sábado, 28 de agosto de 2010

“A Origem” de Christopher Nolan/ Inserindo o Vírus do Pensamento Para Provocar Ações Febris













Este texto contém fortes spoilers para minha análise desejada de detalhes. Assim não é recomendado para quem ainda não assistiu “A Origem” e se incomoda com estas antecipações.

“A Origem” de Christopher Nolan

Inserindo o Vírus do Pensamento Para Provocar Ações Febris

“Sonhei que era uma borboleta e ao acordar não sabia se era um homem que sonhou ser uma borboleta ou uma borboleta que sonhava ser um homem” – Sun Tzu

Sou infinitamente avesso ao cinema em que predominam muitas correrias, tiroteios e explosões, tão comum no cinema americano chamado por alguns críticos nerds de Cinema Adrenalina, um conceito que abomino (se eu estiver simplesmente atrás de aumento de adrenalina no corpo, vou para um parque de diversões e me “acabo” nas cadeiras de um mexicano ou numa montanha russa ou então vou passear numa favela sem UPP-Unidade de Polícia Pacificadora...). Quando uma obra é só adrenalina por adrenalina, sem qualquer vestígio de inteligência, torna-se insuportável. Mas estaria sendo muito injusto com Christopher Nolan se não admitisse que seu magnífico “A Origem” (EUA/Reino Unido/2010) que traz em si bastante desses elementos citados clichês (mas reelaborados e inseridos no contexto da obra) não tenha me fisgado totalmente e o filme já tenha resistido a duas sessões, com crescente fascínio, uma grande dose de novas descobertas e restando mistérios intrigantes que ainda pairam no ar que talvez novas visitas possam dissipar um pouco mais. Algo que é característico dos grandes filmes: essa capacidade que eles têm de nos fazer sentir como se estivéssemos sempre vendo o filme pela primeira vez a cada nova visão.

Existem filmes que não entendemos todo seu desenvolvimento, mas que o queremos ver pelas costas. Não é este o caso: terminado queremos voltar para desvendar ainda mais os seus segredos (pelo menos pra mim e alguns amigos). Ainda que Nolan embuta na boca dos personagens falas que adiantam aspectos dos intrincados jogos mentais em jogo (para se comunicar melhor com grandes platéias), ainda permanecerá fascinantes zonas de sombra a serem desvendadas (ou não). Como tratamos aqui do inesgotável mundo dos sonhos para ser decifrado, como nas sessões de análise, por mais que esmiucemos com o terapeuta com a maior competência e disponibilidade, algo que não sabemos como começa e termina, sem obedecer a ditames da razão, sempre haverá regiões de sombra a serem decodificadas (muitas vezes em vão, pois “mais fortes são os poderes do inconsciente”, ou do polvo, como quer Arnaldo Jabor em seu lindíssimo “Eu Sei que Vou te Amar”).

O roteiro trabalhado durante uns dez anos por Nolan só poderia mesmo ser dirigido por ele e este deve ter ganhado carta branca de grandes estúdios para realizar um filme caro assim e bastante arriscado, autoral (que está sendo um grande sucesso de público e de parte da crítica, o que não era nada garantido) por seu espetacular sucesso “Batman, O Cavaleiro das Trevas/EUA/2008), com no mínimo um trabalho extraordinário de Heath Ledger como O Coringa, merecidamente recompensado como um Oscar póstumo.

Com um roteiro dos mais intrigantes do Cinema Contemporâneo, contendo até mesmo as comentadas cenas de ação clichês retrabalhadas de um cinema bastante recorrente que quer só fisgar o espectador mexendo com seus hormônios e não com suas emoções e cérebro, este aqui em pauta é um grande filme bastante fora da curva da mediocridade vigente, obra em que emoções e sucessivos convites à reflexão não faltam como poucos filmes tidos como blockbusters lograram. Neste sentido, para ficarmos apenas em três exemplos, lembremos da grandeza de “Matrix” (só o primeiro!) dos Irmãos Wachowski, de “Minority Report: A Nova Lei” de Steven Spielberg e do também espetacular e melhor de todos, “V de Vingança” produzido pelos Irmãos Wachowski e dirigido por James McTeigue.

Em “A Origem” o que soa como clichê em outros filmes de muita ação é algo que faz parte da lógica dos sonhos (e quem já não sonhou com correrias e fogo que atire a primeira pedra; eu particularmente já sonhei certa vez que a terceira guerra mundial tinha eclodido e tudo havia explodido, sentindo alívio só ao acordar assustado).

O título brasileiro, “para variar” é completamente equivocado e enganador, não querendo dizer nada. O original “Inception” traduzido por “Inserção” poderia não ser muito comercial, mas traduziria à perfeição o x do problema em “A Origem”ontendo o com seus hormecorrente que qeurado ( que abainda mais s se dissipar um poco.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio, em mais uma grande interpretação, por mais que muitos digam/escrevam que ele tem sempre cara de jovem bom moço, o que é uma maldade) ganhou poderes para entrar no inconsciente das pessoas, nos seus sonhos e então roubar segredos. Acaba se marginalizando vivendo disso e roubando segredos empresariais e industriais. Acusado de ter matado sua mulher Mal (a já diva Marion Cottilard, sempre transpirando emoções nobres e sutis) foge dos EUA. Instalado em vários lugares onde há “trabalho”, num deste mal-sucedido prepara-se para fugir para Buenos Aires. É quando encontra o bilionário Saito (Ken Watanabe) que lhe propõe algo que ele de início recua por não se sentir capaz, mas que depois o captura. Ele que até então tem roubado segredos do inconsciente das pessoas terá agora de entrar no cérebro de Robert Fisher ( Cilliam Murphy, tão excelente aqui como em “Café da Manhã em Plutão” e “Ventos da Liberdade”) como um vírus inoculado num cérebro humano e fazer a inserção de uma idéia inusitada: o pai de Robert está moribundo, deixou-lhe um testamento e ele como herdeiro, de acordo com os planos de Saito deve dividir o império que está por herdar do pai (Pete Postlethwaite de “Em Nome do Pai”), quebrando um monopólio que se preservado pode ser muito perigoso. A recompensa para Cobb, algo prometido pela palavra de Saito, é ser ajudado a voltar para os EUA e para seus dois filhos, eliminando o fantasma de Mal, já falecida ( num suicídio em que não só tenta arrastá-lo mas em que deixa cartas culpando o marido) que o persegue.

Saito, dado a importância do que deseja, quer compartilhar estes sonhos para melhor acompanhar a missão confiada. Para esta realização delicada e complexa que envolve várias camadas de sonho, Cobb conta com os conselhos do pai (Michael Caine, sempre elegante e certeiro), com a ajuda essencial de Arthur (Joseph Gordan Levitt, do polêmico e excelente filme sobre pedofilia e suas conseqüências “Mistérios da Carne” de Greg Araki, exibido no Rio só uma semana, desaparecendo depois do circuito), com o trabalho do designer de ambientes Nash (Lukas Haas), do químico Yusuf (Dileep Rao), do faz tudo Eames (Tom Hardy) e numa condição mais especial (por sugestão do pai) de uma projetista de sonhos, que passará a compartilhá-los com Cobb. Ela que é advertida para não trabalhar com a memória e sim só com a imaginação (algo que Cobb acaba não obedecendo) é sintomaticamente Ariadne (Ellen Paige do delicioso “Juno”) e lhe confiam que crie um labirinto especial de onde só Cobb e sua equipe possam sair.

Muito complicado tudo isso? Sim, claro que é. Mas é desta complicação de tons bastante poéticos que surgem aqui e ali, que o filme se constrói, nos conquista e nos convida não só à reflexão e a no mínimo uma revisita, como também nos satisfaz com um orgia (no melhor sentido) de efeitos especiais embasbacantes, líricos como por exemplo uma rua de Paris que tem uma parte que se levanta, verticalizando-se por onde Cobb e Ariadne caminham como em “2001, uma Odisséia no Espaço”. Aliás, outras belíssimas e tensas seqüências também remetem a este clássico da ficção científica de Kubrick. Quem pensar nos labirintos de Borges aqui e ali, não estará tendo visões. Com espelhos se cria uma estrutura em abismo com imagens sucessivamente refletidas de Cobb e Ariadne com forte força poética. Outras cenas nos remetem aos trabalhos geniais de M.C. Escher e suas estruturas oníricas com jogos de perspectiva que são autênticos desafios às nossas noções de realismo. A culpa que move Cobb nos lembra também um pouco o físico de “Solaris” de Andrei Tarkovski que tem sua mulher ressuscitada várias vezes para depois continuar a morrer, devido às influências/emanações do planeta Solaris.

Nolan em entrevista declarou que assistiu ao fundamental “O Ano Passado em Marienbad” de Alain Resnais só depois de concluído seu filme. No entanto na relação de Cobb com sua mulher Mal é evocado um pouco do clima desta obra de Resnais, pois o que se tem é um casal num tempo e espaço remetendo a outro tempo e espaço com bastante estranhamento, onde não sabemos o que é sonho, o que é realidade, o que é imaginação.

Há um pião de posse de Mal que uma vez jogado e se depois de certo tempo ele cai, sinaliza que estamos no plano da realidade. Se ele continuar girando indefinidamente estamos no plano do sonho.

Por terem sido sedados, os personagens que se matam para sair do sonho em que acreditam/descobrem estar imersos, não acabam acordando e sim ficam no limbo, onde envelhecem.

Na iniciação de Ariadne no mundo dos sonhos, numa Paris magnificamente captada, ampliando a beleza já intrínseca da cidade, temos uma onírica explosão em câmera lenta com mil pequenos destroços lançados que rivaliza em beleza com a estonteante explosão final de bens de consumo como geladeiras, televisões, etc. num dos seminais filmes de Antonioni, “Zabriskie Point”.

Nunca se sabe ao certo como começa e termina um sonho. Este pode se interromper só ao acordarmos. Por mais então que nos esforcemos para lembrá-lo, jamais ele poderá ser reconstituído ipsis litteris: sempre pairará uma aura de sombra e mistério. “A Origem” é construído assim: por mais que o assistamos e procuremos desvendar sua estrutura, seus segredos, sempre pairará uma aura de sortilégios que faz o fascínio das grandes obras de arte.

O fantasma de Mal e o sentimento de culpa de Cobb interferem bastante no seu inconsciente, quebrando a noção de que não se deveria trabalhar com lembranças, o que Ariadne descobre. Saito acaba levando um tiro e fica à beira da morte de forma tal que se isto acontecer de vez não poderá cumprir a promessa de fazer Cobb voltar para os seus filhos. Os espaços e tempos oníricos vão se metamorfoseando em ininterruptas reviravoltas. Sonhos dentro de sonhos. Cobb que envelhecia com Mal numa paisagem composta de ruínas e construções, acaba por fim confessando a Ariadne a razão de tanta culpa: para testar se era mesmo capaz de uma boa inserção (o que os letreiros ridículos traduzem por uma origem (sic)), decidiu inocular no inconsciente da própria mulher a idéia de suicídio.

Tudo o que já foi escrito aqui é um apanhado linear que não faz justiça à pujança e oportunidades em que estes acontecimentos se dão/são revelados.

Depois de ser até torturado para revelar o segredo do cofre do pai, Robert Fincher num encontro com ele já moribundo, abre este cofre, lá encontra um origami e se dá conta que o que o pai mais deseja no seu estado terminal é que o filho seja ele mesmo, não o imite.

Num encontro com Saito já velho, numa circularidade narrativa que nos remete ao início do filme, Cobb quase que suplica para que este o ajude a voltar para os EUA e os filhos. Num corte temos Cobb chegando ao aeroporto de Los Angeles, tendo o passaporte aceito sem problemas e no caminho encontrando personagens de suas atribuladas trajetórias. É recebido pelo pai (Caine) e chega por fim em casa, abraçando os filhos, agora vistos pela primeira vez de frente. A câmera se afasta destes e vemos o pião rodando sobre a mesa. Ele cairá ou não? Um corte seco nos leva aos letreiros finais e dado a ausência de resposta sobre a queda ou não do pião fica a incômoda sensação de que tudo pode ainda ser mais um sonho. Teríamos aqui um final em aberto: Cobb tanto pode ter voltado realmente para a família que lhe restou, como pode estar ainda numa roda-viva onírica.

Um amigo, entretanto, chamou-me a atenção para mais um detalhe. Depois que a tela escurece sem mostrar o resultado do movimento do pião, ele ouviu na trilha o som de um pião caindo, algo que eu envolvido com a emoção arrebatadora do filme não ouvi. Tendo este meu amigo razão, pode-se concluir que estamos sim no plano da realidade. O final seria então fechado. Consultado outro conhecido cinéfilo ele não ouviu este barulho assim como eu.

Se verdadeira a noção inequívoca de se ter voltado à realidade, eu neste ponto discordo de Nolan: seria ainda mais bonito se o filme terminasse em aberto. Mas meu amigo também pode ter tido um efeito auditivo de wishful thinking (pensamento desejante) e ouvido o que de fato não ocorreu.

Pensando bem. “A Origem” merece certamente ainda outra visita. Outros mistérios além deste golpe do pião podem assomar para nosso espanto e prazer.

Os filmes anteriores de Nolan como “Amnésia”, “Insônia”. “O Grande Truque”, “Batman Begins” e até mesmo “Batman, O Cavaleiro das Trevas”, em maior ou menor grau aqui e ali, não me despertaram grandes entusiasmos. Mas como fiquei completamente chapado, siderado e extasiado com “A Origem” este conjunto de obra merece urgentemente uma revisão.

Oswald de Andrade morreu sem ver realizada sua profecia: “um dia as massas vão comer do biscoito fino que fabrico”. Já Nolan, como raros outros blockbusters lograram, construiu um biscoito finíssimo para as massas. Vamos aproveitá-lo, saboreá-lo. “A Origem” é um banquete de signos junguianos, freudianos e lacanianos que merece ser degustado sem preconceitos.

Ps1 Sonhei outro dia que estava em altos papos com Caetano Veloso com a maior intimidade. De um ambiente que deveria ser o Rio de Janeiro, acabamos em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, num outro tempo, onde fui apresentá-lo aos meus pais. Isto é o que me lembro. Deste fio de sonho resultou uma das mais belas sessões de análise junguiana que venho fazendo, com uma hora de duração.

Ps2 Para o crítico Inácio Araújo da Folha de São Paulo, “A Origem” é um falso diamante. Discordo radicalmente: “A Origem” é um diamante que dilapidamos cada vez mais junto com o diretor, entrando e saindo do seu filme tão sonhado que obedece mais aos imperativos do sonho que da assim chamada vida real.

Ps3 Pode-se argumentar que David Linch foi mais fundo no mundo dos sonhos com “Império dos Sonhos”, o que pode até ser verdade. Mas é forçoso também reconhecer que esta obra feita em digital com três horas de duração não é puro deleite. Algumas vezes caímos num tédio mortal. O que não acontece com “A Origem” e sua narrativa aliciante e também numa das obras-primas de Linch em que o mundo onírico também é invocado que é “Cidade dos Sonhos”.

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Nelson Rodrigues de Souza

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Prova Do Que É Mais Verdadeiro- Um Conto











A Prova Do Que É Mais Verdadeiro

“Já aprendi matemática que é a loucura do raciocínio, mas agora quero o plasma. Quero alimentar-me diretamente da placenta”

Clarice Lispector em Água-Viva

Indiferente à presença do amigo do filho que com este estudava na ampla mesa da sala, o casal Barreto de Holanda digladiou-se sem cerimônia, dado que estavam “na própria casa”. Doris teimava que ainda era cedo para o marido procurar o sogro, dado que pouco tempo havia decorrido desde que o velho surpreendeu o genro num colóquio amoroso num cinema enquanto a filha ingenuamente o supunha numa demorada reunião. A mulher perdoou Vicente depois de algumas cenas quase que protocolares, mas o sogro nunca mais foi o mesmo: perdera a confiança no genro predileto. Mas se a decisão sobre quem ocuparia a vaga aberta na empresa Barreto com o falecimento de Duarte precisava ser tomada rapidamente e o sogro, influente como era, poderia interceder favorável e eficazmente pelo genro, como deixar de apelar a ele neste momento? Era o que insistia Vicente diante da peremptória recusa da mulher.

- Você está vendo aonde foi nos levar a sua infidelidade? Com que cara eu vou pedir a papai que lhe indique? Ele ainda não esqueceu o pulha de genro que ele tem!

- Vocês dois não podem por uma noitada boba comprometer o nosso futuro. Esse seu pai que não me venha nos dar uma de santo porque eu também já o vi...

- Não se atreva a falar mal de papai, Vicente!

Sob os olhares estupefatos dos jovens, Vicente apanhou as chaves do carro e saiu apressado. A mulher o seguiu, assustada.

- Seus pais discutem sempre assim? – perguntou Jorge ao amigo.

- Hoje até que eles estão encabulados com a sua presença e maneraram- respondeu Cláudio matreiramente.

Cláudio convidou o amigo a estudarem no quarto dos pais que era mais espaçoso. A escrivaninha era pequena, mas os pais logo voltariam e reiniciariam a discussão. No quarto estariam muito mais tranqüilos para estudar para a difícil prova de matemática do dia seguinte.

Cláudio mais olhava para o companheiro do que para os enigmáticos signos que este colocava no papel. Jorge chamou-lhe a atenção:

- É melhor a gente se concentrar. Temos muita coisa ainda para aprender.Vamos Cláudio!

- Você está muito mais por dentro do que eu. Você bem que poderia me passar umas colas amanhã, a gente senta bem pertinho e...

- Você está doido! O professor Alberto não permitiria de jeito nenhum. Ele tem obsessão por cola. Ele fica tão atento quanto uma ave de rapina diante da presa.

- Eu não sei como alguém tão bonitinho pode ser tão chato...

-Você não pode negar que ele ensina bem e é esforçado. É o melhor professor que nós temos...

- Eu sei,,, Eu sei,,, Só que ele apareceu tarde. Depois da gente penar esses anos todos no colégio, não adianta ele vir no terceiro ano, quando a gente já está todo viciado e tentar moralizar a coisa. Qualé?

- Olha, a gente ainda está no fim do primeiro semestre, tem mais um pela frente. Não adianta fugir agora por que logo tem vestibular e...- Para... Para!... Você está parecendo ele falando. Você o está imitando igualzinho... Também pensa que eu não observo. Você passa a aula embasbacado, olhando para ele...

- Deixe de fofoca, vamos estudar...

Cláudio levantou-se, foi até a sala e constatou que os pais ainda não haviam voltado. Regressou ao quarto e fechou a porta sob o espanto do colega. Cláudio puxou o amigo até a cama:

- Vem cá, vem... Faça de conta que eu sou o seu professorzinho...

Jorge esboçou uma reação, mas não resistiu aos apelos do amigo. Os jovens, nus em pelo, tocaram-se com sofreguidão. Os paus viris quase que se entrelaçaram. Jorge já estava a ponto de vislumbrar o orgasmo, quando parceiro pediu-lhe que se controlasse um pouco mais. Cláudio deitou o amigo de costas, colocou uma camisinha e ensaiou a penetração. Jorge tentou desvencilhar-se com delicadeza:

-Isso não, por favor. Hoje não! Isso sempre me fere um pouco.

Cláudio levantou-se rapidamente, vasculhou todas as gavetas do guarda-roupa, da escrivaninha, da penteadeira e resmungou, frustrado:

- Cadê o KY? Que diabo! Será que os coroas nunca tiveram esse problema? Vou ter de me planejar mais. O do meu quarto acabou!

Sem nenhum lubrificante, Cláudio mesmo assim sob os protestos do companheiro tentou possuí-lo. Jorge empurrou bruscamente o colega, levantou-se, arrumou-se irado, pegou o seu material e com a recusa de Cláudio em abrir-lhe a porta ensaiou um escândalo. Com medo que os pais já estivessem pela casa, o rapaz cedeu, não sem antes maldizer o amigo:

- Vai... vai... Você só sabe se masturbar no banheiro por aquele seu professorzinho...

Quando o professor Alberto incluiu Cláudio dentre os alunos que precisariam ainda fazer uma prova chance para se verem aprovados no semestre, Jorge foi contemplado com um incisivo, acusador olhar do ex-companheiro de estudos. Desde a noite da sedução interrompida que os dois não mais conversaram. Entretanto, de forma telepática, com os olhos faiscantes, Cláudio agora transmitia ao colega a inquietante mensagem de que ele ainda não “perderia por esperar”, que ele aguardasse a evolução dos acontecimentos porque a caça ainda teria o seu tão sonhado amanhã.

Depois da aula do dia seguinte, quando Alberto deu início a uma revisão para os retardatários, Cláudio postou-se diante do carro do professor e foi só este se preparar para zarpar, pediu-lhe uma carona. Cláudio comentou que estava estudando bastante, mas tinha certos pontos em que ele se via paralisado, provavelmente por falta de base. Alberto se propôs explicar-lhe detalhadamente até mesmo fora da aula, o que fosse necessário. Bastava procurá-lo, Ao mesmo tempo em que lançou “E porque não hoje?”, Cláudio apalpou o pau do mestre que logo enrijeceu. Alberto, surpreso, desconcertado, parou o carro tão logo pode.

- O que é isso rapaz? Será que eu dou bandeira assim na sala de aula?

- Desculpe professor, mas só não enxerga quem é bobo. Quantas vezes o senhor já não examinou a mim e ao Jorge de alto a baixo. A gente da tchurma se conhece só pelo olhar e poucos gestos. Temos olhar clínico. Existem fluidos que passam sem que a gente se dê conta...

É... você tem razão. Mas por favor, não me chame de senhor.

Dali para a casa do professor foi um passo. Alberto recolhia os seus trinta e um anos num pequeno apartamento em Botafogo. Já há um bom tempo encerrara uma relação com Júnior que durou cinco anos. A partir daí, fechou-se. Desejava preocupar-se mais com os estudos. Ser a vida toda professor de matemática em colégios particulares era o que realmente queria? Entretanto, com a chegada do rapaz em sua casa, encheu-se de ternura como já há algum tempo não se atrevia.

Professor e aluno beijaram-se e abraçaram-se demoradamente. Alberto contemplou o rapaz nu um tanto assustado:

- Mas você aparenta ter no máximo 17 anos! No entanto parece muito mais vivido.

- Que tem eu ter 17 anos? Por acaso nessa idade não se vive, não se tem vontade, desejos?

- É... E pensar que eu fui esperar vinte e cinco anos (um quarto de século!) para ter a minha primeira relação sexual completa com homem! Quanto tempo perdido meu Deus! Quanto tempo..Quanto sêmem derramado na maior solidão....

- Então não vamos mais perder tempo...

Como se o pau de Alberto fosse uma corda, Cláudio puxou-o até o quarto, onde se amaram ofegantemente sem que se distinguisse quem ensinava, quem aprendia. Sim. O amor é uma matéria inesgotável em que estamos condenados a ser mestres e aprendizes ao mesmo tempo e de modo perpétuo.

Quando se encontraram no dia seguinte o professor insistiu para que Cláudio estudasse. Ele ficaria perto para tirar qualquer dúvida que surgisse. Cláudio manifestou o seu horror pela matemática:

- Não é de agora que eu apresento dificuldades nesta matéria.

- Para mim essa lógica também não tem sentido!

- Como?

Cláudio se assustou com a observação do professor que saiu quase sussurrada, imperceptível. Mas como? O professor também considerava a lógica um absurdo? Então porque lhe impingia esses suplícios?

Reagindo à inquietação do aluno, Alberto tentou explicar-se:

- O que quero lhe dizer é que não é apenas a lógica que tem sentido. Você querer se basear em tudo apenas na lógica é que não tem sentido. A lógica tem a sua importância, mas não abrange tudo...

- Como assim?

- Veja bem o que passa pela cabeça das pessoas que nos descriminam. O homem tem o seu pau e o sêmen para a reprodução. A mulher tem a vagina e os óvulos para a reprodução. Foram feitos um para o outro. Eles de “acoplam” perfeitamente, logo qualquer relacionamento que fuja dessa perfeição ( pronunciou esta palavra com desdém) é anormal, patológico... Você está vendo até onde a ausência de sensibilidade, de generosidade e a lógica pura e simples podem levar? Veja bem, você está querendo aplicar uma lógica espúria em cima do eu disse para concluir que você deve cruzar os braços, não aprender mais ainda. Note bem, eu estou criticando a obsessão com a lógica, aonde estão envolvidos os sentimentos humanos que não se pautam necessariamente por estas vias da razão.Tudo bem, você não tem vocação para ser um eminente matemático, mas não há razão para você se recusar a aprender os rudimentos da lógica matemática.

- E os meus sentimentos em relação à matéria não são levados em conta não?

- É para isso que eu estou aqui. Quando você sentir que algum tópico não lhe entra na cabeça, com toda paciência do mundo eu vou tentar ensinar-lhe.

- Se eu não aprendi até hoje eu não aprendo mais...

- Olha a lógica espúria... Sabe, eu tenho uma teoria de que a matemática enquanto lógica é a matéria mais fácil que existe.Todo mundo que não tenha problemas mentais, pode aprender os rudimentos da matemática pelo menos. Todo ser humano é dotado de raciocínio, de senso lógico. Aprender o básico não é difícil. O difícil é ter um grande talento na área, aprender o mínimo é apenas uma questão de paciência. Aprender a ser veloz nas respostas nas ciências exatas é muito mais difícil. Existe esse “auê” todo em cima da matemática porque causa do valor que dão a ela. Diga-me com sinceridade, o quê que você sabe de História do Brasil e do Mundo em seus avanços e recuos que não seja mera oficialidade?

Cláudio permaneceu mudo, contemplando o mestre num misto de admiração, carinho e estupefação.

- Garanto-lhe que você sabe muito mais matemática do que História realmente...

Cláudio ligou para a mãe dizendo que estudaria até tarde na casa de um amigo e que lá dormiria. Fingiu que estudava enquanto Alberto lia um pouco e quando já morto de sono, se aproximou do amante professor, este lhe pediu que prestasse atenção em Clarice Lispector que estava lendo:

-“Não se pode dar uma prova da existência daquilo que é mais verdadeiro. O único jeito é acreditar. E acreditar, chorando.”

- Eu acredito nos seus teoremas. Então, não me peça para prová-los!... - observou Cláudio, ferino. Alberto sorriu e ainda que concordasse em dar por encerrado os estudos daquela noite, não dormiu com o rapaz sem antes lembrá-lo de que no dia seguinte este teria que estudar para valer mesmo, pois a prova seria no dia posterior.

Na noite seguinte, quando Cláudio enfureceu-se jogando os cadernos para o alto com um repentino e dorido “Eu desisto!”, Alberto pressentiu que aquela noite lhe traria inusitados problemas.

- Eu desisto. Por favor, Alberto não me faça me violentar desse jeito! É você quem vai dar a prova não é? Pois então, resolva as questões pra mim, eu faço uma cola e dou um jeito amanhã...

- Você não está falando sério, está?

- Mas fofura, será que é tudo fingimento? Será que você não gosta nem um pouquinho de mim?

Alberto ficou atônito, tentando escolher as palavras que possibilitariam uma melhor resposta. Era como se naquele momento as pedras de um quebra-cabeça se encaixassem inteiramente. Com esforço e uma raiva que procurava, mas não conseguia controlar, ele se expressou dolorosamente:

- Cláudio, você está confundindo as coisas! O nosso relacionamento está apenas começando. Eu sinto bastante ternura por você, mas nem que eu já estivesse morrendo de amores e tesão, eu iria fazer uma coisa dessas! Isto é injusto para com todos, para dizer o mínimo!Será que você entende?

Cláudio espantou-se com a veemência do companheiro e engoliu em seco as palavras desferidas. Tomou um pouco de fôlego e atacou o parceiro:

- Eu agora entendo muito bem. Você não gosta nem um pouco de mim. O que você queria era carne fresca! O que você pretendia era me tratar como àqueles franguinhos das calçadas que se vendem por quaisquer dois tostões, você pega, esfrega, nega e manda embora! Pois antes que você tome uma atitude, eu me adianto!

Alberto não se moveu um passo sequer até que Cláudio arrumasse as suas coisas e saísse batendo a porta. Apenas as paredes ouviram o desabafo do professor:

- Hoje é que se verificou o que eu temia, o que eu desconfiava... Por que eu não me ouvi mais atentamente e fui dar um voto de confiança... Não, na realidade eu não dei nem um crédito, foi o meu desejo que tomou a dianteira!...

Na manhã seguinte, durante a prova, sob o olhar vigilante do mestre, Cláudio ainda analisou a hipótese de um vislumbre no resultado dos esforços alheios. Entretanto, ciente dos cuidados do mestre e em dúvida quanto aos resultados do tratamento de choque que tentou impingir-lhe na véspera (em consideração aos momentos vividos o professor faria vista grossa diante da ousadia?), o atrevido e especial inimigo das equações, teoremas, postulados e similares, resignou-se a responder apenas o que sabia. Como os avanços obtidos nos últimos dias foram insuficientes para o grau de aprovação desejado, Alberto comunicou-lhe e a alguns outros mas poucos colegas que ainda não era desta vez que estariam aprovados.

Como de costume, o professor marcou mais uma prova chance para os retardatários da classe. Ele as daria até quando fosse possível, mas os alunos teriam de satisfazer os requisitos mínimos de aprovação. Alberto diante da sua nota dois e dos novos fatos, vociferou:

- O que você está querendo é nos torturar aos pouquinhos. Você é um sádico! – e saiu da classe, deixando uma turma estupefata e um professor boquiaberto diante da ousadia.

À tarde, durante as aulas de outra turma, em que o calendário de provas ainda estava atrasado, o professor foi chamado repentinamente, com urgência, à diretoria.

- Por favor, dispense a turma agora professor. Temos um assunto muito sério a tratar – disse enérgica, uma diretora sem nenhum travo de humor. Muito pelo contrário.

No gabinete da diretoria, Alberto foi surpreendido com a presença de um pai e uma mãe indignados. A diretora tomou a iniciativa:

- Professor Alberto, esses são os pais de Cláudio. Eles vieram nos fazer uma denúncia séria, que se for realmente confirmada, sem dúvida compromete o trabalho que viemos desenvolvendo todos esses anos para elevar o nome do nosso colégio como uma instituição de inalienável correção e insuspeita probidade no labor educativo.

Alberto, apesar de já há um bom tempo temer e prever que momentos como aquele chegariam, substituiu os calafrios que imaginava para situações como essa, por um inusitado espírito quixotesco, irrompendo uma força que ele desconhecia que pudesse ser uma de suas componentes. Encarou os pais com veemência:

- Eu gostaria de saber de-ta-lh-da-men-te o que Cláudio lhes contou...

A mãe tentou iniciar a inquisição. As palavras colidiram uma nas outras. O pai a interrompeu e deu início aos queixumes:

- Se estivéssemos em outro lugar, distante dessas senhoras, o que o senhor teria era umas boas porradas....

- Vicente, por favor. Não vá se exaltar aqui – desesperou-se a mulher.

- Pode deixar que eu sei me controlar Doris. Esse cavalheiro é um professor, não? Eu vou me comportar a altura, se bem que no nível em que ele está acostumado a se arrastar, isto não é problema, é fácil igualar, mas vou superar...

- Por favor, meu senhor. Eu dispenso a infâmia. Eu quero saber o que o Cláudio contou!

- Ele contou tudo. Como o senhor lhe ofereceu carona, levou-o para o seu apartamento e o seduziu. Será que eu vou ter de entrar em detalhes, seu crápula?

- Que mais ele contou?

- Como é que um garoto pode ter cabeça para ir bem numa prova se nos dias anteriores fica até altas horas da noite namorando quem, o professor?! Sra. Diretora Cristina um professor tão rasteiro não tem moral para reprovar meu filho!

- Senhor, eu dou-lhe a minha palavra que os fatos foram desvirtuados. As coisas não aconteceram assim. O seu filho infelizmente, é que de modo bem malandro procurou se aproximar de mim, com segundas intenções.

- O senhor nega então que tenha...

Vicente se atrapalha, sem saber ao certo com que palavras referir-se à relação sexual diante das duas mulheres. Alberto tomou a palavra, de certa forma aliviando o pai.

- Não. Eu não nego que sexo tenha acontecido. Mas isso é de menor importância. O que é grave mesmo é que o Cláudio tentou utilizar o nosso relacionamento para conseguir favores especiais na prova. Frustrado porque eu me recusei, ele me aprontou essa arapuca!

- O senhor seduz um jovem menor de idade e ainda diz que caiu numa cilada? É uma piada!

- Mas meu senhor, lamento informar se vossa senhoria não sabe, mas o seu filho tem mais cancha de vida homossexual aos dezessete anos (que não é pouca idade) do que eu tinha quando faltava pouco para atingir os vinte e cinco anos...

A mãe que se controlava, mordendo os lábios durante toda a refrega, resolveu intervir:

- Isso é um acinte! O senhor não tem direito de depois de tudo o que fez, ainda injuriar, caluniar o nosso filho. O senhor é muito mais repugnante e vil do que nós supúnhamos... Vicente, vamos embora! A conversa aqui só pode descer ainda mais a níveis mais baixos e intoleráveis. Senhora Diretora, eu só espero que saiba punir de modo exemplar esse canalha. Tem mais um detalhe: nós exigimos a imediata aprovação do nosso filho neste semestre. Caso contrário, seremos obrigados a apelar aos nossos advogados contra esse colégio particular! Vamos Vicente!

Tão logo os possessos pais se retiraram, a diretora pulverizou o professor como pode:

- O senhor percebe em que nível comprometeu o nosso colégio, com esses vícios particulares?

- Sra. Diretora, a esses pais atônitos eu posso compreender e perdoar até certo ponto a arrogância. Mas à senhora não! Pois ex-professora de literatura dever ser bem mais informada. O que eu afirmei aqui é a mais pura verdade! Resta a vocês acreditar ou não. A senhora já conversou com o jovem?

- Sim. Ele me contou exatamente o que os pais contaram, A pedido dos pais eu o dispensei. Eles não querem que o senhor o veja nunca mais. Eu lamento, mas não vejo outra saída! O senhor terá de procurar outro colégio! O nosso colégio procura ser moderno, atuante, mas tem certos limites!

Quando nas aulas seguintes o professor avisou às suas turmas que estava de partida, o desapontamento dos jovens e moças foi quase unânime. Restava-lhe ainda dar as últimas provas chances, chamar a atenção das turmas para alguns tópicos que seriam mais desenvolvidos por outro professor no segundo semestre e pronto, estaria livre para deixá-los.

No último dia de contacto com os alunos, ao preparar-se para ir para casa, o professor deparou-se com uma imprevista carona. Jorge o esperava diante do carro e gostaria de falar-lhe exatamente sobre Cláudio. Com Alberto ouvindo atento os ruídos do trânsito e prestando bastante atenção ao que Jorge dizia, os dois percorreram os intricados meandros, relacionados tanto às ruas abarrotadas da hora do rush como à vertigem dos fatos recentes.

- O Cláudio ligou-me e as coisas que ele fez questão de me contar, se eu o conheço bem, não aconteceram como ele disse. O senhor foi despedido por causa dele, não foi?

Alberto inicialmente regozijou-se por ter confirmado outra suspeita que tinha mas que até então não tinha absoluta certeza. Pois não é que Jorge também era homossexual? Por mais cuidado que este tivesse tomado diante dos colegas, sempre distante da agressividade e ironias peculiares que a metralhadora giratória de Cláudio desferia, este rapaz sempre chamou a atenção do mestre pela suave beleza e delicadeza no trato com todos. Professor e aluno já diversas vezes tinham discutido os enigmáticos passos de demonstrações de teoremas depois das aulas, com a classe vazia. Os dois já borrifaram bastante o quadro-negro com as borbulhantes e delirantes fórmulas. Mas o profissionalismo da relação sempre prevaleceu sob qualquer evolução da aragem erótica que pudesse pairar sob os dois. Em algumas ocasiões, mestre e discípulo quase que abandonaram um detalhe que imperrava a resolução de um problema e se tocaram, pelo menos mentalmente, num instante fulgás, logo derrotado por uma lógica implacável que os fazia pousar os pés no chão de tal modo que a dança geométrica dos números sobrepujava os passos imprevisíveis sob a batuta de Eros.

- Sim, ele me criou um imbróglio indestrinçável, um nó górdio difícil, senão impossível de desatar...

- A maneira, o sarcasmo de triunfo, vingança com que ele contou os fatos ao telefone me chocaram. Ele deve ter lhe procurado professor, premeditadamente...

A Jorge, Cláudio relatara exatamente o que contara para os pais, omitindo a proposta que fez ao mestre sobre a cola.Alberto e novo pupilo juntaram todos os detalhes que conheciam do caso e antecedentes e o engodo do qual o professor foi vítima teve as suas causas detectadas de modo eficaz. Mas de que lhes serviria essa eficácia? Como juntar os argumentos e provar esse irônico teorema que o destino propôs? A menos que Cláudio resolvesse desfazer o equívoco, nada poderia ser feito. Jorge, no entanto iluminou-se de repente e afirmou que sabia de algo que poderia remediar os fatos:

- É melhor você ficar fora disso professor, mas eu sei bem o que eu vou fazer amanhã!

Alberto manifestou certo receio. Jorge pediu-lhe que tivesse confiança nele.

Exaustivamente Jorge percorreu todas as classes, interrompendo as aulas e pedindo que os alunos participassem de um abaixo assinado em defesa da permanência do professor Alberto que estava sendo demitido injustamente por razões levianas. Aos que insistiam em saber que razões eram essas, Jorge lhes adiantava que a calúnia era tão degradante que não convinha espalhá-la. Quando os espíritos o ameaçavam com a sua irredutibilidade, Jorge lembrou-lhes as qualidades do professor:

- Comparem a qualidade dos professores de matemática que tínhamos antes com a do professor Alberto. Não melhorou cem por cento? Vocês põem em dúvida a honestidade do nosso professor?

Um colega mais cético lembrou que um abaixo-assinado apenas, provavelmente não intimidaria a diretoria. Discutiu-se então a idéia de incluir ameaça de greve caso o pedido não fosse atendido imediatamente. E tal foi feito.

A diretora com receio de repercussão de uma greve no Colégio sensibilizou-se com o documento e sustou a demissão. Não seria dessa vez que o professor deixaria de tiranizar os alunos com seus teoremas.

O novo semestre iniciou-se sob o protesto do Sr. Barreto. Indignado com a permanência do professor, transferiu o seu filho para outro colégio “não permissivo” conforme escreveu na irada carta que enviou à diretora.

Para o professor Alberto o semestre começou sob o signo do prestígio. Além de sentir as suas aulas cada vez renderem mais, o fantasma da solidão já há um mês havia sido exorcizado. Com o máximo de cautela, Jorge e Alberto encontravam-se sempre que podiam e agora não só namoravam os números como se enamoravam coroando toda demonstração com beijos concêntricos, abraços hiperbólicos, paus ora côncavos ora convexos e carinhos infinitos.

O vértice perverso do triangulo infelizmente, não demorou a aparecer. Nem um mês decorreu no novo período e o professor teve sua aula interrompida pela diretora que o chamava e ao aluno Jorge para irem urgente à sua sala. No caminho Cristina não se continha e os tiques nervosos ampliavam-se:

- Desta vez as providências que vou tomar são mais sérias professor. Isso não vai ficar impune como da outra vez! Se fossem outros tempos, o senhor já teria ingerido cicuta...

Na diretoria, os aguardava o casal Rodrigues, os tios de Jorge. Longe de representar a arrogância e frieza do casal Barreto, nos dois semblantes prevalecia a palidez própria do espanto e da incredulidade. Cristina deu inicio a nova inquisição:

- Prof. Alberto, estes são os tios de Jorge. Eles receberam esta carta anônima que eu vou ler pra vocês ...

Jorge envergonhou-se e evitou encarar os tios com quem morava. Alberto tentou manter a fleuma do ultimo interrogatório. Mas a sisudez, compenetração e contido sofrimento dos tios o desconcertou.

Eis a carta lacônica, mas cortante enviada, que deve ter sido bem trabalhada para disfarçar a identidade do emissor:

-“Vocês precisam cuidar mais do sobrinho que lhes confiaram. Enquanto vocês estão em casa tranqüilos, crentes de cumprirem com suas obrigações, Jorge há mais de um mês freqüenta a casa de seu professor onde relações aberrantes e impublicáveis tornaram-se rotina. Salvem o rapaz enquanto é tempo!”

- Pelo que posso deduzir o senhor voltou à carga, não é professor? – ironizou Cristina.

- Meu filho por que você foi aprontar uma coisa dessas conosco? Sua mãe, viúva, morando no interior com os quatro irmãos menores nos pediu tantos cuidados! Por que você foi nos decepcionar desse jeito? Por acaso, deixamos lhe faltar alguma coisa? – foram perguntas de uma atormentada senhora que fez o sobrinho controlar-se o mais que pode para segurar o inevitável pranto.

- Eu não sei se vocês vão ter estrutura para entender certas coisas. De qualquer modo aqui não é o lugar ideal para eu tentar explicar-lhes – respondeu o desgarrado sobrinho. Alberto tomou a defensiva:

- D. Cristina, a senhora não pode levar em conta uma covarde e malévola carta anônima como essa! ... Minha vida particular não pode ser violentada dessa maneira!

- O senhor, Prof. Alberto, pode agora inventariar milhares de defesas. Esse jovem pode até jurar que o senhor nenhum mal lhe fez. Eu lamento Sr. Olavo e D. Jussara, mas o sobrinho de vocês já nos causou problemas desde o semestre passado. Ele agitou essa escola com seus panfletos, mas agora eu sei como agir. Vou convocar uma reunião extraordinária de pais e mestres e nós saberemos que providências tomar. Os alunos não se deixarão levar por esse inconveniente professor e esse aluno que ele orienta, ou melhor, desorienta. Cuidem bem da integridade do sobrinho que voces têm que eu saberei preservar a nossa escola das ervas daninhas!

E assim se fez. A diretora organizou bem rápido uma reunião, alertou os pais e professores para o problema e quando Alberto foi despedido, o número de assinaturas colhidas teimosamente por Jorge foi irrisório.

Jorge foi transferido de colégio. Foi uma iniciativa mais sua do que dos tios. Para ele o clima na antiga escola tornou-se irrespirável. Com relação aos tios, se antes o relacionamento era reservado, leve, diplomático, agora se tornou o mais rarefeito possível. A diplomacia tornou-se mais evasiva como se fossem estranhos. E eram mesmo. O que eles tentavam descobrir, mas não obtinham sucesso é se Jorge esquecera o professor e o evitava de fato.

Não. Jorge continuava a ver o seu querido professor e em todos os níveis. De forma capenga, contando os trocados, Alberto foi sobrevivendo com as aulas particulares que arrumava e com as que Jorge mesmo lhe conseguia, pois a turma no seu novo colégio andava penando com um tirano professor de matemática e estavam todos doidos para vê-lo pelas costas. Os poucos alunos que travavam contato com Alberto se encantavam com a sua paciência e didática. Quando nos momentos em que todos discutiam as inquietações do vestibular, que carreira seguir e Alberto lembrava-lhes que se pudesse voltar atrás escolheria uma carreira divergente das exatas, os alunos se inquietavam:

- Mas como, logo o senhor que sabe tanta matemática assim – diziam quase em coro.

Jorge sorria por dentro, pois já conhecia as posições do companheiro. Alberto procurou não confundi-los ainda mais quanto à carreira a seguir.

- Olha pessoal nem tanta matemática assim eu sei. Eu conheço apenas os fundamentos. Quem quiser realmente aprender essa matéria a fundo, ainda tem muitas fórmulas e teoremas pela frente. Além do mais a matemática que eu ensino é o que menos pesa. O mais difícil é encontrar o tom exato, a maneira mais apropriada de ensinar, o caminho mais refratário ao tédio dos alunos. Quer arte mais inexata, fluida e escorregadia do que essa, a de ensinar? Esses professores de rotina mais torturam do que ensinam os seus alunos. Para eles o poder que detém sobre alunos é mais forte que qualquer paixão pela matéria. Deveriam procurar outra profissão...

A fala de Alberto foi suficiente para que uma lâmpada de maior potência acendesse na vertiginosa mente de Jorge. Manteve-se em silêncio e prometeu-se só chamar a atenção do companheiro quando e se o estratagema que engendrou fosse bem sucedido.

Com a experiência adquirida na “revolução” anterior, Jorge percorreu todas as salas da nova escola, conclamando todos “os humilhados e ofendidos da matemática” a pedirem a demissão sumária do professor que os tiranizava e a contratação imediata de um mestre cujo maior prazer fosse o aproveitamento real por eles manifestado e não o temor que lhes inspirava.

Quando o diretor do colégio diante do colossal documento, com um mínimo de abstenção, objetou – mas onde é que eu vou arrumar um professor que realmente os satisfaça, sem prejuízo do semestre letivo? – os alunos que acompanhavam Jorge à diretoria, em uníssono responderam:

- Nós conhecemos um professor particular excelente que gostaria deste emprego!

Nem três semanas se passou desde a surpreendente substituição, com Alberto ainda confundindo o nome de alguns de seus novos alunos e sua aula foi interrompida por um chamado urgente do diretor Nicolau à sua sala, onde o esperavam certas pessoas. Um problema trivial? Ou uma equação transcendental a exigir parâmetros mais consistentes? E por que não dizer humanos. E nada menos matemático que os corações humanos...

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Nelson Rodrigues de Souza