quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Eu Profundo e O Outro: Abismos































O Eu Profundo e O Outro: Abismos

(Os textos contém spoilers, ou seja, detalhes são adiantados para as análises pretendidas)

1- “O Homem ao Lado” (Argentina/2010) de Mariano Cohn / Gastón Duprat

Na história do desenhista industrial/designer bem sucedido Leonardo ( Rafael Spreguelburd, autor da ótima peça “A Estupidez já comentada no Blog, aqui em trabalho irretocável), que mora com sua mulher e filha na única casa construída por Le Corbusier na América Latina, em Buenos Aires, que tem sua privacidade ameaçada por uma janela indiscreta aberta pelo vizinho bronco caçador de javalis Victor (Daniel Aráoz, num trabalho ainda mais brilhante), em busca de réstias de sol, somos confrontados, tanto quanto o designer, com os limites de nossas tolerâncias e intolerâncias.

“O Homem ao Lado” é um filme feito meticulosamente em todos os níveis, como um “projeto arquitetônico”, mas com certo humor que se contrapõe a uma necessária "frieza". Uma planificação "perfeita". "A luta de classes" continua dando as caras no Cinema. A obra tanto se constrói numa ótima trama (em que ora pendemos para um lado, ora para o outro, numa gangorra emocional), num trabalho de atores (mesmo dos coadjuvantes) admirável, com uma mise em cène que particulariza planos bastante expressivos, com durée bastante significativa, não convencional, mas nada abusiva e fetichista.

O intruso e atrevido Victor é uma espécie de anjo exterminador, como Terence Stamp em “Teorema” que provoca o desnudamento de tudo que está submerso por teias de aranha emocionais escamoteadas na família do designer. Se a casa é belíssima e digna de pessoas quererem visitá-la e fotografá-la, as relações do marido tanto com a mulher como com a filha “autista”, são precárias e colocadas ainda mais em cheque com os problemas que enfrentam com o atrevimento de Victor, que tem um tanto de ingenuidade, efeitos da solidão e vontade de ser aceito numa classe social mais abastada. A sequência em que senta muito feliz numa confortabilíssima e criativa poltrona projetada por Leonardo, como se fosse uma criança descobrindo um brinquedo, é muito bela e emblemática disto tudo.

Tudo na evolução da história nos leva a crer que as coisas não vão acabar nada bem. Mas a forma em que em que o filme soluciona este “não acabar bem” é imprevisível e bastante significativa do que estava realmente em jogo. Altruísmo e jogo sujo se imbricam num plano final inesquecível.

De “O Homem ao Lado” em meio a tantas contradições e ambiguidades humanas fica uma certeza: não há design possível para as imprevisibilidades da vida. A saída é estar aberto a enfrentar várias saídas e fazer escolhas, que só a sabedoria da experiência e da tolerância pode melhor conduzir.

Superando o impacto até mesmo de “Leonera”, melhor trabalho de Pablo Trapero, a criatividade incessante de “O Segredo de Seus Olhos” de Juan José Campanella, os superestimados filmes de Lucrecia Martel (onde o que reluz forte mesmo é “A Menina Santa”)*, “O Homem ao Lado”, dentre os chegaram ao Brasil, é o melhor filme argentino que vi em anos na área da ficção. O roteiro original de Andrés Duprat é uma aula. Obra imperdível.

* De qualquer forma é um absurdo que desta cineasta tão prestigiada não tenha estreado no Brasil, “A Mulher Sem Cabeça”, que vi no Festival do Rio.

2- "Transcendendo Lynch" (Brasil/2009) de Marcos Andrade

Registro documental da passagem de David Lynch no Brasil em 2008 para divulgar seu livro “Em Águas Profundas”, sua adesão à Meditação Transcendental que pratica todos os dias, desde a época em que elaborava seu primeiro longa-metragem “Eraserhead” (1977), "Transcendendo Lynch" nem é um luxo, nem lixo. Ou seja, nem aprofunda muito estas inquietações de Lynch, seus nexos possíveis com sua obra, mas também não é raso como diria Nelson Rodrigues : “Tem uma profundidade tal que formiguinha está nadando com água pelos tornozelos”. E decididamente, por melhor cineasta que fosse Marcos Andrade jamais chegaria à essência de David Lynch (como O Globo “cobrou”) porque esta é uma missão para Deus e não para um mortal. Nem um analista em anos vai chegar à essência de seu analisando. Essa essência (aliás, como a essência da arte, do cinema, da poesia, da vida etc.) é, a rigor, um mistério. Conforme diz Clarice Lispector: “O jeito é acreditar e acreditar, chorando”.

O grande calcanhar de Aquiles é bastante visível. É importante mostrar a grande recepção afetiva e quantitativa que Lynch teve no Brasil, de modo geral, por jovens. Depoimentos emocionados emocionam. Mas há um excesso na captação de rostos, filas, ansiedade e êxtases que esvazia este propósito de iniciativa nobre. Mas aqui e ali temos depoimentos significativos de Lynch, algumas perguntas instigantes, que valorizam o filme e o justifica.

Lynch diz que é sempre indagado sobre o contraste entre sua figura plácida, bem humorada, “de bem com a vida”, com a idade, o passar do tempo e a visão sombria do mundo que a maioria de seus filmes carrega, com a provável exceção do belíssimo e linear “A História Real”. Lynch admite que vivemos num mundo bastante conturbado, mas que um autor não precisa sofrer para fazer uma obra sofrida, assim como, num extremo, não precisa morrer para mostrar uma morte. Para ele, até mesmo Van Gogh que sofreu muito em sua vida, nos momentos em que pintava deveria se sentir muito feliz (mesmo nas suas paisagens com corvos). Sobre os processos criativos Lynch enfatiza que na mente de todos nós passam um turbilhão de ideias. A criatividade consistiria em trabalhar algumas destas ideias. Para “Veludo Azul” as primeiras imagens que vieram foram a de uma orelha cortada na grama verde e a lembrança da canção “Blue Vevelt” que de início não o mobilizava.

Para certas perguntas, como o segredo da caixa em “Cidade dos Sonhos”, Lynch ri e diz simplesmente, sem antipatia, mas com humor ,que não vai responder. Lynch é o tipo de artista que não gosta de explicar sua obra: cada expectador tem e deve ter sua própria interpretação; nenhuma, a rigor, estaria errada, seria algo bastante pessoal. Algo que não pode ser generalizado e deve ser discutido, mas para a forma e os temas que Lynch aborda em seu cinema é válido. As palavras serão sempre insuficientes para captar a grande experiência sensorial e onírica que são, de modo geral, os filmes de Lynch, ainda que tenha uma obra grandiosa como “O Homem Elefante” que num esquema mais convencional, conta história com começo, meio e fim que propõe muitas questões: a principal delas é a necessidade imperiosa de valorizarmos mais a beleza interior das pessoas do que suas aparências.

Sobre a Meditação Transcendental, Lynch se mostra bastante sincero em sua “cruzada”: não se trata de mais um guru marqueteiro em ação, mas de alguém que sabe do que está falando e praticando. Através dela combate toda a negatividade que o mundo nos despeja diariamente, procurando esvaziar a mente e se concentrar em si mesmo, pois acredita, com toda razão, que apesar das grandes agruras do mundo e da vida, a felicidade, ou melhor, estados de felicidade, só serão encontrados se olharmos mais e melhor para dentro de nós mesmos.Isto não implica em desvalorizar os combates sociais que devem ser travados, principalmente quando estamos num país de tantas desigualdades e problemas como o Brasil, conforme reconhece um acompanhante de Lynch. Mas até mesmo quem está em situações limites se reforçaria para as lutas cotidianas se praticasse Meditação Transcendental. Estas são as ideias básicas transmitidas. Pode-se discordar delas, mas é forçoso reconhecer que há bom senso e não se trata de nenhuma picaretagem.

Em processo de Meditação Transcendental algumas ideias continuariam aparecendo, mas não se deve dar valor a elas, segundo Lynch. O vazio total da mente seria algo impossível para o ser humano vivo.

De minha parte nunca consegui até hoje praticar Meditação Transcendental. Também, a rigor, nunca me interessei com afinco nem procurei orientações. Minha forma de “meditação transcendental” é ouvir música com atenção total e deixar entrar pelos “ sete buracos da minha cabeça a sua presença”. Mas conheço pessoa amiga que enquanto terapeuta lida com as maiores forças negativas de clientes em crises agudas, durante horas cotidianamente. Uma das formas de combater estas negatividades que podem impregná-la é praticar Meditação Transcendental de duas a três vezes por semana. Chega a colocar despertador para acordar neste processo, senão acaba dormindo por umas duas horas e diz ser transportada por outros lugares que não os do cotidiano.

Enfim, “Transcendendo Lynch” não é nenhuma joia rara, mas também não é um falso brilhante. Merece ser visto. Não é a todo o momento que se vê um gênio do cinema, se expondo com graça e generosidade. E é muito melhor ir ao cinema do que enfrentar quilométricas filas na Livraria Cultura de São Paulo, acredito eu, por mais emoção que o contato ao vivo com o ídolo desperte.

3- "O Último Vôo do Flamingo" (Moçambique/Portugal/Brasil/2011) de João Ribeiro

Em Tizangara, interior de Moçambique, soldados da ONU treinados explodem (ou são explodidos) misteriosamente, deixando apenas como rastros o pênis decepado e o capacete, numa missão de paz, numa terra dominada por minas no período pós- guerra civil. O oficial italiano Massimo Risi (Carlo D'Ursi, o que tem de bonito, tem de pouco expressivo) vem a contragosto, não se adaptando à sua missão, investigar o que aconteceu, querendo em muitos momentos voltar para casa.

Uma prostituta (Cláudia Semedo) é o elo que pode elucidar o caso por sua ligação com uma criatura truculenta da localidade. Mas a falta de convicção com que o diretor e os a atores (com exceção de Cláudia) imprimem aos personagens e o desenvolvimento carregado de realismo mágico mal ajambrado, ainda que a cena final de panorama após a explosão do mundo tenha algum apelo, conspiram contra o filme o tempo todo.

Baseado em romance homônimo do consagrado Mia Couto, "O Último Vôo do Flamingo" não se sustenta ao tentar extrair uma poética de situações inusitadas como levitações, pessoas que envelhecem e ficam jovens ( e vice-versa) e explosões (que chegam até a levar um pênis para um ventilador de teto!).

“Terra Sonâmbula” (2007) de Teresa Prata é uma adaptação de obra de Mia Couto que se passa na guerra civil de Moçambique, que sem escamotear seus horrores, trabalha de forma muito bela elementos mágicos em meio ao cru realismo, mantendo ainda de uma forma nada naturalista, um tanto da prosa poética do escritor nas falas, o que seria uma armadilha, mas aqui é muito bem sucedido, em que pese reações em contrário.

Sobre "O Último Vôo do Flamingo" fica apenas a curiosidade de se estar assistindo a um filme moçambicano que ao contrário de muitos filmes portugueses não precisa de legendas para nós brasileiros. As falas são todas inteligíveis e próximas. Pena que o livro de Mia Couto tenha sido tão mal adaptado ao cinema. O que me arrisco a afirmar, mesmo sem ter lido o livro, prevendo que o filme condensa situações que precisariam de maior apuro e desenvolvimento. Pois se o filme representa bem mesmo a obra que lhe deu origem, Mia Couto não teria o prestígio que tem. Ou não? Cartas à redação.

4-“Auto Peças- Peças de Encaixar 2”- Realização Cia dos Atores ( Enrique Diaz etc.)- Textos de Oficina de Dramaturgia, direção de César Augusto e Susana Ribeiro

A Cia dos Atores de tantos consagrados espetáculos (como o intrigante e virtuosístico “In on It”, “Melodrama” etc.) realiza pela segunda vez uma oficina de dramaturgia, com a colaboração de dramaturgos como Jô Bilac, Pedro Brício e Vadim Nikitin. Num processo de afunilamento resultou um espetáculo com 11 atores, 3 dramaturgos e 1 co-diretor, dentre outros participantes. O programa da peça ao mesmo tempo em que confirma 3 dramaturgos em dois pontos, ao apresentar os sete textos em que se apoia o espetáculo “Auto Peças-Peças de Encaixar 2” ( “Papo de Mineiro”, “Tem um Fantasma Atrás de Mim”,”Marcel e Marceau”, “Tatu”, “Primeiro Eu”, “Aquilo que Fica”, “Biziu, Eu Quase te Amei de Verdade”), faz menção a Suzana Nascimento, Raquel Alvarenga, Diogo Liberano ( também o co-diretor), Mônica Solon, Jaderson Fialho, João Rodrigo Ostrower, Alexandre Rudáh, José Caminha, ou seja, oito autores ou co-autores. Enfim, estas são peças de informação do programa não se encaixam. E este é o grande calcanhar de Aquiles do espetáculo.

Com material tão heterogêneo não era de se esperar mesmo nenhum encaixe linear, apenas acúmulo de afinidades eletivas, mas mesmo dentro desta ótica, o que se vê no palco são pulsões de teatro que carecem de maior desenvolvimento e que não evoluem satisfatoriamente. A ordem das Auto Peças poderia ter sido outra, por mais que a direção e o trabalho correto dos atores, sem grandes vôos cênicos, tentem promover uma evolução dramática que permeie tudo.

Uma empregada sonha em ser atriz; dois caipiras conversam sendo um deles um homem bomba; um casal homoafetivo escamoteia seus conflitos; um grande individualista (com o ator sentado na plateia) faz o elogio do cinismo assumido de quem quer levar vantagens em tudo e apelar para “o jeitinho brasileiro” (um dos melhores momentos); atores descem pelas escadas monologando ou saem da plateia onde estavam sentados e vão para o palco interagirem etc. Enfim temos um mosaico de situações dramáticas irregulares que se justapõem ao sabor de um acaso contraproducente que não entusiasma a plateia. No dia em que assisti o espetáculo, ninguém se levantou para aplaudir. As palmas foram protocolares, sem maior entusiasmo e os atores saíram rapidamente. Ou seja, as autopeças não deram liga. Se forem peças de encaixar, encaixe não houve: apenas caixas espalhadas pelo cenário. O mais legítimo espetáculo com o “espírito peças de encaixar” recente, bem sucedido, é o belíssimo “Ninguém Disse que Seria Fácil” já comentado aqui em post anterior.

Este projeto de Oficina de Dramaturgia é bastante meritório e claro que merece ter continuidade. Só que desta vez faltou maior criatividade em todos os planos. Temos aqui um caso típico em que as intenções são muito mais nobres do que os resultados.

Para quem quiser conferir se o que escrevi faz sentido com que o leitor vai sentir/sentiu é bom lembrar que o espetáculo que encerrou temporada no Sesc-Copacabana-Arena dia 30/5, deve voltar na sede da Cia. dos Atores na Lapa.

Não assisti ao resultado da primeira oficina (falha minha dado a importância do grupo). Assim não tenho como comparar.

5- “Oxigênio” de Ivan Viripaev, direção de Marcio Abreu, criação e realização da Companhia Brasileira de Teatro.

Primeira peça do russo contemporâneo Ivan Viripaev a ser montada no Brasil, tendo já tido várias montagens mundo afora, “Oxigênio” é um excelente cartão de visitas e desperta enorme curiosidade por sua obra.

Inspirada em “Crime e Castigo” de Dostoiévski, “Oxigênio” nos mostra dois atores (Gabriel Schwartz e Giovana Soar, não menos que esplêndidos, em estado de graça) narrando a história do casal Sacha e Sacha em que ela mora em Moscou, ele numa cidadezinha do interior. Ao se apaixonarem, ele volta à sua localidade e mata a machadadas no peito (“onde uma parte do pulmão de um lado e a outra respiram oxigênio...”) a mulher que considera sem atrativos, “ de cabelos pretos”, enquanto Sacha tem “cabelos ruivos”.

O oxigênio que é vital para toda vida humana ganha as mais variadas metáforas de liberdade a que o ser humano aspira para dar maior sentido ao absurdo da vida. Por isso se viciar em oxigênio é muito perigoso, diz ela.

Com intervenções musicais roqueiras e de raps em que Giovana chega a tocar bateria enquanto representa e Gabriel guitarra, junto a outro músico presente quase o tempo todo ao fundo do palco, temos um lisérgico espetáculo que exige bastante e contínua destreza técnica e emotiva dos atores, dividido em dez partes, cada uma remetendo a uma máxima ou mandamento bíblico.

O que em Dostoiévski é evolução a uma ascese espiritual para salvação de um espírito culpado que foi capaz do assassinato de uma velha usurária, por julgá-la uma criatura inferior, o que origina muitas torturas mentais, em “Oxigênio” é evocação e heresia, desconstrução e iconoclastia, onde se aliam drogas estupefacientes, o que é emblemático não só das novas gerações da Rússia como do Brasil, pontes que a peça em sua adaptação de Márcio Abreu faz questão de ressaltar.

Muitas falas são repetidas até certa exaustão. Mas o que poderia soar como afetação tem grande força dramática pelo empenho dos atores. O clima de inquietação existencial e de questionamentos é permanente até que se chegue a um plácido final, mas a preço bastante alto. Em certos momentos até mesmo a metalinguagem toma conta do espetáculo para questionar se o ator realmente é um fingidor que estaria trazendo ao palco experiências, sofrimentos e emoções, que não teria em sua vida supostamente confortável. Este ator seria um fingidor que finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras não sente (ao contrário do poeta de Fernando Pessoa). Mas como já foi comentado no texto sobre “Transcendendo Linch”, o sofrimento é realmente necessário para um artista realizar uma obra sofrida?

“Oxigênio” é uma grande lufada de ar que oxigena ainda mais o teatro brasileiro, conjugando texto, interpretações e direção exemplares (com direito a grande surpresa na cenografia simples) e bastante significativo da ânsia de contemporaneidade nos palcos que aflige o dramaturgo e diretor Roberto Alvim, conforme comentado no post anterior. Mas isto não significa que uma grande adaptação de “Crime e Castigo”, por exemplo, para o palco italiano, não tenha mais muito a nos dizer. Claro que tem e é um legado gigantesco. Para um autor que já está no panteão da eternidade dos supremos artistas como Dostoiévski, nunca é demais estar em contato com a enormidade de sua argúcia, polifonia de contradições esquadrinhadas e generosidade. Algo que pode se salvífico para os impasses niilistas dos becos sem saída em que estamos mergulhados e que “Oxigênio” retrata muito bem. Fala-se o tempo todo de oxigênio na peça para lembrar que vivemos num mundo de muitas amarras que nos asfixiam. Sacha mulher toma pílulas e morre. Sacha homem vai para os campos entorpecido em absinto. Que venha “alguma coisa urgentemente”.

“Oxigênio” teve em seu último dia no pequeno Mezanino do Sesc-Copacabana um público atento e contagiado pela pulsação do espetáculo, com pessoas sentadas no chão. O grupo que o realiza merece um teatro maior no Rio de Janeiro, que permita prolongar sua temporada na cidade.

Ps O Segundo Caderno de O Globo precisa de uma urgente oxigenada na parte de crítica teatral. A menos que eu tenha me distraído em minha leitura diária, vários espetáculos não tem tido crítica. É o caso de “Oxigênio”, “AutoPeças- Peças para Encaixar 2”, “A Estupidez”, “Duas Histórias” etc. É necessário que Bárbara Heliodora exija de si o mesmo profissionalismo que cobra das pessoas envolvidas nos espetáculos. O Globo precisa ter assumidamente outros críticos teatrais em trabalho conjunto com ela. Bárbara tem que deixar isto bem claro para os editores. Temos a contribuição esporádica de Tânia Brandão como tínhamos Jefferson Lessa. Que voltem com assiduidade. Há a necessidade de inclusive, como acontece na área de cinema, que analogamente, críticos teatrais viagem a São Paulo, ao Festival de Curitiba, ao de Porto Alegre, ao exterior, a outras capitais etc. para dar ao leitor um panorama mais completo do que se faz em Teatro no Brasil e no mundo, o que Bárbara, com todo respeito que sua trajetória merece, conforme comentou em entrevista recente ao Roda-Viva com Marília Gabriela, não está mais em condições de fazer.

A necessidade de outros colaboradores, aos quais pode ser adicionado Daniel Schenker, crítico de cinema, mas também grande estudioso de Teatro, que já tem feito alguns artigos para O Globo, se amplia quando se sente a necessidade imperiosa de que alguns espetáculos (o ideal seria todos...) tenham pelo menos duas visões, como o extraordinário “Memória da Cana” de Newton Moreno, espetáculo do ano pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) que teve recepção fria de Bárbara Heliodora, que tem uma visão estreita, ao meu ver, de “Álbum de Família” de Nelson Rodrigues, base do trabalho de Moreno ( comentado em post anterior) .Para Bárbara falta conflito a ser desenvolvido na peça. Mas a rigor isto se poderia dizer de todas as peças de Tchekov em que mais do que qualquer ação, importa mais as evoluções interiores que levam os personagens à inação, naufragados que estão em seus mundos, como ratinhos se debatendo numa vasilha de leite e ficando cada vez mais presos com a coagulação. Em “Álbum de Família” conflitos decorrem de embates interiores e exteriores, com provocações mútuas constantes que conduzem a confissões em brados de desejos incestuosos antes inconfessáveis.

Para Bárbara as obras primas “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” de Fassbinder, “O Rei da Vela” de Oswald de Andrade (mais atual do que nunca; não vi a tão comentada visão de Zé Celso, mas li a peça com muita atenção), “Abajur Lilás” de Plínio Marcos, “Calígula” de Albert Camus e até mesmo “Toda Nudez Será Castigada”, do que me lembro, são melodramas baratos ou peças ruins ou nem mesmo uma peça ( o que seria o caso de Camus, onde haveria só ideias expostas..).

Quando a ouvimos ainda dizer que Laurence Olivier nunca acertou em Hamlet, tendo-o visto de forma irrepreensível e luminosa na versão consagrada que fez da peça para o Cinema( um filme fundamental para a vida de Polanski), que Ham-Let( “Liberte o Canastrão) de José Celso Martinez Correa é um mal espetáculo, quando este pede uma visão que transcenda o teatro para se chegar a uma festa dionisíaca, dentre outras avaliações polêmicas, não é para ficarmos com um pé atrás?

Claro que ela muitas vezes acerta, mas tem cometido erros, ao meu ver, colossais, principalmente, por mais que ela negue, no que diz respeito ao teatro mais experimental. Li com a maior atenção “A Paixão Segundo G.H.” de Clarice Lispector. Assisti ao trabalho extraordinário de Mariana Lima inspirado pelo livro, dirigida por Enrique Diaz e reconheci Clarice por inteira em Mariana. Mas para Bárbara Heliodora isto não é teatro assim, como vários outros espetáculos cuja origem não é um texto concebido como peça teatral... Mas Mariana não deve se preocupar. Até Fernanda Montenegro foi tida como over em seu grandioso trabalho em “Fedra” de Racine, encenada por Augusto Boal, que assisti empolgado duas vezes, onde a crítica confundiu atriz e a angústia da personagem.

Enfim que venham outros críticos. Que Bárbara tome o vinho de Dionísio que Zé Celso lhe ofereceu em outro Roda-Viva mais antigo, com a presença de entrevistadores-diretores, mas ela se recusou a beber. Enquanto há vida, há tempo. Bárbara Heliodora é a prova viva de que podemos dedicar nossa vida a uma atividade, com grande paixão, sinceridade e ainda termos muito que aprender.

Bárbara deve ter sido responsável pela guinada de Moacir Góes do grande teatro que fazia para o cinema mais comercial. Sobre a adaptação de “Pinóquio” dele para adultos ela escreveu: “Moacir Góes transforma André Valle em ator de teatro infantil de quinta categoria”. Depois disso Góes só fez aparições esporádicas no Teatro como diretor, alguém que já nos tinha dado o magistral “Escola de Bufões”, dentre outros grandes espetáculos....( Gente, claro que isto é uma ironia....).

Pra terminar uma questão de prova: o que é mais interessante montar no Brasil, uma tradução de Shakeaspeare mais fiel à métrica de Bárbara Heliodora, ou uma mais coloquial como a de Millôr Fernandes? Mas minha maior concordância em termos negativos de uma montagem é o recente “Hamlet” de Aderbal Freire Filho com Wagner Moura. Desta vez ela teve razão. Faltou escrever o que já disse de muitos espetáculos: “é um equívoco total”. Mas meu comentário predileto de Bárbara foi um deste teor: “será que na cadeia de produção não houve ninguém para alertar que este espetáculo seria um grande equívoco?”

6- "Estrada Para Ythaca" ( Brasil/2010) dos Irmãos Pretti&Primos Parente (Guto Parente, Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes)

Quatro amigos perdem um quinto companheiro. Eles se embebedam num bar, cantam canções como Luz Negra de Nelson Cavaquinho (“A luz negra de um destino cruel ilumina um teatro sem cor, onde vou representando o papel de palhaço do amor...”), pegam uma estrada em direção ao amigo morto, um deles corre desesperado na frente do carro, os outros insistem para que ele entre. Antes de tudo somos confrontados com parte de um poema de Konstantinos Kavafis que será retomado ao final e melhor entendido.

Com um dos grandes libertadores do cinema, Godard, ficou mais natural fazer do cinema “um livro mais aberto”, onde cabe até o ensaio em vez da ficção. Assim não é de estranhar que um poema apareça aqui com mais detalhes e não simplesmente uma epigrafe como Walter Hugo Khoury gostava de fazer: “A liberdade é o reconhecimento da necessidade” em “O Convite ao Prazer” ou “Quando expulso meus demônios, meus anjos também vão embora” num filme em que não me lembro qual é).

O problema com “Estrada Para Ythaca” é que o belíssimo poema de Kavafis é uma carta de intenções dos realizadores, mas expressa o que eles gostariam de ter realizado, mas, infelizmente, não lograram. Destacando-se aqui e ali alguns momentos realmente belos em que as imagens enquadradas pontuadas por uma música incisiva se destacam, o conjunto é bastante precário e espanta que o filme tenha obtido o prestígio que conseguiu em Festivais como o de Tiradentes, tratando-se de um caso de quase total mistificação.

O que se tem é mais uma ação entre amigos para realizar este sonho que é fazer cinema no Brasil, com os parcos recursos disponíveis, sem esperar pelo resultado de nenhum edital, que pode adquirir a proporção de um prêmio de loteria para determinados realizadores, sem nada que os alavanque. Isto é logrado. Estamos diante de um filme de forma inequívoca. Mas que filme equívoco! A crença de que estão fazendo algo experimental e nobre é tão grande que até uma longa e inócua sequência onde preparam comida num fogo aceso, faz parte do conteúdo para gerar um longa-metragem de 80 minutos. Faltam ideias cinematográficas fortes e sobra pretensão.

Numa sequência significativa da ambição e arrogância do projeto nos é apresentada uma bifurcação na estrada. À direita temos o caminho do cinema de aventuras, à esquerda o cinema do terceiro mundo que seria “divino e maravilhoso” conforme canção de Gil e Caetano. Estamos aqui numa homenagem a homenagem que Godard presta a Glauber Rocha em “Vento do Leste” na fase Dziga Vertov. Cada um se inspira em quem quiser. A questão é que além da vontade pura e simples de transgredir cânones do cinema dito convencional, hollywoodiano, não há mais nada que se acrescente significativamente a esta ambição. É um lugar comum, mas é inevitável: vai-se do nada ao lugar nenhum. Pode-se até ter realmente como proposta aquilo que ficará mais claro na leitura do poema de Kavafis e é sintetizado de forma mais clichê pela máxima: “Caminhante, não existe caminho: o caminho se faz é ao caminhar”. Mas para se chegar a um “lugar nenhum” que seja realmente “um grande lugar” estética e filosoficamente (o que Antonioni faz muitas vezes, como em “O Eclipse” ) há que se ter muito talento.

Os quatro diretores são também os quatro atores, fotógrafos, montadores e roteiristas (quatro para este “roteiro”?). Mas, a rigor, a obra tem duas grandes funções: inflar o ego de seus realizadores ("Apesar de tudo e todos, fizemos um filme") e "popularizar" poema belíssimo de Konstantinos Kavafis, poeta que em sua obra tematiza o amor/erotismo homossexual e cultiva a tradição helênica, que vai adiante:

ÍTACA

Se partires um dia rumo a Ítaca

faz votos de que o caminho seja longo,

repleto de aventuras, repleto de saber.

Nem os Lestrigões nem os Ciclopes

nem o colérico Posídon te intimidem;

eles no teu caminho jamais encontrarás

se altivo for teu pensamento, se sutil

emoção teu corpo e teu espírito tocar.

Nem Lestrigões nem os Ciclopes

nem o bravio Posídon hás de ver,

se tu mesmo não o levares dentro da alma,

se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.

Numerosas serão as manhãs de verão

nas quais, com que prazer, com que alegria,

tu hás de entrar pela primeira vez um porto

para correr as lojas dos fenícios

e belas mercancias adquirir:

madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,

e perfumes sensuais de toda espécie,

quando houver, de aromas deleitosos.

A muitas cidades do Egito peregrina

para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.

Estás predestinado a ali chegar.

Mas não apresses a viagem nunca.

Melhor muitos anos levares de jornada

e fundeares na ilha, velho enfim,

rico de quanto ganhaste no caminho,

sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.

Sem ela não te ponhas a caminho.

Mais do que isso, não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.

Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,

e agora sabes o que significam Ítacas.

Konstantinos Kaváfis

(tradução de José Paulo Paes)

http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/pi01/pi210518.htm

“Estrada para Ythaca” é um filme que se esquece rápido, mas não se esquece que ele nos lembrou deste poema inesquecível.

Ps. A exibição de “Estrada para Ythaca” somente até quinta- feira na sessão das 22:00 faz parte de um projeto conjunto de alguns cinemas brasileiros como o recém restaurado Jóia do Rio de Janeiro , com a distribuidora Vitrine. Na sexta-feira já teremos outro filme brasileiro, que se não fosse desta forma não encontraria distribuição no circuito. Descer para o Cine Jóia, na galeria vazia e escura às 21:50 é assustador, uma missão para um Orfeu em busca de Eurídice, uma descida às catacumbas do Inferno. Mas é o preço a se pagar para ser ter outro cinema atuante num bairro tão populoso como Copacabana que tinha passado a contar só com as salas do Cine Roxy. Fausto Fawcett, artista emblemático das neuroses e delícias de Copacabana escreveu artigo belíssimo em O Globo na página móvel Logo sobre o fechamento absurdo de cinemas em Copacabana, a importância de se reabrir o Jóia para uma programação diferenciada e a vertigem que está sendo/será a relação do homem com as imagens em movimento. Quem chegar mais cedo no cinema poderá lê-lo estampado com destaque ou então no link adiante:

http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/04/28/poeta-carioca-comenta-reabertura-do-cinema-joia-em-copacabana-924339004.asp.

7- “Juliano” de Gore Vidal (Editora Rocco)

Muita gente do pessoal GLBT se esforça para mostrar que a Bíblia não é um texto homofóbico (sim, a Bíblia como outros livros tidos como sagrados, são antes de tudo Literatura e cabe então múltiplas interpretações; quem tiver uma visão unívoca e ortodoxa desses livros está equivocado). Como até Frei Betto reconheceu em interessante e belo artigo “Os gays e a Bíblia” http://sergyovitro.blogspot.com/2011/05/os-gays-e-biblia-frei-betto.html , ela não deve ser lida fora do contexto de sua época patriarcal. Caso contrário, encamparemos muitos preconceitos contra as mulheres, incitação à violência etc. Nela assim como se lê “Não deitarás com homens como se mulheres fossem” também temos emocionadas passagens do amor de Jônatas por Davi.

Gore Vidal tem boutades que às vezes incomodam, mas são irresistíveis: “Fui ler “Cem Anos de Solidão” e me deparei com gente levitando. Pensei: mas isto é A Noviça Voadora e fechei o livro” . Mas por trás deste escritor às vezes pernóstico temos, como Noam Chomsky, um crítico implacável dos descaminhos da sociedade americana e a forma como ela tem sido constituída, se (de) formando ao longo dos anos. Não são intelectuais que estão “pegando este bonde só agora” depois da crise de 2008.

Seu romance histórico “Juliano” está longe de ser “o melhor romance que já li”: nesta seara há os romances da última fase de Machado de Assis, principalmente “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa, “O Jogo das Contas de Vidro” de Herman Hesse, “A Fúria do Corpo” de João Gilberto Noll, a novela “O Velho e o Mar” e “Por Quem os Sinos Dobram” de Hemingway, “Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamazóv” de Dostoiévski, “Cem Anos de Solidão” de Garcia Marquez etc. Mas “Juliano” é formador (como os outros) e certamente um dos mais influentes. É como se junto com “Por que Não sou Cristão” de Bertrand Russel (que precisam reeditar no Brasil), do qual discordo da visão ateísta do filósofo, mas encampo muitas de suas colocações sobre a passagem de Cristo sobre a Terra, formassem um díptico que mostra outro lado desta corrente religiosa. Livros que devem estar longe dos best-sellers um tanto escandalosos como “O Código Da Vinci”, um daquelas obras em que nosso humor nos faz pensar: “Não li e não gostei”.

Sou de visão que tudo que faz parte da vida do homem deve ser discutido ( desde que se esmere em argumentos; não digo com respeito, pois este é um conceito muito relativo). Até mesmo religião. Se esta molda e move povos por que não deveria ser discutida também? Não comungo nem um pouco do espírito do manifesto ateísta “Deus, Um Delírio” do biólogo Richard Dawkins. Mas acho totalmente legítimo que ele escreva este livro. Mas “Juliano” é um romance que me fisgou.

Juliano é o imperador romano que reinou de 361 a 363 de nossa era. Para não ser morto como seu pai por Constantino I, só “da boca pra fora” aceitou o cristianismo em ascensão. Desde jovem era adepto dos cultos pagãos e pretendia estabelecer o paganismo como algo mais oficial, detendo quase que quixotescamente o avanço do cristianismo, no qual enxergava (com razão) muitos males que viriam depois.

Sua história nos é narrada pela correspondência entre os filósofos Prisco e Libânio, um amedrontado com o que pode acontecer com ele, o outro mais ousado. Há uma forte componente homossexual em Juliano. Ao não enfrentar sua condição em profundidade, ele se move numa batalha aonde não enxerga os limites para sua própria sobrevivência e as coisas fluem como que se oferecesse a si mesmo em holocausto em sua luta contra a corrupção em meio cristão, onde até os eunucos tinham perverso poder. Uma das sequências mais intrigantes é justamente o relato de uma orgia dos eunucos. Jesus em muitos momentos é tido como um rabino reformista.

O desfecho de Juliano é uma síntese que arrebata, numa carta de Libânio para si mesmo, onde além do sentimento de que a morte é iminente declara: “Com Juliano, a luz se foi e agora nada mais resta a não ser deixar entrar as trevas, e esperar por um novo sol, um novo dia, nascido do mistério do tempo e do amor do homem pela luz.”

Como “companheiro de viagem” do candomblé durante anos, um culto considerado até hoje pagão e discriminado, entendi mais as angústias de Juliano e aliado à homossexualidade dele, me identifiquei ainda mais com este personagem histórico, que merecia um grande épico no Cinema à altura de sua história dentro da História. Hollywood em vez de fazer tantos remakes e franquias dispensáveis, poderia aproveitar a vitalidade que Gore Vidal ainda tem, convidá-lo para trabalhar no roteiro e filmar esta vida incomum. Mas sem censuras e cortes de produtor. Caso contrário é melhor não fazer nada.

Por que me lembrei deste romance agora? Por ser uma “homenagem” que presto à presidenta Dilma Rousseff que aceitou ser chantageada pelas bancadas evangélica e católica, bem como por algo dito “da família”, ao proibir a distribuição do kit anti-homofobia nas escolas para jovens (vi dois dos três vídeos e não há nada demais, principalmente para pessoas que são bombardeadas diariamente por cenas violentíssimas e sequências heterossexuais de certa ousadia nas televisões abertas e fechadas- quanta hipocrisia!), em nome do não empenho destes políticos na abertura de uma CPI para convocar Palocci para explicar em detalhes o porquê de seu escandaloso enriquecimento (aumento de 20 vezes do patrimônio em 4 anos, conforme a Folha de São Paulo, havendo ainda a possibilidade de ter faturado enquanto discutia o gabinete de Dilma).

Enfim, corrupção pode. Praticar a homossexualidade e instaurar medidas para diminuir a violência contra homossexuais, a rigor não, por mais que Dilma venha corrigir o incorrigível declarando de uma forma ridícula que é favorável aos direitos homoafetivos, mas que não vai fazer campanha de opções (como se ser GLBT fosse uma opção), ou vai analisar bem questões de costumes (como se vivenciar/praticar a homossexualidade não fosse vital, mas um costume como fumar ou comprar roupas de grife num shopping...).

Enfim, se Juliano tivesse vencido sua batalha estaríamos certamente vivendo, em parte, num mundo melhor. Não neste cipoal de preconceitos, intolerâncias e corrupção. Que pena.

Ps A Igreja Católica se manifestou de forma veemente contra as exibições de “Je Vous Salut Marie” de Godard e “A Última Tentação de Cristo” de Scorsese. Até o grandioso Celso Furtado para justificar a censura a Godard em seu governo enquanto Ministro da Cultura, disse que ele seria um falso grande artista. Já o maravilhoso “A Última .....” foi aqui enfim exibido com um cartaz bastante econômico com uma árvore e sem nenhuma foto ( era uma época em que se tinha ainda a prática saudável de colocar fotos de filmes nos cinemas), com restrições mercadológicas, como se fosse um filme pornô. Curiosamente, do maior petardo que a Igreja de Roma recebeu do cinema, ela nunca se manifestou.

Em “O Poderoso Chefão- Parte 3” de Francis Ford Copolla, o mafioso Michael Corleone ( Al Pacino em mais um grande desempenho) está velho, “cansado de guerra” e quer se espiritualizar. Assim tenta uma aproximação com o Vaticano. Inspirado no caso da falência do Banco Ambrosiano, parceiro do Vaticano e na morte suspeita do papa João Paulo I em 1978, temos um mafioso acostumado a lidar com situações limites em seus “negócios”, encontrando uma nova situação em que se sente impotente, da qual passa a ter medo: um poder muito maior do que tudo que conheceu. Não era pra menos: estava lidando agora com a maior, mais longeva e mais rendosa multinacional da História.

Podem me excomungar por lembrar estas coisas. Eu mesmo, há muito tempo já me excomunguei da Igreja Católica. Os orixás me protegem.

Fico espantado quando leio que o grande psicanalista Hélio Pelegrino era católico. O mesmo espanto tenho quando vejo Maria Bethânia ao mesmo tempo que cultua os orixás, cultuando a Virgem Maria ( pode ser lindíssimo mas não me sentiria bem ouvindo o CD que Bethânia dedicou a esta fé: é o único dela que nunca ouvi, ainda que admire/ me encante com muito da arte cristã produzida durante os séculos). O sincretismo que a umbanda tem dentro de si com o cristianismo eu entendo ( mas mais historicamente). Na medida em que faz uma ponte entre cultos afros e cultos cristãos, deixa de ser cristão propriamente dito e isto faz toda uma diferença, com o trato com espíritos assustadoras para o pensamento cristão ortodoxo que são as pombas-gira,os pretos-velhos, boiadeiros, caboclos etc. Já candomblé e cristianismo têm filosofias completamente incompatíveis. Mas já vi mãe de santo promovendo missa após saída de filho de santo depois do período de obrigações .Já a célebre mãe de santo francesa Gisele Cossard Binon, em seu candomblé perto da estrada Rio-Petrópolis não mistura nada do candomblé com o calendário e rituais católicos.

Mas o candomblé quando se torna fanático e fundamentalista pelas mãos de maus zeladores de santos ou fiéis que mal entendem a energia com a qual estão lidando, pode se transformar num inferno. Não me espanto que o violonista Baden Powell tenha no fim da vida se tornado evangélico e mantido distância, com horror, de seus maravilhosos afro-sambas, que compôs com Vinícius de Moraes. Pode ter saído de um fanatismo para entrar certamente em outro. Num outro post desenvolvo mais este tema do fanatismo ( que é muito ruim em qualquer seara da vida, mas nas religiões tem os efeitos mais desastrosos e perigosos).E “last but not least”: até mesmo o grande Babálawó ( pai dos segredos) ou Babalaô Agenor Miranda Rocha em “Um Vento Sagrado”, organizado por Muniz Sodré e Luis Felipe de Lima pela editora Mauad, reconhece e lamenta que o candomblé está em muitos casos um tanto descaracterizado e mercantilizado.Custos numa casa de santo sempre existem. Não há como se desvencilhar da questão financeira. Mas que alguns praticam abusos, não tenho a menor dúvida (como certos médicos, psicanalistas etc. fazem). Isto vem também da experiência. Aliás, em que áreas das atividades humanas o mercantilismo feroz reinante não está corrompendo pessoas?

Na página de Saúde de O Globo de domingo 29 de maio do ano corrente, tem-se uma interessante matéria “Coaching”Emocional”,onde se faz um panorama da questão delicada psiquiatria X psicanálise&psicologia, quando deveríamos tirar o X e acrescentar e, pois todas estas áreas tem sua importância e oportunidade. Quando alia-se o argentarismo o preconceito,confusões, ciúmes e espírito de concorrência e a vontade de ganhar clientes incautos à fórceps é acirrada, explosiva e fortemente daninha para a saúde e a vida das pessoas frágeis e crédulas. Se faço questão de comentar isto, é porque temas que envolvem candomblés aparecem em outras atividades humanas. http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/05/29/neurociencia-da-respaldo-as-psicoterapias-usadas-para-solucao-rapida-de-transtornos-924558059.asp

Mas como já escrevi, desenvolverei melhor estas questões em outra ocasião.

8- Um Tanto de MPB

8.1- “Pra Iluminar”- Leila Pinheiro e Eduardo Gudin ao Vivo ( Tacacá Music/2007)

Leila Pinheiro é uma cantora estimada pelo público. Completou 30 anos de carreira num show memorável no Teatro Nelson Rodrigues no Rio de Janeiro (inexplicavelmente para poucos dias), com ótimas projeções, cantando repertório de Renato Russo gravado no CD “Meu Segredo Mais Sincero”, ressaltando a poesia e emoção das canções do bardo. Mas acredito que ela ainda não foi o suficiente louvada à altura de sua grandeza.

Com a morte de Elis Regina, a melhor de nossas cantoras que já conheci/ ouvi, em qualquer tempo, a MPB se ressentiu/ ficou órfã de alguém que tivesse sua versatilidade, técnica e grande emoção transmitidas, gravando sempre um repertório em que lançava pioneiramente muita gente que ficou depois muito mais conhecida por sua grande qualidade como compositor/cantor (como Milton Nascimento, João Bosco&Aldir Blanc, Fátima Guedes, Ivan Lins, Belchior etc.), além de clássicos.

Leila não quer nem deve ser confrontada com o legado de Elis Regina. Mas das cantoras que conheço é aquela que de certa forma mais lembra (sem imitar) o tom, a emoção e técnica que Elis tinha. Ná Ozzetti tem também estes atributos em grande escala, mas em nada lembra Elis. Suas filiações são outras, como demonstrou no CD “Balangandãs”, dedicado ao repertório de Carmem Miranda. Pode ser um sentimento muito subjetivo, mas ouvindo Leila, eu mato um pouquinho da tristeza, dor, nostalgia e saudade de Elis, quando penso sempre sobre o que estaria cantando hoje se estivesse viva. Maria Rita lembra um tanto o timbre da mãe. Mas em emoção e técnica tem muito ainda a evoluir, bem com na escolha de seu repertório, que tem sido irregular (seu trabalho que mais gostei é este último dedicado a sambas “Samba Meu”, em que dá destaque e grande dimensão à deliciosa obra de Arlindo Cruz).

Leila além de CDs impecáveis dedicados a vários compositores como “Nos Horizontes do Mundo” em que vai de Vander Lee, Marcelo Yuka, Fátima Guedes, Walter Franco a Chico Buarque, Paulinho da Viola, dentre outros, costuma fazer seus tributos a grandes compositores. Além do já mencionado a Renato Russo, temos trabalhos dedicados a Ivan Lins&Gonzaguinha, um antológico apanhado de composições de Guinga&Aldir Blanc ( “Catavento e Girassol”). Mas um tributo pouco conhecido e comentado é o que fez ao grande compositor paulista Eduardo Gudin.

“Verde” foi uma composição de Gudin/ J.C.Costa Neto, classificada por Leila Pinheiro em terceiro lugar no Festival dos Festivais da TV Globo em 1985. Foi a música que a projetou nacionalmente. “O cantor, compositor e instrumentista Eduardo Gudin nasceu em 14/10/1950 em São Paulo SP. Iniciou sua carreira artística com 16 anos, no programa "O fino da bossa" da TV Record de São Paulo, comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues”. http://www.paixaoeromance.com/80decada/verde/h_verde.htm

Nada mais natural então que fosse Leila a prestar um grande tributo ( depois de anos de um trabalho de Márcia) a este compositor de clássicos que se correlacionam (não é tão difícil reconhecer uma música dele, na forma em que mistura samba, samba canção, de melodias mais suaves e versos eloquentes e contundentes, no melhor sentido desta palavras, de temática em geral amorosa, ainda que surjam homenagens a São Paulo, como “Paulista”, integrando o interior e o exterior como Walter Hugo Khouri fazia em seus filmes mais paulistas, bem como canções de temática social).

Como de hábito, que espero que não canse o leitor, vamos a um apanhado da poética do trabalho de Leila num CD com ela em voz e piano e Gudin (dentre outros músicos) com voz e violão. As canções, magníficas todas, tem autoria só de Gudin ou com parceiros como Paulo Vanzolini, Sérgio Natureza, Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, José Carlos Costa Netto etc.

“Meu coração foi caminho abandonado/ Onde ninguém mais queria seguir e aventurar/ Foi pelas pedras do rio, olhando as nuvens no ar”; “Invento mágoas pra lhe machucar/ Mas quando ele chora/Eu é que lamento”; “Chorei/ Porque vinha trazendo minh’alma sentida/ Eu chorei pela última vez nesta vida/ Para nunca mais chorar/ Doravante eu vou cantar/Se a tristeza voltar”;” Crer eu não creio/ Só pretendo que, de tanto mentir/Repetir que me ama/ Você mesma acabe crendo”; “E por mim não irei renunciar/ Antes de ver o que não vi em seu olhar/ Antes que a derradeira chama que ficou/ Não queira mais queimar”; “Talvez quando a verdade aparecer/ A dor faça você me procurar/ Porém a luz maior de um bem querer/ Quando se apaga é pra valer”; “Cá estamos nós/ Amor, faça jus/ A quem ama em paz/ Luzes da mesma luz”; “Porque se o amor veio pra ficar/ Ou veio só pra não me ver sofrer/ Quem sou pra decidir com a razão/ Melhor deixar o amor me resolver”; “Ah! Por que solidão/ Por que não, prazer/ Porque foi assim ou deixou de ser/ Porque era calmo de enlouquecer”; “Na Paulista os faróis já vão abrir/ E um milhão de estrelas prontas pra invadir os Jardins/ Onde a gente aqueceu numa paixão/ Manhã frias de abril”; “O importante é que a nossa emoção sobreviva/ E a felicidade amordace essa dor secular/ Pois tudo no fundo é tão singular/ É resistir ao inexorável/ O coração fica insuperável/ E pode em vida imortalizar”; “Um samba muito bom/ Que me contagiou/ Me ganhou/ Bixiga amanheceu/ Vai-Vai já ensaiou/ Clareou”;” Verde as matas no olhar/ Ver de perto ver de novo um lugar/ Ver adiante, sede de navegar/ Verdejantes tempos, mudanças dos ventos/ No meu coração”; “Sim, eu sou brasileiro/ Não tem pena de mim/ É que eu sou mandingueiro/ É que eu vou rir no fim”; “O mundo é grande e eu nem sei quanto chão que há/ Mas tem quem ande ser ter casa pra morar/ Só tem quem mande no mundo se alguém deixar/ Porém nem Gandhi mudou sua gente”; “O destino é a brisa/ Se a gente seguir/ Tormenta se a gente teimar/ Precisa saber se deixar levar”;”E toda janela fechava/ Pros versos que aquele poeta cantava/ Talvez por medo das palavras/ De um velho de mãos desarmadas”

Enfim, ei-la: Leila Pinheiro, grande cantora que merece ainda mais ser ouvida com mais atenção. Ela é a cantora ideal para um tributo a Cazuza, ressaltando todo seu lirismo em meio à rebeldia. Cássia Eller que podia ter feito um CD extraordinário sobre a obra de Cazuza, fez um que tem uma base de guitarra tonitruante, que chega a eclipsar até mesmo sua poderosa voz, colocando-a em segundo plano, tornando o trabalho um tanto chato, de forma que eu, grande admirador dos dois, pouco o ouvi/curti, pois uma das coisas que muito me afasta de muitos trabalhos de rock é quando as guitarras encobrem a voz dos artistas. Caetano Veloso em “Cê” e “Zii e Zie” não deixa que isto aconteça: tem solos fortes de guitarra, mas quando canta jamais sua voz delicada é encoberta por este instrumento “demoníaco” dos meninos.

8.2 “Sacramentos” – Marcos Sacramento ( Biscoito Fino)

A primeira vez que ouvi Marcos Sacramento foi num show de lançamento no Sesc-Flamengo do primeiro CD da série, infelizmente interrompida pelo que eu saiba, “Poetas da Canção”, que é “Um Pouco de Mim” só com obras de Sérgio Natureza&parceiros, que fez com Tunai, no mínimo, um grande clássico da MPB que é “As Aparências Enganam”, uma das mais belas canções brasileiras em qualquer tempo, imortalizada por Elis Regina, um meditação poética sobre os estágios do amor que supera muito texto longo já escrito. O CD tem vários intérpretes e o jeito especial de cantar de Marcos logo me encantou. Lendo mais tarde uma crônica de Ruy Castro que o colocava já como um dos grandes sambistas que o Brasil teve/tem ( o que confirmei depois ser justíssimo) comprei “Memorável Samba”, um apanhado de clássicos cantado com uma ginga e qualidade vocal, como se estes sambas tivessem sido feitos “ontem”, só pra ele.

“Sacramentos” lançado mais tarde, não só confirmou o grande sambista que Marcos é, mas também ampliou seu leque de ritmos, tendo até uma canção um tanto dolente de Fátima Guedes e outras que ressaltam todo lirismo que ele impregna nas músicas, além do formidável alcance vocal. Mais uma vez afirmo: nada contra a “escola João Gilberto” de um canto mais cool, minimalista, mas sou contra hegemonias em tudo na vida. Não seria diferente em música.

O repertório de “Sacramentos” tem composições de Luiz Carlos Alcofra, “Desconsideração” e a que dá título ao CD, que de certa forma resume a filosofia do trabalho (“Do samba eu me embriaguei/ De Carmens, Orlando e ofurô/ Da voz eu me sacramentei”). Alcofra, dentre vários grandes músicos, está presente com seu violão em todas as faixas, com arranjos preciosos de Jayme Vignoli. Clássicos de Noel Rosa, Custódio Mesquita, Herivelto Martins, Cartola, David Nasser, uma ótima composição do próprio Sacramento com Paulo Baiano ( “Falo de Amor”, um antídoto contra os revezes da vida) etc. compõem um CD em que alguns momentos remetem ao Bairro da Penha e/ou fervor religioso associado às famosas escadarias de sua Igreja. Independentemente de credo religioso, como nas melhores obras sacras, não há como não se tocar com o clima instaurado, distante de qualquer poder humano maior, mas sim em contato com a riqueza do mundo interno das pessoas. Mas o mais belo verso da MPB que representa este estado pessoal sacramental, ao meu ver, é de Renato Teixeira, imortalizado por Elis Regina em “Romaria”: “Como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar”. Há muitíssimo mais fé e religiosidade aqui do que nos atos de muitos políticos que se dizem religiosos e estão com suas garras afiadas de gavião para tentar decepar direitos legítimos alheios, se valendo até mesmo de escusos “tapetões”.

Por falar em Elis, Marcos entra na seara de antologia dela com “Cai Dentro” (Baden Powell/Paulo César Pinheiro) e tem também grande interpretação, neste samba de ritmo delirante.

Adiante temos uma seleta poética do CD:

“Otário que eu sou acreditei na lealdade/ Aquela velha inveja destruiu nossa amizade/ Bem desconfiei quando você apareceu/ Dizendo que o culpado era eu”/; “Tem nego querendo lhe gozar/ E logo pra cima de “moi”/ E é por isso que não tem colher de chá/ Não dou/ Nem vem na cola que se entrar de sola/ Vai dançar”; Adivinhe coração/ Adivinhe se és capaz/ Que a saudade não me deixa/ Vê se atende a minha queixa/ Que eu não posso mais”; “Quando tu fores cansando/ Das minhas palavras/ Dos carinhos meus/ Mente, que eu fico contente/ Em crer que é mentira/ A verdade do adeus”; “Levarei dinheiro pra comprar velas de cera/ Quero levar flores para a santa padroeira/ Só não subirei a escadaria ajoelhado/ Pra não estragar o terno que tenho emprestado”; “Demonstrando a minha fé/ Vou subir a Penha a pé/ Pra fazer um oração/ Vou pedir à padroeira/ Numa prece verdadeira/ Que proteja o meu baião”; “Não há quem tenha mais saudade lá da Penha/ Do que eu- juro que não!/ Não há quem possa me fazer perder a bossa/ Só a saudade do barracão”; “Juro, confesso/ Não faço versos para minha vaidade/ Meu samba é o meu lamento/ Meu castigo, meu tormento/ Minha dor, minha saudade”; Eu não sei bem se chorei no momento em que lia/ A carta que eu recebi (não me lembro de quem)/ Você nela me dizia/ Que quem é da boemia/ Usa e abusa da diplomacia/ Mas não gosta de ninguém”;”E resolvi ali mesmo: Hei de voltar!/ Se a vida um dia, se Deus quiser, melhorar/ Com um ricaço pendurado no meu braço/ Vestido de seda, capote de forro/ Civilizarei o morro”; “Criação de um mundo celestial/ A me assombrar/ Se eu sou apenas mortal/ Vou me iludir/ Vou me enganar/ Vou me ferir”; “Quando a política me empobrece/ E a estatística desfavorece/ Falo, falo, falo, falo de amor”; “Nasci com a unção dos segredos/ Casei-me com a solidão/ Não me ordenei nos padrões da vida/ Sou crisma da doce ilusão/ Confesso do amor que amei/ Comungo do canto uma dor/ Da música me batismei/ Olerê, olará, olerê, olará/ Do canto eu fiz minha fé/ A benção meu pai Oxalá”.

Em 2010/2011 tivemos no Rio de Janeiro o espetáculo “É Com Esse Que Eu Vou”, de Sérgio Cabral e Rosa Araújo, realização da dupla incansável Botelho e Möeller, grupo que gerou antes o megasucesso de anos “Sassaricando” (sobre a história de marchinhas de carnaval em blocos temáticos), agora com histórico por temas, de sambas de carnaval ( sendo estigmatizado por alguns, por não ser o mesmo sucesso do primeiro, o que é uma bobagem, pois se antes tínhamos uma coreografia e troca de cenários esfuziante, agora isto falta, mas a qualidade do roteiro, da dança e do vocal dos artistas também é excelente. “É Com Esse Que Eu Vou”, que pode ser encontrado também em CD duplo, contou com a participação de Marcos Sacramento (junto a Soraya Ravenle, Alfredo Del Penho etc), se mostrando ótimo também nas convenções do gênero musical, com muita malícia na interpretação, seja como ator ou cantor, além de se reafirmar como exímio sambista.

Acredito que Marcos, relativamente bem conhecido no Rio de Janeiro seja pouco valorizado em São Paulo. Deduzi por uma estatística bastante frágil, mas que me impressionou: um amigo que lá mora, grande interessado/apaixonado por MPB não o conhece. Este foi mais motivo para que dentre tantos artistas eu resolvesse destacar neste post o trabalho notável de Sacramento, que tem ainda muito mais CDs do que os que foram aqui citados, merecendo ser conhecidos e valorizados, pois se trata de uma voz singular, lírica, que pode estar a serviço de vários ritmos, mas tem especial predileção pelo samba, seja o moderno ou o clássico, com malemolência cativante.

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Nelson Rodrigues de Souza

2 comentários:

  1. Comentários lúcidos e corajosos de quem não tem papas na língua.

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  2. Olá Nelson

    Trabalho com o Marcos Sacramento e só hoje tomei conhecimento do seu blog, adorei o texto, me mande o seu email e sempre que tiver apresentação do Marcos Sacramento eu te aviso.
    um abraço
    Maria Braga
    21 26297120
    mariabraga@marcossacramento.com.br

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