço. O filme me toca especialmente, pois meu pai de pedreiro passou a ser um empreiteiro de obras que não empregava imigrantes ilegais obviamente, mas pagava salários mínimos que eram infames, mas não culpa dele. O ator protagonista está à altura de um prêmio em Cannes, onde ganhou em 2010.

O Que Mais Quero de Delfina Castagnino- ?

Visto na segunda fila do Estação 3, algo que não gosto e com cópia mal projetada, este filme de captação lenta e paciente das emoções de suas protagonistas precisa ser revisto. Mas no mínimo é um bom filme. Isto deu pra sentir.

Of Gods and Men/ De Deuses e Homens de Xavier Beauvois- *****

Ondine de Neil Jordan- ****

Mesmo visto numa péssima cópia digital em que no escuro mal se vê os contornos dos personagens, gostei bastante. Neil Jordan depois da buraqueira fascista “Valente” volta ao seu elemento: realidade interpenetrada por conto de fadas, ao meu ver, muito mais interessante que o decepcionante “A Dama na Água” de M. Night Shyamalan. Colin Farrell defende com talento um homem perdido entre a assim chamada vida real e um mundo fantasioso depois que pesca uma mulher enigmática que irá mudar a sua vida.

Passione de John Turturro- ****

Uma deliciosa incursão de John, ítalo-americano, pela música e arquitetura napolitana, suas gentes, assim como Fatih Akin fez com Istambul em “Atravessando a Ponte”. Imagens de arquivo se juntam a imagens contemporâneas de forma delicada e emotiva.

La Passione de Carlo Mazzacuratti- ****

Por ironias do destino um diretor de cinema vê-se obrigado a dirigir uma encenação de A Paixão de Cristo com atores mais do que amadores. Este ponto de partida resulta num filme deliciosamente engraçado e criativo, com mais um trabalho maior deste grande ator que é Silvio Orlando.

Paulo Gracindo- O Bem Amado de Gracindo Junior- ****

“Naquela mesa”(está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim)- esta maravilha da MPB composta por Sérgio Bittencourt para seu pai Jacob do Bandolim é o mote para se apreender este documentário bastante afetivo sobre a incrível história deste grande artista do rádio, televisão, cinema e teatro que foi Paulo Gracindo, numa trajetória de vida improvável e extraordinária.

O Pecado de Hadewich de Bruno Dumont- ****

Uma jovem de uma família de elite francesa tem amor profundo por Cristo/Deus fanatizado de forma que até mesmo as freiras a reenviam ao “mundo exterior” para uma revisão da vida. Como fanatismo atrai fanatismo ela se aproxima de um grupo fundamentalista islâmico terrorista. Estão unidos pela negação da vida aqui e agora em nome de algo que viria depois. Dumont nos mostra esta história com bastante rigor e com uma intérprete perfeita para a protagonista.

Picasso e Braque Vão ao Cinema de Arne Glincher- ***

A influência dos primórdios da linguagem cinematográfica na obra destes dois grandes artistas. Pena que o filme, curto demais, não acredite mais no seu potencial e não tenha mais fôlego.

Poesia de Lee Changdong - *****

Uma senhora com mais de 60 anos cuida do neto e trabalha com um velho com problemas de paralisia. Ao mesmo tempo em que estuda criação poética com um poeta tem de lidar com o fato de que o neto junto a colegas de escola contribuiu para que uma jovem se suicidasse. Um filme atroz e delicado como poucos que justifica plenamente o título. A narrativa fluente e redonda é banhada em muita poesia em meio a grandes agruras da vida. Um filme que nos “ensina” sobre o que é poesia muito mais e melhor do que muitos calhamaços tediosos que pululam por aí. O desfecho é mais um daqueles que não mais se esquece, coroando uma história muito bem contata à altura de um prêmio de melhor roteiro que ganhou em Cannes 2010.

Polanski- Procurado e Desejado de Marina Zenovitch - ****

Relatos e imagens de diferentes fontes formam um mosaico poderoso que nos explica por que Polanski teve toda razão em fugir da justiça americana e instalar-se na Europa. Um juiz confundindo a perversidade dos filmes de Polanski com o próprio autor agiu de forma perversa como um gato querendo matar um rato, injetando uma punição muito maior a Polanski do que teria uma pessoa que não fosse célebre. O filme é dinâmico, caleidoscópico, sedutor e intrigante, desnudando mecanismos hipócritas que tentam passar por justiça.

Por Que A Gente É Assim? de Guilherme Correia- ***

Vários curtas conectados, formando um média metragem de 40 minutos, tentando responder a pergunta título, onde se destacam um bizarro homem que é uma mistura de Lampião e Raul Seixas dançando como Michael Jackson, um travesti articulado que reflete diante de uma plateia sobre sua condição e um gay jovem que discorre sobre os preconceitos que sofre com bastante coragem.Mais curtas de mais regiões do Brasil daria um filme melhor, mais longo e elucidativo de nossa diversidade humana.

Protektor de Marek Najbrt - ****

Um radialista colaboracionista dos nazistas utiliza o poder recém-adquirido para dominar sua bela esposa, atriz e judia, mantendo-a sob suas rédeas. Uma original incursão no universo da perseguição aos judeus no cinema já tanto abordado. A narrativa é dinâmica e sedutora. A fotografia é impecável.

Quatro Noites Com Anna de Jerzy Skolimowski- ****

Uma história de voyerismo exacerbado composta como se fosse uma sucessão de quadros expressionistas, num virtuosismo raro. Um pouco menos de morbidez faria bem ao filme e teríamos uma obra-prima. Mas isto seria melhor analisado numa revisão. Quando vai estrear no circuito de arte este filme tão admirado por tantos???

Quebra-Cabeça de Natalia Smirnoff- ****

Uma mulher casada com filhos, viciada em quebra-cabeças se junta a um homem também praticante “desta arte” e surge em vista um concurso na Alemanha. Ao mesmo tempo vai descobrindo que faltam peças no quebra-cabeça de sua vida, o que a torna vazia. Ela terá então de ter coragem para mudar. Um filme argentino surpreendente que vai pouco a pouco crescendo cada vez mais e se tornando mais complexo. Admirável trabalho de atores com emoções mais sugeridas que mostradas. Um plano final contrapondo-se ao que foi visto antes é de grande beleza e significado.

O Retrato de Dorian Gray de Oliver Parker- ?

Visto numa escura cópia em digital e estando cansado. Tem de ser revisto. Mas deu pra sentir que o protagonista é um ator sem carisma e inadequado.

Rio Sonata de Georges Gachot- ****

Há quem despreze este filme feito assim como se fosse apenas um extra de DVD. Ledo engano. Este painel, afetivo, emotivo, colorido pela paisagem de Copacabana tão cara aos Caymmis, é uma delícia e uma grande emoção de se ver na tela grande. Os impasses criativos e a forte personalidade de Nana Caymmi são filmados por um estrangeiro que parece que sempre viveu no Brasil. Além das incontornáveis e belíssimas canções interpretadas por Nana como se viessem da alma direto para nossos ouvidos, sem passar pela garganta, temos belas e delicadas imagens que aos poucos vão nos mostrando sua razão de ser. Vi no Festival muitos filmes bem melhores. Mas o único que me fez verter lágrimas foi este, pois também é ao seu modo, uma visão não melancólica, mas muito tocante do passar do tempo e suas metamorfoses produzidas.

Rock Hudson- Belo e Enigmático de Andrew Davies- ***

A carreira do astro Rock Hudson nos é mostrada em paralelo à sua vida privada enquanto homossexual só conhecido por amigos. Enquanto a tendência era mulheres suspirarem pelo ator em sua virilidade e os homens o admirarem e invejarem, Rock fazia tudo para manter sua vida dupla. Sendo o primeiro grande nome célebre a contrair o vírus HIV e estando bastante doente numa época em que não havia os coquetéis de hoje, Rock internou-se num hospital da França. Através de uma amiga fez questão de assumir publicamente que estava doente e que era homossexual. O efeito foi devastador. Pessoas passaram a retirar parentes de hospitais. Para voltar aos EUA amigos tiveram que fretar um Boeing ( algo mais caro que 4 anos de pesquisa segundo seu médico). De astro no armário, ele passou a ícone da luta contra a doença. O filme é muito bom naquilo que mostra, mas se ressente de entrevistas que não sejam a de amigos. O que deva ser mais um problema exterior do que propriamente do diretor, dado que um Kevin Spacey, por exemplo, ao ser indagado se era homossexual declara que a constituição lhe dá o direito de não responder ou num caso mais radical temos Ruppert Everett que declarou que sua carreira declinou quando se assumiu homossexual. De qualquer forma é um filme a ser prestigiado, ficando a curiosidade de se assistir “O Segundo Rosto” de John Franknheimer, um dos raros fracassos da carreira de Hudson, mas um cult em Paris. Aqui Rock Hudson procura fugir da persona cinematográfica mais consagrada que tinha e se arrisca mais.

Roman Polanski de Alê Primo- ***

Filmado no Brasil durante retrospectiva Polanski promovida pelo Sesc SP o filme traça um panorama variado sobre a obra deste genial artista, com muitas cenas de filmes dele e depoimentos bastante curiosos, além da fala de Polanski. Gilberto Gil o considera pop, Cacá Diegues ressalta o impacto de “A Faca na Água”, Hector Babenco admira a capacidade de trabalhar com tantos gêneros diversos, Caetano lembra que na prisão lhe deram O Bebê de Rosemary (A Semente do Diabo de Ira Levin) para ler, o que o deixou mais assustado, tendo visto o filme depois, etc. O filme tem certo excesso de didatismo que destoa do ar sempre transgressivo do diretor.

Sequestro de Um Herói de Lucas Belvaux- ****

Sinto Sua Falta de Fabián Hofman- ***

Um jovem tem sua vida perturbada pelo desparecimento de seu irmão durante a ditadura militar argentina nos anos 70, não conseguindo mais esquecê-lo. Muitas pessoas morreram, mas continuam “nem mortas nem vivas” na memória dos que ficam. O filme se ressente de certa falta de ritmo.

A Solidão dos Números Primos de Salverio Constanzo- *

Dois jovens se unem pelos traumas que sofreram numa história intrincada over, over, over, desde os letreiros gigantes, a música demasiadamente eloquente e as interpretações melodramáticas demais. Fiquei sonolento, mas neste caso é um problema muito mais do filme do que meu.

Somewhere de Sofia Coppola- *

A maior decepção do Festival dado que foi um filme que ganhou o Leão de Ouro em Veneza 2010 ( terá sido mais uma travessura grindhouse&pulp&spaghetti&etc. de Quentin Tarantino, presidente do júri e ex-namorado de Sofia?). Um ator se confronta com seu tédio e vazio existencial num hotel de luxo. O grande problema do filme é que este tédio e vazio contamina o contamina, ao contrário do que acontece com os filmes do mestre Antonioni em que não perdemos de forma alguma o interesse em acompanhar seus personagens em crises existenciais. Em “Encontros e Desencontros” esta mesma temática se escudava no trabalho de um grande ator que é Bill Murray e o filme “funcionava”. Já “Maria Antonieta”, com bela direção de arte também patinava no vazio ao mostrar o vazio da vida da protagonista, de uma forma anti-histórica, audaciosa certamente, mas um tiro pela culatra, pois ressoava como se Sofia tivesse o Cahier du Cinéma numa mão e a revista Caras na outra...Mas é forçoso reconhecer que Somewhere tem seus admiradores ferrenhos, tão impressionados como se tivessem visto um OVNI...

Sunshine Cleaning de Christine Jeffs- ****

Numa era de reinante desemprego, duas irmãs americanas descobrem a mais triste das atividades, mas bastante lucrativa: depois de diferentes formas de mortes com fortes vestígios, elas são contratadas para limparem tudo até a última gota de sangue. O filme tem um tom agridoce e um desenvolvimento cativante e divertido, dentro do espírito “ o que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida, problema de hora e lugar”. Num plano diferente, um filme que pode fazer o mesmo sucesso do independente “Pequena Miss Sunshine”. A sátira ao empreendedorismo americano protestante “There is no Gain, Without Pain/ Não Existe Ganho Sem Dor” ganha mais um ponto no Cinema.

Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas de Apichatpong Weerasethakul- *****

Turnê de Mathieu Amalric- ?

Visto quando estava também muito cansado tem de ser revisto. Se não for falha, a impressão que passou é que se trata de um filme estimável, mas que não está à altura de uma Palma de Ouro de melhor direção que recebeu em Cannes 2010.

O Último Sonho de Pina Bausch de Anne Linsel e Rainer Hoffman- **

Um grupo de jovens são candidatos a um trabalho de teatro- dança de Pina Bausch. O trabalho paciente, exaustivo da artista nos é mostrado de uma forma um tanto convencional e num ritmo que é mais para o aficionado de dança-teatro do que para o amante do cinema. As imagens do trabalho de Pina Bausch que realmente ficam na minha memória é o início de “Fale com Ela” de Almodóvar e a participação especial em “E La Nave Va” de Fellini.

Um Quarto em Roma de Julio Medem- ****

Assumidamente inspirado em “Na Cama” de Matias Bize, este filme de grande apuro estético e diálogos enigmáticos entre duas mulheres, que se escondem de si mesmas, tem cenas eróticas quentes e muito belas. Poucas vezes as intermitências do desejo foram mostradas no cinema de forma tão forte. O longo plano seqüência, no início, em que a câmera colhe os personagens na rua, sobe até uma sacada, uma janela, entra no quarto e surpreende as protagonistas abrindo a porta e entrando é fantástico. "Já vale o filme".

A Vida dos Peixes de Matias Bize- ****

Um filme singelo e complexo em que a metáfora simples dos peixes presos no aquário retrata bem a situação de seus personagens, que querem mudar o destino, mas estão presos “tchekhovinianamente” aos seus limites de todas as ordens. Andrés volta da Alemanha, onde vive, ao Chile e além de amigos, reencontra Beatriz, uma grande paixão que foi abortada, agora uma mulher casada, com filhos e que está grávida. Olhares tímidos e falas sutis permeiam o encontro. Um futuro feliz está muito claro ou então o mais obscuro possível.

A Vida Durante a Guerra de Todd Solondz- ***

Retomada de personagens visto em “Felicidade” (1998), este filme típico de Solandz exagera na acidez e no humor, não tendo o mesmo impacto do antecedente. De qualquer forma cenas como a mãe explicando ao filho como o pai praticava a pedofilia, dado que este já não se considera uma criança, é algo a se reter.

Viúvas Sempre As Quintas de Marcelo Piñeiro- ****

Enquanto Buenos Aires pega fogo com manifestações e repressões da polícia, num condomínio fechado que poderia ser na Barra da Tijuca ou Alphaville em São Paulo, por exemplo, homens e mulheres marcam suas diferenças e sublinham o amor ao dinheiro e ao conforto, sendo que de antemão já sabemos que homens morreram na piscina, o que pontua os letreiros de forma muito bela.Se tivermos um olhar acurado para a psicologia dos personagens o filme pode decepcionar mas o entendendo como uma alegoria ele ganha força. E é sob este viés que melhor admiro o filme que compõe junto com “Plata Quemada” e “O Que Você Faria?”, ensaios corrosivos sobre o poder corruptivo do dinheiro, quase que um personagem também.

Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos de Woody Allen - ****

Woody , incansável cineasta, faz mais uma obra cômico-dramática de diálogos bastante perspicazes, inteligentíssimos e introduz um novo ruído em sua obra: as antevisões de uma jogadora de cartas que influencia as decisões de uma senhora abandonada pelo marido em busca de mulheres mais jovens. O desfecho pode ser tanto uma grande ironia de Woody, como uma abertura para um sentimento de asfixia que contamina todos os personagens e do qual nem todos se livrarão.

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Numa confraria de cinéfilos (confrarialumiere@yahoogrupos.com.br) da qual faço parte, num exercício quase que como uma brincadeira, dado que é muito difícil, senão impossível, ordenar filmes em ordem de preferência, ficam assim as minhas escolhas, incluindo também uma lista de “piores” filmes vistos em ordem de desagrado:

Melhores Filmes:

1- Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas de Apichatpong Weerasethakul

2- Essential Killing de Jerzy Skolimowski

3- Of Gods and Men/ De Deuses e Homens de Xavier Beauvois

4- Nostalgia da Luz de Patricio Guzmán

5- Cópia Fiel de Abbas Kiarostami

6- Poesia de Lee Changdong

7- José & Pilar de Miguel Gonçalves Mendes

8- Líbano de Samuel Maoz

9- Film Socialisme de Jean-Luc Godard

10- Ano Bissexto de Michael Rowe

( 11- Sequestro de Um Herói de Lucas Belvaux )

(12- Biblioteca Pascal de Szabolcs Hajdu)

(13- Copacabana de Marc Fitoussi)

(14- La Nostra Vita de Daniele Luchetti)

Piores Filmes

1- Hiroshima de Pablo Stoll

2- A Boca do Lobo de Pietro Marcelo

3- A Mulher Sem Piano de Javier Rebolo

4- A Solidão dos Números Primos de Salverio Constanzo

5- Somewhere de Sofia Coppola

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Gerais

- Muito deselegante, no mínimo, a atitude da organização do Festival em não permitir a utilização do passaporte para ingresso nas sessões da repescagem que não lotarem. Fui em algumas delas e as sessões, de modo geral, estavam com muito pouca gente. O tiro saiu pela culatra? Compensou?

- O Globo cobriu bem a Première Brasil. Houve entrevistas interessantes com cineastas convidados ou à distância com filmes no Festival. Mas em termos de crítica mesmo foi muito pobre. O que houve? Falta de sessões para a imprensa? Desinteresse da editoria do Segundo Caderno? O gigantismo do Festival atrapalhou?

- Alguns filmes foram exibidos em péssimas cópias digitais. Será que isto é algo com o qual temos que nos resignar? Antes isso do que nada? Nivelamento por baixo?

- Muitos filmes demoraram a serem liberados para venda. Isto atrapalha muito a programação de qualquer cristão. Este é um problema sem solução? Mais uma vez: o gigantismo do festival atrapalhou?

- Muitos filmes importantes ou nem tanto, mas fora do perfil Midnight Movies ou Mundo Gay, mesmo não tendo chegado de última hora, foram exibidos em sessões da meia noite, o que é no mínimo, contraproducente para o amante do grande cinema que tem ver filmes cansado. Por que isto aconteceu? Qual a lógica por trás deste desatino?

-O ateliê culinário do Espaço de Cinema e do Estação Botafogo continuam com preços proibitivos para a maioria dos cinéfilos. “Comida mínima.Preço máximo”. Ainda bem que um pé sujo de esquina fechou e abriu uma lanchonete modesta, mas decente e com preços convidativos para os vários dias de sessões de cinema.

- Diretores participaram de sessões em tese para debates com o público após a exibição. O que aconteceu na prática é que mal surgiam algumas perguntas já tinha que ser encerrado o debate, pois a próxima sessão iria começar. Se é para ser assim era melhor não ter. Não é possível planejar isto?

- Ilda Santiago aparece em muitas fotos do jornal “Redentor”, informativo do Festival, junto a cineastas convidados. Espera-se que haja também bastante empenho no dia a dia, junto aos distribuidores, com incansáveis trocas de emails e reuniões, para que filmes importantes como, por exemplo, “Essential Killing”, não deixem de ser comprados e exibidos comercialmente.

- Um dos fatores que mais atrapalha a vida do cinéfilo durante o festival é a insegurança de que mesmo filmes ditos como já comprados podem ser engavetados ou lançados diretamente em DVD. O sistema exibidor hoje não é confiável. Isto é um problema sem solução? Eu, por exemplo, esqueci se pode ser exibido ou não e não arrisquei: vi todas as figurinhas carimbadas por Cannes, Veneza e Berlim que pude. Caso a exibição durante o ano fosse mais sensata, eu poderia ter arriscado mais.

- Muito simpáticas as fotos grátis tiradas por stand da Petrobrás, entregues em 15 minutos. Entretanto funcionários que tiravam fotos chegavam a pedir para a gente posar. Não há ago errado nisto? Por que tanto afã de marketing?

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Nelson Rodrigues de Souza

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Costelas À Mostra - Um Conto












Costelas À Mostra

O veado

Gilberto Gil

O veado

Como é lindo

Escapulindo pulando

Evoluindo

Correndo evasivo

Ei-lo do outro lado

Quase parado um instante

Evanescente

Quase que olhando pra gente

Evaporante

Eva pirante

O veado

Greta Garbo

Garbo, a palavra mais justa

Que me gusta

Que me ocorre

Para explicar um veado

Quando corre

Garbo esplendor de uma dama

Das camélias

Garbo vertiqualidade

Animália

Anamélia

Ó, veado

Quanto tato

Preciso pra chegar perto

Ando tanto

Querendo o teu pulo certo

Teu encanto

Teu porte esperto, delgado

Ser veado

Ser veado

Ter as costelas à mostra

E uma delas

Tê-la extraída das costas

Tê-la Eva bem exposta

Tê-la Eva bem à vista

Rio de Janeiro, anos 80 (anos 80?)

O meu sonho mesmo era ser escritor, mas o que é que as pessoas não fazem quando estão precisando de dinheiro? Assim acabei exercendo essa grande arte que tenho, aonde? Nada mais, nada menos que numa delegacia regional, exercitando a minha propensão ao Naturalismo, neste árduo ofício de escrivão de polícia.

Agora o silêncio é completo, estou só, com o meu instrumento de trabalho, minhas teclas e vou poder narrar-lhe, imortalizando agora com mais calma, uma história fantástica que aqui presenciei à tardinha (o delegado Magaldi deu uma saidinha e não deve voltar tão cedo). Vamos aos fatos:

- Eu quero que vocês contem direitinho, tudo que aconteceu. Já sei que o senhor, como é mesmo o seu nome?

- Rogério, delegado...

- O senhor chamou a patrulhinha que estava passando, nem chegaram a passear muito pelo Aterro e encontraram o indivíduo aqui que o assaltou...

- Eu não assaltei ninguém não delegado! Apenas tomei o que me era de direito!

- É mentira! De direito como?

- Vamos, calma minha gente! Cada um vai falar na sua vez tudo o que quiser... Mas tem de ter ordem, disciplina! Primeiro a vítima ou a suposta vítima...

- Eu estava praticando o meu Cooper como sempre faço todas as tardes no Aterro do Flamengo, quando de repente me aparece esse individuo na minha frente, não sei como, me pedindo um cigarro. Sem perda de tempo, ele tira uma peixeira e pede tudo que eu tinha: o azar dele é que eu não estava com dinheiro, só tinha um documento de identidade e ele acabou levando então o meu anel de formatura de ouro...

- É mentira! Eu não estava com peixeira nenhuma! Vocês encontraram alguma comigo?

- Você pode ter jogado ela fora. Mas de qualquer forma você o assaltou...

- Não, eu não roubei não, apenas peguei o anel, pois nós tínhamos combinado...

- Como assim?

- O senhor entende, a gente está desempregado...Se mata de procurar emprego e nada! Então é obrigado a fazer certos servicinhos... Mas o papai aqui é muito homem delegado! Eu fechei os olhos e me senti igual quando eu era adolescente, lá no sítio com as cabras...

- É uma calúnia absurda delegado! Como é que esse homem tem coragem de dizer uma coisa dessas!

- É a pura verdade! Você me prometeu dar o anel. Depois de gozar bastante desiste e eu então fui obrigado a tomá-lo à força!

- O senhor diz que está desempregado. Há quanto tempo?

- Olha, eu já trabalhei de tudo. O senhor não se lembra, mas eu como engraxate, já engraxei até mesmo os seus sapatos. O senhor não se lembra de mim?

- Não, não me lembro não! Como poderia me lembrar?

- Eu estava querendo descobrir de onde é que eu conhecia o senhor...

- Vamos ao que interessa! Deixe-me interrogar a vítima. O senhor é médico, não?

- Eu me formei no ano passado. Agora estou fazendo residência... Mas a minha biografia não importa. O que importa é que eu fui assaltado e esse cara ainda me calunia desse jeito!

- O senhor mora com a família? Quer que avisemos que o senhor está aqui prestando depoimento?

- Minha família não é daqui do Rio não... Eu moro com um amigo.

- Seria bom o senhor entrevistar esse amigo também delegado. O senhor pode entender melhor a vida que ele leva...

- Olha aqui seu vagabundo...

- Calma, quem comanda as investigações aqui sou eu! Apesar de esse caso me parecer um tanto escabroso, não percam a linha!

- A minha vida privada aqui, não está em discussão! Eu não vou permitir que isso aconteça! Eu me espanto delegado que o senhor não acredite na minha palavra, mesmo. Eu não gosto de botar título na mesa, mas sou obrigado. Mesmo sendo médico formado o senhor dá atenção ao que diz esse marginal periculoso! Não se esqueça que ele estava com uma peixeira e poderia ter me matado de vingança se o meu anel de formatura não valesse alguma coisa!

- Olha aqui seu doutorzinho de meia pataca. Eu sou desempregado mas não sou vagabundo! Na atual situação ninguém pode considerar desempregado como vagabundo, marginal, ladrão. É o que mais tem... O senhor não vai dizer delegado, que todos são ladrões... Apenas trato é trato. Esse cara disse que me pagava, mas não me pagou!

- Você tem a desfaçatez de ainda mentir! Olha, eu não gosto de me valer desta coisa não. Mas um tio do colega meu é político e dos graúdos! Se esse imbróglio em que este aqui me meteu não for elucidado eu vou ser obrigado a pedir ajuda!

- O que o senhor quer que eu faça? Que o torture para que ele confesse?

- Eu não quis dizer isso não, desculpe-me. Eu nunca aprovaria um método desses. Eu estou é muito nervoso! Eu não sabia que a simples prisão de um ladrão fosse dar nessa confusão toda.

- Olha aqui meu senhor, vamos ser claros e objetivos. Essa história já está me cansando! Esse cara diz que o co... sodomizou. O senhor não o pagou e ele foi obrigado a tomar o anel à força. Pois bem! Vamos todos ao lugar competente fazer um exame de corpo de delito. O senhor é médico, não? Então deve entender dessas coisas! Vamos tirar a prova dos nove! O senhor topa?

- Se não tem outra alternativa!

- Só tem um pequeno detalhe. Lá está assim de jornalista-urubu tentando farejar uma notícia! O senhor não deve se importar se amanhã aparecer em jornais com a seguinte manchete: “Médico faz teste anal para recuperar anel”

Neste momento eu que estava transcrevendo tudo com a máxima fidelidade, prestando o máximo de atenção para não esquecer nenhum detalhe, fui obrigado a interromper a escrita taquigráfica, relaxando o meu obcecado profissionalismo e fiquei sinceramente comovido com o rapaz (era um rapaz; o delegado chamava-o de senhor por uma questão de educação) que começou a soluçar em prantos sem parar. O delegado que até aquele momento tinha se mostrado severo demais com os rapazes (o outro era uma criança também...) preparou um copo de água com açúcar e deu-lhe com tal delicadeza, que parecia um pai que consolava, grato, um filho pródigo que volta.

O delegado Magaldi ficou satisfeito quando o rapaz se recompôs e como se tivesse encarnado o espírito do Próspero ao final de “A Tempestade” de Shakeaspeare, quando entre mortos e feridos sobraram-se todos (perdoe-me o leitor exigente, pelo lugar comum, mais muitas vezes é o que melhor expressa uma realidade em ebulição e não vamos ficar descompassados com os fatos, simplesmente por um estéril esteticismo, não é mesmo?)...enfim o delegado conclamou-os à conciliação:

- Vamos meus amigos, sejamos razoáveis. O senhor, Doutor, retira a queixa e ele lhe devolve o anel. Afinal, de qualquer forma ele cometeu uma violência com o senhor: ele não poderia ter se valido da força bruta. E olha que eu vou passar uma esponja em muita coisa. Afinal vocês estavam num logradouro público!

- O que eu tenho que assinar? Eu quero ir embora daqui imediatamente! Eu não quero mais esse anel. Ele não tem mais nenhuma importância pra mim, apesar de ter sido uma pessoa muito querida que o me presenteou. O que me roubaram aqui hoje ninguém poderá me restituir: a fé na justiça!

O delegado não gostou nem um pouco do discurso final do rapaz. Mas como aquilo punha um ponto final nessa confusão toda, ele não se deu ao trabalho de retrucar com ímpeto. Simplesmente, entregou-lhe depois de certo tempo, um tanto trêmulo, uma folha para que ele assinasse e completou:

- Eu também não quero mais vê-los na minha frente!

Leitor amigo, tudo aconteceu conforme aqui lhe relato em meu texto. Afinal eu não mergulhei naqueles calhamaços do Émile Zola simplesmente para preparar listinhas do supermercado... Não! Essa minha preparação toda não foi em vão! Para que o leitor se convença da minha fidelidade aos fatos eu deixei por último um pequeno detalhe que ainda não lhe tinha revelado, mas agora por dever do ofício eu acrescento, mesmo com risco de perder o emprego caso descubram este meu texto: eu já tinha visto o suposto ladrão conversando com o delegado anteriormente, aqui mesmo nesta delegacia, numa boa, há algum tempo atrás...

Meu Deus! Será que o delegado também é adepto dessas relações perigosas, do vício grego?

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Nelson Rodrigues de Souza

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

“Tropa de Elite” de José Padilha / Crítica Tortuosa da Razão Ensandecida













Agora que dia 8 de outubro de 2010 estreia Tropa de Elite 2, acredito que seja importante uma revisão crítica de Tropa de Elite (2007) . O texto a seguir foi publicado originalmente no jornal Montblãat. Aqui se encontra com atualizações, correções, cortes e acréscimos. O texto contém alguns spoilers, ou seja, detalhes deste e de outros filmes correlatos (Nascido para Matar, Ônibus 174) são adiantados.

“Tropa de Elite” de José Padilha

Crítica Tortuosa da Razão Ensandecida

Inspirado (e não adaptado) pelo livro “Elite da Tropa” de Luiz Eduardo Soares (sociólogo, ex-coordenador de Segurança Pública do Rio de Janeiro), Rodrigo Pimentel e André Batista (ex-capitães do Bope-Batalhão de Operações Policiais Especiais), anteriormente programado para novembro de 2007, “Tropa de Elite (Brasil/2007) de José Padilha, o mais comentado e explosivo filme brasileiro daquele ano chegou às telas do Rio de Janeiro e São Paulo no dia 5 de outubro, num adiantamento maior devido à ostensiva pirataria de que foi alvo e para aproveitar as repercussões que teve para o bem e para o mal, em sua exibição na abertura do Festival do Rio 2007. Nos demais estados foi lançado em 12 de outubro, primeira data marcada como reação à pirataria.

Estima-se que mais de 1,5 milhões de pessoas tenham visto o DVD pirata do filme antes da estreia, o qual já era vendido em camelôs desde agosto. Especulava-se como seria o comportamento do público diante do filme. Haveria perdas ou a publicidade indireta alavancará ainda mais as bilheterias? O ministro Gilberto Gil definiu a questão da pirataria do filme como "equação de muitos termos". "A realidade relativiza a questão da propriedade intelectual". Não é o objetivo aqui discutir em profundidade esta questão. Apenas fica a visão de que é uma controvérsia que não é nada simples e de que não acredito de forma alguma que tenha sido uma jogada de marketing dos produtores. Enquanto os ingressos para os cinemas continuarem extorsivos e proibitivos para a maior parte da população brasileira e houver um tema tão atraente para as grandes massas, fenômenos como este continuarão a existir. E este é só um dos termos de uma equação complexa que tem de ser enfrentada sem hipocrisias, assim como a pendência da liberação ou não das drogas. Não há aqui uma tomada de posição. Apenas um cansaço de ver que estes temas são escamoteados no nosso dia a dia, sem discussões à altura, perdurando até agora em 2010.

O filme é narrado pelo Capitão Nascimento do Bope (Wagner Moura, estupendo, num papel que não lembra em nada os muitos personagens excelentes que já fez no cinema). Nascimento, com muito cinismo e se valendo de uma razão aloprada que para os apressados pode soar como música convincente, é o mestre de cerimônias deste inferno, uma espécie de Mefistófeles que fará seu Fausto, nos levando para o ventre da besta. Ele é casado com Rosane (Maria Ribeiro), vivencia a chegada de um filho, passa a ter síndrome do pânico, freqüenta uma psiquiatra onde mal consegue se expressar, quer sair do Bope depois de 10 anos em ação e para tal tem de fazer seu sucessor. Como é um personagem narrador seu discurso deve ser colocado em suspeição. Assim como não podemos acreditar piamente no que nos conta Bentinho em “Dom Casmurro” de Machado de Assis, ao relatar que Capitu o traiu com seu melhor amigo Escobar (o romance se estrutura em fortes ambigüidades), o relato de Nascimento também tem de ser encarado de forma bem crítica, pois ele é o rei da falácia, partindo frequentemente de premissas corretas para chegar a conclusões erradas e perigosas (ou vice-versa). Sua heroicização não está no filme. Está na cabeça atormentada, em busca de heróis salvacionistas, de quem se vê exposto ao beco sem saída que nos mostra a obra, com uma sociedade completamente gangrenada e viciada em todos os seus setores, com as mais variadas engrenagens contribuindo para que os personagens tomem as atitudes que tomam.* Não é à toa que o filme comece com uma epígrafe que ressalta que muitas vezes as atitudes de um homem não vêm de seu caráter, mas impelidas pelas circunstâncias sociais em que vive.

Em 1997 o Papa João Paulo II vem mais uma vez ao Brasil, vai se acomodar na casa do arcebispo que fica no Sumaré, mais ao alto do Morro do Turano e o Bope recebe a missão (e “missão dada é missão cumprida” (sic)), com a contrariedade de Nascimento, de “apaziguar” este morro dominado pelo traficante Baiano (Fábio Lago). Neto (Caio Junqueira) é um policial aspirante a oficial que crê na instituição mesmo descobrindo falcatruas internas, está cheio de gás para as ações policiais e de início é escalado para tomar conta de uma oficina do quartel com carros despedaçados e falta de verba para consertos. André Matias é um negro bastante inteligente que ao mesmo tempo em que é policial também aspirante a oficial, faz faculdade de Direito, acreditando que as duas profissões tenham muito em comum, para escárnio do pragmático Nascimento que vê total incompatibilidade entre as duas atividades. Neto e André são amigos de infância e passam a disputar uma posição no Bope depois que são salvos pelo Capitão Nascimento numa desastrada intervenção que fizeram no Morro da Babilônia. Maria (Fernanda Machado) é uma estudante que se esforça por ajudar crianças no Morro do Turano numa ONG, contando para isto com a proteção de Baiano, o que perceberá tem um preço muito alto. Roberta (Fernanda de Freitas) é uma estudante de Direito, de família rica, ligada à ONG e também às facilidades para a obtenção de drogas. Edu (Paulo Vilela) é um estudante também próximo à ONG que compra drogas e as revende na faculdade. Capitão Fábio (Milhen Cortaz) é um policial desencantado, calejado pelas desventuras de sua atividade, que se envolve em atividades ílícitas como cobrar para dar proteção a estabelecimentos, além de obter seu quinhão no trato com prostitutas.

“Tropa de Elite” é implacável ao expor a deterioração das condições de vida dos policiais. Um deles ao tentar tirar férias que lhe é de direito, pois já perfazem 4 anos que não tira, ouve negativas e uma possibilidade se entender que “quem quer rir, tem de fazer rir”.... Em contraponto nos mostra um universo de policiais do Bope que procuram agir onde os comuns não conseguem mais (“nesta cidade, todo policial tem de escolher: ou se corrompe, ou se omite ou vai para a guerra”) e nas palavras de Nascimento se consideram incorruptíveis, como se as violências que não tem nada de autodefesa que praticam também não fossem formas de corrupção. Mas o que esperar de uma instituição cujo símbolo é duas armas cruzadas e uma caveira ao centro, atravessada por uma faca? Simplesmente o horror que vemos: entrar nas favelas muitas vezes para matar antes de qualquer coisa; torturar pessoas com sacos plásticos na cabeça; esfregar o rosto de um estudante consumidor de drogas no sangue de uma pessoa que o próprio Bope matou, para incutir-lhe a idéia de que por ela, de classe média, estar na cadeia do tráfico de forma privilegiada é a responsável por aquela tragédia (uma idéia que é lógica na cabeça dos policiais, mas o diretor de forma alguma defende) ou ainda ameaçando fazer uma empalação nos que querem extrair informações valiosas, dentre outras atrocidades. Nascimento tenta nos passar uma visão iluminista alucinada esclarecida de superioridade onde só há trevas.

Os policiais candidatos a uma vaga no Bope passam por um treinamento feroz (onde de 100 muitas vezes sobram só 3 e há mais rigor que no treinamento do exército israelense, nas palavras de sórdido encantamento do Capitão Nascimento) e comem comida jogada no chão, chafurdam num pântano, são hostilizados até desistirem, sendo que até mesmo uma mina é colocada na mão de um deles para que não durma, etc, etc.... Quem recebe este tipo de treinamento com tantas humilhações mais cedo ou mais tarde sua couraça criada com um enorme ódio interno guardado vai fazê-lo explodir contra quem considerar o inimigo, seja um traficante ou um estudante que consome drogas, etc. Até a própria mulher de Nascimento não está livre de tratamento policial inclemente (como acontece com Rosane que deve ser calada em suas ambições de ter o marido para si e o filho). Assim muito do horror que vemos no filme não está de forma alguma justificado, mas de certa forma passa a ser compreendido. Guardando as diferenças estilísticas e de grandeza fílmica, é o que nos mostra também o genial Stanley Kubrick na primeira parte de “Nascido para Matar”( 1987), onde soldados, antes de lutarem no Vietnã, passam pelas maiores provações e humilhações nas mãos de um comandante histérico e sádico, que os xinga de todas as formas possíveis, chegando ao requinte de serem incitados a abraçarem suas armas como se fossem uma pessoa amada. Um gordinho completamente inadaptado a este circo de horrores, ostensivamente confrontado em sua fraqueza pelo instrutor, acaba matando-o e depois se suicidando. Mas a guerra continua numa segunda parte, com Kubrick nos reservando um dos finais mais impactantes da História do Cinema que é uma autêntica metonímia/metáfora do que foi a guerra do Vietnã: uma jovem vietnamita agoniza depois de enfrentar sozinha um contigente enorme de candidatos a ser o malfadado Rambo, com muitos tiroteios inutilmente estratégicos.

No Rio de Janeiro de “Tropa de Elite” o Capitão Nascimento reina absoluto sobre seus discípulos, aprendizes de uma desumanização ciclópica que os moldará como cães de guerra para suas ações ignóbeis, condizentes com o símbolo nefasto que passam a ostentar. Neto chega a fazer uma tatuagem. Infantilizados por uma educação canhestra, cantam o bordão: “Tropa de Elite, osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você”. E o põe em prática.

Se o discurso do Capitão Nascimento é sempre favorável até mesmo às suas piores ações, o que vemos nas imagens o desmente, não havendo o menor glamour que é típico de muitos filmes hollywoodianos, convergindo para um final que remete a nós espectadores de uma forma bastante inquisitiva. Para os tarados pelos filmes de ação que obscurecem qualquer forma de reflexão, encontramos aqui algo diferente: além do discurso de Nascimento que o desnuda em suas ações, temos ao fim de “Tropa de Elite”, a rigor, um falso triunfo. Um amargo triunfo. Mefistófeles está em seus domínios. André/Fausto aprendeu bastante com a pedagogia da violência e da humilhação. Depois de um justiçamento a arma é apontada para nós espectadores.

Após realizar o documentário “Ônibus 174” (2002) a intenção de José Padilha era fazer outro doc, agora sobre o Bope. Desistiu diante do pressentimento de que poderia não sair vivo do projeto, partindo então para uma ficção. Em “Ônibus 174” Padilha faz uma obra incontornável do cinema brasileiro, como esta aqui, que revela várias camadas de responsabilidades na tragédia que vitimou uma refém do ônibus seqüestrado em 2000 na Gávea e o próprio seqüestrador Sandro Nascimento, preso e justiçado por asfixia numa viatura pelos policiais que o carregavam. Sem justificar, mas tentando compreender, a mesma atitude que teve em relação a Sandro, Padilha agora tem em relação à Nascimento e demais personagens. É proposital dar ao seu personagem de ficção o mesmo sobrenome Nascimento. Este doc extraordinário é um filme ainda melhor que “Tropa de Elite”, pois este, mesmo com seu eficiente clima documental, para o qual muito contribui os tons escuros encontrados pelo fotógrafo Lula Carvalho, tendo ótimo roteiro e desempenhos, em algumas seqüências de combate, ainda que elaboradíssimas, soa como um déjà vu de tom menor, dado o furacão “Cidade de Deus” (2002) que já vivemos, com o mesmo montador Daniel Rezende, a mesma preparadora de elenco Fátima Toledo, o mesmo co-roteirista Bráulio Mantovani, agora em parceria com José Padilha e Rodrigo Pimentel.

“Ônibus 174” traz a mais triste e ao seu modo mais violenta cena do cinema da chamada retomada: o enterro de Sandro Nascimento, o seqüestrador que era um sobrevivente do massacre da Candelária e das atrocidades das Febens, com caixão carregado burocraticamente por estranhos, praticamente solitário até na morte, onde a única pessoa que o acompanha é sua mãe adotiva. “Tropa de Elite”, após algumas pausas com tópicos candentes, tem um ritmo muitas vezes frenético (como “Cidade de Deus”) onde horrores e torpezas são substituídos sucessivamente por outros, uma opção de dramaturgia, o que não impede que queiramos refletir bastante sobre os temas levantados depois de a sessão terminar, o que de certa forma aconteceu de um jeito avassalador, culminando com a consagração no Festival de Berlim 2008 onde ganhou o Urso de Ouro por um júri presidido por Costa Gravas, mestre do cinema objetivamente político. As respostas a tantas perguntas formuladas pelo filme nós é que temos que buscar. Não cabe ao filme dá-las. Já o final de “Ônibus 174”, lento, é de uma tristeza infinita, pelo menos para quem não tenha passado por nenhuma lavagem cerebral, midiática (virtual ou não) ou no corpo a corpo mesmo com a vida.

* Em 2007 recebi a seguinte informação de Gustavo Cheluje, jornalista e crítico de A Gazeta de Vitória:

Capitão Nascimento (Wagner Moura) acabou virando símbolo de justiça entre os brasileiros (ávidos pelo fim da corrupção e da violência no país). Várias páginas na Internet e comunidades do Orkut (rede de relacionamentos virtuais) louvam o personagem. A comunidade mais inusitada, Capitão Nascimento Presidente, possui quase 25 mil membros”.

Este número de adeptos já estava em 25797, dia 11 de outubro de 2007. Isto diz muito mais a respeito do país que estamos construindo e vivendo do que do filme em questão.

Ps1 Numa entrevista de Ricardo Calil, editor de Uol-Cinema na época, ao ser questionado se o problema da violência teria solução, Padilha não se distanciou do óbvio, mas que mesmo assim é negligenciado e precisa ser sempre lembrado, algo que UPPs ( Unidades de Polícias Pacificadoras) pura e simplesmente não vão resolver.

Acho que sim. A solução passa por um crescimento econômico sustentado, com boa distribuição de renda, por investimento em educação e melhorias no judiciário. Passa também por uma melhor remuneração, treinamento e educação do policial, além da despolitização das indicações dos oficiais.”

Ps2 Numa demonstração de que muitas vezes o problema é o público enquanto massa e não o filme, relato o que aconteceu quando tentei ver “Nascido Para Matar” de Stanley Kubrick no Cine São Luiz numa meia noite de sábado em pré-estreia. Os ingressos esgotaram rapidamente. Um grupo de jovens inconformados porque não poderiam entrar, numa atitude típica de quem esperava ver mais um filme tipo Rambo, pegaram um banco e começaram a quebrar os vidros da fachada do cinema. Eu caí fora junto com amigos e fomos jantar, pasmos com o acontecido.

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Nelson Rodrigues de Souza