sábado, 11 de abril de 2009

Réquiem Por Uma Humanidade Demasiadamente Humana e Bandida




Não conheço crítica negativa feita ao filme “Carandiru” (Brasil-2003) de Hector Babenco que se sustente. Pelo que saiba só Hugo Sukman em O Globo, elevou o filme ao grande patamar que merece. Senão vejamos:

1) ”Luis Carlos Vasconcelos não corresponde à verdadeira dimensão humana de Drauzio Varella....”.

O ator passa com palavras, gestos e olhares todo calor humano de quem não quer julgar ninguém, quer antes de tudo compreender, quer ser solidário, numa interpretação muito rica em nuances. É alguém que vibra com as pequenas e grandes conquistas dos presos.

2) “Carandiru” faz o elogio da “bandidagem”.

O filme como seu personagem médico, quer antes compreender do que julgar. É um filme generoso com seus personagens desvalidos. Estamos aqui longe da implacabilidade de “Dezesseis Zero Sessenta” de Vinícius Mainard com roteiro do irmão “enfant terrible” Diogo Mainard. Esse olhar de Babenco, poeta da marginalidade sim (por mais que este grande autor não goste do epíteto...) está presente em todos os seus filmes: uma solidariedade singular e comovente.

Em “Carandiru”, por mais que se evidencie o massacre de 2 de outubro de 1992, promovido pelos policiais com o beneplácito de seus comandantes nos choques brutais ( 111 presos indefesos executados ( segundo certas conversas que tive, muito mais do que isto), sendo que este fato serviu de pretexto para a criação do PCC- Primeiro Comando da Capital com o slogan “ Paz, Justiça e Liberdade”, ” roubado” do Comando Vermelho Carioca, para os detentos se protegerem de futuros morticínios), assim como várias cenas anteriores ( um rato que sai da pia que morde dedo do preso Majestade; o irmão Zico, que, doidão, joga água quente em outro irmão, Deusdete; Zico sendo esfaqueado e morto por vários outros presos ,numa situação que nos remete a “Assassinato no Expresso do Oriente”, policial de Agatha Christie filmado com eficácia por Sidney Lumet; briga de facções, talvez tendo por estopim o fato de um presidiário colocar ou não uma cueca num varal; um enforcamento de um estuprador numa noção canhestra de ética carcerária; assaltos a carros forte promovidos por Antonio Carlos e Claudiomiro; comparsas que se traem mutuamente; mulheres que disputam o mesmo homem com violência verbal; Peixeira como “o dono do pedaço”,cobrando estadia de outros presos; o mesmo Peixeira, culpando-se e tendo pesadelos com mortos que voltam “do além”, considerando-se enlouquecido e questionando o médico sobre sua própria sanidade; os aidéticos mostrados com verdade acachapante; o preso gordo que encalha num túnel cavado para fuga e é assassinado para dar passagem aos outros...etc...), por mais que ocorra todas essas “encruzilhadas das bestas humanas”, estamos longe do sabor completamente amargo que filmes respeitáveis e muito bons nos trazem, por não atingirem uma maior transcendência humana. É o caso de obras tais como “Contra Todos” de Roberto Moreira, “Nina” de Heitor Dhalia, “O Invasor” de Beto Brandt, “Amarelo Manga” de Cláudio de Assis, “Um Céu de Estrelas” de Tatá Amaral, “Cronicamente Inviável” de Sérgio Bianchi e e o recente “Tony Manero”, filme chileno de Pablo Larráin, etc...

Não é uma questão de sermos Polyanna, “tapando o sol com a peneira”, mas sim de termos fé no ser humano, com suas qualidades e defeitos, por mais que haja violências várias e corrupções para todos os gostos e desgostos, por mais que a realidade grite não...Se perdermos esta fé e acreditarmos que o homem é e sempre será o lobo do homem, não nos sobrará mais nada, a não ser clamar aos céus por uma boa morte.

No também extraordinário “Cidade de Deus” de Fernando Meirelles, esta fé nos vem através do personagem do jovem fotógrafo, que assim como Paulo Lins, um dos roteiristas do filme e autor do romance que deu origem a esta obra, “deu a volta por cima”. O autor Paulo, hoje trabalha sua experiência para compreendermos, antes de tudo, o que se passa, sem moralismos e falsas piedades, numa situação que aponta para a responsabilidade de todos nós, uma resposta à questão proposta por José Joffily em seu pouco visto e urgente “Quem Matou Pixote?”. A força e contundência do rapper MV Bill e suas atitudes é outro sinal desta transcendência. Sabermos que trabalham de modo tão vigoroso meninos e jovens de favelas em “Cidade de Deus” é uma dádiva, sem nenhum paternalismo.

A velha senhora que é a única a acompanhar o enterro do rapaz “justiçado” de forma torpe e criminosa pela polícia em “Ônibus 174” de José Padilha, um dos melhores documentários do Cinema Brasileiro, é também um momento de grandeza em meio ao caos da “cidade partida” que é o Rio de Janeiro hoje. Num grau menor de qualidade “O Diabo a Quatro” de Alice de Andrade mesmo com o espírito “cada um por si e Deus contra todos”, num roteiro em que nunca sabemos ao certo para onde vai, ao final também consegue ser não niilista.

Em “Carandiru” a humanidade dos presos e do médico nos restitui o dom de acreditarmos que um mundo diferente é possível, por mais que vejamos, com mais um extraordinário trabalho de fotografia de Walter Carvalho, um cipoal de iniqüidades, crueldades, malandragens, assassinatos e roubos.

A rigor não tenho nada contra obras artísticas que se constituem em autênticos “Cul- de- Sac” ou seja “Becos Sem Saída”, como “Dogville” de Lars Von Trier”, “Armadilha do Destino”, “O Inquilino”,”Lua de Fel”, “Chinatown e “O Bebê de Rosemary de Roman Polanski, “Cerimônia Secreta” de Joseh Losey, “O Processo” de Orson Welles,”Quanto Vale ou é Por Quilo” de Sérgio Bianchi,“ O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante” de Peter Greenaway , “A Professora de Piano” de Michael Haneke, “Assunto de Mulheres” de Claude Chabrol”, ”Saló” de Pasolini, ”O Crepúsculo dos Deuses” de Billy Wilder, ”O Passageiro: Profissão Repórter” de Antonioni, “A Mulher do Lado” de François Truffaut ( “Nem com você, nem sem você”), as tragédias gregas e de Shakespeare, obras de Kafka, Becket, Arrabal, Jean Genet, Ionesco, muito de Fassbinder, etc...etc...

É função também da obra de arte incomodar, inquietar o leitor/espectador, deixá-lo quase que sem ar, boquiaberto, mas que seja obra poderosa o suficiente para fazê-lo refletir e assim ao seu modo reverter o que se apreende na obra de arte, seja numa exposição, numa tela de cinema, num palco ou numa leitura. Não podemos trazer os fantasmas vistos nas obras de arte para as nossas vidas simplesmente e sim através de uma catarse, ganhar elementos para (por que não?) mudarmos a própria vida e a dos nossos semelhantes indiretamente, num trabalho minimalista, de formiguinha, mas que pode ter suas repercussões benignas de maior alcance. A grande arte muda a vida sim e indiretamente o mundo!Quem diz/escreve o contrário está equivocado.

Tenho, entretanto “uma queda especial” para obras que sem nenhuma babaquice, sem pieguice, sem “forçação de barra”, abrem frestas para esse “Beco sem Saída” e nos apontam para uma pequenina que seja, “luz no fim do túnel”. Claro que estas qualidades são muito subjetivas. Elas podem estar presentes ou não dependendo do espírito crítico de quem julga. Considero, por exemplo, o final de “Minority Report: A Nova Lei” de Spielberg perfeito. Já há quem considere essa obra (premonitória dos horrores das paranóias atuais dos americanos e de gente de outros quadrantes (baseada no mesmo Philip Dick de “Blade Runner”), onde todos são suspeitos de serem criminosos até prova em contrário), um filme restaurador de uma reles ordem familiar, crítica ao meu ver, não pertinente, que estendem a outros filmes essenciais de Spielberg, um dos gênios do cinema contemporâneo com um dos olhares cinematográficos mais instigantes, uma imagética das mais fortes e belas, o que se pode observar até mesmo em filmes realmente menores como “O Terminal”.

Os filmes a que me refiro, não niilistas, são obras que transcendem e vigorosamente entram e saem do “teatro da crueldade humana”. “Carandiru” de Babenco, ao seu modo bastante enviesado, apesar do massacre monumental e perversidades expostas comunga com um amor extremo às pessoas como, dentre várias possibilidades, “Noites de Cabíria” ,“8 e Meio” e “Amarcord” de Federico Fellini, “A Trilogia da Vida “ de Pasolini, “O Pianista” de Roman Polanski, “Uma Canção para Martim” de Billie August (só exibido num festival BR-RJ no Brasil), “Tudo Sobre Minha Mãe” e “Carne Trêmula” de Almodóvar, “Estação Doçura” e “Bagdá Café” de Percy Adlon, “As Lagrimas Amargas de Petra Von Kant” peça e filme de Rainer Werner Fassbinder, “A Lista de Schindler” de Spielberg, “Exílios” de Tony Gatlif, “Gritos e Sussurros” e “Face a Face” de Ingmar Bergman, “Solaris” de Andrei Tarkovsky, “2001, Uma Odisséia no Espaço” de Kubrick, “Pai Patrão” dos Irmãos Tavianni, “Deus é Brasileiro” de Cacá Diegues, “Asas do Desejo” de Wim Wenders, etc, etc...

Nem só de gosto amargo na boca vive o amante da sétima arte e outras. Há o agridoce e o transcendente também. ”O Beijo da Mulher Aranha”, romance de Manuel Puig, tornado peça de teatro, filme de Hector Babenco e musical da Broadway, tem em Molina uma dignidade, uma sabedoria e alegria de viver, que nos contagia e nos faz sentirmos mais fortes, ainda que seu final seja trágico.

3) “Rodrigo Santoro faz um travesti, para obviamente, Babenco nos mostrar um ator da Rede Globo num difícil papel”.

Rodrigo é hoje mais do que “um ator da Globo”: seu excelente trabalho em “Bicho de Sete Cabeças” de Laís Bodansky , “Abril Despedaçado” de Walter Salles, “Leonera” de Pablo Trapero e num tom menor em “A Dona da História” de Daniel Filho, dentre outros, o colocam como um do melhores atores de sua geração. Sua composição do travesti Lady Di é primorosa, gesto por gesto, olhar por olhar. O casamento dele com “Sem Chance” vivido pelo também soberbo Gero Camilo, é uma das cenas mais tocantes do Cinema Brasileiro. A alegria genuína dos amantes, o jeito feliz e cúmplice do médico, fazem da cerimônia celebrada por um homossexual, um oásis em meio a tantas agruras. Antes temos a fala excelente da mãe de Lady com o pai, que não quer o casamento: ”Nós estamos velhos demais pra sabermos o que é certo, o que é errado.”

4)” O filme foi recebido friamente pela platéia e pelo júri em Cannes”.

Desde quando a platéia de Cannes, em alguns aspectos fashion, os júris, são termômetros certos de qualidade superior e justiça? Absurdos acontecem por lá. “Dogville” de Lars Von Trier perder a Palma de Ouro para “Elefante” de Gus Van Sant, um filme muito bom, mas que é um pigmeu perto do primeiro, é pra mim um grande equívoco. “Roseta” dos irmãos Dardenne (só exibido em festivais no Brasil) que ganhou a Palma de Ouro principal, é excelente, mas não é mais significativo que o aliciante e fantástico “Tudo Sobre Minha Mãe” de Pedro Almodóvar. A não inclusão de “Casa de Areia” de Andrucha Waddington na competição oficial de 2005, um filme também transcendental, é uma gritante injustiça, etc...

”Dogville” nos mostra um mundo muito cruel, em que a violência é combatida com violência, mas sua dramaturgia é tão poderosa que o amargor vem acompanhado de uma sólida reflexão sobre os desatinos desse país (os EUA) que se considera um exemplar de civilização a ser seguido por todos os povos, o que toca as cordas do absurdo. Pode-se extrapolar o filme para outros rincões, mas a referência particular aos americanos é notória. A maldade do ser humano neste filme assusta mais do que a que é praticada por presos de “Carandiru”. Lars Von Trier tem um olhar perverso, numa chave altamente crítica que aponta para soluções que o espectador é quem tem que buscar, uma forma também legítima de se fazer cinema.

5) “Carandiru” é mal-ajambrado enquanto filme”

O filme de Babenco tem roteiro magnífico (de Fernando Bonassi, Victor Navas, o próprio Hector) com cuidadosos e elucidativos flashbacks que compõem um mosaico dos antecedentes criminais e esperanças de vários presos chaves da narrativa.Uma eficácia que os maneiristas flashbacks de Monique Gardenberg em “Benjamin” não atingem. Os trabalhos de Wagner Moura, Lázaro Ramos, Ailton Graça, Millen Cortaz, Caio Blat, Ricardo Blat, Milton Gonçalves, a sempre sublime e camaleônica Maria Luiza Mendonça ( tão esplêndida aqui como em “ Coração Iluminado”, outro trabalho subestimado de Babenco, assim como o oportuno e inquietante “Brincando nos Campos do Senhor”, onde o olhar generoso é direcionado aos índios, mas sem idealizá-los), etc... são de rara qualidade.

Estes desempenhos nos reafirmam o quanto Babenco é um meticuloso diretor de atores, assim como tem apurado senso de ritmo na realização de planos e seqüências que retemos na nossa memória afetiva tais como Pixote mamando num peito da prostituta de Marília. Pêra; a missionária fanática de Kathy Bates espantando os índios que se amam na rede em “Brincando nos ...”; Meryl Streep como uma sem-teto que se abriga numa biblioteca fingindo que lê livros em “Ironweed”, um fracasso de público nos EUA porque seu pobre povo não pode ter olhos para sua própria miséria, principalmente através de um filme lançado no dezembro natalino, por um olhar estrangeiro.

Dentre algumas seqüências de “Carandiru” primorosas, com sabor de antologia destacam-se: o sangue que se mistura à água escadaria abaixo, lembrando-nos uma pintura de grandes mestres; o hino nacional cantado com fervor pelos jogadores, pouco antes do massacre, onde eles estão em comunhão com essa nação que nos traz tantas decepções, mas o que importa é que por alguns momentos de epifania, eles acreditam no país em que vivem; o desalento dos presos todos nus no pátio, enfileirados, numa massa de sobreviventes atordoada; o preso interpretado por Dionísio Neto, que é salvo do extermínio por ter a cara parecida com o filho de um policial que por um triz não lhe tira a vida; a entrada triunfal de Rita Cadillac ensinando a uma platéia gigantesca, atulhada de presidiários o uso correto de camisinha através de uma fálica garrafa e a alegria e euforia das pessoas com aquele grandioso show da diva possível, etc..Algo análogo em menor escala, em relação à Rita, Babenco faz com um show de um cover mambembe de Roberto Carlos em “Pixote” no deletério ambiente da FEBEM que o filme nos mostra.

Babenco está aqui no auge de sua maturidade enquanto cineasta. O extraordinário “Pixote” tem a sombra de “Os Esquecidos” uma das obras-primas de Luis Buñuel, pairando sobre ele. Quanto a “Carandiru” não há um filme sequer sobre encarceramento de seres humanos, ao que eu saiba, que o suplante, nem mesmo os excelentes “O Sistema” de Tom Gries,. “Um Sonho de Liberdade” de Frank Darabont e até mesmo o vigoroso “Memórias do Cárcere, que é parcimonioso no retrato dos presos comuns (o seu forte é mostrar como resistem os intelectuais como Graciliano Ramos, uma médica como Nise da Silveira, etc criando seus mundos à parte numa atitude análoga, mas bem diferente das criações dos encarcerados de “Carandiru”). Só o subestimado e excepcional “O Expresso da Meia Noite” de Alan Parker lhe é comparável.Tanto Parker como Babenco trazem com vigor raro, o horror que é ser privado de liberdade numa prisão.Num país (ou mundo?) em que se fizermos uma enquête, a maioria das pessoas deve comungar com um ódio atroz pelos presos, por supostamente estarem com “casa, comida, roupa lavada, energia elétrica, etc..”, tudo de graça, estes filmes essenciais não realizam pequena façanha...

6) ”A implosão do complexo de prédios do Carandiru, um documentário inserido no filme traz a falsa impressão de que os problemas de presos estão resolvidos no Brasil.”

O filme não autoriza essa interpretação. Ele mostra o que aconteceu realmente. Aquele inferno particular foi destruído, sepultando muitas histórias, algumas colhidas pelo olhar generoso de Drauzio Varella. Outros infernos existem em outros recantos. Babenco não é ingênuo, ele sabe disso. Pode-se agora fazer um filme, por exemplo, sobre os horrores de uma prisão de São Gonçalo, com presos engaiolados e amontoados, se revezando para poderem dormir.

7) “ O Prisioneiro da Grade de Ferro” de Paulo Sacramento é o filme que vai ficar para a História como um autêntico retrato do que era o complexo “Carandiru”, um documentário que tem o olhar dos próprios presos para a realidade que os circunda, com câmeras de vídeo em mãos.”

Carandiru já ficou na memória de milhões que foram prestigiá-lo no Cinema, o estão assistindo em DVD e por serem atingidas profundamente pelas emoções vivenciadas pelo filme, passaram essas emoções para outras pessoas e uma corrente eterna será feita.

&

Defeitos? O filme tem um “gravíssimo”: poderia ter apresentado uma metragem muito maior, pois mais histórias boas para contar não faltavam. Não é à toa que surgiu a série de televisão com o mesmo tema.

“Carandiru” é um filme humanista na melhor tradição do termo como “Ladrões de Bicicleta ” e “Umberto D” de Vittorio De Sica , “Três Irmãos” de Francesco Rossi, “Os Últimos Passos de um Homem”de Tim Robbins, “Não Matarás” de Krzysztof Kielowski. “As Portas da Justiça” de Gianni Amélio, ”Dançando no Escuro” de Lars Von Triers, etc.....sendo esses quatro últimos filmes, dentre outros temas, excepcionais libelos contra a pena de morte, sem perder a dimensão de grandes obras de arte, representando um não rotundo aos que almejam essa punição extrema, uma obviedade que deveria ser seguida por toda sociedade que se quer julgar civilizada, mas que não encontra eco num contingente enorme de pessoas e países. Para muita gente, inclusive pessoas que se acreditam bem-pensantes, a palavra humanismo hoje virou palavrão. A propósito de seu filme citado anteriormente, com atuações embasbacantes de Sean Penn e Susan Sarandon, Tim Robbins afirmou que sua função como cineasta era abrir janelas para onde as pessoas não querem mais olhar, uma operação que se encontra em todos os filmes de Hector Babenco e em “Carandiru” em particular..

Segundo os letreiros finais há três versões para a história que “Carandiru” nos conta: a de Deus, a dos policiais e a dos presos. Foi mostrada a dos presos....Mas com intervenção divina acrescento.

Para quem ainda não entende (ou finge que não entende) por que aconteceram/acontecem as Revoluções Francesa, Mexicana, Cubana, Bolchevique, as rebeliões nas Febens e nos presídios como houve em “Carandiru”(um complexo projetado para abrigar 3000 presos mas que já chegou a ter em seus domínios por volta de 9000 ), os homens-bomba, a revolta de Canudos, a violência nas favelas e nas ruas dos grandes centros,etc...medite sobre este trecho de “O Grito do Povo- Os Canhões do Dezoito de Março”, história em quadrinhos sobre a insurreição popular de 1870, com a França mergulhada numa guerra civil, conhecida como a “Comuna de Paris”, HQ esta, desenhada e escrita por Tardi ( famoso por ter feito o cartaz de E La Nave Va de Fellini) e Vautrin ( escritor e cineasta, membro da academia francesa de letras):

“Por acaso somos cegos? É preciso que os pobres cheguem a tal ponto de miséria que não lhes reste alternativa a não ser se rebelar? Um dia as cordas que os prendem irão se transformar no estandarte do ódio.”

http://www.aids.org.br/mostra2006/images/filmes/Carandiru.jpg

http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_23/sampafilmesimagem/carandiru.jpg

http://globofilmes.globo.com/GF/foto/0,,5124472,00.jpg

Nelson Rodrigues de Souza

2 comentários:

  1. Excelente artigo!! Parabens!! Concordo com praticamente todas sua argumentação e admiro sua memória em citar os filmes que o marcaram neste "humanismo". Abraço-

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