"O passado é o que você lembra, imagina que se lembra, se convence que se lembra ou finge que se lembra"
Harold Pinter
O Cinema ao Meu Redor
Caverna dos Sonhos Esquecidos de Werner Herzog
Werner Herzog teve acesso. com câmera especial 3D para filmar o interior da Caverna Chauveu
no sul da França descoberta em 1994. A caverna tem cerca de 400 desenhos e
pinturas pré-históricas, datadas de 30 mil anos atrás. O acesso só é permitido
a cientistas que passam por uma estreita passarela para observações, análises e
teorias . As pinturas espantosamente remetem a trabalhos contemporâneos , principalmente
cavalos com patas a mais que insinuam movimentos cinéticos. O acesso restrito
se deve ao fato de poder danificar pintura até mesmo com a respiração, o que
aconteceu com raridades de uma caverna próxima.
Werzog filma tudo que pode com maestria e é o
narrador e que colhe depoimentos. O
filme se ressente, entretanto. por restringir
as entrevistas a cientistas que tendem a fazer observações uniformes .A grande
descoberta nos provoca indagações metafísicas e depoimentos de místicos e
professores de História da arte enriqueceriam mais o filme que é muito bom mas
não tem a estatura de vária obra primas do diretor. De qualquer modo é um
trabalho autoral pois o diretor continua
com sua fascinante obseção em nos mostrar paisagens e personagens que não conhecíamos, que não
supúnhamos existir. O apogeu desta tendência, ao meu ver é o magistral “O Enigma de Gaspar Hauser”. Mas em
resumo “ Caverna dos Sonhos Esquecidos” é uma iguaria cinematográfica que não
se pode perder. Temos a possibilidade de fazermos uma grande viagem no tempo da
espécie humana por muitos anos atrás e constarmos como a arte é
fundamental.
O
Som ao Redor de Kleber Mendonça
O trabalho de Kleber é mais uma bela e grande
constatação de que vivemos sob a égide de O Leopardo de Visconti baseado em Lampedusa: “É preciso mudar para
que tudo continue como está” . No início do vemos imagens fixas em preto e branco de um casarão do interior e de
gente paupérrima. Corte e estamos num playground de um prédio onde crianças brincam de pedalar uma bicicleta
. A maioria dos prédios da rua pertencem a Francisco ( W.J.Solha) e como são
rodeados por favelas há muitas grades de segurança. Francisco mora numa casa.
Milicianos aparecem quase impondo um suspeito trabalho de segurança. O chefe é
vivido por Irandhir Santos em mais um desempenho arrebatador e camaleônico.
“O Som ao Redor” nos
apresenta vários personagens em diferentes situações mas não é um filme
coral trivial e clichê . Um delicado
quebra-cabeças vai se montando ao poucos. Uma mulher obcecada,,Bia
(Maeve Jinkings)| por eletrodomésticos e
aparelhos como uma televisão não dorme direito
devido a um cachorro que vive latindo. Ela lhe atira um bife com
soníferos e resolve o problema por um tempo. Na carência de transas com o marido
ela parte para uma insólita masturbação com uma máquina de lavar, confirmando
sua obseção . Também costuma fumar maconha para
aliviar as tensões. Seus dois filhos para um “grande futuro” estudam tanto inglês como chinês . Um
dos netos de Francisco, João( Gustvo John),
que viveu na Alemanha trabalhando da noite para o dia por sete anos
agora é corretor de imóveis do avô, mas primo seu mais novo , com ranços autoritários
de quem será herdeiro deste latifúndio urbano e vertical chega a a arrombar o carro da namorada João,
deixando patente depois que faz outros roubos ,mas Francisco adverte os
milicianos que não se metam com seu neto pois ele já está dando muito
trabalho ao pai . Francisco , “senhor de
engenho da cidade grande” é dono da maioria dos prédios da região mas é o único
que mora numa casa e com sua arrogância vai tomar banho noturno no mar, numa área em que está bem visível uma placa que adverte que pode haver
tubarões ali. Esta atitude já é mais um marco de sua prepotência..
Bia tem um aparelho
importado que queima por descuido da empregada que não usou transformador para
alterar a voltagem e esta leva o maior
esporro mesmo que ela proponha um
desconto em seu salário pelo seu erro. Uma mulher ao celular é
mal-educada com um empregado e como vingança ele risca o carro dela.
Numa das sequências mais significas da mentalidade de classe média emergente tem-se
uma reunião de condôminos de um dos prédios há o julgamento do destino de um
porteiro que tem dormindo a noite e isto é comprovado por filmagens de um
adolescente com os recursos dihaispsços digitais em voga. Há quem queira
demitir o porteiro por justa causa sem pagar-lhe nada pelos serviços prestados s durante anos. Uma
mulher em mais um movimento de humor crítico do filme reclama indignada que sua Veja tem vindo sem plástico.
Um das sequências mais significativas do filme dá quando o neto e sua namorada vão ao casarão
e tomam em conjunto um banho de cachoeira felizes e de repente a água fica avermelhada
remetendo a sangue caindo.
“O Som ao Redor” é um filmaço, magnificamente dirigido com planos próximos e distantes. movimetos de câmera de
forma a pensarmos que não há outra forma de filmá-los . Claro que há. Tudo
depende da sensibilidade do autor para a
história que deseja contar e do clima que deseja criar. Mas outras sensibilidades teriam outras opções.
Mas a impressão que Kleber nos passa é o que indica seu talento como diretor.
Numa sequencia a filha de Bia vê vários meninos
subindo uma árvore Alucinação ou realidade? Noutra em que o miliciano chefe transa
num quarto de um apartamento vazio, vê-se um vulto passar bem rápido pela
porta. Projeção do medo de serem pegos em flagrante num apartamento que não é
deles?
Ao final temos o momento mais impactante do filme,
fechando o quebra –cabeças até então. Mas mesmo assim temos um forte final em
aberto.
“O Som ao Redor” está mesmo à altura dos elogios e
prêmios recebidos tanto no Brasil como no exterior, sendo um retrato de um
momento histórico com estética completamente diferente de “Terra em Transe” (não tem
nada de barroco), mas trás um desencanto
com a sociedade brasileira que a
rigor não muda e como disse Cacá Diegues
o filme de Glauber Rocha está sempre em cartaz. Será que com “O Som ao Redor”acontecerá o mesmo conforme vaticinei no início do texto?
O filme aponta para o fato da ideia oficial de espetáculo do crescimento ser uma
falácia. Vendo os Franciscos que ainda dominam e ditam a política brasileira
num país no fundo neo- escavocrata, não há como não ter esta expectativa. Em “Noites do Norte”
Caetano Veloso espantosamente põe música num texto de Joaquim Nabuco que ecoa
até hoje: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica
nacional do Brasil”. Vale a pena conhecer o texto todo:
http://letras.mus.br/caetano-veloso/568970/
Bárbara
de Christian Petzod
Bárbara
(Nina Hoss) de Christian Petzod tem problemas
parecidos com “Morrer como Homem” de
João Pedro Rodrigues , por mais diferentes em termos de estilo e temática.
Ambos diretores/roteiristas sabem muito bem aonde querem chegar e constroem
finais belíssimos para seus filmes . Não conto como são para o espectador
usufruí-los. O problema surge quando assistimos a tudo que antecede estes
finais. Ambos, me valendo de uma expressão popular me pareceram “enchendo
linguiça”.
Em “Barbara” temos a história de uma médica que na
guerra fria queria ardentemente fugir da Alemanha Orienta, sendo os dissidentes bastante vigiados pela
Stasi conforme vimos no extraordinário “A Vida dos outros”. Há campos de
trabalhos forçados e é para onde vai uma jovem que odeia viver no país tendo
tido sucessivos internamentos. A única pessoa que a entende bem e tem muita
paciência com ela é Bárbara que está ali naquele hospital de província como castigo
por ter tentado fugir desta Alemanha super-autoritária e controladora.
Barbara fica muito amiga de um médico que está ali
por ter sido responsável por um acidente numa incubadora, morrendo dois bebes.
Isto porque uma assistente confundiu graus Celsius com Fahrenheit. Ambos se
solidarizam e criam forte amizade tendendo a paixão.
Bárbara é profissionalíssima a e não é fria , não
perde a dimensão humana com seus pacientes. Uma médica assim é indispensável
naquele hospital. Daí surge o conflito: no fundo quer abandonar o país sendo
bastante vigiada pela polícia política, mas também tem consciência da falta que
faria se deixasse o hospital. Até aqui uma ótima intriga, um ótimo conflito
ético pessoal. O problema vem quando o
filme para mostrar o caráter forte de Bárbara, sua noção de ética, nos oferece
uma overdose de cenas médicas que soam no conjunto um tanto desagradáveis.
Mas como vivemos num mundo em que noções de ética
pessoal e profissional tem ido para o espaço, um filme como “Bárbara” torna-se
indispensável.
Segredos
da Tribo de José Padilha
Com “Segredos da Tribo”, sendo tribo antropólogos
queimando na fogueira das vaidades, José Padilha conforma ser o mais importante
cineasta brasileiro contemporâneo . Não existe filme dele que não seja
superlativo, de “Ônibus 174” (um dos mais contundentes documentários feitos no
país), passando pelos essenciais “Tropa de Elite”, Tropa de Elite 2” ( é
sintomático que parte da crítica tenha
ignorado, desdenhado do Urso de Ouro que “Tropa de Elite” ganhou tendo como
presidente do júri Costa Gravas, um dos papas do Cinema Político que escolhe
temas contundentes mas não esquece da linguagem
cinematográfica, dotando seus filmes de fortes pulsões de interesse.
Padilha fez ainda “Garapa”, um filme de doer os ossos mas alguém precisa
mostrar que para combater a miséria precisa-se ir além de um bolsa família.
“Segredos da tribo” se estrutura em depoimentos de
ianomanis que confirmam denúncias feitas
e no campo acadêmico, principalmente na
grande animosidade que existe entre Napoleon Chagnan e Keneth Good. Existem outros depoimentos, mas os destes são mais contundentes. Chagnan
com vários livros publicados e estudados em cursos de antropologia cai em
desgraça quando o acusam de ter cometido um genocídio com experiências de vacinação contra sarampo. Seus livros
passam a ser proscritos e ele com humor lembra que Galileu Galilei levou 400
anos para ser reabilitado pela Igreja Católica. Ele não pode esperar tanto
tempo assim. Mesmo com todo este histórico Chagnan é homenageado na Associação
de Antroplogia Americana, onde se vê
livros de antropologias dos mais variados. Neste momento Padilha permite ao
filme uma trilha sonora bem humorada, numa ironia cortante.
Kenetth Good é acusado de pedofilia junto a uma
menina ianomani. Sua justificativa é que
viveu bom tempo com os índios e isto era um costume deles e ele teria direito
ao mesmo. Não via então sua atitude como pedófila. Chega a trazer com ele a
menina para a “civilização”.
Há ainda Lizet que não quis dar depoimentos ao filme
que é acusado de induzir índios a práticas homoeróticas. Sobra até para Claude Lévi-Strauss, tido como o melhor antropólogo do Século XX
pois ele teria acobertado “mal-feitos” de um assistente.
Aqui não se trata de dizer que antropólogos não são
santos. Nenhum profissional é. O que acontece com os antropólogos no filme é
gravíssimo. Compromete muito o exercício da profissão no século passado. Chagnan tem até suas estatísticas contestadas,
mas isto não poderia mais ser provado
pois o tempo foi outro, a população já é outra.
Algo que se discute muito no filme é o porquê dos
ianomanis entrarem em guerra. Uns tem a tese de que havia a busca por mulheres
para aumentar o poder na tribo. Outros que havia carência de elementos para
alimentação como carne. Enfim polêmicas não faltam . Parece que estamos no reino de “Assim é se
lhe parece” de Luigi Pirandello ou de “Rashomon” de Akira Kurosawa, onde diferentres
personagens tem versões divergentes para
um mesmo fato. O que acontece em “Boca de Ouro” de Nelson Rodrigues também.
No lançamento de “Os Últimos Passos de Um Homem” de
Tim Robins , sobre pena de morte, o diretor afirmou que a função do Cinema era abrir
janelas para onde as pessoas não querem mais olhar. O cinema de José Padilha é
assim. De Marcos Prado que divide produções com Padilha também é assim, como
vimos no extraordinário “Estamira”.
Ps1. Há anos atrás quando trabalhava num convênio
DAC/Infraero pensei em fazer mestrado na UFRJ tendo a intenção de depois ser
professor por lá. Quando passei a conhecer as “panelinhas” que disputavam o
poder entre si desisti.
Ps2 Um ex-colega do curso de Engenharia do Ita,
bastante estudioso, com doutorado nos EUA ocupava um cargo elevado numa
prestigiada universidade brasileira. Eu lhe perguntei o que poderia galgar
mais. A resposta dele foi desconcertante, mas ao mesmo tempo confirmava o que eu intuía. Ele preferia ficar onde
estava, pois as cobras dali ele já conhecia. Se subisse na hierarquia teria que descobrir e lidar com novas cobras
e suas artimanhas.
Conclusão: o que ocorre com antropólogos também
acontece em outras profissões. Até hoje é um mistério do porque uma cantora
extraordinária como Cláudia ficou treze anos sem gravar, surgindo recentemente
com um belíssimo CD com canções raras, pouco conhecidas de Caetano Veloso, ficando
com outro exemplo.
O
Amante da Rainha de Nicolaj Arcel
“O Amante da Rainha” é uma agradável surpresa. Tudo
sugeria um sonífero filme acadêmico, mas é puro classicismo, estruturado por um
ótimo roteiro ( premiado no Festival de Berlim -2012),contando ainda com atores
formidáveis: Rainha Caroline (Alicia Vickander ) que veio da Inglaterra de
forma imposta para se manter boas
relações com a Dinamarca ,ocorrendo o casamento em 1776 com um insano Chrstian
VII( Mikkel Boe Folsgaard, premiado em Berlim 2012 como melhor ator) que
precisa da ajuda do médico alemão Johhan Strueense ( Mads Mikklsen).
O médico ao mesmo tempo em que cativa o Rei,
levando-o até a bordéis, procura
incutir-lhe ideias Iluministas numa Europa que vociferava contra os regimes
absolutistas apoiados pela Igreja Católica como foi o caso da Dinamarca. Os
dois desenvolvem uma amizade sincera. Diante de uma corte que tenta boicotar
suas ideias avançadas que alega falta de dinheiro, quando dão voz de prisão ao
médico, o rei dissolve a assembleia e introduz Struense como seu único auxiliar
e conselheiro.
No entanto a rainha (que já tinha um filho com o
rei) e o médico se apaixonam, tornam-se amantes e ela fica grávida novamente
sem que o rei tenha lhe tocado há um ano. A partir daí o drama que parecia algo
mais intimista ganha ares épicos, com muitas intrigas palacianas. Desde o
início sabemos que a história não terminou bem, pois a rainha no exílio escreve
uma carta para os filhos. Da Idade Média com as reformas de Struense apoiadas
pelo que vislumbrou no Iluminismo, a Dinamarca passa a ter um novo padrão de
vida para seu povo, com o rei apoiando também. Com a desgraça do médico regride
à Idade Média e segundo o letreiro final
só é eliminada a nobreza cruel e parasita 55 anos depois dos trágicos
acontecimentos, pelo filho da rainha.
Com belíssima reconstituição de época, fotografia exuberante,
“O Amante da Rainha” foi candidato selecionado para o Oscar de melhor filme
estrangeiro pela Dinamarca , mas “Amor”
é realmente algo de outro mundo e este filme do qual tratamos aqui é muito bom
mas está longe de chegar a tanto.
César
Deve Morrer de Paolo e Vittorio Taviani
Na prisão de segurança máxima de Rebbibia na periferia
de Roma há detentos com os mais variados delitos: furtos, assassinatos,
colaborações com a Camorra, etc. O que diferencia
esta prisão de outras é que ali parte
dos presos pratica a arte teatral. Os irmãos Taviani não fizeram um doc e sim
um filme que se aproxima do teatro. De início vemos uma representação de
sucesso do grupo de presos para Julio Cesar
de Shakespeare. Terminada a peça,
depois dos aplausos, voltam todos para suas celas.
De início o que vemos é a cores, com destaque para
Brutus pedindo que lhe matem, pois ao mesmo tempo que queria o melhor para Roma
, era amigo de Julio Cesar, daí vindo a célebre frase que teria sido dita por
Julio em seus estertores: “Até tu Brutus?”
Esta parte inicial talvez seja mesmo um doc, mas os
ensaios seis meses atrás em preto e branco feitos em longos corredores são dirigidos tanto pelo
diretor da peça na prisão quanto pelos Tavianis. Para adequar prisioneiros a
personagens, eles são instados a um pequena performance: dizer nome , data de
nascimento, endereço, nome do pais, numa ocasião em que lhe pedem isto com carinho e noutra em que é feita com
brutalidade . Os temperamentos bem diferentes projetam na tela uma comovente
humanidade ( característica dos Taviani), para arrepio daqueles que desejam pena de
morte para os presos.
Numa das partes do ensaio um dos atores sai do texto
e passa a acertar conta com seu antagonista. Chegam até a sair de um recinto
para resolverem divergências na porrada. Os outros presos saem para apartar um briga que não vemos. Uma curiosidade fica
no ar: estas cenas de desentendimento
são reais ou encenadas?
Julio Cesar é uma peça que cai como uma luva para os
presos representarem, pois há
nela todo um lado sombrio da alma humana: a disposição para o assassinato por
um suposto bem maior, coletivo ( no caso
libertar Roma de um tirano), desejos de vingança, arrependimento ambíguo ( que
é o que acontece com Brutus que por isso quer morrer e acaba encontrando um colegionário
que atende seu pedido).
Os assassinos fogem e são perseguidos por
centuriões chefiados pelo filho de César
e numa estrutura circular vemos as pessoas chegarem ao teatro e aplaudirem os
atores que fazem uma festa no palco. O colorido voltou assim como os presos
voltam todos às suas celas. De dentro de uma das celas em forma frontal, o que
indica que os Taviani tiveram permissão para filmar lá dentro, um preso declara
algo que deve servir para seus colegas atores: ”Desde que conheci arte esta cela
se torno uma prisão”.
Sem estar no nível de obras-primas dos irmãos como
“Pai Patrão”, “A Noite de São Lourenço”, “Kaos”, etc., “César deve Morrer” é
uma mais que uma bem vinda volta deles à tela grande, pois eles tem trabalhado
mais para a televisão.
Ps1 Tive oportunidade de assistir uma conversa com
eles no MAM nos anos 70/80. A unidade de pensamento me impressionou. O que um
dizia era complementado pelo outro sem nenhum traço de descontinuidade e
vice-versa. .
Ps2 Há poucos anos atrás assisti com a presença de
um dos irmãos a “La masseria delle allodole” , sobre o massacre dos armênios
pelos turcos. Tem uma das cenas mais impactantes do cinema. Sabendo que ela e
seu filho pequeno irão morrer nas mãos dos turcos, uma mulher prefere
sacrificar antes sua criança. Assim fica com uma amiga de costas uma para outra e esmagam a criança. Nosso
miserável circuito exibidor jamais se interessou pelo filme, mesmo com a
importância dos cineastas para o cinema contemporâneo. Uma série deles feita
para a televisão poderia ser exibidas nos cinemas em versão reduzida como aconteceu
com “Cenas de Um Casamento” e “Fanny e Alexander” de Bergman..
Ps3 Encontra-se fácil o DVD de Julio César na versão
de Joseph L. Mankiewicz. É um daqueles filmes incontornáveis, conforme acepção
dos franceses. O discurso de Marco Antônio (Marlon Brando) para o povo romano
diante do cadáver de César é um dos momentos sublimes e superlativos do cinema,
embora sempre achemos os chatos de sempre que
vão dizer que é tudo teatral demais. Vai saber.
Para
Não Dizerem Que Eu Não Falei do Oscar.
O Oscar antes de tudo é uma festa, uma celebração do
Cinema. Eles cometem injustiças claro, mas é preferível que isto ocorra ( o que
acontece também em Festivais como Berlim, Cannes e Veneza) do que não haja
festa nenhuma. O grande problema está mais no público no que nos acadêmicos de Hollywood. Estes não dão a mínima para o
César, o David D’Donatello, o Bafta, o European Film Awards, etc. Os
jornalistas também pois ante da premiação escrevem muito sobre os concorrentes
e depois, com exceções, não se dão ao trabalho de fazer comentários além de que
houve piadas de mal gosto de sempre.
E o Brasil
que criou o Grande Premio do Cinema
Brasileiro..... Pra que este nome longo explicativo e óbvio? Poderíamos ter o Glauber, o Oscarito (
uma apropriação de influência Oswaldiana com seu manifesto antropofágico). Por
que este prêmio é distribuído de forma tão tardia, não alavancando em nada o
faturamento destes filmes premiados no Cinema. Para se ter uma ideia a festa
relativa aos filmes de 2011 só foi realiada em 15 de outubro de 2012 onde por
exemplo concorriam a melhor filme de ficção:”Assalto ao Banco Central” , “
Bróder” ,”Bruna Surfinha”, “O Home do Futuro”,” O Palhaço”. Me poupem. Será que estão mesmo é interessados em
alavancar a venda de DVDs? É obvio que esta premiação dever ser feita em
janeiro ou fevereiro de uma ano sobre os filmes do ano anterior.
Oscar
2013
Amor
“de Michael Haneke
Amor “de Michael Haneke deveria ter ganho todos os
prêmios ao qual concorreu ( filme,
diretor, atriz, roteiro original, filme
estrangeiro) .Mas seria demais esperar isto de um filme tão corajoso e singular
como é “Amor” que ganhou o esperado Oscar de melhor filme estrangeiro. O Bafta
reconheceu o trabalho extraordinário de Emmanuelle Riva,deixando de fora as
favoritas Jessica Chastain ("A hora mais escura") e Jennifer Lawrence
("O lado bom da vida") .
O que é o filme de Mihael Haneke? É o que diz o
título: uma história de “Amor”com A maiúsculo . Mas até as suas últimas
consequências. Só a sequência em que Jean-Louis Trintignante olha para a mulher
na mesa e vê no rosto sinais de paralisia (o que gerou dois cartazes
publicitários belíssimos: um sobre o ponto de vista dele, outro sobre o dela)
já vale o filme. O que se vê depois é uma progressiva degeneração onde a mulher
pede ao marido que jamais a ponha num hospital. Ele contrata duas enfermeiras e
demite uma por julgá-la incompetente. O desfecho do filme é super-impactante, mas
está totalmente de acordo com a história que vinha sendo contada até então. É a
morte como ela é. É natural então que Haneke mostre sua personagem debatendo-se
com as pernas. Logo de início vemos bombeiros entrando na casa, arrombando-a e com máscaras pois
temos um corpo em decomposição O que
vemos depois é um longo flashback .
O Cahiers Du Cinéma considerou que mesmo aqui, num
filme que trasborda humanismo, o diretor de filmes polêmicos como “A Fita
Branca”, Caché”, “Violência Gratuita”, “A Professora de Piano ( todos filmes do
quais gosto muito) Mike Haneke mostra-se
um misantropo ( uma pessoa que odeia a humanidade) . Ora é uma piada e vamos
responder aqui com uma piada: pelo menos com Isabelle Hupert ele tem relações.
Ela mais uma vez trabalha com ele , sendo a filha do casal de musicistas
aposentados que se vê mais do que impotente para ajudar os pais. Ela é malcasada
com um inglês. Em sua relação não há o amor que os pais se devotam, num
contraponto elucidativo das intenções do diretor.
Deixando “Amor” hors
concours. o filme que mais gostei foi “Django
Livre” de Quentin Tarantino. Com um
roteiro extraordinário ( premiado com um Oscar), locações impecáveis, fotografia esplêndida, montagem exuberante, com
uma história em que nunca se sabe ao
certo para onde vai, fazendo a paródia da paródia que eram os westerns espaguetes, temos
diversão e reflexões de primeira qualidade.
Há aqui a
sanguinolência típica de Tarantino, mas ela é ambígua como nos outros filmes do
diretor: ao mesmo tempo em que temos os efeitos sérios de confrontos com armas,
há um lado até risível e paródico do outro. Numa outra chave é o que faz Pedro
Almodóvar com os melodramas. Ele se apropria de um lado kitch que temos até em
Douglas Sirk, o papa do gênero e imprime muita verdade em suas cenas. “Tudo
Sobre Minha Mãe”, ao meu ver , é o auge deste dispositivo.
Anos antes da abolição
da escravatura, um caçador de recompensas alemão encarnado por Christoph Waltz (Oscar
de ator coadjuvante) liberta o escravo Django com a condição de que ele o ajude
a encontrar dois irmãos que lhe trarão recompensa. Ao mesmo tempo vai
adestrando Django com um revolver. Resolvida esta questão os dois partem para
libertar a companheira de Django com origens alemã também (uma grande
coincidência de roteiro que um filme paródico se permite) fazendo passar-se por
compradores de mandigos ( escravos que lutavam até a morte). Há quem diga que
estes nunca existiram. Mas aqui estamos no terreno de John Ford: “quando a
lenda é mais forte do que a verdade, imprima-se a lenda”. Para isto os dois tem de travar contacto com
um personagem de Leonardo Di Caprio (excelente, numa chave bem diferente da que
o temos visto até então), que adora esta luta de escravos, oferecendo até
instrumentos para o vencedor matar de vez o vencido. A companheira de Django ,
agora um exímio pistoleiro, está presa e maltratada neste cenário. Um jogo de gato e rato se inicia.
Django Livre mesmo com
seu espírito “não me levem tão a sério assim” não deixa de ser um retrato
candente das condições sub-humanas em que os negros viviam.
Não vi “O Lado Bom da Vida”, pois não acho
graça nenhuma sobre a descoberta amorosa entre dois portadores de Síndrome
Maníaco-Depressiva. Vi o musical “Quase Normal” dirigido por Tadeu Aguiar e é
uma peça espantosa: além das belas canções que impulsionam a narrativa, trata o
tema da bipolaridade com a maior seriedade. Duvido que o trabalho de Jennifer
Lawrence (premiada como melhor atriz) supere
por exemplo o de Jessica Chastain em “A Hora Mais Escura”. Este ao meu ver foi o filme mais
injustiçado da noite, mais ainda do que “Lincoln”.
“A
Hora Mais Escura” de Kathryn Bigelow está ganhando vários
prêmios de Associações críticos nos
Estados Unidos. Estes não se deixaram levar pelo erro quer assolou “Tropa de
Elite”: confundir diretor com personagem. O filme vai mostrando paulatinamente
o porquê da agente da Cia ficar cada vez mais obcecada pela caça a Osama Bin
Laden. Chega a mostrar cenas de tortura durante o governo Bush logo de início. Durante
o governo Obama, um agente da Cia lamenta que a tortura não pode mais ser
empregada para obter informações preciosas. Mas aqui não temos a visão da
diretora e sim de um personagem seu.
A tomada da casa mesmo que
vejamos pela ótica dos soldados que usam
óculos para enxergar no escuro não deixa de mostrar o apavoramento de mulheres
e crianças, sendo uma mulher morta de modo absurdo. Mas um dado de Kathryn para
mostrar a falibilidade da Cia. É a agente da Cia que confirma que o homem capturado é Bin
Laden. A rigor os soldados não tinham certeza se realmente capturaram “o homem
mais temido do planeta”. Algo que o filme mostra é como a Cia tinha/tem bases
mundo afora além de Guantánamo, mas também na Polônia e Paquistão. Além da
temática solidamente desenvolvida temos uma pulsação cinematográfica que nos
faz não despreender os olhos da tela por
um segundo que seja.
Não há como comparar “Argo” de Ben Afleck com “Django Livre”
“ A Hora Mais Escura”. “Argo” é um filme ok, não mais que isto. De início somos
informados de que os americanos interessados em petróleo eram comparsas da
ditadura do Xá Reza Pahlavi. Mas depois que o filme começa com o governo do
fanático "ayatollah" e chefe de estado iraniano, Ruhollah Khomeini ,
após uma revolução os iranianos, todos são considerados como fanáticos e
veremos a luta do bem ( pessoas americanas que escaparam do ataque de uma
multidão e se isolam na embaixada do Canadá, agentes da Cia) e iranianos
malavados que enforcam pessoas em guindastes. A partir daí temos uma história
em a Cia fica bem na ficha ao concordar que o agente vivido por Afleck leve
adiante seu plano mirabolante de ir ao Irã fazer um filme, Argo, uma sub-ficção
científica de quinta categoria, convencendo as autoridades iranianas de que os
americanos presos na embaixada fazem parte da equipe de filmagem. Este fato
real tinha sido escondido por algum tempo e depois revelado. Um dos problemas
do filme é que se Ben Afleck domina o trabalho de direção, como ator é um tanto
inexpressivo, ficando o tempo todo com uma expressão só que muda apenas quando
revê a família ao final.Qualquer ator presidiário de “César Deve Morrer” é mais
expressivo que Bem. Dito tudo isto pode-se afirmar que “Argo” é um filme de
ação que se vê bem mas de modo algum merece a consagração que teve como melhor
filme, roteiro adaptado e melhor edição.
Foi uma grande surpresa
Ang Lee ganhar o Oscar de melhor
diretor com “As Aventuras de Pi”.
Com “Brokeback Mountain” ganhou também como melhor diretor e merecia ainda o de
melhor filme, dado ao bastante inferior “Crash-No Limite”. O grande trabalho de
direção em “As Aventuras de Pi” são dos responsáveis pelos efeitos especiais (
estes sim mereceram o Oscar). Estou entre aqueles que não se incomoda nem um
pouco com a versatilidade de Ang Lee( não levo a ferro e fogo as lições de autor
do Cahier Du Cinéma) que já nos deu tantos filmes diversos como “Razão e
Sensibilidade”,”O Banquete de Casamento”,“Desejo e Perigo), “Tempestade de
Gelo”, “O Tigre e o Dragão”, etc. Este
“Pi” é o que me interessa menos . Uma das razões é o tempo excessivo em que há
o embate entre o rapaz e o tigre na embarcação. Eles acabam indo depois de
muito tempo para um ilha coalhada de bichinhos, mas Pi descobre que é uma ilha carnívora e
chama o tigre para voltar com ele. O tigre fica e logo aparecem pessoas para
socorrer Pi. Uma outra história nos é narrada de forma muito rápida e depois
somos instados a escolher qual história
é real. Ang Lee quer que vejamos o filme de novo. Mas terei de levar algo para
enjoo. Se não saímos do cinema mais
espiritualizados como deseja Ang Lee, temos diante de nós apesar das
imperfeições um espetáculo que se impõem e vale a pena ser visto.
“Lincoln”,
dizem, é uma grande surpresa na carreira de Steven Spielberg. mas não é. “Munique”, “O Resgate do Soldado
Ryan”, A Lista de Shindler” assim como os subestimados “AI-Inteligência
Artificial”, “Minoryt Report-A Nova Lei” etc. já tinham uma grave uma capa sob um
suposto escapismo. Há os que tenham afirmado que os melhores Spielberg são
“Tubarão” e o primeiro “Indiana Jones”. Pelo amor de Deus. Respeitemos as
diferenças mas aqui é demais.
O que nos causa
estranheza em “Lincoln” é o lado bastante teatral e a ênfase no trabalho dos
atores. Mas temos cenas externas de guerra que valem por várias. Lincoln
vencedor dos seus desejos passeando entre vários cadáveres é coisa que não se
esquece. Lincoln, esplendidamente vivido por Daniel Day- Lewis ( ganhando seu
terceiro Oscar merecidamente; os outros foram por “Meu Pé Esquerdo” e “Sangue Negro” )
desejava de uma vez que fosse aprovada uma emenda que ao mesmo tempo acabasse
com a guerra civil e escravidão dos negros. Curiosamente na época os
republicanos eram mais progressistas que os democratas. Aprovar apenas uma lei
que acabasse com a guerra, sabia Lincoln que os Estados do Sul se reorganizariam , mas manteriam a escravidão.
Para isto não hesita em aplicar a chamada Realpolitk, promovendo benesses a
quem apoiasse a emenda que ele desejava. Para isto chega a bater na mesa com
energia. Assim conseguiu que ao mesmo tempo se acabasse com a guerra e com a
escravidão, algo que difere muito do nosso mensalão onde a Realpolitk se deu
para tomada ou manutenção no poder. O mais importante em “Lincoln” é que não
temos uma hagiografia.
Será que se os
vencedores fossem “Django Livre” ou “Lincoln”ou ainda “A Hora Mais Escura” teriam chamado Michele
Obama para entregá-lo. Isto confirma que “Argo” tem um quê de patrioteiro. Não
muito, mas tem.
“Os Miseráveis” deTom Hooper
é um musical exuberante do começo ao fim, sem respiro. Se alguns momentos não
soassem piegas (o desfecho principalmente) o filme seria melhor. Há também
algumas quebras de roteiro: quando o ex-prisioneiro Jean Valjean (Hugh Jackman)
por ter roubado um pedaço de pão resolve dar a volta por cima acaba ficando
rico. Mas como este milagre aconteceu? Quando está convidado a escolher entre a
vida e a morte estava doente de quê?
Russell Crowe é Javert, perseguidor implacável
de Jean e tem "Physique du Rôle"
bastante adequado para o papel e canta bem. Mas para um personagem bastante
presente seria necessário cantar melhor ainda. Hugh Jackman se sai bem melhor:
tudo é adequação nele.
O prêmio de melhor coadjuvante
para Anne Hathaway é mais do que merecido. Sua entrega ao anjo caído Fantine
que vê a vida passar de uma forma muito longe dos seus sonhos é arrebatadora e
comovente.
“O
Mestre” de Paul Thomas Anderson é um filme bastante
estranho. O duelo de interpretações
entre Joaquin Phoenix e Philip Seymor Hofman
é o que o filme tem de melhor. Dizem que o filme foi levemente inspirado pela cientologia a qual pertencem astros como Tom
Cruise e John Travolta. Mas mesmo “este levemente” compromete a cientologia. O
que temos no filme chamado de A Causa é um samba do criolo doido aplicado ao
Kardecismo com ares científicos. Só um ator do calibre de Seymor para dar
credibilidade a Lancaster Dodd, o mestre de A Causa.
Estamos nos anos 50,
depois de segunda guerra mundial . Freddie Sutton vivido por Joaquin com grande
intensidade e verdade acaba tendo seu caminho cruzado com Dodd. Por acaso ou
porque assim estava escrito? Os dois passam a ter uma ligação obsessiva. Há
um clima de homoerotismo no ar, pois Dodd passa a esquecer seus adeptos
endinheirados ( a mulher de Dodd é que passa a fazer isto) e se concentra numa
relação tortuosa com Freddie. Este chega a agredir um editor que diz que não
vai publicar um livro de Dodd. Ou este homoerotismo é de vidas passadas?
Há algumas sequências
em ficamos de início em dúvida se é realidade ou imaginação dos personagens. A
mais evidente é quando as mulheres numa sala passam a andar nuas. Logo
percebemos que é imaginação de Freddie. Mas o que isto realmente acrescenta ao
filme? Sinto-me pesaroso ao dizer que
nada para um diretor que já nos deu os extraordinários “Magnólia”, “Sangue
Negro e o muito bom “Boogie Nights”. Li que “O Mestre” foi feito para uma tela
grande. Seria muito mais belo em suas imagens. Eu o assisti na acanhada sala 2
do Estação Botafogo e com ar condicionado ainda com problemas. Se o circuito
exibidor ( o que eu duvido) exibir o
filme nas condições desejadas sou capaz de dar uma nova chance ao filme. Mas
acredito (posso estar enganado) que a essência de minha crítica se mantenha.
Correndo por fora no Oscar houve um filme bastante
inspirado e poético que é “Indomável Sonhadora”.Uma menina de por volta de 6
anos, Hushpuppy ( Quenzhané Wallis) vive com seu pai Wink (Dwight Henry) numa
região bem pobre, numa embarcação que
chamam de a banheira. A história nos é contada por monólogos interiores da menina. Isto fez com que
aproximassem o filme de Benh Zeitlin ( Câmera de Ouro no Festival de Cannes
para melhor diretor estreante) com os de Terrence Malick.Há a fixação por monólogos interiores sim mas “Indomável
Sonhadora” tem um frenesi, um corre corre que não vemos em Malick. Não temos
aqui um filme realista mas sim que flerta com a poesia. Assim vemos a menina
passar pelos maiores perigos e sobreviver. Numa sequência inicial ela solta
fogos e isto num sentido inverso remete à famosa foto da menina correndo do
Napalm no Vietnã, notou com razão um
crítico de Globo.
Ébrio, muitas
vezes o pai maltrata a filha. Mas quando fica doente não quer ficar no hospital
e amplia sua relação com ela. Indomável sonhadora” é um filme que não veio para
mudar a história do cinema mas acrescenta pontos para os filmes que são pura
poesia em imagens.
Melhores
Filmes Vistos em 2012 no Circuito Exibidor.
Por problemas de saúde
não pude acompanhar os filmes lançados o ano todo. Assim dentre os que vi, cito
sem ordem de importância:
Pina de Wim Wenders
Luz nas Trevas- A volta
do Bandido da Luz Vermelha de Helena Ignez e Icaro Martins
A Separação de Ashgar
Farhadi
Noite de Sombras de Tim
Burton
Deus da Carnificina de
Roman Polanski
Shame de Steve McQueen.
Aqui é Meu Lugar de Paolo Sorrentino
Habemus Papa de Nanni Moretti
O Homem Que Não
Dormia de Edgar Navarro
L’Apolonide – Os amores
da casa de tolerância de Bertrand
Bonello
A Febre do Rato de
Cláudio Assis
Rock Brasília de
Vladimir Carvalho
Tropicália de Marcelo
Machado
Na Estrada de Walter
Salles
Corações Sujos de Vicente
Amorim
Cara ou Coroa de Ugo
Giorgetti
Um Método Perigoso de
David Cronenberg
Cosmópolis de David
Cronenberg
7 Dias Com Marilyn de Simon Curtis
À Beira do Caminho de
Breno Silveira
O Artista de Michel
Hazanavicius
Uma Longa Viagem de Lúcia Murat
A
Maior Decepção
“Fausto
de Alexander Sokurov, ganhador do Leão de Ouro no
Festival de
Veneza.
O ambiente mostrado é
por demais sombrio. Por isso é que quando chega ao Inferno após a cobrança do
diabo (caracterizado com um rabo ridículo), Fausto ouve de um os mortos que
prefere o ambiente ali do que o da Terra.O uso da tela quadrada foi, ao meu
ver, um tiro pela culatra. Com a visão do mundo contemporâneo de que muita
gente vendeu a alma o diabo concordo.Mas
com a estética que diretor utiliza para dar força à sua história não.
Nagisa
Oshima- O Maior dos Transgressores
Morreu este ao em
janeiro, com 80 ano, de pneumonia um maiores cineatas de todos os tempos. Antes já havia sofrido um
AVC que o impossibilitou de continuar filmando.
Nagisa conseguiu um
prodígio que nenhum cineasta havia logrado antes: um filme passado quase o
tempo todo numa cama onde dois personagens transam o tempo todo, sem o menor
vestígio de pornografia com planos perfeitos para capturar “O Império dos Sentidos” em que Sada (Eiko Matsuda) e Kichizo
(Tatsuya Fuji) vão até as últimas consequências radicalizando a ideia de que o
orgasmo e a pequena morte. Estamos em 1936 e quando um
batalhão de soldados desfila por rua, Kichizo está caminhando em sentido
contrário, sozinho. O que faz a grande
diferença entre este os filmes pornôs é que no filme de Oshima transparece
muitas emoções, o que os filmes pornôs não têm, parecendo sessões de ginástica
e com ângulos filmados grotescos, para dizer o mínimo. Esta grande obra-prima do cinema mundial
abriu espaço para que Patrice Chéreau filmasse o belo “Intimidade” com muitas cenas de sexo
explícito e que Ang Lee introduzisse
em seu esplêndido “Desejo e Perigo”
cenas de sexo explícito também, ainda que sejam mais esporádicas. Para quem
achar o final de ‘O Império dos Sentidos” demais é bom lembrar que o filme é
inspirado numa história real, onde uma prostitutas foi encontrada vagando louca
com o pênis decepado de um amante. .
Em “O Império da Paixão Nagisa Oshima faz um contraponto a “O| Império
dos Sentidos”. Há aqui uma dimensão maior da paixão dos amantes do que do
desejo. É por isso que Seki e Toyoji matam o velho Isaburo, marido da jovem.
Com o que não contavam é que o falecido voltaria como fantasma a atormentá-los
e nem que a polícia iniciasse um inquérito. Será a paixão que dois sentem
suficiente para enfrentar estas agruras, principalmente morando num pequena
aldeia “onde tudo se sabe sobre a vida alheia”?
Em 1983 Nagisa Oshima
volta a surpreender com o sensacional “Furyo-Em
Nome da Honra”( “Merry Christmas Mr. Lawrence”). Os japoneses fizeram de
ingleses prisioneiros mas o chefe Capitão Yonoi ( Ryuichi Sakamoto), passa a
nutrir uma forte paixão homoerótica pelo
Major Jack 'Strafer' Celliers (David Bowie) e este, ambíguo e sibilino percebe
esta pulsão sexual desviante, passando a sentir o mesmo. O Coronel John Lawrence (Tom Conti) passa a ser
o elemento conciliador entre os dois
universos, desenvolvendo forte amizade com Sargento Gengo Hara (Takeshi Kitano, futuro
grande cineasta). Numa das sequências mais atordoantes temos por amizade Gengo
perguntando para Lawrence, sem nenhum cinismo : Mas porque é que você não se matas?”.
Yonoi começa a matar
ingleses indiscriminadamente. Chega então a reunir dois pelotões. Um inglês
atrás com muitosw feridos e outro japonês na
frente. O que se segue a seguir é uma das grandes cenas do cinema. Se
você leitor prefere saber depois que ver o filme em DVD é bom parar por aqui. Celliers sai do seu
lugar é vemos seu caminhar em câmera lenta, aproximando-se de Yonoi e dando-lhe
um beijo na boca, que era no fundo o que mais desejava o japonês. Mas como
o espírito de honra deve permanecer
Celliers é todo enterrado, só com o pescoço pra cima
de fora e deve morrer de insolação.
Terminada a guerra, Lawrence
vai visitar Gengo na prisão. Depois de trocarem algumas palavras e o primeiro
sair, ouve de Gengo uma frase que explica o título original do filme: Merry
Christmas Mr. Lawrence. Oshima definiu seus filme como “O Beijo do que o
Ocidente deu no Oriente”. A trilha sonora de Ryuichi Sakamoto é uma das mais
belas da história do cinema pontuando os momentos dramáticos com muita força. O
filme só não ganhou a Palma de Ouro em Cannes porque surgiu um filme ainda mais
fundamental que é “A Balada de Narayama” de Shohei Imamura. outro cineasta
japonês bastante inconformista.
O seu último filme foi “Tabu” que se não é uma obra-prima como
os outros é bastante interessante e revelador. No universo dos samurais a
homossexualidade é permitida desde que os samurais envolvidos sejam grandes
guerreiros. Um jovem efeminado samurai, Kano, chega a um clã. Ele é muito
corajoso e cruel com os inimigos. O problema surge quando ele passa a ser
disputado por dois samurais.
Dos filmes anteriores
vi no MAM por acasião de uma visita de Nagisa Oshima para lançamento de
Furyo-Em Nome da Honra” três filmes. Dos
depoimentos lembro pouco. Apenas que ele pagou uma refeição a Glauber Rocha,
talvez em Paris. Será que a tese de Paulo Francis de que os amigos de Glauber o
abandonaram tem sentido? Cheguei a ouvir o psicanalista Eduardo
Mascarenhas dizer na televisão que
quando Glauber procurou a
psicanálise já era tarde. Glauber aprontou um auê no Festival de Veneza porque
seu filme “A Idade da Terra” perdeu
para nada nada menos de Louis
Malle(Atlantic City) e John Cassavetes (Glória. um filme eletrizante
que influenciou “Central do Brasil”).
Irônico é que Glauber apresentou à imprensa uma lista com os cineastas que
considerava neo-acadêmicos e nesta lista estava Nagisa Oshima, Bernardo
Bertolucci. Nelson Motta escreveu “A Primavera do Dragão” sobre o jovem Glauber.
Seria interessante que pesquisassem muito bem e escrevessem “O Outono do Dragão”.
Mas voltemos ao filmes
de Nagisa Oshima. Em “A Cerimônia”
o noivo ou a noiva ( não me lembro ao certo) faltam à cerimônia de casamento e
tudo é encarado com falsa naturalidade e o ritual todo da cerimônia é feito
mesmo que com a presença de um só dos noivos, revelando o automatismo da
sociedade japonesa. Noutro filme um soldado americano negro é capturado pelos
japoneses, preso a uma árvore e sofre horrores nas mãos de crianças. Noutro mais poético um garoto vende
um pombo que acaba sempre voltando para
suas mãos,possibilitando-o a novas vendas. Uma cliente acaba se aproximando
dele e desvendando o truque.
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dos Sonhos Esquecidos´
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Som ao Redor
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Segredos da Tribo
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da Rainha
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Nelson Rodrigues de Souza