Ir assistir a um filme de temática homoerótica na Mostra Mundo Mix organizada por André Fisher ou então na Mostra Mundo Gay do Festival do Rio algumas vezes se revela uma autêntica cilada. Carente de filmes que abordem esta temática (dentre outras) nós homossexuais somos impelidos a prestigiar e muitas vezes saímos decepcionados, pois o que certos filmes tem realmente a oferecer é uma visão mais desabrida da sexualidade humana mas em termos estéticos e profundidade de temas se revelam pífios, muito longe da grandeza de um “O Segredo de Brokeback Mountain” de Ang Lee, clássico precoce da História do Cinema.
Agora temos o bem vindo selo do Mix Brasil, que nos lança “De Repente, Califórnia” (EUA/2007) de John Markowitz, tem realmente algumas cenas clichês de surf, mas que estão longe de representar o que o filme tem de melhor. O título original “Shelter” (Abrigo) é muito mais significativo do que realmente acontece na história simples mas atrativa do filme que vai delineando seus conflitos com paciência e sensibilidade. Decididamente, apesar de não estarmos diante de um grande filme, estamos longe de termos embarcados numa cilada, o que acredito tenha provocado prazer na maioria do pessoal GLBT que vi na sessão do Arteplex de sábado à noite ( que vibrou em parte com atitudes tomadas por um dos protagonistas) que não vejo nos chamados “filmes cabeça” das sessões usuais tanto lá como no circuito Estação, com raras exceções.Isto nos lança a pergunta: o pessoal GLBT ( que as revistas da turma insinuam sempre ter um poder aquisitivo médio mais elevado, o que não concordo) vai prestigiar os filmes artisticamente mais empenhados? Se não vai (algo que constato durante anos), por que não?
Em “De Repente, Califórnia” título que expressa mais uma música de Lulu Santos do que um filme, Zack (Trevor Wright) é um jovem que trabalha numa lanchonete, grafita paredes da cidade onde mora, vive com a irmã Jeanne (Tina Holmes), abandonada pelo pai de seu filho, cuida como pai do sobrinho Cody (Jackson Wurth) e está sendo convidado a encarar de vez este papel postiço quando Jeanne resolve ir para o Oregon trabalhar com o amante Alan ( Matt Bushel) e não pode levar o filho.
O sonho de Zack é cursar uma Escola de Arte para a qual foi aceito certa vez a acabou desistindo pelos comprometimentos com a família. Uma segunda chance se apresenta e ele vai ter de decidir entre seus desejos mais íntimos e as obrigações e teias que seu meio social e familiar lhe lança.
O que a princípio se insinuava um filme superficial aos poucos vai adquirindo uma coloração mais forte que se não eleva o filme a patamares elevados, o faz ser assistido com interesse, dado a sensibilidade com que tudo nos é narrado.
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Nelson Rodrigues de Souza
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