terça-feira, 31 de março de 2009

Clint Eastwood Compactuando com o Mistério



Numa de suas máximas deliciosas e penetrantes, Domingos Oliveira declarou: “Para se fazer arte, tem que se compactuar com o Mistério”. Acredito que também o espectador/leitor/ouvinte para apreciar arte de uma forma mais profunda, tem de fazer este pacto também. Pra mim estas idéias explicam porque a arte é muitas vezes “maior” do que o artista. Ou então o porquê de, em contacto com a arte, tornarmo-nos “maiores”.

São incontáveis os exemplos de artistas na História da Arte que em alguns momentos de sua existência nos decepcionaram bastante, num “humano muito demasiadamente humano”. Salvador Dali criou um mundo pictórico onírico surreal magistral e, no entanto, foi capaz de apoiar o franquismo. Elia Kazan é um dos maiores cineastas em qualquer tempo. Pressionado pela Comissão de Atividades Anti-Americanas, no auge do macartismo, entregou colegas como comunistas. Isto não impediu que um artista que já havia feito vários filmes extraordinários antes como “Uma Rua Chamada Pecado” (1951), continuasse com obras magníficas depois como “Sindicato dos Ladrões” (1954), incontornável em qualquer lista dos grandes filmes de todos os tempos, obra que sintomaticamente cria uma situação de corrupção em que a saída honrosa é entregar os colegas corruptos. Estamos no terreno de uma das catarses artisticamente mais elaboradas e produtivas.

Jorge Luis Borges (um dos muitos injustiçados pelo Nobel) foi capaz de aceitar uma comenda da junta militar argentina assassina. Na visão que Luchino Visconti nos passa de Wagner em “Ludwig, Paixão de Um Rei”, vemos o extraordinário compositor de “obras de arte totais”, extremamente egoísta, preocupado apenas em que seu teatro exclusivo para suas óperas seja construído, sem dar a mínima para o processo de autodestruição em que seu mecenas Ludwig da Baviera está encalacrado, com omissão em relação às intrigas e complôs palacianos para derrubar quem dilapida o patrimônio do Estado com suas fantasias arquitetônicas.

Estas e outras histórias me fazem crer ainda mais na máxima de Domingos. A arte tem componentes misteriosos tais que colocam quem a produz num processo de “loucura sobre controle” em que elementos mágicos se fazem presentes e o resultado pode transcender a humanidade básica de quem a cria. Neste sentido a trajetória de Clint Eastwood , hoje sem nenhum favor, um dos dois ou três maiores cineastas americanos vivos, é bastante exemplar.

Nos westerns spaghetti que Eastwood fez com Sérgio Leone no início da carreira ( “Por Um Punhado de Dólares”-1964), “Por uns Dólares a Mais”-1965), “Três Homens em Conflito”-1966) nos deparamos com muita violência, mas não há nenhuma exaltação de heroísmos e sim uma visão lúcida (e plasticamente deslumbrante) dos embates que os pioneiros tinham para sobreviver e o clima contagiante de ganância e egoísmo instaurado, num universo sem leis.

Já em “Magnum 44” (EUA/1973) de Ted Post com o detetive “Dirty” Harry Callahan ( vivido por Clint) temos um dos filmes mais fascistas já feitos, com Harry justiçando seus inimigos, sem contradições, com notável desprezo pela morte deles.Confesso que depois desta experiência não tive ânimo de assistir nenhuma outra aventura mais deste detetive que fez história, para avaliar o “índice de fascismo” que elas contivessem.

Mas já na sua primeira direção, “Play Misty For Me/Perversa Paixão” (1971), Eastwood mostrava notável senso cinematográfico, ao narrar a história de uma mulher que persegue patologicamente um radialista. O desenvolvimento da obra se dá com sensibilidade e atraente clima crescentemente nervoso. A consagração inicial internacional mesmo se daria com “Bird” ( 1988), cinebiografia primorosa de Charlie Parker e se ampliaria com o renovador western “Os Imperdoáveis” em que ao seu modo coloca tudo que aprendeu com os clássicos do cinema e com sua experiências com Don Siegel ( com quem fez o belíssimo “O Estranho que Nos Amamos”) e Leone.

“Os Imperdoáveis” soa como um canto de cisne do heroísmo que se exaure na consciência culpada dos banhos de sangue do passado e que retornam para justiçar prostitutas barbaramente violentadas. Mas estamos aqui longe das certezas funestas de um “Dirty” Harry” e se há heroísmo aqui ele não ocorre sem perdas, dor e indecisões, com atitudes que não são previsíveis e se dão em embates que colhem o protagonista numa trajetória errática.

Claro que com o tempo, sempre surpreendendo com grandes filmes, o homem Eastwood foi crescendo como ser humano. Mas sem querer ressuscitar aqui as patrulhas ideológicas dos anos 70, ainda há no percurso como cidadão de Eastwood, elementos que intrigam e perturbam. E muito. Eleito em 8 de abril de 1986, foi prefeito de Carmel, cidade litorânea da Califórnia, pelo Partido Republicano ao qual é filiado desde 1951.Ajudou na campanha de Richard Nixon em 1968. Foi eleitor de Arnold Schwarzenegger para governador na Califórnia. Mais recentemente, quando não só o EUA como também o planeta entrou numa encruzilhada com a necessidade de escolha entre Barack Obama e John Mccain (e sua abominável vice Sarah Palin), Clint permaneceu fiel ao seu partido. Não que eu seja grande entusiasta de Obama, mas no momento histórico que se apresentou, estava-se escolhendo entre o que poderia trazer esperança de encaminhamento de soluções para o caos instaurado e o que com certeza seria uma versão um pouquinho mais light do que foi o horror da era Bush.

O mais fascinante e misterioso (aqui entra a questão do pacto comentado no início) é que os filmes que Estwood vem fazendo, emulando o estilo dos grandes clássicos americanos, em essência, são altamente transgressivos, não tem vestígios de ideais republicanos. Ocorre justamente o contrário: um implacável diagnóstico de uma America doente em que não há mais espaço para heróis redentores triviais e o que se vê são iniciativas individuais movidas muito mais pelo senso de dignidade humana do que por qualquer ideal que venha de um superego patriótico antenado com o país. Assim temos o treinador de boxe Frank Dunn (Clint) de “Menina de Ouro” que pratica eutanásia e desaparece; a telefonista obstinada Christine Collins (Angelina Jolie) do emocionante “A Troca”, que jamais desiste de procurar o filho que desapareceu e a polícia finge que encontrou (baseado numa história real) e o já antológico Walt Kolwaski ( Clint) do seu último trabalho “Gran Torino”(EUA/ 2008) em cartaz, dentre vários personagens significativos de uma visão de mundo que conflita com o que se tem observado como ideais nas eras republicanas nefastas que os EUA viveu e seus impactos no mundo. São todos personagens desviantes que tem uma crença/ética bastante pessoal e agem de acordo com ela. Mas onde em “Dirty” Harry havia o fascismo absolutista de quem acredita na sua função higienizadora (como Reagan, Nixon, Bush pai e filho, dentre outros), agora temos personagens altamente complexos, contraditórios, humanos no melhor sentido da palavra.

A rigor se mergulharmos na obra de Eastwood (e comento isto tendo ainda perdido alguns de seus filmes) vamos nos deparar tanto com elementos que serão uma grande pedra no caminho de Obama pelas complexidades captadas em jogo numa sociedade, que não são nada fáceis de se resolver, como também apontam para a fraqueza de MacCain, dado que num quadro mundial delicadíssimo, tendia, se eleito, a reciclar, atenuar apenas o status vigente, mantendo posturas nocivas e belicistas, criando um cenário dantesco em que mergulharíamos e que nos lembra o verso: ”Vós que entrais, renunciai a toda esperança”.

A contundência com que Eastwood inventaria várias facetas da perversidade humana em seus filmes (como Roman Polanski num outro estilo) e encara a morte de frente ( “Sobre Meninos e Lobos” e “À Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal” são dois outros exemplos bastante significativos nestes sentidos) e as saídas suis generis ( quando são encontradas) destes impasses que se dão de forma acutilante, nos revelam um país de injustiças atávicas e dilemas éticos agudos que só a consciência individual torturada, passando por “provações no labirinto” terá a chance de remediar. Em “À Meia Noite....” o único personagem que passa a ter uma consciência abrangente do estado das coisas que disfarçam um assassinato não solucionado é uma negra homeless envolvida em estigmatizadas feitiçarias.

Os republicanos não tiveram nem instinto de preservação do próprio partido ao não moverem uma palha sequer para que houvesse o necessário impeachment de Bush por ter mentido tanto, um grande criminoso de guerra que deveria/deve ser julgado (conforme ressaltou Harold Pinter ao receber o Nobel de Literatura num discurso enviado) que colocou o país numa das enrascadas mais fortes de sua História. Seria impensável que republicanos omissos assim, caudatários de uma das maiores infâmias da História, tivessem a visão generosa em direção ao entendimento das razões que movem os movimentos dos outros (os japoneses na Segunda Guerra Mundial), como Eastwood apresentou em sua obra-prima “Cartas de Iwo-Jima”. Em “Gran Torino” encontramos paralelos com esta saudável atitude na aproximação com o diferente.

Em “Gran Torino”, Walt Kowalski é o “estranho com nome”, veterano da guerra da Coréia, aposentado e que foi metalúrgico da Ford em Detroit nos seus áureos tempos, antes destas crises homéricas atuais que as indústrias automobilísticas enfrentam. Após a perda da mulher, não havendo afinidades como os filhos e netos, mora sozinho numa casa de um bairro decadente, com sua cachorra Dayse, uma bandeira dos EUA içada em sua porta e a rejuvenescedora e melancólica companhia de um bem conservado e lustrado carro Gran Torino de 1972, símbolo de uma era de prosperidade que se esvaiu.

Na vizinhança de Walt mora famílias de hmongs, um povo que foi espalhado entre a China, Tailândia e Laos, apoiou os EUA na Guerra do Vietnã e com a vitória dos vietcongs comunistas passaram a ser atacados e alguns conseguiram refúgio nos EUA.

A princípio ostensivamente refratário a seus vizinhos, trocando ofensas, Walt em sua solidão atroz, preocupado com invasões aos limites de seu jardim, algo que se agrava quando passa a ter certeza de que os filhos/netos só querem saber de sua herança ( chegam a uma tentativa de interná-lo num asilo “chic” ), acaba descobrindo o convívio com os “chineses” que moram perto.Theo (Bee Vang) tem um primo numa das gangues que infestam o lugar, que o obriga a tentar roubar o Gran Torino, o que redunda em fracasso. Walt a princípio raivoso passa a ser uma espécie de mentor de Theo. Desenvolve também amizade com a irmã do rapaz, Sue (Ahney Her). Um jovem padre quer que ele se confesse conforme pedido da falecida esposa, mas Walt o taxa como um homem virgem sem experiências do que seria a vida concreta, repelindo-o. Sem nem mesmo o Deus cristão fazendo companhia a ele, Walt procura por vestígios de outra cultura, que chegam também na forma de presentes rituais que ele a princípio estranha, mas acaba aceitando.

A história a primeira vista tem elementos que soam como clichês. Assim como no estupendo “A Troca” há momentos em que pensamos que o diretor se perdeu e divaga. Engano. O que Clint faz é semear um clima mais expositivo para reforçar a narrativa, adubando, para melhor colher os grandes impasses dramáticos que virão depois. E neste sentido ambos os filmes, cada um ao seu modo, são impactantes e sublimes.

Por uma reação de Walt ao modo tradicional a uma agressão que Theo sofre, uma ciranda de violência se instaura e a gangue será uma ameaça onipresente à comunidade hmong. Walt se envolve numa batalha interior que implica em sacrifício quase que ritual. A forma em que isto se dá representa um rompimento total com a ética de um “Dirty” Harry, sujeito contaminado pelo “olho por olho, dente por dente”.

Gran Torino tem como outros filmes de Clint um “molde” extraordinariamente clássico ( não é á toa que o emblema da WB surge no início, “como nos velhos tempos”, o que ele também fez em “A Troca”). Mas não há o menor cheiro de naftalina no ar e sim comunhão com aspectos grandiosos de uma narrativa já sedimentados pela História do Cinema e que são usados para comentar o nosso mundo com uma agudeza muito pouco vista. No final de “A Troca” Clint chega ao requinte de fazer uma homenagem bem explícita a "Aconteceu Naquela Noite", uma obra de Frank Capra e ao que ela tem de emblemática de uma tradição cinematográfica a ser cultuada, embora em termos de “conteúdos” não haja nada mais distante de Clint do que Frank. O primeiro corrói uma sociedade para revelar suas arapucas camufladas. O segundo procura ver sempre o lado positivo, com uma poética doce na medida para não enjoar.

Clint Estwood recebeu uma merecida Palma de Ouro pela carreira este ano. O homem às vezes nos decepciona , quando, por exemplo, sintomaticamente, num tom de brincadeira revelador, diz a Michael Moore num jantar do National Board Review, que o mataria se este tentasse fazer com ele uma entrevista com câmera como a que Moore fez com Charlton Heston, amigo lobista de armas de Clint, segundo NewsMax.com Staff, janeiro de 2005.Mas se tais restrições acontecem, o artista é um dos mais admiráveis e profícuos do Cinema, completando 79 anos em 31 de maio de 2009, dirigindo quase 30 filmes e atuando em mais de 50.

“Gran Torino” é mais um mistério gestado para a tela pelo mago Eastwood que se é um conservador politicamente, em sua obra tem sido um dos mais subversivos, um daqueles (como Martim Scorsese, os Irmãos Coen) que mergulha sem medo nas vísceras secretas comprometidas que a sociedade dos homens tenta escamotear.

Para Fellini ir ao cinema é como participar de um ritual religioso. Vá ver “Gran Torino” na tela grande e comungue com todos os presentes a experiência de ver Clint engrandecido pelos mistérios da arte, suas zonas de sombras e por que não, de luzes também, pois o filme tem um dos finais mais tristes e paradoxalmente mais esperançosos que o cinema já construiu. Esta dolorosa ambigüidade também se torna presente em “A Troca”, confirmando Eastwood com um dos mestres do cinema contemporâneo.

Nelson Rodrigues de Souza

segunda-feira, 30 de março de 2009

O Choque da Desordem Oficial- “C'est arrivé près de chez vous”



Uma imagem vale mais do que mil palavras. Tente dizer isto sem palavras...” Ok! Mas há ocasiões especiais em que uma imagem ganha uma conotação tal que realmente vale mais do que mil palavras. É o caso da foto da Revista Carta Capital de 1 de abril de 2009, Nº 539, publicada em “Retratos Brasileiros”, com foto de André Teixeira, O Globo, sobre um flagrante de conflitos entre policiais e bandidos no Rio de Janeiro, exposta acima, que resume à perfeição como violência oficial sem limites e pudor, num extremo desnecessário e delituoso, por exorbitarem de suas funções, pode gerar ódio e violência, numa espiral de vingança infinita.  Depois ainda tem gente que acredita que José Padilha exagerou em “Tropa de Elite”...

Na segunda feira, 23 de março, traficantes em fuga da Ladeira dos Tabajaras invadida por bandidos da Rocinha desde sábado (o que se comenta é que querem ficar mais próximos de seus clientes, talvez, quem sabe, por poder economizar no “salário” dos “aviões”...), espalharam pânico pela Zona Sul do Rio de Janeiro, com conflitos em Copacabana, Fonte da Saudade (Lagoa) e no Humaitá, onde moro.O saldo foi cinco criminosos mortos e cinco feridos em conflitos com a PM. Houve troca de tiros de 30 bandidos com a PM na Rua Casuarina na Fonte da Saudade (perto de casa também) e no Humaitá cinco funcionários de uma obra foram feitos reféns e depois libertados após intervenção do comandante do 23º BMP do Leblon. Um vigia no Humaitá foi baleado. No início da noite um tiroteio na esquina da Santa Clara com Toneleros levou pânico em Copacabana. Li tudo isto em O Globo de 24 de março, terça feira. O comentário vem de conversas com as pessoas comuns como eu...-

A pergunta que não pode calar: E AS BALAS PERDIDAS? Podemos nós, cidadãos comuns, termos nossas vidas colocadas seriamente em risco, sermos baleados por este conflito como se fizesse parte da ordem natural das coisas? Até quando o Presidente, o Ministro da Justiça, o Ministro da Defesa, nosso Governador, nosso Prefeito, nosso Secretário de Segurança, Oficiais da PM, vão colocar impunemente nossas vidas em risco nesta guerra civil que o Rio enfrenta, a qual chegou até a assustar um membro da SWAT americana de Armas e Táticas Especiais? Construir muros em torno das favelas para que elas não cresçam e matas sejam preservadas, não é como tirar o sofá da sala para que os namorados não transem?

Deus existe e gosta muito de mim! No dia de maior confusão que foi a segunda-feira estava totalmente envolvido com o post sobre letras/poemas de MPB e não li nada na Internet, não vi televisão, não sai de casa, fui dormir tarde e só soube do que aconteceu pela manhã de terça-feira ao ler O Globo. Alguns destes conflitos ocorreram bem perto de casa. A foto da Carta Capital se refere a uma rua a três minutos daqui onde escrevo. 

Francamente, dado o quadro político brasileiro atual e a questão de segurança mínima que nós temos na cidade, não seria exagero dizer que: “Nossa Política seria um caso de Polícia se a nossa Polícia não fosse um descaso da Política...Elas, para nossa desgraça,  se merecem”

 

Nelson Rodrigues de Souza.

sábado, 28 de março de 2009

Mamãe Patroa- Um Conto


Mamãe Patroa


Crie corvos e eles comerão os seus olhos.
ditado espanhol

Lá está mamãe recostada no sofá com os olhos pregados na televisão. Meus dois irmãos montam o quebra-cabeça de 200 peças sobre o tapete quadriculado. Papai como de costume viaja a negócios. Eu estou aqui sozinha lavando a louça, vislumbrando-os na sala por uma generosa fresta na porta. Há pouco acabamos o jantar e eu mesmo sem mamãe mandar me dispus a esta tarefa, pressentindo no seu olhar o que ela queria. Ah! Mas enquanto a esponja embriagada de detergente desliza pelos pratos sujos minha mente divaga. Está a quilômetros de distância daqui que é Belém do Pará...

Ah! Que saudades da Ilha de Marajó! Quanta coisa deve ter acontecido desde que saí de lá, pequenina. Lembro-me como se fosse hoje: minha mãe fez-me despedir dos meus oitos irmãozinhos todos em fila (do maior ao menor, formando uma escadinha) e apresentou-me a mamãe e papai, dizendo-me para ir com eles. Eu desatei a chorar, tive vontade de agarrar-me a uma árvore que sombreava a nossa casa, mas depois me recompus dado que a decisão estava tomada e a mãe não era de voltar atrás. Ela me abraçou, beijou e sussurrou-me aos ouvidos: “sua bobinha, lá você vai ter tudo o que não podemos te dar; você vai à escola, vai aprender a ler e escrever, enfim vai ter vida de gente...”

Ah! Como era magnífica a visão dos búfalos dos donos da fazenda a correrem pelas pradarias, soltos, livres, naquelas terras que pareciam nunca mais ter fim. Tinham-me dito que a cidade grande era muito mais bonita, pois sim... Logo que cheguei me levaram para ver o tal de Mercado Ver-o-Peso. A maior parte do dia a água foi embora e os barcos chafurdavam no lodaçal, rodeados de urubus sequiosos de peixes...

Ah! A mãe e os pequenos, que a esta altura estarão bem grandinhos, como estarão? Será que voltarei a vê-los? Um dia eu preparei tudo para fugir. Descobri a hora certa em que partia o barco para a ilha, peguei um dinheirinho que mamãe guardava escondido na penteadeira, enchi a cara de coragem e me dirigi ao porto, disposta a viajar clandestinamente, pois não tinha idade para viajar sozinha. Ah! Eu cheguei lá ofegante, as pernas tremiam, o coração parecia que ia saltar pra fora e fiquei lá no cais, paralisada de medo, observando todos os preparativos para a viagem, as pessoas que embarcavam e só fui embora quando vi a embarcação perder-se no horizonte naquele pôr-do-sol suavemente alaranjado. Voltei pra casa não sei como. Percorri aquelas ruas, entulhadas de mangueiras, feito sonâmbula. Tinha a sensação de que a cidade era uma imensa floresta, as pessoas pareciam-me onças-pintadas, os carros, leões.

Cheguei em casa, que sorte! Estavam todos entretidos com a novela das sete, repus o dinheiro direitinho no lugar e mergulhei na cama do quartinho. Eu mordia o travesseiro com raiva de mim mesma por ter fraquejado. Tive medo de assim como essa torneira que às vezes escangalha e não para mais de derramar água, minhas lágrimas não secassem mais e todos percebessem minha travessura. Meu receio não era de apanhar, a dor maior seria a humilhação. Mas mamãe não ousaria bater-me desta vez. Deve ter aprendido a lição.

Naquele domingo em que eu derrubei sem querer a travessa de macarrão no chão, um pouco antes das visitas chegarem, ela se atreveu a me esbofetear. Eu compreendo que ela estava nervosa, mas ouviu tudo o que estava entalado aqui: disse-lhe que nem que eu fosse sua filha ela deveria me bater assim, que fosse a primeira e a ultima vez!Fora os palavrões que lhe lancei. Eu senti que os meus olhos flamejantes lhe queimaram bastante e ela assustada pôs-se a recolher os cacos espalhados pelo chão e os pedaços de macarrão esparramados, com o sinteco salpicado com o vermelho implacável do molho.

Apesar de tudo eu não lhe quero mal. Eu muitas vezes desejei que ela morresse, isso me angustiava, fazia-me remoer de culpa, mas depois aprendi a conviver com essas minhas fantasias e descobri que este não era meu desejo mais recôndito. Um fato foi decisivo para tal: estávamos eu e ela no ponto de ônibus após uma tarde de compras. Ela tinha comprado até um vestidinho pra mim que eu namorava há tempos. Então despencou uma manga enorme do alto, caindo-lhe na nuca como uma flecha no alvo. Ela desmaiou no ato. Confesso que por alguns centésimos de segundo eu senti um enorme alívio. Era como se uma espinha atravessada na garganta tivesse sido expelida para fora. Ah! Mas esse sentimento de vitória dissipou-se. Eu caí em mim e pensando que ela tivesse morrido abaixei-me diante do seu rosto e beijei-a nem sei quantas vezes, histérica, implorando-lhe que acordasse, que ela não podia fazer isso com a gente, pois nos fazia muita falta. Um senhor disse-me para ficar calma, que não era nada e com álcool obtido numa casa vizinha ela recuperou-se. Daquele dia em diante passamos a percorrer a cidade com os olhos voltados pro céu. As pessoas tinham-nos como malucas.

Depois daquele episódio eu senti que bem ou mal, faço parte desta família, que as pessoas com as quais convivo me são muito preciosas. Eu passei a ver mamãe com outros olhos, a sofrer até por ela, quando a via estirada neste mesmo sofá em que está agora, com lágrimas caindo tímidas dos olhos, pois papai quando chega de viagem, após longa ausência, regala-nos com presentes e depois sai para beber e discutir futebol com os amigos, deixando-a sozinha. Só eu a acompanho na sua solidão quando até mesmo as crianças-irmãs, que eu ajudei a criar, deixam-na também solitária, seduzidas que estão por umas trapalhadas quaisquer que passam aí numa dessas telas.

Um domingo vendo-a tão triste peguei a boneca de pano que eu mesma costurei, improvisei uma cortina numa corda comprida e representei para ela uma história que meu pai não se cansava de contar, nem eu de ouvir, lá na ilha.Enquanto mamãe me ouvia atenciosa e as maçãs do rosto adquiriram novas cores, eu me assustava, pois era como se o espírito de meu pai, que tinha morrido alguns meses antes de eu sair da ilha, estivesse falando por mim. Às vezes penso que sou mais irmã de mamãe do que filha. Já papai não me provoca esta confusão de sentimentos. Ele sempre me tratou bem. Fez questão que eu estudasse nos mesmos colégios para os quais os pequenos iriam mais tarde. Eu é que saí por minha conta. Após aprender a ler e escrever o suficiente eu achei que a escola não tinha mais nada a me acrescentar. Com aquela doença de mamãe eu aproveitei e me desliguei de vez. Hoje me arrependo um pouco, mas também estudar pra quê?

Eu cortei o mal pela raiz! Faculdade mesmo eles não iam me deixar fazer mais tarde, quanto mais me pagar uma! A prioridade é dos meninos... Bem, acho que não estou dizendo toda verdade, papai me confunde e muito. Muitas vezes tenho a impressão de estar apaixonada por ele. Até que é um quase coroa bem enxuto para os seus 45 anos. Mamãe não sabe, mas eu outro dia surpreendi-o ao telefone marcando um encontro com uma tal de Heleninha. No princípio ficou vermelho, sério, mas depois piscou pra mim, eu tentei retribuir e fechei os dois olhos. Rimos muito os dois então. Eu compartilhava agora um segredo com ele. Papai nem sabe, mas daquele dia em diante eu me aliviei bastante de um sentimento de culpa terrível que andava sentindo. Eu já estou bem mocinha e de uns tempos para cá me sinto possuída por uma força incontrolável que me faz observá-lo às espreitas tanto quando toma a sua ducha como quando se troca no quarto. É um belo corpo ainda. Eu antes sentia tontura depois destes meus gestos impulsivos, corria para o quartinho e me cobria para conter o arrepio ou dar vazão a ele, numa auto-complacência. Agora já nem reajo infantilmente assim, me contento às vezes até em simplesmente contemplar o seu rosto, a sua silhueta, a sua postura, os seus meneios. Ele se veste muito bem. O seu paletó e gravata caem-lhe otimamente com a barba e bigode levemente grisalhos. Também pudera! Afinal ele é um homem de negócios e deve impressionar sempre....

Bem a louça já está quase toda lavada e enxaguada e daqui a pouco a novela termina. Eu sei que mamãe gosta de um cafezinho a essa hora e vou prepará-lo já... Deixe-me lavar bem a torneira aqui e as mãos, para ela não ralhar comigo como das outras vezes, dizendo que eu só lhe sirvo café com gosto de sabão.

Pronto.... Agora é tirar o jarro desta cafeteira, pegar esse conjunto de xícaras e despejar o café. Claro que os meus queridos irmãos também vão querer... Ah! Sim. Açúcar refinado não. Tem de ser o mascavo para ela. Onde está?.... Ah! Está aqui. São só duas colherinhas!...

É só eu mexer este café e mais uma fantasia me perturba a mente: tenho a impressão de estar diluindo um potente veneno... Até quando vou ter de conviver com esse fantasma? Eu o compreendo e sei que daqui a pouco ele vai embora, mas não é fácil, dói muito perceber esse penetra em nossa festa diária.

Sim mamãe, já vou!... É ela me chamando. Eu detesto passar por isso! Prefiro adiantar-me sempre aos seus pedidos... Mas amanhã eu prometo que isso não vai mais acontecer...

Nelson Rodrigues de Souza

segunda-feira, 23 de março de 2009

Parte 2- Para Acabar de Vez Com o Preconceito Contra as Letras/Poemas da Música Popular Brasileira- Uma Reflexão Suscitada por Palavra (En)Cantada



http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2008/09/86_2616-Palavra%20Encantada.jpg


Codinome Beija-Flor

Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor (nunca)
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Cazuza

Pra que Mentir?

Pra que mentir se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê?! Pra que mentir
Se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir, se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir
se eu sei que gostas de outro
Que te diz que não te quer?
Pra que mentir
Tanto assim
Se tu sabes que eu já sei
Que tu não gostas de mim?!
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?!

Noel Rosa/ Vadico

Dueto

Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca

Chico Buarque

Noite Sem Luar

Vi no horizonte azul a tarde desmaiar
E a noite aproximar
Enchendo de tristeza a solidão do mar
Roubando à natureza a luz crepuscular
E à sós no meu jardim cismava a divisar
Na noite sem luar
A vela que singrando
O oceano imenso
Levava para o além o meu querido bem
Foi que então veio a saudade e eu chorei
Depois com lágrimas nos olhos eu jurei
Jamais prender-me por amor
No cárcere cruel da dor.

Godofredo Guedes

Dorme

Pára-raio, dorme
Temporal, dorme

Vaga-lume, dorme
Abajur, dorme

Ambulância, dorme
Meu amor, dorme

Luiz Gonzaga, dorme
Luz do sol, dorme

Sentinela, dorme
General, dorme

Caravela, dorme
Carnaval, dorme

Candelária, dorme
Candomblé, dorme

Cambalhota, dorme
Bambolê, dorme

Pensamento, dorme
Sensação, dorme

Amanhã, dorme

Arnaldo Antunes


Catecismo, Creme Dental e Eu

Vou morrer nos braços da asa branca,
No lampejo do trovão
De um lado ladainha,
Sem soluço e solução.

Nasci no dia do medo
Na hora de ter coragem
Fui lançado no degredo
Diplomado em malandragem

Caminho, luz e risco,
Aflito,
Xingo, minto, arrisco, tisco,
E por onde andei
Eu encontrei o bendito fruto em vosso dente,
Catecismo de fuzil
E creme dental em toda a frente.

Pois um anjo do cinema
Já revelou que o futuro
Da família brasileira
Será um hálito puro.

Nasci no dia do medo
Na hora de ter coragem
Fui lançado no degredo
Diplomado em malandragem

Pinta -la - inha
Da cana vintinha
Mandei dizer pro meu amor
Faça a cama na varanda
E não esqueça o cobertor

Não quero ser cantador
Só fazer valentia
Também gasto heroísmo
Nos braços de uma Maria.
Nos braços de uma Maria.

Tom Zé

Sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De uma palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Tom Jobim/Chico Buarque

Falando de Amor

Eu podia ser seu espinho
Ser a pedra no seu caminho
Seu ciúme doentio
Mas eu estou falando de amor
Eu podia ser sua tara
A ferida que nunca sara
Te humilhar, te dar na cara
Mas eu estou falando de amor

Eu estou falando de amor
E não da sua doença
Falando de amor
Eu estou falando de amor
E não do que você pensa
Falando de amor

Eu podia ter o segredo
Pra te transformar num brinquedo
E te deixar morrendo de medo
Mas eu estou falando de amor
Eu podia ser seu escravo
Pra você deixar de quatro
Me fazer de gato e sapato
Mas eu estou falando de amor

Eu estou falando de amor
E não da sua doença
Falando de amor
Eu estou falando de amor
E não do que você pensa
Falando de amor

Eu podia ser um mistério
E viver cercado de estórias
Só te olhar do jeito mais sério
Mas eu estou falando de amor
Eu podia ser a ternura
Sem desejo, beijo, nem sexo
Ser somente a idéia mais pura
Mas eu estou falando de amor

Leoni

Lero-Lero

Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer
Porque no amor quem perde quase sempre ganha
Veja só que coisa estranha, saia dessa se puder
Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero
Não tolero lero-lero, devo nada pra ninguém
Sou descasado, minha vida eu levo a muque
Do batente pro batuque faço como me convém
Eu sou poeta e não nego a minha raça
Faço versos por pirraça e também por precisão
De pé quebrado, verso branco, rima rica
Negaceio, dou a dica, tenho a minha solução
Sou brasileiro, tatu-peba taturana
Bom de bola, ruim de grana, tabuada sei de cor
Quatro vez sete vinte e oito nove fora
Ou a onça me devora ou no fim vou rir melhor
Não entro em rifa, não adoço, não tempero
Não remarco, marco zero, se falei não volto atrás
Por onde passo deixo rastro, deixo fama
Desarrumo toda a trama, desacato Satanás
Sou brasileiro de estatura mediana
Gosto muito de fulana, mas sicrana é quem me quer
Diz um ditado natural da minha terra
Bom cabrito é o que mais berra onde canta o sabiá
Desacredito no azar da minha sina

Edu Lobo

Meio Termo

Ah! como eu tenho me enganado
como tenho me matado
por ter demais confiado
nas evidências do amor
como tenho andado certo
como tenho andado errado
por seu carinho inseguro
por meu caminho deserto
como tenho me encontrado
como tenho descoberto
a sombra leve da morte
passando sempre por perto
o sentimento mais breve
rola no ar e descreve a eterna cicatriz
mais uma vez,
mais de uma vez,
quase que fui feliz!

Lourenço Baeta/Cacaso

Mundo Dos Negócios

baby
vem viver comigo
no mundo dos negócios
traz o teu negócio
junto ao meu negócio
vamos viver do comércio barato
de poemas de amor

baby
o que mais importa
a poesia está morta
mas juro que não fui eu
tudo à minha volta são reclames
desejos
vãos
e sóis
tudo à minha volta são reclames
desejos
vãos
e só

baby
vamos ao cinema
a vida é cinema
já vi esse filme
sempre o mesmo filme
canções de amor se parecem
porque não existe outro amor

Zeca Baleiro

Pra Tudo Se Acabar Na Quarta Feira

A grande paixão
Que foi inspiração
Do poeta é o enredo
Que emociona a velha-guarda
Lá na comissão de frente
Como a diretoria
Glória a quem trabalha o ano inteiro
Em mutirão
São escultores, são pintores, bordadeiras
São carpinteiros, vidraceiros, costureiras
Figurinista, desenhista e artesão
Gente empenhada em construir a ilusão
E que tem sonhos
Como a velha baiana
Que foi passista
Brincou em ala
Dizem que foi o grande amor de um mestre-sala
O sambista é um artista
E o nosso Tom é o diretor de harmonia
Os foliões são embalados
Pelo pessoal da bateria
Sonho de rei, de pirata e jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira
Mas a quaresma lá no morro é colorida
Com fantasias já usadas na avenida
Que são cortinas, que são bandeiras
Razão pra vida tão real da quarta-feira
É por isso que eu canto

Martinho da Vila

Feitio de Oração

Quem acha vive se perdendo
Por isso agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que por infelicidade
Meu pobre peito invade

Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar e alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia
Por isso agora lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com satisfação e com harmonia
Esta triste melodia, que é meu samba
Em feitio de oração
O samba na realidade,
Não vem do morro
Nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce no coração
Quem acha vive se perdendo
Por isso agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que por infelicidade
Meu pobre peito invade
Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar e alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia
Por isso agora lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com satisfação e com harmonia
Esta triste melodia, que é meu samba
Em feitio de oração

O samba na realidade,
Não vem do morro
Nem lá da cidade
E quem suportar ma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce no coração

Noel Rosa/Vadico

Fullgás

Meu mundo você é quem faz
Música, letra e dança
Tudo em você é fullgás
Você é quem lança
Lança mais e mais
Só vou te contar um segredo
Não, nada
Nada de mal nos alcança
Pois tendo você, meu brinquedo
Nada machuca, nem cansa

Então venha me dizer
O que será
Da minha vida
Sem você

Noites de frio
Dia não há
E um mundo estranho
Pra me segurar
Então, onde quer que você vá
É lá, que eu vou estar
Amor esperto
Tão bom de amar

Tudo de lindo que eu faço
Vem com você, vem feliz
Você me abre seus braços
E a gente faz um país

Marina Lima/AntônioCícero

João Bobo

João Bobo coitado, tolinho
falava sozinho sempre a caminhar
Mas quando passava ao seu lado
A Rosa do Prado parava o olhar
Rosinha era moça bonita
de seda ou de chita, chamava atenção
A todos seu amor vendia, mas
nada queria com o pobre do João

Ah, João Bobo é gozado
Quer casar, ah, ah, ah, com a Rosa do Prado

João Bobo dizia:"Rosinha,
tu tens que ser minha
se é meu teu olhar"
Mas toda turma se rindo
João Bobo ferindo, se punham a contar
"Beijei tua Rosa ontem a noite
dei nela de açoite, fiz ela chorar
Me disse então que te odiava
que te desprezava e pôs-se a cantar:

Ah, João Bobo é gozado
Quer casar, ah, ah, ah, com a Rosa do Prado"

O tempo que sempre caminha
A pobre Rosinha fez envelhecer
Ela que foi tão amada
Já desprezada o João quis querer
Mas eis que o dia marcado
Da Rosa do Prado chegou e a levou
E onde fria dormia, só uma rosa havia
que João colocou
João Bobo
Ah, ah, ah, ah, ah...

Ivon Curi

Transversal do Tempo

As coisas que eu sei de mim
São pivetes da cidade
Pedem, insistem e eu
Me sinto pouco à vontade
Fechada dentro de um táxi
Numa transversal do tempo
Acho que o amor
É a ausência de engarrafamento
As coisas que eu sei de mim
Tentam vencer a distância
E é como se aguardassem feridas
Numa ambulância
As pobres coisas que eu sei
Podem morrer, mas espero
Como se houvesse um sinal
Sem sair do amarelo

João Bosco/Aldir Blanc

Vagamente

Só me lembro muito vagamente
Correndo você vinha quando de repente
Seu sorriso, que era muito branco, me encontrou
Só me lembro que depois andamos,
Mil estrelas só nós dois contamos,
E o vento soprou de manhã
Mil canções
Só me lembro muito vagamente
Da tarde que morria quando de repente
Eu sozinho fiquei lhe esperando e chorei
Só me lembro muito vagamente
O quanto a gente amou
E foi tão de repente
Que nem me lembro se foi com você
Que eu perdi meu amor

Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli

Sina

Eu venho desde menino
Desde muito pequenino
Cumprindo o belo destino
Que me deu Nosso Senhor
Não nasci pra ser guerreiro
Nem infeliz estrangeiro
Eu num me entrego ao dinheiro
Só ao olhar do meu amor
Carrego nesses meus ombros
O sinal do Redentor
E tenho nessa parada
Quanto mais feliz eu sou
Eu nasci pra ser vaqueiro
Sou mais feliz brasileiro
Eu num invejo dinheiro
Nem diploma de doutor...

Raimundo Fagner/Ricardo Bezerra/Patativa do Assaré

Modinha

Olho a rosa na janela
Sonho um sonho pequenino
Se eu pudesse ser menino eu roubava esta rosa
E ofertava todo prosa à primeira namorada
E nesse pouco ou quase nada
Eu dizia o meu amor, o meu amor
Olho o sol findando lento
Sonho um sonho de um adulto
Minha voz na voz do vento indo em busca do teu vulto
E o meu verso em pedaços só querendo o teu perdão
Eu me perco nos teus passos
E me encontro na canção
Ai, amor, eu vou morrer

Taiguara


À flor da pele

Não sei como ou quando começou
Só sei que me alucina
Me perdi do fio condutor
Do amor que me domina
E você me usa a seu favor
Igual a mulher de esquina
E me leva embora traidor
Assim que se termina
Mas se você quer eu logo vou
Sabendo da rotina
Despencamos sobre o cobertor
Devasso e libertina
Me diz coisas feias e de amor
À luz da lamparina
Me devora o corpo sedutor
Igual fera assassina
E você me arrasta nessa dor
Que aos poucos me arruína
Ando já com meus nervos à flor
Da pele já mofina
Tenho olheiras fundas e calor
De álcool e de nicotina
Minhas noites durmo com pavor
À base de aspirina
Sei que estou secando ao seu dispor
Sei que estou ficando sem valor
Sei que você vai sumir e eu vou
Vou cumprir minha sina
Ah, ah, vou cumprir minha sina

Maurício Tapajós/Clara Nunes/Paulo César Pinheiro

Bambino

E se o ferro ferir
E se a dor perfumar
Um pé de manacá
Que eu sei existir
Em algum lugar

E se eu te machucar
Sem querer atingir
E também magoar
O seio mais lindo que há

E se a brisa soprar
E se ventar a favor
E se o fogo pegar
Quem vai se queimar
De gozo e de dor

E se for pra chorar
E se for ou não for
Vou contigo dançar
E sempre te amar amor

E se o mundo cair
E se o céu despencar
Se rolar vendaval
Temporal carnaval
E se as águas correrem
Pro bem e pro mal

Quando o sol ressurgir
Quando o dia raiar
É menino e menina
Bambino, bambina
Pra quem tem que dar
No final do final

E se a noite pedir
E se a chama apagar
E se tudo dormir
O escuro cobrir
Ninguém mais ficar

Se for pra chorar
E uma rosa se abrir
Pirilampo luzir
Brilhar e sumir no ar

Se tudo falir
O mar acabar
E se eu nunca pagar
O quanto pedi
Pra você me dar

E se a sorte sorrir
O infinito deixar
Vou seguindo seguir
E quero teus lábios beijar

Ernesto Nazareth/Zé Miguel Wisnik

Viajante

Eu me sinto um tolo
Como um viajante
Pela sua casa
Pássaro sem asa
Rei da covardia
E se guardo tanto
Essas emoções
Nessa caldeira fria
É que arde o medo
Onde o amor ardia
Mansidão no peito
Trazendo o respeito
Que eu queria tanto
Derrubar de vez
Pra ser seu talvez
Pra ser seu talvez
Mas o viajante
É talvez covarde
Ou talvez seja tarde
Prá mostrar que arde
Com maior ardor
A paixão contida
Retraída e nua
Correndo na sala
Ao te ver deitada
Ao te ver calada
Ao te ver no ar
Talvez esperando
Desse viajante
Algo que ele espera
Também receber
Pra quebrar as cercas
Com que insistimos
Em nos defender

Teresa Tinoco

Gitâ

Às vezes você me pergunta, por que é que sou tão calado
Não falo de amor quase nada, nem fico sorrindo ao teu lado
Você pensa em mim toda hora, me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda, mas hoje eu vou lhe mostrar...

Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida, eu sou o medo de amar
Eu sou o medo do fraco, a força da imaginação
O blefe do jogador, eu sou, eu fui, eu vou...

Eu sou o seu sacrifício, a placa de contramão
O sangue no olhar do vampiro e as juras de maldição
Eu sou a vela que acende, eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo, eu sou o tudo e o nada...

Por que você me pergunta, perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra, do fogo, da água e do ar
Você me tem toda hora, mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você, mas você não está em mim...

Das telhas eu sou o telhado, a pesca do pescador
A letra A tem meu nome, dos sonhos eu sou o amor
Eu sou a dona-de-casa, nos Peg-Pags do mundo
Eu sou a mão do carrasco, sou raso, largo, profundo

Eu sou a mosca da sopa e o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego e a cegueira da visão
Eu sou o amargo da língua, a mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio, o início, o fim e o meio

Raul Seixas

Canção de Protesto

Porque será
Que fazem sempre tantas
Canções de amor
E ninguém cansa
E todo o mundo canta
Canções de amor
De minha parte
Às vezes não agüento
Noventa e nove e um pouco mais por cento
Das músicas que existem são de amor
E quanto ao resto
Quero cantar só
Canções de protesto
Contra as canções de amor
Odeio "As Time Goes By"
O manifesto
Canções de amor
Muito ciúme, muita queixa, muito "ai"
Muita saudade, muito coração
É o abusar de um
Santo nome em vão
Ou a santificação de uma banalidade
Eu queria o canto justo na verdade
Da liberdade só do canto
Tenra, limpa, lúcida, e no entanto
Sei que só sei querer viver
De amor e música

Caetano Veloso

Sem Companhia

Tudo o que esperei
De um grande amor
Era só juramento
Que o primeiro vento
Carregou

Outra vez tentei
Mas pouco durou
Era um golpe de sorte
Que um vento mais forte
Derrubou

E assim de quando em quando
Eu fui amando mais
Passei por ventos brandos
Passei por temporais

Agora estou num cais
Onde há uma eterna calmaria
E eu não aguento mais
Viver em paz
Sem companhia

Ivor Lancelotti/Paulo César Pinheiro

Mal Necessário

Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher
Sou as mesas e as cadeiras desse cabaré
Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo
Sou a febre que lhe queima, mas você não deixa
Sou a sua voz que grita, mas você não aceita
O ouvido que lhe escuta quando as vozes se ocultam
Nos bares, nas camas, nos lares, na lama
Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo
O que sempre esteve vivo, mas nem sempre atento
O que nunca lhe fez falta, o que lhe atormenta e mata
Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe
Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem

Mauro Kwitko

Verdade

Descobri que te amo demais
Descobri em você minha paz
Descobri sem querer a vida
Verdade
Pra ganhar seu amor fiz mandinga
Fui à ginga de um bom capoeira
Dei rasteira na sua emoção
Com o seu coração fiz zoeira
Fui à beira de um rio e voltei
Uma ceia com pão, vinho e flor
Uma luz para guiar sua estrada
A entrega perfeita do amor
Verdade!
Descobri que te amo demais
Descobri em você minha paz
Descobri sem querer a vida
Verdade
Como negar essa linda emoção?
Que tanto bem fez pro meu coração?
Pra minha paixão adormecida?
Teu amor meu amor incendeia
Nossa cama parece uma teia
Teu olhar uma luz que clareia
Meu caminho tal qual lua cheia
Eu nem posso pensar te perder
Ai de mim esse amor terminar
Sem você minha felicidade
Morreria de tanto penar
Verdade!

Zeca Pagodinho

Pra Você

Pra você eu guardei
Um amor infinito.
Pra você procurei
O Lugar mais bonito.
Pra você eu sonhei
O meu sonho de paz;
Pra você me guardei
Demais, demais.

Se você não voltar
O que eu faço da vida ?
Não sei mais procurar
A alegria perdida.
Eu não sei nem porque,
Terminou tudo assim,
Ah, se eu fosse você
Eu voltava pra mim,
Voltava, sim,

Ah, se eu fosse você,
Eu voltava pra mim !

Sílvio Cesar

Campo Branco

Campo branco minhas penas que pena secou
Todo o bem qui nóis tinha era a chuva era o amor
Num tem nda não nóis dois vai penano assim
Campo lindo ai qui tempo ruim
Tu sem chuva e a tristeza em mim
Peço a Deus a meu Deus grande Deus de Abrãao
Prá arrancar as pena do meu coração
Dessa terra sêca in ança e aflição
Todo bem é de Deus qui vem
Quem tem bem lôva a Deus seu bem
Quem não tem pede a Deus qui vem
Pela sombra do vale do ri Gavião
Os rebanhos esperam a trovoada chover
Num tem nada não tembém no meu coração
Vô ter relampo e trovão
Minh'alma vai florescer
Quando a amada a esperada trovoada chegá
I antes da quadra as marrã vão tê
Sei qui inda vô vê marrã parí sem querer
Amanhã no amanhecer
Tardã mais sei qui vô ter
Meu dia inda vai nascer
E esse tempo da vinda tá perto de vin
Sete casca aruêra cantaram prá mim
Tatarena vai rodá vai botá fulô
Marela de u'a veis só
Prá ela de u'a veis só

Elomar

João Ninguém

João Ninguém que não é velho nem moço
Come bastante no almoço pra se esquecer do jantar...
Num vão de escada fez a sua moradia
Sem pensar na gritaria que vem do primeiro andar
João Ninguém não trabalha e é dos tais
Mas joga sem ter vintém e fuma Liberty Ovais
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo nunca teve opinião
João Ninguém não tem ideal na vida
Além de casa e comida tem seus amores também
muita gente que ostenta luxo e vaidade
Não goza a felicidade que goza João Ninguém!
João Ninguém não trabalha um só minuto
vive sem ter vintém e anda a fumar charuto
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo nunca teve opinião

Noel Rosa

Morena

Morena, minha morena
Tira a roupa da janela
Vendo a roupa sem a dona
Eu penso na dona, sem ela

Meu quarto tem sete andares
Reinado da minha vista
Eu tenho o céu e o mar
Mas nada disso me conquista

Meus olhos desocupados
Só querem viver seguindo a tua pista

Morena, minha morena
Tira a roupa da janela
Vendo a roupa sem a dona
Eu penso na dona, sem ela

Eu ando desarrumado
No trabalho e no amor
Até deixei de lado
Meu futuro de doutor

Com o dinheiro da escola
Comprei uma lente de alcance
E foi um horror

Morena, minha morena
Tira a roupa da janela
Vendo a roupa sem a dona
Eu penso na dona, sem ela

Tom Zé

Abril

Sinto o abraço do tempo apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos, gostar mais de hoje
E gostar disso
Me vejo com seus olhos, tempo
Espero pelas novas folhas
Imagino jeitos novos para as mesmas coisas
Logo eu que queria ficar
Pra ver encorparem os caules
Lá vou eu, eu queria ficar
Pra me ver mais tarde,
Sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido dissolver o que é concreto
E vejo o tempo em seu claroescuro
Vejo o tempo em seu movimento
Me marcar a pele fundo, me impelindo, me fazendo
Logo eu que fazia girar o mundo,
Logo eu, quem diria, esperar pelos frutos
Conheço o tempo em seus disfarces, em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses se o meu amor demora
E vejo bem tudo recomeçar todas as vezes
E vejo o tempo apodrecer e brotar
E seguir sendo sempre ele
O tempo todo começar de novo
E ser e ter tudo pela frente

Adriana Calcanhoto


Minha Namorada

Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha, essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser...
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer...
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque...
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você...
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
Os seus braços o meu ninho no silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

Carlos Lyra/Vinícius de Moraes

A Noite do Meu Bem

Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver
Quero a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje, eu quero a paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero, a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje, eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero, a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ai! como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero lhe dar...

Dolores Duran

Simples e absurdo

O olho claro no cabelo cor da noite,
Riso branco feito açoite no olhar da paranóia.
Aqui é o cúmplice o que é simples e absurdo:
Esmeralda no veludo, onça negra com jibóia.

O que é quente se reúne ao que é gelado:
Dois vagalume agarrado na casaca do pingüim.
O que é sagrado vaticina o que é pecado:
Dois louva-deus afogado em piscina de nanquim.

De que se ri Diacuí?
Farsante finge um piti:
Gelo picado desmanchando dentro de um daiquiri...
Noturna sanguessuga suga o meu sossego pra si
Feito o morcego enxuga o suco-seiva do sapoti.

Quem vê a corça que há em ti
Não pressente o javali
Que espreita a vítima na íntima clareira ao luar.
Quem olha a jovem encantada tão bonita dançar
Não vê que a louca desgrenhada premedita matar.

Ai, prenda minha, verde-preta que me abate,
Andorinha no abacate, luto sobre o beija-flor...
Salve Rainha, chega dessa ladainha,
Que o amor que tu me tinha era pouco e se acabou.

Guinga/Aldir Blanc


Grito de Alerta

Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça
e me bota na boca
um gosto amargo de fel
Depois vem chorando desculpas
assim meio pedindo
querendo ganhar
um bocado de mel
Não vê que então eu me rasgo
engasgo, engulo
reflito e estendo a mão
E assim nossa vida
é um rio secando
as pedras cortando
eu vou perguntando
até quando?
São tantas coisinhas miúdas
roendo, comendo
arrasando aos poucos
com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
de gritos e gestos
num jogo de culpa
que faz tanto mal
Não quero a razão pois eu sei
o quanto estou errado
e o quanto já fiz destruir
Só sinto no ar o momento
em que o copo está cheio
e que já não dá mais pra engolir
Veja bem
Nosso caso é uma porta entreaberta
Eu busquei a palavra mais certa
Vê se entende o meu grito de alerta
Veja bem
É o amor agitando meu coração
Há um lado carente dizendo que sim
E essa vida da gente gritando que não

Gonzaguinha

E Estamos Conversados

Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante
que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando,
que eles querem mesmo é reclamar,
como uma risada na minha orelha, ou como uma abelha, ou qualquer outra coisa pentelha,
sobre as vidas alheias, ou como elas são feias,
ou como estão cheias de tanto esconderem segredos
que todo mundo já sabe, ou se não sabe desconfia.
Eu não vou mais ficar ouvindo distraído eles falarem deles e do que eles fariam se fosse com eles
e o que eles não fazem de jeito nenhum, como se interessasse a qualquer um.
Eles são: As pessoas. As pessoas todas, fora os mudos.
Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois,
falem longe da minha janela, por favor, se for para falar do meu amor.
Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador.
Campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais, pelo menos por enquanto.
Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico.
E estamos conversados.

Paulo Tatit/Arnaldo Antunes

Joga a rede no mar
Joga a rede no mar
Deixa a água correr
O que ela recolher não podes reclamar
A sorte é quem mandou
Esta vida é um mar
Deixa o barco correr
Se algum dia um querer
Tua rede pescar não a deixes fugir
Quando a onda quebrar e o vento bater
Alguém há de dizer
És velho para amar
A praia é teu lugar
Conta-lhe então
Que nunca tua rede sentiu a sede
Da falta de um amor
E não tens medo
O mar não faz segredo
A um velho pescador

Fernando César/Nazareno de Brito

Há Tempos

Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão
E o descompasso e o desperdício herdeiros são
A glória da virtude que perdemos.

Há tempos tive um sonho
Não me lembro não me lembro

Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso.

Os sonhos vêm e os sonhos vão
O resto é imperfeito.

Disseste que se tua voz tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira.

E há tempos nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens que adoecem
E há tempos o encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura abrigo e proteção.

Meu amor, disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem
E ela disse:
- Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa.

Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/M. Bonfá

A Prosa Impúrpura do Caicó

Ah! Caicó
Arcaico
Em meu peito catolaico
Tudo é descrença e fé
Ah! Caicó
Arcaico
Meu cashcouer mallarmaico
Tudo rejeita e quer
É com é sem
Milhão e vintém
Todo mundo e ninguém
Pé de xique-xique
Pé de flor
Relabucho velório
Videogame oratório
High-cult simplório
Amor sem fim desamor
Sexo no-iê
Oxente oh! Shit
Cego Aderaldo
Olhando pra mim, Moonwalkman

Chico César

Maria

Maria
O teu nome principia
Na palma da minha mão
E cabe bem direitinho
Dentro do meu coração
Maria
Maria
De olhos claros cor do dia
Como os de Nosso Senhor
Eu por vê-los tão de perto
Fiquei ceguinho de amor
Maria

No dia, minha querida,
em que juntinhos na vida
Nós dois nos quisermos bem
À noite em nosso cantinho
Hei de chamar-te
baixinho
Não hás de ouvir mais ninguém,
Maria

Maria
Era o nome que dizia
Quando aprendi a falar
Da avózinha
Coitadinha
Que não canso de chorar
Maria
E quando eu morar contigo
Tu hás de ver que perigo
Que isso vai ser, ai, meu Deus
Vai nascer todos os dias uma porção de Marias
De olhinhos da cor do teus,
Maria
Maria

Ary Barroso/Luiz Peixoto

Charme Do Mundo

Eu tenho febre, eu sei
É um fogo leve que eu peguei
Do mar, ou de amar, não sei
Mas deve ser da idade
Acho que o mundo faz charme
E que ele sabe como encantar
Por isso sou levada, e vou
Nessa magia de verdade
O fato é que sou sua amiga,
Ele me intriga demais
É um mundo tão novo
Que mundo mais louco,
Até mais que eu
É febre, amor,
E eu quero mais,
Tudo o que quero,
Sério,
É todo esse mistério

Marina Lima/Antônio Cícero


Ciranda

Vem de um lugar chamado Flores
Esta ciranda
De tantas cores
Vem nos aliviar as dores
Os maus olhados
Os dissabores

Ó, cirandeiro, cirandeiro
Que faz ciranda o tempo inteiro
Só por folia
Só por amor

Vem de um lugar chamado Flores
Esta ciranda
De tantas cores
Vem nos falar dos trovadores
Dos bem-amados
Dos benfeitores

Ó, cirandeiro, cirandeiro
Que faz ciranda o tempo inteiro
E só por isso
Tem seu valor

Gilberto Gil

A Música do Nosso Amor

: Luar de lua serena
Céu de fogo iluminado
Estrela de tanto brilho
Fogueira assando milho
Milho parecendo fogo
A cidade era pequena
Mas no coração cabia
O tamanho da alegria
Que a gente traduzia
Como a música do nosso amor
Luar de lua serena
Arraiá iluminado
O forró comendo quente
Marines e sua gente
Luiz Gonzaga a cantar
No coração da pequena
O primeiro amor batia
A primeira brasa ardia
Na fogueira poesia
Era só o São João Chegar

Pula fogueira Yayá
Que eu pulo sim senhor
Pula fogueira Yayá
Que São João mandou
É brincadeira
Balão, beijo de biju, balão
Ainda acendo uma fogueira
No meu coração

Saul Barbosa/Jorge Portugal

O Seu Amor

O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é

Gilberto Gil

Dia Branco

Se você vier
Pro que der e vier comigo
Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva
Se a chuva cair

Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar
Nesse dia branco

Se branco ele for
Esse tanto, esse canto de amor
Se você quiser e vier
Por que der e vier comigo

Geraldo Azevedo/Renato Rocha

Universo do Teu Corpo

Eu desisto,
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
Uma gente que não viva só pra si

Só encontro,
Gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi

Por uns velhos vãos motivos
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor

É por isso que eu preciso
De você, como eu preciso
Não me deixe um só minuto sem amor

Vem comigo,
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço, corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem versos à canção

Em que eu digo,
Que estou morto pra este triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante, amigo em minhas mãos

Taiguara

Último Desejo

Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o
seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo, mas meu último desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você
lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você
me adora
que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não
presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim

Noel Rosa

A Moça Do Sonho

Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó

Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais

Chico Buarque/ Edu Lobo

Arrebentação

Que mistérios que são
As águas do mar
Onde os barcos se vão
Temendo ficar
Que mistérios que são
Os brilhos do olhar
São faróis de ilusão
Pra quem quer amar
Verde, negro, azulão
São cores do mar
De onde uma embarcação
Jamais sairá
Verde, negro, azulão
São cores do olhar
Onde a nossa paixão
Costuma afundar
Noites de assombração
Nas ondas do mar
São como um coração
Com medo de amar
Dor de amor é um arpão
Lançado no peito
Feito arrebentação
Na beira do mar
Quando a separação se dá
Fica a recordação
No fundo de cada olhar
Como os barcos que estão
No fundo do mar

Eduardo Gudin/Paulo César Pinheiro

Bilhete

Quebrei o teu prato
Tranquei o meu quarto
Bebi teu licor
Já arrumei a sala
Já fiz tua mala
Pus no corredor
Eu limpei minha vida
Te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou
Está morto
Jogue a cópia da chave
Por debaixo da porta
Que é pra não ter motivos
De pensar numa volta
Fique junto dos seus
Boa sorte, Adeus!

Ivan Lins/Vitor Martins

Pastorinhas

A estrela d'alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor

Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar

Noel Rosa/Braguinha

O Que é, O Que é

Eu fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
Viver e não ter a vergonha de ser feliz,
Cantar, e cantar, e cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz.
Ah, meu Deus! Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será,
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!
E a vida? E a vida o que é, diga lá , meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo,
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo,
Há quem fale que é um divino mistério profundo,
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer,
Ele diz que a vida é viver,
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é, e o verbo é sofrer.
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé,
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser,
Sempre desejada por mais que esteja errada,
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte,
E a pergunta roda, e a cabeça agita.
Fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
É a vida! É bonita e é bonita!

Gonzaguinha

O Meu Amor

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada,
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

Chico Buarque

Estrela do Mar

Um pequenino grão de areia
Era um eterno sonhador
Olhando o céu viu uma estrela
Imaginou coisas de amor
Passaram anos muitos anos
Ela no céu, ele no mar
Dizem que nunca o pobrezinho
Pode com ela se encontrar
Se houve ou se não houve
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém pode até hoje afirmar
O certo é que depois
Muito depois
Apareceu a estrela do mar

Marino Pinto/Paulo Soledade

Amor Covarde

Amor covarde, que morde que arde
Cadela magra, metade de mim
A madrugada se arrasta, tão lenta assim

Dor...dor...dor...
Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
A dor do amor, navalhada que arde assim

Dor...dor...dor...
Estrela d´alva, pedaço de lua
A pele nua, cheirando a jasmim
Boca cereja, bandeja de prata do-in

Dor...dor...dor...
Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
Nascemos sós, só seremos serenos no fim

Alceu Valença

Amada Amante

esse amor demais antigo
amor demais amigo
que de tanto amor viveu
que manteve acesa a chama
da verdade de quem ama
antes e depois do amor
e você amada amante
faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez
neste mundo desamante
só você amada amante
faz o mundo de nós dois
amada amante
amada amante

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Canção Que Morre No Ar

Brinca no ar
Um resto de canção
Um rosto tão sereno
Tão quieto de paixão

Morre no ar
O sempre mesmo adeus
Meus olhos são teus olhos

Para nós, vem
Um mundo sempre amor
O pranto que desliza
No seio de uma flor
Terra-luz, anjo só
Mil carícias você traz
Beijo manso, luz e paz

Carlos Lyra

Teletema

Rumo
Estrada turva
Só despedida
Por entre lenços brancos de partida
Em cada curva
Sem ter você vou mais só
Corro
Rompendo laços
Abraços beijos
Em cada passo é você quem vejo
No telespaço
Pousado em cores no além
Brando
Corpo celeste
Meta metade
Meu santuário minha eternidade
Iluminando o meu caminho e fim
Mundo
A incerteza
Tão passageira
Nós viveremos uma vida inteira
Eternamente
Somente os dois mais ninguém
Eu vou
De sol a sol
Desfeito em cor
Refeito em som
Perfeito em todo amor

Rumo
Estrada turva
Só despedida
Por entre lenços brancos de partida
Em cada curva
Sem ter você vou mais só
Corro
Rompendo laços
Abraços beijos
Em cada passo é você quem vejo
No telespaço
Pousado em cores no além
Brando
Corpo celeste
Meta metade
Meu santuário minha eternidade
Iluminando
O meu caminho e fim
Mundo
A incerteza
Tão passageira
Nós viveremos uma vida inteira
Eternamente
Somente os dois mais ninguém
Eu vou
De sol a sol
Desfeito em cor
Refeito em som
Perfeito em todo amor

Antônio Adolfo/Tibério Gaspar

Sem Açúcar

Todo dia ele faz diferente, não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente, não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido, quem sabe me cobre de beijos
nem me desmancha o vestido, ou nem me adivinha os desejos
Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo
A cerveja dele é sagrada, a vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada, sua risada me assusta
Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira
Enquanto ele dorme pesado eu rolo sozinha na esteira
E nem me adivinha os desejos
Eu de noite sou seu cavalo

Chico Buarque

Alferes

Alferes, Vila Rica em sombras
Espera pelo batizado,
E a derrama pesa sobre as lajes e a procissão.
Vila Rica reza rente aos muros da guarnição.
O por do sol apagou os sinos:
Dez vidas dar.
Ai Marília, as liras e o amor
Ninguém consegue enforcar
E a mesma voz virá
De muito além do desterro e do sal,
Mais do que foi.
Alferes, Ouro Preto em sombras
Espera pelo batizado,
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.
Raios de sol brilharão nos sinos:
Dez vias dar;
Ai Marília, as liras e o amor
Não posso mais sufocar
E a minha voz irá
Pra muito além do desterro e do sal,
Maior que a voz do rei...

João Bosco/ Aldir Blanc

Sabe Você

Você é muito mais que eu sou
Está bem mais rico do que eu estou
Mas o que eu sei você não sabe
E antes que o seu poder acabe
Eu vou mostrar como e por que
Eu sei, eu sei mais que você
Sabe você o que é o amor? Não sabe, eu sei
Sabe o que é um trovador? Não sabe, eu sei.
Sabe andar de madrugada tendo a amada pela mão
Sabe gostar, qual sabe nada, sabe, não
Você sabe o que é uma flor? Não sabe, eu sei.
Você já chorou de dor? Pois eu chorei.
Já chorei de mal de amor, já chorei de compaixão
Quanto à você meu camarada, qual o que, não sabe não

E é por isso que eu lhe digo e com razão
Que mais vale ser mendigo que ladrão
Sei que um dia há de chegar e isso seja quando for
Em que você pra mendigar, só mesmo o amor
Você pode ser ladrão quando quiser
Mas não rouba o coração de uma mulher
Você não tem alegria, nunca fez uma canção

Por isso a minha poesia, ah, ah, você não rouba não
Ah, ah, você não rouba não

Carlos Lyra

Faltando um Pedaço

O amor é um grande laço
Um passo pra uma armadilha
Um lobo correndo em círculo
pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada
com a fuga de uma ilha
Tanto engorda quanto mata
Feito desgosto de filha
De filha

O amor é como um raio
Galopando em desafio
Abre fendas, cobre vales
Revolta as águas dos rios
Quem tenta seguir seu rastro
Se perderá no caminho
Na pureza de um limão
Ou na solidão do espinho

O amor e a agonia
Cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio
O cio vence o cansaço
E o coração de quem ama
Fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando
Quem nem o meu nos seus braços

Djavan

Cabaré

Na porta lentas luzes de neon
Na mesa flores murchas de crepon
E a luz grená filtrada entre conversas
Inventa um novo amor, loucas promessas
De tomara-que-caia surge a crooner do norte
Nem aplausos, nem vaias: um silêncio de morte
Ah, quem sabe de si nesses bares escuros
Quem sabe dos outros, das grades, dos muros
No drama sufocado em cada rosto
A lama de não ser o que se quis
A chama quase morta de um sol posto
A dama de um passado mais feliz
Um cuba-libre treme na mão fria
Ao triste strip-tease da agonia
De cada um que deixa o cabaré
Lá fora a luz do dia fere os olhos
Ah, quem sabe de si nesses bares escuros

João Bosco/Aldir Blanc

Sem Fantasia

Vem, meu menino vadio, vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia, que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos, vou te envolver nos cabelos,
Vem perder-te em meus braços pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco, vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu
Ah, eu quero te dizer que o instante de te ver custou tanto penar
Não vou me arrepender, só vim te convencer que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar, eu quero te contar das chuvas que apanhei
Das noites que varei no escuro a te buscar -
Eu quero te mostrar as marcas que ganhei nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus, e agora que cheguei eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus.

Chico Buarque

Eu Não Existo Sem Você

Eu sei e você sabe / Já que a vida quis assim
Que, nada neste mundo / Levará você de mim
Eu sei e você sabe / Que a distância não existe
E todo grande amor / Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor / Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você
Assim como o oceano / Só é belo com luar
Assim como a canção / Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem / Só acontece se chover
Assim como o poeta / Só é grande se sofrer
Assim como viver / Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim e eu não existo sem você.

Antônio Carlos Jobim/Vinícius de Moraes

Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda

Eu sonhei que tu estavas tão linda
Numa festa de raro esplendor
Teu vestido de baile lembro ainda
Era branco, todo branco, meu amor
A orquestra tocou uma valsa dolente
Tomei-te aos braços, fomos dançando
Ambos silentes

E os pares que rodeavam entre nós
Diziam coisas, trocavam juras
A meia voz

Violinos enchiam o ar de emoções
E de desejos uma centena de corações

Pra despertar teu ciúme
Tentei flertar alguém
Mas tu não flertaste ninguém

Olhavas só para mim
Vitórias de amor cantei
Mas foi tudo um sonho... acordei

Lamartine Babo/Francisco Matoso


Piano e Viola

Olhando o dia de chuva
Vi que mais triste era eu
Sem estrela e sem lua
Te procurava no céu
Fiz do piano a viola
Fiz de mim mesmo um amigo
Fiz da verdade uma estória
Fiz do meu som meu abrigo

Quem canta fala consigo
Quem faz amor nunca quer ferir
Quem não fere vive tranquilo
Vê muita gente sorrir

E quem não estiver do seu lado
A quem não acabou feliz
Não diga que não se importa
Diga só o que o amor lhe diz
Essa mentira é uma espuma
Que se desmancha no ar
E deixa marcas no espelho
Pra você se ver chorar

Taiguara

Canção Do Breve Amor

Breve
Foi a felicidade que trouxe o breve amor
Breve
Como a mais breve estrela que no céu passou
Breve o instante comovente da paixão
Instante que redime
E faz sofrer e faz chorar o coração
Breve
Como a perdida flor
Que longe floresceu
E o homem não colheu pra o seu amor
Breve foi a felicidade
Como longa essa saudade
Como triste o nosso amor

Geraldo Vandré/Alaíde Costa

Sobre Todas as Coisas

Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado: desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém abandonado
Pelo amor de Deus

Ao Nosso Senhor, pergunte se ele
construiu nas trevas o esplendor
Se tudo foi criado: o macho, a fêmea, o bicho, a flor
criado pra adorar o Criador
E se o Criador inventou a criatura por favor,
Se do barro fez alguém com tanto amor
para amar Nosso Senhor

Não, Nosso Senhor, não há de ter lançado em movimento
Terra e Céu, estrelas percorrendo o firmamento em carrossel
pra circular em torno ao Criador

Ou será que o Deus que criou nosso desejo é tão cruel
Mostra os vales onde jorra o leite e o mel,
e esses vales são de Deus

Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado
desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém abandonado
Pelo amor de Deus!

Chico Buarque/Edu Lobo

Viagem

Vai abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde essa angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Vai indo pro amor
Vai recupera a paz perdida e as ilusões,
não espera vir a vida as tuas mãos
Faz em fera a flor ferida e vai lutar
Pro amor voltar
Vai faz de um corpo de mulher estrada e sol
Te faz amante
Faz meu peito errante
Acreditar que amanheceu
Vai corpo inteiro mergulhar no teu amor
Nesse momento vai ser teu momento
O mundo inteiro vai ser teu, teu, teu

Taiguara

Tola Foi Você

Tola foi você
Ao me abandonar
Desprezando tanto
Amor que eu tinha a dar
Agora veja bem
O mal é vai e vem
Só esperar
E se eu mudei
Devo a você
Todo o desamor que a vida
Me ensinou
Coração aberto
Felicidade perto
Sou toda amor
Agradeço tanto
Agradeço por você
Não ser do jeito que eu sou
Agradeço tanto
Agradeço por você
Não ter me dado o seu amor

Ângela Ro Ro

Tocando em Frente

Ando devagar porque já tive pressa
e levo esse sorriso, porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs,
é preciso o amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir,
é preciso a chuva para florir.
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha, e ir tocando em frente
como um velho boiadeiro levando a boiada,
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou,
de estrada eu sou
Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chora, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história,
e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,
e ser feliz
Ando devagar porque já tive pressa
e levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história,
e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,
e ser feliz.

Almir Sater

Infinito Desejo

Ah, infinito delírio chamado desejo
Essa fome de afagos e beijos
Essa sede incessante de amor
Ah, essa luta de corpos suados
Ardentes e apaixonados
Gemendo na ânsia de tanto se dar
Ah, de repente o tempo estanca
Na dor do prazer que explode
É a vida, é a vida, é a vida, e é bem mais
Esse teu rosto sorrindo
Espelho do meu no vulcão da alegria
Te amo, te quero, meu bem não me deixe jamais
E eu sinto a menina brotando da coisa linda
Que é ser tão mulher
Oh santa madura inocência
O quanto foi bom e pra sempre será
E o que mais importa é manter essa chama
Até quando eu não mais puder

Gonzaguinha

Máscara Negra

Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão
Foi bom te ver outra vez
Tá fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou
Que te beijou, meu amor
A mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval

Zé Kéti/Pereira Matos

De Mais Ninguém

Se ela me deixou, a dor
é minha só, não é de mais ninguém.
Aos outros eu devolvo a dor
Eu tenho a minha dor.
Se ela preferiu ficar sozinha,
ou já tem um outro bem.
Se ela me deixou a dor é minha,
a dor é de quem tem.
É meu troféu, é o que restou,
é o que me aquece sem me dar calor.
Se eu não tenho o meu amor,
eu tenho a minha dor.
A sala, o quarto, a casa está vazia,
a cozinha, o corredor.
Se nos meus braços ela não se aninha,
a dor é minha.
É o meu lençol, é o cobertor,
É o que me aquece sem me dar calor.
Se eu não tenho o meu amor
eu tenho a minha dor (...)

Marisa Monte/Arnaldo Antunes

Cais

Para quem quer se soltar
Invento cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento amor e sei a dor de me lançar

Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador

Para quem quer me seguir
Eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir

Invento o cais
E sei a vez de me lançar

Milton Nascimento/Ronaldo Bastos


Fala Baixinho

Fala baixinho só pra eu ouvir
Porque ninguém vai mesmo compreender
Que o nosso amor é bem maior
Que tudo aquilo que eles sentem
Eu acho até que eles nem sentem, não
Espalham coisas só pra disfarçar
Daí então porque se dar
Ouvidos a quem nem sabe gostar

Olha só, meu bem, quando estamos sós
O mundo até parece que foi feito pra nós dois
Tanto amor assim que é melhor guardar
Pois que os invejosos vão querer roubar
A sinceridade é que vale mais
Pode a humanidade se roer de desamor
Vamos só nós dois
Sem olhar pra trás
Sem termos que ligar pra mais ninguém

Pixinginha/Hermínio Bello de Carvalho


Redescobrir

Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia
Como um animal que sabe da floresta, perigosa
Redescobrir o sal que está na própria pele, macia
Redescobrir o doce no lamber das línguas, macias
Redescobrir o gosto e o sabor da festa, magia
-
Vai o bicho homem fruto da semente, memória
Renascer da própria força, própria luz e fé, memória
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós, história
/ E somos a semente, ato, mente e voz, magia
Não tenha medo, meu menino bobo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como se fosse dor, magia

Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
Gonzaguinha

As Árvores

As árvores são fáceis de achar
Ficam plantadas no chão
Mamam do céu pelas folhas
E pela terra
Também bebem água
Cantam no vento
E recebem a chuva de galhos abertos
Há as que dão frutas
E as que dão frutos
As de copa larga
E as que habitam esquilos
As que chovem depois da chuva
As cabeludas, as mais jovens mudas
As árvores ficam paradas
Uma a uma enfileiradas
Na alameda
Crescem pra cima como as pessoas
Mas nunca se deitam
O céu aceitam
Crescem como as pessoas
Mas não são soltas nos passos
São maiores, mas
Ocupam menos espaço
Árvore da vida
Árvore querida
Perdão pelo coração
Que eu desenhei em você
Com o nome do meu amor.

Arnaldo Antunes/Jorge Ben Jor


Eu Quero Apenas

Eu quero apenas olhar os campos
Eu quero apenas cantar meu canto
Eu só não quero cantar sozinho
Eu quero um coro de passarinhos
Quero levar o meu canto amigo
A qualquer amigo que precisar

Eu quero ter um milhão de amigos
e bem mais forte poder cantar.

Eu quero apenas um vento forte
Levar meu barco no rumo norte
E no caminho o que eu pescar
Quero dividir quando lá chegar
Quero levar o meu canto amigo
A qualquer amigo que precisar.

Eu quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar.

Eu quero crer na paz do futuro
Eu quero ter um quintal sem muro
Quero meu filho pisando firme
Cantando alto, sorrindo livre
Quero levar o meu canto amigo
A qualquer amigo que precisar.

Eu quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar.

Eu quero o amor decidindo a vida
Sentir a força da mão amiga
O meu irmão com um sorriso aberto
Se ele chorar quero estar por perto
quero levar o meu canto amigo
a qualquer amigo que precisar.

Eu quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar.

Venha comigo olhar os campos
Cante comigo também meu canto
Eu só não quero cantar sozinho
Eu quero um coro de passarinhos
Quero levar o meu canto amigo
A qualquer amigo que precisar.

Eu quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Lua Nova

é lua nova
é noite derradeira
vou passar a vida inteira
esperando por você

andei perdido
nas veredas da saudade
veio o dia, veio a tarde
veio a noite e me cobriu
é lua nova
nesta noite derradeira
vou-me embora dentro dela
perguntar por quem te viu

é lua nova
é noite derradeira
vou passar a vida inteira
esperando por você

essa noite é que é meu dia
essa lua é quem me guia
e você é meu amor
vou pela estrada tão comprida
quem me diz não ser perdida
essa viagem em que eu vou

é lua nova
é noite derradeira
vou passar a vida inteira
esperando por você.

Torquato Neto

Guerra santa

Ele diz que tem que tem como abrir o portão do céu
Ele promete a salvação
Ele chuta a imagem da santa, fica louco, pinel
Mas não rasga dinheiro, não

Ele diz que faz que faz tudo isso em nome de Deus
Como um papa da Inquisição
Nem se lembra do horror da Noite de São Bartolomeu
Não, não lembra de nada, não

Não lembra de nada, é louco, mas não rasga dinheiro
Promete a mansão no paraíso, contanto que você pague primeiro
Que você primeiro pague o dinheiro, dê sua doação
E entre no céu levado pelo bom ladrão

Ele pensa que faz do amor sua profissão de fé
Só que faz da fé profissão
Aliás, em matéria de vender paz, amor e axé
Ele não está sozinho, não

Eu até compreendo os salvadores profissionais
Sua feira de ilusões
Só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz
Deixa o outro vender limões

Um vende limões, o outro vende o peixe que quer
O nome de Deus pode ser Oxalá, Jeová, Tupã, Jesus, Maomé
Maomé, Jesus, Tupã, Jeová, Oxalá e tantos mais
Sons diferentes, sim, para sonhos iguais

Gilberto Gil

A Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade, sim...

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar...

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval,
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento do sonho
Pra fazer a fantasia de rei, ou pirata,
ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira

A felicidade é como gota de orvalho
Numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A minha felicidade está brilhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo por favor
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos do amor
Tristeza não tem fim...

Tom Jobim/Vinícius de Moraes


Espere Por Mim, Morena

Espere por mim, morena
Espere que eu chego já
O amor por você morena
Faz a minha saudade me apressar
Tire um sono na rede
Deixa a porta encostada
Que o vento da madrugada
Me leva pra você
E antes de acontecer o sol
A barra vir quebrar
Estarei nos teus braços para nunca mais voar
E nas noites de frio serei o teu cobertor
Quentarei o teu corpo
com o meu calor
Minha santa te juro
Por Deus Nosso Senhor

Gonzaguinha

Calcanhar de Aquiles

Pra que que eu fui lembrar dos olhos dele
Jabuticaba madura
Coração cabeça-dura
Teima, bate até que fura
Desconjura e negaceia
Feito lobo em lua cheia
Na cadeia desse olhar
Que arrepia, esfria-se e me dá
Taquicardia, falta de ar
É o coração que desce pro calcanhar de aquiles
Doce suplício do amor
Faquires tiram partido da dor
Que bate, come e repinica
Feito fome de lumbriga
Na barriga da miséria
Coração cabeça velha
Me virando do avesso
Inventei qualquer pretexto
Fui pedir para voltar
Cheguei no prédio errei de andar
No elevador um gordo me dá
Um pisão no calo
Que me enxotou de lá mancando
Sei que esse amor vai ficar sangrando
No peito e no calcanhar de aquiles
Doce suplício do amor
Faquires tiram partido da dor
Que dá lembrar dos olhos dele.

J.Garfunkel/Paul Garfunkel

Luiza

Rua,
Espada nua
Bóia no céu imensa e amarela
Tão redonda, a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio, lento
Um trovador cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer, Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo dessa neve
mora
Um coração
Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Me dá tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol nos teus cabelos
Como um brilhante que, partindo a luz,
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar,
Luiza.

Feliz

Para quem bem viveu o amor
Duas vidas que abrem, não acabam com a luz
São pequenas estrelas que correm no céu
Trajetórias opostas sem jamais deixar de se olhar
É o carinho guardado num cofre de um coração que voou
É o afeto deixado nas veias
De um coração que ficou
É a certeza da eterna presença da vida que foi
Na vida que vai
É a saudade da boca
Feliz cantar
Foi, foi, foi
Foi bom e pra sempre será
Mais, mais, mais, maravilhosamente amar
E foi, foi, foi,
Foi bom e prá sempre será
Mais, mais, mais, maravilhosamente amar

Gonzaguinha


Cantiga de Amigo

Lá na Casa dos Carneiros onde os violeiros
vão cantar louvando você
em cantiga de amigo, cantando comigo
somente porque você é
minha amiga mulher
lua nova do céu que já não me quer
Dezessete é minha conta
vem amiga e conta
uma coisa linda pra mim
conta os fios dos seus cabelos
sonhos e anelos
conta-me se o amor não tem fim
madre amiga é ruim
me mentiu jurando amor que não tem fim
Lá na Casa dos Carneiros, sete candeeiros
Iluminam a sala de amor
sete violas em clamores, sete cantadores
são sete tiranas de amor, para amiga em flor
qui partiu e até hoje não voltou
Dezessete é minha conta
vem amiga e conta
uma coisa linda pra mim
pois na Casa dos Carneiros, violas e violeiros
só vivem clamando assim
madre amiga é ruim
me mentiu jurando amor que não tem fim
Lá na Casa dos Carneiros, sete candeeiros
Iluminam a sala de amor
sete violas em clamores, sete cantadores
são sete tiranas de amor, para amiga em flor
qui partiu e até hoje não voltou
Dezessete é minha conta
vem amiga e conta
uma coisa linda pra mim
conta os fios dos seus cabelos
sonhos e anelos
conta-me se o amor não tem fim
madre amiga é ruim
me mentiu jurando amor que não tem fim

Elomar

Alegria

Eu vou te dar alegria
Eu vou parar de chorar
Eu vou raiar o novo dia
Eu vou sair do fundo do mar
Eu vou sair da beira do abismo
E dançar e dançar e dançar
A tristeza é uma forma de egoísmo
Eu vou te dar eu vou te dar eu vou

Hoje tem goiabada
Hoje tem marmelada
Hoje tem palhaçada
O circo chegou

Hoje tem batucada
Hoje tem gargalhada
Riso e risada
Do meu amor

Arnaldo Antunes


Metade de Nós

Ainda que a saudade faça alarde
E as dúvidas insistam em ficar
Eu nunca estou partindo
Eu sempre estou voltando
Tecendo no meu peito um grande amor
Ainda que eu seja só metade
Palavra, não consigo decifrar
E o que me leva a crer nesse momento
É o sentimento puro que eu posso te dar
E então eu me deito
E me viro no leito
Sobre o teu travesseiro
Tua voz me acorda
E no instante transforma
Todos os meus pesadelos
E então eu me acalmo outra vez
Revirando os lençóis
Palmo a palmo eu te faço
Como outro pedaço
Que falta de nós

Rosinha de Valença/Joanna

Quem Há de Dizer

Quem há de dizer
Que quem você está vendo
Naquela mesa bebendo
È o meu querido amor
Repare bem que toda vez que ela fala
Ilumina mais a sala
Do que a luz do refletor
O cabaré se inflama quando ela dança
E com a mesma esperança
Todos lhe põem o olhar
E eu, o dono
Aqui no meu abandono
Espero, louco de sono
O cabaré terminar
Rapaz !
Leve esta mulher consigo
Disse uma vez um amigo
Quando nos viu conversar
Vocês se amam
E o amor deve ser sagrado
O resto deixa de lado
Vá construir o seu lar !
Palavra !
Quase aceitei o conselho
O mundo este grande espelho
Que me fez pensar assim
Ela nasceu com o destino da lua
Pra todos
Que andam na rua
Não vai viver só pra mim

Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçalves

Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo

Tanto tempo longe de você
Quero ao menos lhe falar
A distância não vai impedir
Meu amor de lhe encontrar
Cartas já não adiantam mais
Quero ouvir a sua voz
Vou telefonar dizendo
Que eu estou quase morrendo
De saudades de você

Eu te amo, eu te amo, eu te amo

Eu não sei por quanto tempo eu
Tenho ainda que esperar
Quantas vezes eu até chorei
Pois não pude suportar
Para mim não adianta
Tanta coisa sem você
E então me desespero
Por favor meu bem eu quero
Sem demora lhe falar

Eu te amo, eu te amo, eu te amo

Mas o dia que eu puder lhe encontrar
Eu quero contar
O quanto sofri por todo esse tempo
Que eu quis lhe falar

Eu te amo, eu te amo, eu te amo

Eu te amo, eu te amo, eu te amo

Para mim não adianta
Tanta coisa sem você
E então me desespero
Por favor meu bem eu quero
Sem demora lhe falar

Eu te amo, eu te amo, eu te amo

Eu te amo, eu te amo, eu te amo
.
Roberto Carlos


Pra não dizer que não falei das flores

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantado e seguindo a canção

Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Pelos campos a fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
de morrer pela pátria e viver sem razão
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Geraldo Vandré

Marcha da Quarta-Feira de Cinzas

Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê é uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando, dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança, contente da vida feliz a cantar
Porque são tão tantas coisas azuis, há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver e brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas

Carlos Lyra


Ave rara

Minha vida peregrina
Vai em busca de você
Como se eu fosse um malê
E você fosse a revelação
Do poente vem teu canto
Ave rara do Islã
Quem é pedra como eu sou
Bebe a água do amanhã
Ah,
Tanta sede é meu destino
Esse amor é beduíno
E o oásis teu lençol
Mas
Sempre no fim da viagem
Você volta a ser miragem
Areia e sol

Edu Lobo


Apelo

Ah, meu amor não vá embora
Vê a vida como chora
Vê que triste esta canção
Eu te peço não te ausentes
Pois a dor que agora sentes
Só se esquece com o perdão
Ah, meu amor se tu soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu
Se tu soubesses num momento
Todo o arrependimento
Como tudo entristeceu
Se tu soubesses como é triste
Eu saber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus
Ah! meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus
Ah! meu amado me perdoa
Pois embora ainda me doa
A tristeza que causei
Eu te suplico não destruas
Tantas coisas que são tuas
Por um mal que já paguei

. Baden Powell/Vinícius de Moraes

Argumento

Sei que este argumento é muito pobre
Mas sabendo quanto és nobre
Sei que podes perdoar
Sei que este farrapo de desculpa
Não redime a minha culpa
Mas, enfim, eu vou tentar

Sei que fui ousado no meu gesto
Não ouvindo o teu protesto
Para ouvir meu coração
Sei que uma desculpa não redime
Meu pecado quase é crime
De um beijo sem permissão

Mas se fui pecador eu condeno a lua
Que abandonou a rua
E fugiu com o luar
Pois ela adivinhando o meu desejo
Provocou aquele beijo
E, assim, me fez pecar

Se impetuoso fui, tem compaixão
E em nome do amor
Suplico o teu perdão
Perdoa, meu amor
Este pecado
Sublime impulso de te haver beijado

Adelino Moreira

Balada do Amor Inabalável

Leva essa canção de amor dançante
Pra você lembrar de mim, seu coração lembrar de mim
Na confusão do dia-a-dia, no sufoco de uma dúvida
Na dor de qualquer coisa

É só tocar essa balada de swing inabalável
Que é oásis para o amor
Eu vou dizendo na seqüência bem clichê
Eu preciso de você

É força antiga de espírito virando convivência
De amizade apaixonada
Sonho, sexo, paixão, vontade gêmea de ficar
E não pensar em nada

Planejando pra fazer acontecer
Ou simplesmente refinando essa amizade
Eu vou dizendo na seqüência bem clichê
Eu preciso de você

Mesmo que a gente se separe por uns tempos
Ou quando você quiser lembrar de mim
Toque a balada do amor inabalável
Swing de amor nesse planeta

Mesmo que a gente se separe por uns tempos
Ou quando você quiser lembrar de mim
Toque a balada seja antes ou depois
Eterna love song de nós dois

Fausto Fawcett/Samuel Rosa

Infinito Desejo

Ah, infinito delírio chamado desejo
Essa fome de afagos e beijos
Essa sede incessante de amor
Ah, essa luta de corpos suados
Ardentes e apaixonados
Gemendo na ânsia de tanto se dar
Ah, de repente o tempo estanca
Na dor do prazer que explode
É a vida, é a vida, é a vida, e é bem mais
Esse teu rosto sorrindo
Espelho do meu no vulcão da alegria
Te amo, te quero, meu bem não me deixe jamais
E eu sinto a menina brotando da coisa linda
Que é ser tão mulher
Oh santa madura inocência
O quanto foi bom e pra sempre será
E o que mais importa é manter essa chama
Até quando eu não mais puder

Gonzaguinha


Tempos Modernos

Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais clara e farta
Repleta de toda satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Que não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo o que há pra viver
Vamos nos permitir

Eu quero crer no amor numa boa
Que isso valha pra qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim do que não, não, não

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Que não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo o que há pra viver
Vamos nos permitir

Lulu Santos

Gato Gaiato (Não Minto Pra Mim)

Pelo o que me diz respeito
Eu sou feita de dúvidas
O que é torto o que é direito
Diante da vida
O que é tido como certo, duvido
Sou fraca, safada, sofrida
E não minto pra mim

Vou montada no meu medo
E mesmo que eu caia
Sou cobaia de mim mesma
No amor e na raiva

Vira e mexe me complico
Reciclo, tô farta, tô forte, tô viva
E só morro no fim
Lá do alto do telhado pula quem quiser
Só o gato que é gaiato
Cai de pé

E pra quem anda nos trilhos cuidado com o trem
Eu por mim já descarrilho
E não atendo a ninguém
Só me rendo pelo brilho de quem vai fundo
E mergulha com tudo
Pra dentro de si

E se a gente coincidisse
Num sonho qualquer
Eu contigo, tu comigo
Os dois, homem e mulher
Sendo a soma e tendo a chance de ser
Um par de pessoas, na boa
Vivendo felizes

Jean Garfunkel/Paulo Garfunkel/Prata

Canto 3°

Se é pra dizer adeus, pra não te ver jamais
Eu, que dos filhos teus, fui te querer demais
No verso que hoje chora, pra te fazer capaz
Da dor que me devora, quero dizer-te mais
Que além de adeus agora, eu te prometo em paz
Levar comigo afora o amor demais

Amado meu, sempre será
Quem me guardou no seu cantar
Quem me levou além do céu
Além dos seus e além do mais
Amado meu, que além de mim se dá

Geraldo Vandré

Infidelidade

Aquele que considera
O amor uma quimera
Vive longe de um sofrer
Tem sempre os olhos enxutos
Crer no amor de dez minutos
E nelas não deve crer
São falsas na maioria
E quando o homem confia
Em tudo que a mulher diz
Eis a traição consumada
Uma vida desgraçada
Um lar a mais infeliz

Gostei de uma criatura
Sem moral, sem compostura
Sem coração, sem pudor
Era o dono do negocio
Sem saber que havia um sócio
Na firma do nosso amor
Felizmente ainda alega
Saber-se que toda regra
Tem sempre a sua exceção
Não julgo todas por uma
Pode ser que haja alguma
Com pudor e coração.

Ataulfo Alves

Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida

Se um dia meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos ficou, ficou
Só um amor pode apagar
Porém (ai, porém)
Há um caso diferente que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em outro amor
Quando alguém que não me lembro anunciou:
Portela! Portela!
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou
Ai, minha Portela, quando vi você passar
Senti o meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir aquele azul
Não era do céu; nem era do mar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar

Paulinho da Viola


Fera Ferida

Acabei com tudo, escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída
Mas saí ferido, sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito muitas vezes no peito atingido
Animal arisco, domesticado perde o risco
Me deixei enganar e até me levar por você
Morrendo aos poucos por amor
Eu sei, o coração perdoa, mas não esquece à toa
E eu não me esqueci
Não vou mudar, esse caso não tem solução
Sou fera ferida, no corpo, na alma, e no coração

Eu andei demais, não olhei prá trás
Era solto em meus passos, bicho livre, sem rumo, sem laços
Me sinto sozinho, tropeçando em meu caminho
À procura de abrigo, uma ajuda, um lugar, um amigo
Animal ferido, por instinto decidido
Os meus rastros desfiz, tentativa infeliz de esquecer
Eu sei que flores existiram
Mas que não resistiram a vendavais constantes
Eu sei que as cicratrizes falam
Mas as palavras calam o que eu não esqueci
Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida, no corpo, na alma,
E no coração

Roberto Carlos/ErasmoCarlos

Pequeno concerto que virou canção

Não
Não há por que mentir ou esconder
A dor que foi maior do que é capaz meu coração
Não
Nem há por que seguir
Cantando só para explicar
Não vai nunca entender de amor
Quem nunca soube amar.
Ah...
Eu vou voltar pra mim
Seguir sozinho assim
Até me consumir
Ou consumir
Toda essa dor
Até sentir de novo
O coração
Capaz de amor.

Geraldo Vandré

A Dama do Apocalipse

Branco por cima e o negro de um sorriso herói
Trancam-me a mente e eu nego o quanto a dor destrói
Rasgam-me o sonho e o mal me põe na vida
E a vida me faz sem medo
Nos diademas, pragas, anjos de neon
Nos holocaustos trompas, flexas, megatrons
Rasgam-me a terra e o fogo traz a vida
E a vida não traz segredo
Fecha-se o ar e o sol se nega, nega-se o pão e a paz
E o amor me cega
Sete rajadas correm, somem
E uma mulher
Se entrega e se impõe ardente
Constante, serpente, vulgar
Rasga-se o sonho e o corpo sente a dor crescer
Abre-se a mente e o cego vê a luz nascer
Trava-se a guerra e o fogo faz a vida

Nathan Marques/CrispimDell Costa

Explode Coração

Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou

Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã

Nascendo, rompendo, rasgando tomando meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louco, alucinado e criança
Sentindo o meu amor se derramando

Não dá mais pra segurar
Explode coração

Gonzaguinha

Quem Sabe isso Quer dizer Amor

Cheguei a tempo de te ver acordar
eu vim correndo a frente do sol
abri a porta e antes de entrar
revi a vida inteira

pensei em tudo que é possível falar
que sirva apenas para nós dois
sinais de bem, desejos de cais
pequenos fragmentos de luz

falar da cor dos temporais
do céu azul, das flores de abril
pensar além do bem e do mal
lembrar de coisas que ninguém viu
o mundo lá sempre a rodar
e em cima dele tudo vale
quem sabe isso quer dizer amor
estrada de fazer o sonho acontecer

pensei no tempo e era tempo demais
você olhou sorrindo pra mim
me acenou com beijos de paz
virou minha cabeça

eu simplesmente não consigo parar
lá fora o dia já clareou
mas se você quiser transformar
o ribeirão em braço de mar

você vai ter que encontrar
onde nasce a fonte do ser
e perceber meu coração
bater mais forte só por você
o mundo lá sempre a rodar,
em cima dele tudo vale
quem sabe isso quer dizer amor,
estrada de fazer o sonho acontecer

Márcio Borges/Lô Borges

Saia do Caminho

Junte tudo que é seu, seu amor, seus trapinhos
Junte tudo o que é seu e saia do meu caminho
Nada tenho de meu
Mas prefiro viver sozinho
Nosso amor já morreu
E a saudade se existe é minha
Fiz até um projeto, no futuro, um dia
No nosso mesmo teto
Mais uma vida vingaria
Fracassei novamente
Pois sonhei, mas sonhei em vão
E você francamente, decididamente
Não tem coração

Custódio Mesquita/Evaldo Rei

Festa do Interior

Fagulhas, pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas, meu coração
Bombas na guerra - magia
Ninguém matava, ninguém morria
Nas trincheiras da alegria
O que explodia era o amor
E ardia aquela fogueira
Que me esquentava a vida inteira
Eterna noite sempre a primeira
Festa do interior

Moraes Moreira

Cambaio

Eu quero moça que me deixe perdido
Procuro moça que me deixe pasmado
Essa moça zoando na minha idéia
Eu quero moça que me deixe zarolho
Procuro moça que me deixe cambaio
Me fervendo na veia

Desejo a moça prestes
A transformar-se em flor
A se tornar um luxo
Pro seu novo amor
Que é de fechar bordel
Que ateia fogo às vestes
Na lua-de-mel

Eu quero moça que me deixe maluco
Moça disposta a me deixar no bagaço
Essa moça zanzando na minha raia
Eu quero moça que me chame na chincha
Com sua flecha que crave um buraco
Na cabeça e não saia

Que não abaixa a fronte
Que vai por onde quer
Que segue pelo cheiro
Quero essa mulher
Que é de rasgar dinheiro
Marido detonar
Se arremessar da ponte
E me carregar

Vejo fulana a festejar na revista
Vejo beltrana a bordejar no pedaço
Divinais garotas
Belas donzelas no salão de beleza
Altas gazelas nos jardins do palácio
Eu sou mais as putas

Edu Lobo/Chico Buarque

Pela Luz dos Olhos Teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar,
Ai que bom que isso é meu Deus,
Que frio que me dá o encontro desse olhar.
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar,
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar.
Meu amor, juro por Deus,
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar,
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará.
Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor, que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar

Tom Jobim

Por Amor

Eu ouvi dizer que você falou
Que está pensando em voltar pra mim
Que se entristece ao saber como eu estou
Mas você precisa saber que eu
Ainda tenho um pouco de orgulho em mim
Embora quase morto
Eu tenho aquele amor
Mas eu não vou deixar você me ver assim
Minha vida se modificou
Do que eu era nada mais restou
Eu me perdi.
E no submundo onde estou
Sobrevivo sem saber se vou
Ainda crer no amor mesmo sem ter você.
Mas se um dia, se um dia você voltar
Então eu vou ter chance de me levantar
Pois só você me pode estender a mão
Mas se não for por amor
Me deixe aqui no chão.

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Face a Face

São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
Morena quando repenso o nosso sonho fagueiro
O céu estava tão denso, o inverno tão passageiro
Uma certeza me nasce, e abole todo o meu zelo
Quando me vi face a face fitava o meu pesadelo
Estava cego o apelo, estava solto o impasse
Sofrendo nosso desvelo, perdendo no desenlace
No rolo feito um novelo, até o fim do degelo
Até que a morte me abrace
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
Morena quando relembro aquele céu escarlate
Mal começava dezembro, já ia longe o combate
Uma lambada me bole, uma certeza me abate
A dor querendo que eu morra, o amor querendo que eu mate
Estava solta a cachorra que mete o dente e não late
No meio daquela zorra, perdendo no desempate
Girando feito piorra, até que a mágoa escorra
Até que a raiva desate
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração

Sueli Costa/Abel Silva

Andança

Vim tanta areia andei
Da lua cheia eu sei,uma saudade imensa
Vagando em verso eu vim vestido de cetim
Na mão direita rosas vou levar
Olha a lua mansa a se derramar
Ao luar descansa meu caminhar
Meu olhar da festa se fez feliz
Lembrando a seresta que um dia eu fiz
Já me fiz da guerra
por não saber
Que esta terra encerra meu bem querer
E jamais termina meu caminhar
Só o amor ensina onde vou chegar

Rodei de roda andei, dança da moda eu sei
Cansei de ser sozinho
Verso encantado usei, meu namorado é rei
Nas lendas do caminho
Onde andei
No passo da estrada só faço andar
Tenho a minha amada a me acompanhar
Vim de longe léguas cantando eu vim
Já não faço tréguas sou mesmo assim

Danilo Caymmi/Edmundo Souto/Palinho Tapajós

Anna Julia

Quem te ver passar assim por mim, não sabe o que é sofrer.
Tem que ver você assim, sempre tão linda
Contemplar o sol no teu olhar, e ver você no ar,
Na certeza de um amor, me achar um nada,
Pois sem ter teu carinho, eu me sinto sozinho,
Eu me afogo em solidão.
Oh Anna Julia, Oh Anna Julia.
Nunca acreditei na ilusão de ter você pra mim,
Me atormenta a previsão do nosso destino
Vou passando o dia a te esperar, você sem me notar,
Quando tudo tiver fim, você vai estar com um cara
Um alguém sem carinho, será sempre
Um espinho dentro do meu coração.
Oh Anna Julia, Oh Anna Julia.
Sei que você já não quer o meu amor,
Sei que você já não gosta de mim
Eu sei que eu não sou quem você sempre sonhou.
Mas vou reconquistar o seu amor todo pra mim

Marcelo Camelo

Falando de Amor

Se eu pudesse por um dia
Esse amor, essa alegria
Eu te juro, te daria
Se pudesse esse amor todo dia
Chega perto, vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro canção
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
Chora flauta, chora pinho
Choro eu o teu cantor
Chora manso, bem baixinho
Nesse choro falando de amor

Quando passas, tão bonita
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
E eu me esqueço até do futebol
Vem depressa, vem sem medo
Foi pra ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro canção
Lá no fundo do meu coração

Tom Jobim

Teu Sonho Não Acabou

Hoje a minha pele já não tem cor
Vivo a minha vida seja onde for
Hoje entrei na dança e não vou sair
Vem que eu sou criança não sei fingir

Eu preciso, eu preciso de você
Ah! Eu preciso, eu preciso, eu preciso muito de você

Lá onde eu estive o sonho acabou
Cá onde eu te encontro só começou
Lá colhi uma estrela pra te trazer
Bebe o brilho dela até entender

Que eu preciso...

Só feche o seu livro quem já aprendeu
Só peça outro amor quem já deu o seu
Quem não soube a sombra, não sabe a luz
Vem não perde o amor de quem te conduz

Eu preciso...

Nós precisamos, precisamos sim
Você de mim, eu de você.

Taiguara

Canção do Amor Demais

Quero chorar porque te amei demais
Quero morrer porque me deste a vida
Oh, meu amor, será que nunca hei de ter paz
Será que tudo que há em mim
Só quer sentir saudade
E já nem sei o que vai ser de mim
Tudo me diz que amar será meu fim
Que desespero traz o amor!
Eu nem sabia o que era o amor
Agora sei porque não sou feliz

Vinícius de Moraes/Tom Jobim

Um Favor

Eu hoje acordei pensando
Por que é que eu vivo chorando
Podendo lhe procurar
Se a lágrima é tão maldita
Que a pessoa mais bonita
Cobre o rosto pra chorar
E refletindo um segundo
Resolvi pedir ao mundo
Que me fizesse um favor
Para que eu não mais chorasse
Que alguém me ajudasse
A encontrar meu amor
Maestro, músicos, cantores
Gente de todas as cores,
Faça esse favor pra mim
Quem puder cantar que cante
Quem souber tocar que toque
Flauta, trombone ou clarim
Quem puder gritar, que grite
Quem tiver apito, apite
Faça esse mundo acordar
Para que onde ela esteja
Saiba que alguém rasteja
Pedindo pra ela voltar...

Lupicínio Rodrigues

Eu Não Sonho Mais

Hoje eu sonhei contigo, tanta desdita, amor nem te digo
Tanto castigo que eu tava aflita de te contar
Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha, e se urina toda e quer sufocar
Meu amor vi chegando um trem de candango
Formando um bando mas que era um bando de orangotango pra te pegar
Vinha nego humilhado, vinha morto-vivo, vinha flagelado
De tudo que é lado vinha um bom motivo pra te esfolar
Quanto mais tu corria mais tu ficava, mais atolava
Mais te sujava, amor, tu fedia, empesteava o ar
Tu que foi tão valente chorou pra gente, pediu piedade
E, olha que maldade, me deu vontade de gargalhar
Ao pé da ribanceira acabou-se a liça e escarrei-te inteira
A tua carniça e tinha justiça nesse escarrar
Te rasgamo a carcaça, descendo a ripa, viramo as tripas
Comendo os ovos, ai, e aquele povo pôs-se a cantar
Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha e se urina toda e já não tem paz
Pois eu sonhei contigo e caí da cama
Ai, amor, não briga, ai, não me castiga
Eu não sonho mais...

Chico Buarque

Canção de Amor

Saudade, torrente de paixão
Emoção diferente
Que aniquila a vida da gente
Uma dor que eu não sei de onde vem
Deixaste o meu coração vazio
Deixaste a saudade
Ao desprezares aquela amizade
Que nasceu ao chamar-te meu bem

Nas cinzas do meu sonho
Um hino então componho
Sofrendo a desilusão
Que me invade
Canção de amor, saudade

Chocolate/ Elano de Paula


Por Um Segundo

Por um segundo
Num sorriso teu
Fez-se festa infinita em minha vida
E a estrada longa, inteira
Num giro da mente eu vi
Por um segundo
Em um beijo teu
Tive todo universo em meu corpo
E eu fui dono das estrelas
Guardei no peito pra dois
Manso riacho nos levando
Abraço calmo e quente, corrente aumentando
Mergulhar sem fim
Por um segundo
Um segundo só
Explodiu o nosso amor por sobre o mundo
E nos fomos só a alegria
Depois do silêncio então
Morrer...

Gonzaguinha


Chovendo na Roseira

Olha está chovendo na roseira
Que só dá rosa mas não cheira
A frescura das gotas úmidas
Que é de Luisa
Que é de Paulinho
Que é de João
Que é de ninguém

Pétalas de rosa carregadas pelo vento
Um amor tão puro carregou meu pensamento

Olha um tico-tico mora ao lado
E passeando no molhado
Adivinhou a primavera

Olha que chuva boa prazenteira
Que vem molhar minha roseira
Chuva boa criadeira
Que molha a terra
Que enche o rio
Que limpa o céu
Que trás o azul

Olha o jasmineiro está florido
E o riachinho de água esperta
Se lança em vasto rio de águas calmas

Ah, você é de ninguém
Ah, você é de ninguém

Tom Jobim

Amor Meu Grande Amor

Amor meu grande amor, não chegue na hora marcada
Assim como as canções, como as paixões e as palavras
Me veja nos seus olhos , na minha cara lavada
E venha sem saber se sou fogo ou se sou água.

Amor, meu grande amor, me chegue assim bem de repente
Sem nome ou sobrenome sem sentir o que não sente
Que tudo que ofereço é meu calor, meu endereço
A vida do teu filho, desde o fim até o começo.
Que tudo que ofereço é meu calor, meu endereço
A vida do teu filho, desde o fim até o começo.

Amor, meu grande amor, só dure o tempo que mereça
E quando me quiser, que seja de qualquer maneira
Enquanto me tiver, que eu seja o time, a primeira
E quando eu te encontrar, meu grande amor me reconheça.

Ângela Ro Ro/Ana Terra

Fé Cega, Faca Amolada

Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada

Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo
Deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo
Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar faca amolada

Irmão, irmã, irmã, irmão de fé faca amolada
Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia
Beber o vinho e renascer na luz de todo dia
A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada
O chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada
Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia
Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai se muito tranquilo

Milton Nascimento/Fernando Brandt

Blues do Arranco

Arranco a roupa pra me sentir
Bem à vontade pra te mentir
Sem o mínimo pudor fazer promessas de amor
Sem o mínimo respeito ao coração que bate dentro do teu peito
Arranco os blues pra maltratar, só pra te ver me cobiçar
Sem o mínimo escrúpulo, pois coração também é músculo
Sem a mínima vergonha
Eu ponho a fronha no teu rosto e vou me amar
Arranco a pele de bom carneiro
Caço meu lobo só pelo cheiro
Sem sequer compaixão vou te deixar sem ação
Esse tipo de conquista vigarista
É o que eu chamo vocação

Ângela Ro Ro


Caminhemos

Não eu não posso lembrar que te amei,
Não, eu preciso esquecer que sofri
Faça de conta que o tempo passou,
E que tudo entre nós terminou
E que a vida não continuou prá nós dois
Caminhemos, talvez nos vejamos depois
Vida comprida, estrada alongada,
Parto a procura de alguém ou à procura de nada
Vou indo, caminhando, sem saber onde chegar,
Quem sabe na volta te encontre no mesmo lugar.
Herivelto Martins.

Boa Noite Amor

Boa noite amor
Meu grande amor
Contigo sonharei

E a minha dor esquecerei
Se eu souber que o sonho teu
Foi o mesmo sonho meu

Boa noite, amor
E sonhe enfim
Pensando sempre em mim

Na carícia de um beijo
Que ficou no desejo
Boa noite, meu grande amor.

J.M.Abreu/F.Matoso


Valsa da Primavera

Não se perde a vida
Assim como você
Que não procura
Ao menos esquecer
Que fica só
Sem mais por que viver
E um pouco o pranto
Só por estas poucas
Páginas de dor
Você fechou o livro do amor
Se deu à morte
Desacreditou
Mas enquanto houver a primavera
O amor não morrerá
Não morrerá essa flor
Que enfeita o peito em festa
Dos que se amam, se amam
Sim, sim
Veste a primavera, a primavera
E vem fazer o amor
Colher o amor também
Há quem procura
E te procura e quer
Abrir em flor teu corpo de mulher

Taiguara

Valsa Para O Ausente

Procura ouvir
A minha voz
Na tua solidão

Procura ver
Meu corpo a sós
Arder na escuridão

Procura, amor
Em tua dor
Sentir o pranto meu
Aqui estou eu
A te esperar
Com tudo que foi teu
Não tardes mais
Que as tardes más
Já vão anoitecer

Vinicius De Moraes / Marília Medalha

Ironia

Jogam pra mim
Um sorriso de ironia
Sabem que a minha alegria
Terminou
Quero fugir não consigo
Sinto meu peito ferido
Envolvido por esse amor

Algo no meu rosto denuncia
Que perdi minha alegria
Meu amor me disse adeus
Não sei como alguém fica contente
Quando sabe que a gente
Não esquece o que perdeu

Paulinho da Viola


Não Vim Pra Ficar

Não vim pra ficar
Não reserve um espaço no armário pra me acostumar
Não espere no horário arrumada na sala de estar
Não pretendo trazer minha vida pro seu bangalô

Não vim pra ficar
Não separe um cantinho pra eu ler o jornal no sofá
Não pergunte o que eu gosto, que vai me fazer pro jantar
Me desculpe o mau jeito que é o jeito que eu sou

Não vim pra ficar
Não me guarde uma escova de dentes, não vou pernoitar
Não faz cópia da chave, não quero invadir o seu lar
Quero vir como sempre, feito um beija-flor

Não vim pra ficar
Não me põe monograma na fronha da gente deitar
Não pendure no tanque gaiola pro meu sabiá
Não faz do nosso encontro uma obrigação, por favor

Não vim pra ficar
Eu não quero assumir compromisso da gente juntar
Por enquanto é melhor não mexer, deixe assim como está
Vamos ver que destino vai ter nosso amor

Wilson das Neves/Paulo César Pinheiro

A Saudade Mata a Gente

Fiz meu rancho na beira do rio
Meu amor foi comigo morar
E nas redes nas noites de frio
Meu bem me abraçava pra me agasalhar
Mas agora, meu Deus, vou-me embora
Vou-me embora e não sei se vou voltar
A saudade nas noites de frio
Em meu peito vazio virá se aninhar
A saudade mata a gente ,morena
A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena

Antônio Almeida/João de Barro

Pra Machucar Meu Coração

Tá fazendo um ano e meio amor
Que o nosso lar, desmoronou
Meu sabiá, meu violão
E uma cruel desilusão
Foi tudo que ficou, ficou
Pra machucar meu coração
Quem sabe não foi
Bem melhor assim
Melhor pra você
E melhor pra mim
O mundo é uma escola
Onde a gente precisa aprender
A ciência de viver
Pra não sofrer.

Ary Barroso

Gás Neon

Viver essa longa avenida de gás neon
Portas de ouro e prata
Falsos sonhos nessas noites de verão
Faces coloridas, farsas de alegria
Beijo sem sabor
Gestos clandestinos tontos e sedentos de amor
Espinhos, rosas, risos, pranto e tanto desamor
Corte, cicatrizes, gritos engasgados
Lágrimas de dor
Máscaras no rosto, continua a festa
No sorriso o sal
A orquestra geme as dores do palhaço
Triste marginal
Ai de quem mergulhar nesse mar de veneno
Nessa lama enfeitada, nesse sangue das taças
Temendo sofrer
Ai de quem quer negar esse mar de veneno
Mil vezes maldito na inconsciência

Gonzaguinha

Sete Mil Vezes

Sete mil vezes eu tornaria a viver assim
Sempre contigo transando sob as estrelas
Sempre cantando a música doce
Que o amor pedir pra eu cantar
Noite feliz, todas as coisas são belas
Sete mil vezes, e em cada uma outra vez querer
Sete mil outras em progressão infinita
Quando uma hora é grande e bonita
Assim quer se multiplicar
Quer habitar todos os cantos do ser
Quarto crescente pra sempre um constante quando
Eternamente o presente você me dando
Sete mil vidas, sete milhões e ainda um pouco mais
É o que eu desejo e o que deseja esta noite
Noite de calma e vento, momento
De preces e de carnavais

Caetano Veloso

Anima

Lapidar minha procura toda trama
Lapidar o que o coração com toda inspiração
Achou de nomear gritando alma
Recriar cada momento belo já vivido e mais,
Atravessar fronteiras do amanhecer,
E ao entardecer olhar com calma e então

Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber
Casa cheia de coragem, vida tira a mancha que há no meu ser
Te quero ver, te quero ser
Alma

Viajar nessa procura toda de me lapidar nesse momento agora
De me recriar, de me gratificar de custo alma, eu sei
Casa aberta onde mora o mestre, o mago da luz, onde se encontra o templo
Que inventa a cor animará o amor onde se esquece a paz
Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber
Casa cheia de coragem, vida todo afeto que há no meu ser
Te quero ver, te quero ser
Alma.
Milton Nascimento

Amor de Trapo e Farrapo

Amor de trapo e farrapo...
Tudo errado é tão gostoso...
De dar arrepio na espinha...
Amor de galo de rinha...
Amor de arranca toco...
Amor de louco contra louca...
Ciúme fogo nos olhos...
Beijo fogo na boca...

E o coração, incêndio, pleno amor
Amor sereno, pirraça
Amor veneno, amor cachaça
Amor de baixo d'água
Amor no meio do inferno
Amor de meter susto ao Padre Eterno, já se vê...
Só pode ser o amor de eu e você...

Paulo Vanzolini

Além do mais, eu te amo

Mexe, remexe ...em cima e embaixo
Santa, me encanta....que em ti eu me acho
Diga que sim e faça de mim, seu capacho...
É tudo que almejo, me dá o teu beijo
Tanta formosura, me leva á loucura
És a minha cura e essência mais pura do desejo
além do mais, te amo...
sou tão feliz...nos braços teus
és o presente....que pedi a deus...
além do mais, te amo...
sou tão feliz...nos braços teus
és o presente....que pedi a deus...
.... . nosso amor é gostoso do inicio ao fim
e felicidade que mora em mim
é tudo na vida
na exata medida pra minha paixão..
teu corpo em meu corpo na hora de amar
é feito o encontro do rio com o mar
e nessa viagem
eu faço a abordagem no teu coração... ....

Martinho da Vila

Pressentimento

Ai, ardido peito
Quem irá entender o teu segredo
Quem irá pousar em teu destino
E depois morrer o teu amor?

Ai, mas quem virá?
Me pergunto a toda hora
E a resposta é o silêncio
Que atravessa a madrugada

Vem, meu novo amor
Vou deixar a porta aberta
Já escuto os teus passos
Procurando meu abrigo

Vem, que o sol raiou
Os jardins estão floridos
Tudo faz pressentimento
Que este é o tempo ansiado
De se ter felicidade

Elton Medeiros/Hermínio Bello de Carvalho

Na linha do Mar

Galo cantou
Galo cantou às quatro da manhã
Céu azulou na linha do mar
Vou me embora desse mundo de ilusão
Quem me vê sorrir
Não há de me ver chorar
Flechas sorrateiras
Cheias de veneno
Querem atingir o meu coração
Mas o meu amor
Sempre tão sereno
Serve de escudo pra
Qualquer ingratidão

Paulinho da Viola

Primavera

O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade

É que eu gosto tanto dela
que é capaz dela gostar de mim
acontece que eu estou mais longe dela
do que a estrela a reluzir na tarde

Estrela, eu lhe diria
desce à terra, o amor existe
e a poesia só espera ver nascer a primavera
para não morrer
Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade

É que o meu amor é tanto
Um encanto que não tem mais fim
no entanto ela não sabe que isso existe
É tão triste se sentir saudade

Amor,eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah! quem me dera eu pudesse ser
a tua primavera e depois morrer

Carlos Lyra/Vinícius de Moraes

Cantiga para Luciana

Manhã no peito de um cantor
Cansado de esperar só
Foi tanto tempo que nem sei
Das tardes tão vazias por onde andei

Luciana, Luciana
Sorriso de menina dos olhos de mar
Luciana, Luciana
Abrace essa cantiga por onde passar

Nasceu na paz de um beija-flor
Em verso, em voz de amor, já
Desponta os olhos da manhã
Pedaço de uma vida que abriu-se em flor

Paulinho Tapajós/Edmundo Souto

Lindo Lago do Amor

E quem que viu
o bem-te-vi?
A sabiá
sabia já,
A lua só olhou pro sol,
A chuva abençoou.
O vento,
dizem que é feliz,
A águia quis saber
Por que, porque,
pour quoi será?
O sapo entregou:
Ele tomou um banho d'água fresca
num lindo lago do amor,
Maravilhosamente clara a água,
num lindo lago do amor.

Gonzaguinha


Fica Mais Um Pouco, Amor

Fica mais um pouco, amor
que eu ainda não dancei com você.
Somos quase vizinhos,
Fazemos o mesmo caminho,
vamos, me dê sua mão.

Quando o baile acabar,
eu levo você no seu portão.
Eu não vou pedir, mas se você quiser me dar
aquele beijo, ao qual eu faço jus.
Espero você entrar, acender e apagar a luz,
abrir a janela e me dizer
Boa noite, Zé, té manhã se deus quiser.
Tá tudo legal.

Adoniran Barbosa


Certas Canções

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
A que perguntar carece
Como não fui eu que fiz

Certa emoção me alcança
Corta minha alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor

Contos da água e do fogo
Cacos de vidas no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração do cantor

Vida e mais vida ou ferida
Chuva, outono ou mar
Carvão e giz, abrigo
Gesto molhado no olhar

Tunai/Milton Nascimento

Cheirando a Amor

Já pus de lado o tormento
De um mundo atento a não perdoar
Amantes sem fingimentos
Delirantes formas de amar
Quero cheirar a amor
Quero exalar suor
Pro dia que você for
Ficar com seu melhor
Amor apertado
Trancada com medo da rua
Se isso é pecado me puna
A culpa de amar livre e nua

Que preconceito barato
Que o cão caça o gato
Me morde e me desafia
Ângela Ro Ro

Nova Ilusão

É dos teus olhos a luz
Que ilumina e conduz
Minha nova ilusão
É nos teus olhos que eu vejo
O amor e o desejo
Do meu coração...
És um poema na terra
Uma estrela no céu
Um tesouro no mar
És tanta felicidade
Que nem a metade
Eu consigo exaltar...
Se um beija-flor descobrisse
A doçura e a meiguice
Que teus lábios tem
Jamais roçaria, as asas brejeiras
Por entre roseiras
Que são de ninguém...
Óh, dona do sonho,
Ilusão concebida
Surpresa que a vida,
Me fez das mulheres,
Há no meu coração
Uma flor em botão

Claudionor Cruz/ Pedro Caetano

Tic Tac do Meu Coração

O tic tic tic tac do meu coração
Marca o compasso do meu grande amor
Na alegria bate muito forte
E na tristeza bate fraco por que sente dor

O tic tic tac do meu coração
Marca o compasso de um atroz viver
É o relógio de uma existência
Que pouco a pouco vai morrendo de tanto sofrer

Meu coração já bate diferente
Dando sinal do fim da mocidade
O seu pulsar é um soluçar constante
De quem muito amou na vida com sinceridade

Às vezes eu penso que o tic tac
É um aviso do meu coração
Que já cansado de tanto sofrer
Não quer que eu tenha nessa vida mais desilusão

Alcir Pires Vermelho/Valfrido Silva

Gostoso demais

Tô com saudades de tu meu desejo
Tô com saudades do beijo e do mel
Do teu olhar carinhoso
Do teu abraço gostoso
De passear no teu céu
É tão difícil ficar sem você
O teu amor é gostoso demais
Teu cheiro me dá prazer
Quando estou com você
Estou nos braços da paz
Pensamento viaja e vai buscar
Meu bem querer não posso ser feliz assim
Tem dó de mim o que que eu posso fazer
Tô com saudades de tu meu desejo ...

Nando Cordel e Dominguinhos

Dois Pra Lá, Dois Pra Cá

Sentindo frio em minha alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, dois pra cá

Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor

Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me perguntes mais

A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias

No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante band aid no calcanhar

Eu hoje me embriagando
De wisky com guaraná
Ouvi tua voz murmurando
São dois pra lá, dois pra cá

João Bosco/Aldir Blanc

Amor Escondido

Quando se tem um amor escondido
Querendo aflorar
É se guardar um rio perdido
Que não encontra o mar
Mas brilha tanto cada sorriso
E brilha mais o olhar
Quando o desejo é claro e preciso
Quem pode ocultar

Tento esquecer
Te digo baixinho
Não sei se vou voltar
Mas nada prende mais
Que um carinho
Já vou te procurar
Vai, pensamento, voa no vento
Vai bem depressa, corre pra lá
Conta pra ela meu sofrimento
Diga pra me esperar
Se passo um dia
Sem seu carinho
Me sinto sufocar
Pássaro mudo
Longe do ninho
Sem forças pra voar...

Fagner/Abel Silva

Copacabana

Existem praias tão lindas
Cheias de luz
Nenhuma tem o encanto
Que tu possuis
Tuas areias
Teu céu tão lindo
Tuas sereias
Sempre sorrindo

Copacabana, princesinha do mar
Pelas manhãs tu és a vida a cantar
E à tardinha, ao sol poente
Deixas sempre uma saudade na gente
Copacabana, o mar eterno cantor
Ao te beijar, ficou perdido de amor
E hoje vive a murmurar
Só a ti Copacabana eu hei de amar

Alberto Ribeiro/João de Barro

Renúncia

Hoje não existe nada mais entre nós
Somos duas almas que se devem separar
O meu coração vive chorando e minha voz
Já sofremos tanto
que é melhor renunciar
A minha renúncia
Enche minha alma e o coração de tédio
A tua renúncia
Dá-me um desgosto que não tem remédio
Amar é viver
É um doce prazer embriagador e vulgar
Difícil no amor é saber renunciar

Roberto Martins/Mário Rossi

Cajueiro

Cajueiro, êê, cajueiro ê-á
Cajueiro pequenino
Todo enfeitado de flor
Eu também sou pequenino
Carregadinho de amor.

Tradicional cajueiro
Dos meus avós traz lembrança
Testemunha evocativa
Dos meus tempos de criança.

O cajueiro não dá coco
Coqueiro não dá limão
O amor quando é de gosto
Não produz ingratidão.

Jackson do Pandeiro/Raimundo Baiana

O Tempo Não Apagou

O vento na madrugada soprou
Trazendo alívio pro meu sofrimento
Sentindo a falta do meu grande amor
Eu segurei minha dor em silêncio
Amanheceu e o sol reforçou
Aquele fogo queimando em meu peito
A ilusão já se desfez
E ainda restou
Teu nome em chamas
No meu pensamento (o vento)
Só ficou a impressão
De um belo sonho
Que surgiu e de repente terminou
Enquanto houver esta saudade no meu peito
Só me resta
Lançar ao vento a minha dor

Paulinho da Viola

Campos de Morango

Chega de inventar apocalipse
A vida não acaba aqui
Vamos por aí, vamos por aí
Que há campos de morangos
Para sempre para ti
Vejo no horizonte a rosa azul
Que a gente vive a perseguir
Cogumelos, girassóis
Verdes esperanças
Para sempre para nós
Muita onda a se curtir
Muito ainda a descobrir com você
Transar com você
Viajar com você
Meu amor o que eu sou
É o que eu escolhi.

Guilherme Arantes

O Que Foi Feito Deverá

O que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou
O que foi feito da vida, o que foi feito do amor
Quisera encontrar aquele verso menino
Que escrevi há tantos anos atrás
Falo assim com saudade, falo assim por saber
Se muito vale o já feito, mas vale o que será
Mas vale o que será
E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir
Falo assim sem tristeza, falo por acreditar
Que é cobrando o que fomos que nós iremos crescer
Nós iremos crescer, outros outubros virão
Outras manhãs, plenas de sol e de luz

Alertem todos alarmas que o homem que eu era voltou
A tribo toda reunida, ração dividida ao sol
E nossa Vera Cruz, quando o descanso era luta pelo pão
E aventura sem par
Quando o cansaço era rio e rio qualquer dava pé
E a cabeça rolava num gira-girar de amor
E até mesmo a fé não era cega nem nada
Era só nuvem no céu e raiz
Hoje essa vida só cabe na palma da minha paixão
Devera nunca se acabe, abelha fazendo o seu mel
No pranto que criei, nem vá dormir como pedra e esquecer
O que foi feito de nós

Milton Nascimento/Fernando Brandt

Eclipse Oculto

Nosso amor não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto fomos quase nada
Tipo de amor que não pode dar certo na luz da manhã
E desperdiçamos os blues do Djavan
Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa qualquer em você
O que será?
Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Pro outro lado da sua
Meu coração galinha de leão
Não quer mais amarrar frustração
O eclipse oculto na luz do verão
Mas bem que nós fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama
Nosso amor não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar?
Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como o som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero, sem tédio, sem fim

Caetano Veloso

Beira-Mar

Na Beira-Mar, entre luzes que lhe escondem
Só sorrisos me respondem
Que eu me perco de você
Que eu me perco de você

Você nem viu a lua cheia que eu guardei
A lua cheia que eu esperei
Você nem viu, você nem viu...
Você nem viu, você nem viu...

Viva o som, velocidade
Forte praia, minha cidade
Só o meu grito nega aos quatro ventos
A verdade que eu não quero ver
Só o meu grito nega aos quatro ventos
A verdade que eu não quero ver

Na Beira-Mar, entre luzes que lhe escondem
Só sorrisos me respondem
Que eu me perco de você
Que eu me perco de você

E o seu gosto que ficando em minha boca
Vai calando a voz já rouca
Sem mais nada pra dizer
sem mais nada pra dizer

E eu fugindo de você
Outra vez me desculpando
É a vida, é a vida...
Simplesmente, e nada mais
É a vida, é a vida...
Simplesmente, e nada mais

E um gosto de você que foi ficando
E a noite, enfim findando
Igual a todas as demais
E nada mais
E nada mais
E nada mais
E nada mais
E nada mais

Meu amor na Beira-Mar
Entre luzes que lhe escondem
Só sorrisos me respondem
E nada mais
Meu amor na Beira-Mar
Entre luzes que lhe escondem
Só sorrisos me respondem
E nada mais
E nada mais
E nada mais

Ednardo


Homem de Rua

Foi na febre da solidão que eu conheci você
A cura mais bonita que um homem pode ter
Já no toque da sua mão senti minha salvação
No sal eu provei o mel, da terra eu peguei no céu..
Eu andava mal, nas portas do inferno
Sem o fogo amigo do inverno
Quanto mais atalhos mais longe o meu caminho
O estádio cheio e eu sozinho
Mas atolado na areia movediça
Eu conheci você,
desfiz o nó da corda do meu pescoço
E seu amor me trouxe do fundo do poço
Te amo, te amo
Parece até que o sol encontrou a lua,
despoluída e nua
Meu bem você salvou a vida de um homem de rua
Te amo, te amo
Parece até que o sol encontrou a lua,
despoluída e nua
Meu bem você salvou a vida de um homem de rua

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Samba em Prelúdio

Eu sem você, não tenho porque
Porque sem você, não sei nem chorar
Sou chama sem luz, jardim sem luar
Luar sem amor, amor sem se dar
Eu sem você, sou só desamor
Um barco sem mar, um campo sem flor
Tristeza que vai, tristeza que vem
Sem você meu amor, eu não sou ninguém
Ah! que saudade, que vontade
De ver renascer nossas vidas
Volta querida
Os meus braços precisam dos teus
Teus abraços precisam dos meus
Estou tão sozinho
Tenho os olhos cansados de olhar para o além
Vem ver a vida
Sem você meu amor eu não sou ninguém
Sem você meu amor eu não sou ninguém

Baden Powell/Vinícius de Moraes

Para Um Amor no Recife

A razão porque mando um sorriso
E não corro
É que andei levando a vida
Quase morto
Quero fechar a ferida
Quero estancar o sangue
E sepultar bem longe
O que restou da camisa
Colorida que cobria minha dor
Meu amor eu não esqueço
Não se esqueça por favor
Que eu voltarei depressa
Tão logo a noite acabe
Tão logo esse tempo passe
Para beijar você

Paulinho da Viola


Pétala

O seu amor
Reluz
Que nem riqueza
Asa do meu destino
Clareza do tino
Pétala
De estrela caindo
Bem devagar

Ó meu amor
Viver
É todo sacrifício
Feito em seu nome
Quanto mais desejo
Um beijo seu
Muito mais eu vejo
Gosto em viver...

Por ser exato
O amor não cabe em si
Por ser encantado
O amor revela-se
Por ser amor
Invade
E fim

Djavan

Cavalgada

Vou cavalgar por toda noite
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como açoite
E a minha mão mais atrevida

Vou me agarrar aos seus cabelos
Pra não cair do seu galope
Vou atender aos meus apelos
Antes que o dia nos sufoque

Vou me perder de madrugada
Pra te encontrar no meu abraço
Depois de toda cavalgada
Vou me deitar no seu cansaço

Sem me importar se nesse instante
Sou dominado ou se domino
Vou me sentir como um gigante
Ou nada mais do que um menino

Estrelas mudam de lugar
Chegam mais perto só pra ver
E ainda brilham na manhã
Depois do nosso adormecer

E na grandeza desse instante
O amor cavalga sem saber
E na beleza dessa hora
O sol espera pra nascer

Vou me agarrar aos seus cabelos...

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Homenagem

Eu agradeço estas homenagens
Que vocês me fazem
Pelas bobagens e coisas bonitas
Que dizem que eu fiz
Receber os presentes
Levem estas flores
Para aquela que agora deve estar chorando
Por não poder estar neste momento
Aqui perto de mim
Pra receber estas honras que a outra está desfrutando
O nosso amor clandestino é que obriga
A vivermos assim
Levem estas flores e digam pra ela ficar me esperando
E no que terminar a festa eu irei abraçar meu amor
Pois apesar de não sermos casados
É quem me inspira e está sempre ao meu lado
Me acompanhando nas horas difíceis
Nas horas de dor . . .

Lupicínio Rodrigues

Carolina

Carolina, os teus olhos fundos guardam tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar,
Seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor, uma rosa nasceu
Todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ai que lindo, mas Carolina não viu
Carolina, os teus olhos tristes guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei vai acabar,
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei prá lhe agradar,
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor, uma rosa morreu
Uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela
E só Carolina não viu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela
E só Carolina não viu

Chico Buarque

Para ver as Meninas

Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
a dor no peito
Não diga nada
sobre meus defeitos
E não me lembro mais
quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba só pro infinito

Paulinho da Viola

O Amor Que Eu Não Esqueço

Passo o dia inteiro
Alegre, agitando
Trabalho ligeiro
Fico conversando
E acho que esqueço,
Ao menos às vezes,
O amor que não esqueço
Já faz tantos meses
Mas às vezes paro
E fico infeliz
Pois nunca é bem claro
O que foi que eu fiz.

De noite choro
Antes de sonhar
E a mim mesmo imploro
Pra ela voltar
Pois toda alegria
Fica tão sem sal
Perto da magia
Do amor ideal

Volto o dia e volto
A curtir a vida,
Esqueço a revolta,
Me sara a ferida
Mas às vezes bebo
Eu ouço canções
E de novo cedo
A essas ilusões
Que parecem doces
De me embriagar,
Como se não fossem
Me fazer chorar

Ah, quando eu perder
Toda a esperança
Talvez volte a ser um dia
Feliz de criança

Marina Lima/Antônio Cícero


Saudade

Se queres compreender o que é saudade
Terás que antes de tudo conhecer
Sentir o que é querer e o que é ternura
E ter por bem um grande amor, viver
Então compreenderás o que é saudade
Depois de ter vivido um grande amor
Saudade é solidão, melancolia
É nostalgia, é recordar, viver.

Renato Teixeira

Cintura Fina

Minha morena, venha pra cá.
Pra dança xote, se deite em meu cangote.
E pode Cuchilá.
Tu és muié, prá home nenhum.
Botá defeito, por isso sastifeito.
Com você vou dançá
Vem cá cintura fina, cintura de pilão
Cintura de menina, vem cá meu coração
Cintura de menina, vem cá meu coração
Quando eu abarco essa cintura de pilão
Eu fico frio arrepiado, quase morto de paixão
E fecho os óio quando sinto teu calor
Pois seu corpo só foi feito
pros cuchilo do amor

Luiz Gonzaga/Zé Dantas

Simples Carinho

Amar e sofrer eu vou te dizer, mas quando viver
Querendo ou não o meu coração já quer se entregar
Não falta lembrança, aviso cobrança você vai dormir
Mas feito criança labouro a esperança, eu sou mesmo assim.

Quem sabe até meu destino amor sem espinhos
Só a mel da sua boca, calor dos abraços e tantos beijinhos
Se o sonho acabou, não sei meu amor, nem quero saber
Só sei que ontem à noite sorrindo acordada sonhei com você.

Às vezes na vida é melhor ficar bem sozinho
Pra gente sentir qual é o valor de um simples carinho
Te sinto no ar, na brisa do mar eu quero te ver
Pois ontem à noite sonhando acordada dormi com você

João Donato/Abel Silva

A Camisola Do Dia

Amor, eu me lembro ainda
Que era linda, muito linda
Um céu azul de organdi
A camisola do dia
Tão transparente e macia
Que eu dei de presente a ti
Tinha rendas de Sevilha
A pequena maravilha
Que o teu corpinho abrigava
E eu, eu era o dono de tudo
Do divino conteúdo
Que a camisola ocultava
A camisola que um dia
Guardou a minha alegria
Desbotou, perdeu a cor
Abandonada no leito
Que nunca mais foi desfeito
Pelas vigílias de amor

Herivelto Martins/David Nasser


Com muito amor, muito carinho

Eu, vou fazer amor,
Um ninho
Com amor, muito carinho
Pra você se abrigar
Eu vou lhe dar
Amor tão puro
Que maior amor eu juro
Você não vai encontrar
E entre nuvens de beijos
Seus desejos serão meus
Amor, vou lhe dar e é tão sincero
Que você amor espero
Não vai querer me deixar
E quando no fim da estrada
Minha amada
O inverno tristonho chegar
Mais amor eu vou ter pra lhe dar
Faça dos meus braços o seu ninho
Tenho amor muito carinho
E estou a lhe ofertar.

Luiz Melodia

Sentimentos

Sentimentos em meu peito eu tenho demais
A alegria que eu tinha nunca mais
Depois daquele dia em que eu fui sabedor
Que a mulher que eu mais amava
Nunca me teve amor

Hoje ela pensa que estou apaixonado
Mas é mentira, está dando o golpe errado
Agora estou resolvido
A não amar a mais ninguém
Porque sem ser amado não convém

Paulinho da Viola

Se Acaso Você Chegasse

Se acaso você chegasse
No meu chatô e encontrasse
Aquela mulher, que você gostou
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já
Lhe abandonou
Eu falo porque esta dona
Já mora no meu
Barraco à beira de um regato
E um bosque em flor
De dia me lava a roupa
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor

Lupicínio Rodrigues

O Aprendiz de Carpinteiro

Eu te sigo
Cada passo pelo chão
No teu rastro
Ligo a luz do coração
No meu sonho
Existe o amor sincero
Todo mundo é irmão
E a todo mal resiste o perdão
Porque existe você ...

Eu te quero
Como a praia abraça o mar
Lua cheia
Que clareia o meu olhar
No meu sonho
Existe o amor sincero
Todo mundo é irmão
E a todo mal resiste o perdão
Pra amar, só amar

Meu espírito anda junto com o seu
Num campo de trigo
Banhado de sol
Meu espírito anda junto com o seu

Sou teu amigo aprendiz de carpinteiro
O príncipe mendigo, o deus guerreiro

Guilherme Arantes

Notícias

Só você pode me incendiar
Pode acender a luz
Pode me ver chorar
Só você me faz tremer assim
Me mata de prazer
Sem encostar em mim

Me dê notícias desse amor
E o que ele faz pra não morrer
Se fica comigo até sempre
Ou se deixa o barco correr

Só você
Pôde me machucar
Soube me engulir
Pôde me dominar
Só você pra me trazer a paz
Eu que torci por ti
Eu que sofri por nós

Quanto mais velho o tempo é
Mais se cansa de esperar
Volta a ser só dos meus braços
E ouça o que eu não vou falar

Marina Lima/Dalto/Claudio Rabello

Maria Moita

Nasci lá na Bahia
De Mucama com feitor
Meu pai dormia em cama
Minha mãe no pisador
Meu pai só dizia assim, venha
Minha mãe dizia sim, sem falar
Mulher que fala muito perde logo seu amor
Deus fez primeiro o homem
A mulher nasceu depois
Por isso é que a mulher
Trabalha sempre pelos dois
Homem acaba de chegar, tá com fome
A mulher tem que olhar pelo homem
E é deitada, em pé, mulher tem é que trabalhar
O rico acorda tarde, já começa resmungar
O pobre acorda cedo, já começa trabalhar
Vou pedir ao meu Babalorixá
Pra fazer uma oração pra Xangô

Carlos Lyra

São, São Paulo

São, São Paulo meu amor
São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Correndo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Gaseados à prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo centro da cidade
Armadas de rouge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
Um palavrão reprimido
Um pregador que condena
Uma bomba por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Santo Antonio foi demitido
Dos Ministros de cupido
Armados da eletrônica
Casam pela TV
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo

Tom Zé


Coração da Gente

Cadê aquela cuíca
Que gemia devagar
Cadê aquele pandeiro
Machucando, batucando sem atravessar
Quando a rapaziada
Se juntava pra fazer um samba diferente
O pagode não parava
Enchendo de alegria o coração da gente
Quase sempre aparecia
Um partido de momento
Partideiro improvisava, camarada,
Pra mostrar conhecimento
Alguém sempre se lembrava
De um pagode do passado
Cantando a felicidade
De um amor apaixonado
Às vezes formava a roda
Só havia um cavaquinho
Todo mundo se chegava
Batuqueiro batucava bem devagarinho
Quando o sol aparecia
Ninguém perguntava a hora
Viola é que anunciava

Paulinho da Viola


Feitiço da Vila

Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Em abraçar o samba
Que faz dançar os galhos,
Do arvoredo e faz a lua,
Nascer mais cedo.

Lá, em Vila Isabel,
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo da café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.

A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Em um feitiço decente
Que prende a gente
O Sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
"Sol, pelo amor de Deus,
não vem agora
que as morenas
vão logo embora”

Eu sei tudo o que faço
sei por onde passo
paixão não me aniquila
Mas, tenho que dizer,
modéstia a parte
meus senhores... Eu sou da Vila!

Noel Rosa

Se Você Jurar

Se você jurar que me tem amor
Eu posso me regenerar
Mas se é para fingir, mulher
A orgia assim não vou deixar

Muito tenho sofrido
Por minha lealdade
Agora estou sabido
Não vou atrás de amizade
A minha vida é boa
Não tenho em que pensar
Por uma coisa à toa
Não vou me regenerar

A mulher é um jogo
Difícil de acertar
E o homem como um bobo
Não se cansa de jogar
O que eu posso fazer
É se você jurar
Arriscar a perder
Ou desta vez então ganhar

Ismael Silva/Nilton Bastos/Francisco Alves

Segredo

Seu mal é comentar o passado
Ninguém precisa saber
O que houve entre nós dois
O peixe é pro fundo das redes
Segredo é pra quatro paredes
Não deixe que males pequeninos
Venham transformar os nossos destinos
O peixe é pro fundo das redes
Segredo é pra quatro paredes
Primeiro é preciso julgar
Pra depois condenar
Quando o infortúnio nos bate à porta
E o amor nos foge pela janela
A felicidade para nós está morta
E ninguém pode viver sem ela
Para o nosso mal não há remédio, coração
Ninguém tem culpa da nossa desunião.

Herivelto Martins/M. Pinto

Será

Tire suas mãos de mim
Eu não pertenço a você
Não é me dominando assim
Que você vai me entender

Eu posso estar sozinho
Mas eu sei muito bem onde estou
Você pode até duvidar
Acho que isso não é amor.

Será isso imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?

Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão

Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo
Não destrua nosso coração.

Brigar pra quê
Se é sem querer
Quem é que vai
Nos proteger?

Será que vamos ter
Que responder
Pelos erros a mais
Eu e você?

Renato Russo/Dado Villa Lobos/M.Bonfá

Serenata do Adeus

Ai, a lua que no céu surgiu
Não é a mesma que te viu
Nascer nos braços meus
Cai, a noite sobre o nosso amor
E agora só restou do amor
Uma palavra: Adeus

Ai, vontade de ficar mas tendo que ir embora
Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora
É refletir na lágrima, um momento breve
De uma estrela pura cuja luz morreu
mulher, estrela a refulgir
Parte, mas antes de partir
Rasga meu coração
Crava as garras no meu peito em dor
E esvai em sangue todo o amor
Toda desilusão
Ai, vontade de ficar mas tendo que ir embora
Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora
É refletir na lágrima um momento breve
De uma estrela pura cuja luz morreu
Numa noite escura triste como eu

Vinícius de Moraes

Cadeira Vazia

Entra meu amor fica a vontade
E diz com sinceridade o que desejas de mim
Entra podes entrar a casa é tua
Já que cansaste de viver na rua
E teus sonhos chegaram ao fim
Eu sofri demais quando partiste
Passei tantas horas triste
Que nem devo lembrar esse dia.
Mas de uma coisa podes ter certeza
Que teu lugar aqui na minha mesa
Tua cadeira ainda está vazia
Tu és a filha pródiga que volta procurando
Em minha porta o que o mundo não te deu
E faz de conta que sou o teu paizinho
Que tanto tempo aqui fiquei sozinho
A esperar por um carinho teu.
Voltaste, estás bem, estou contente
Só que me encontraste muito diferente
Vou te falar de todo o coração
Não te darei carinho nem afeto
Mas prá te abrigar podes ocupar meu teto,
Prá te alimentar podes comer meu pão.

Lupicínio Rodrigues

Bom Dia

Madrugou, madrugou
A mancha branca do sol
Acordou o dia
E o dia já levantou

Acorda meu amor,
a usina já tocou
Acorda, é hora
de trabalhar, meu amor

Acorda é hora
o dia veio roubar
Teu sono cansado
É hora de trabalhar

O dia te exige
O suor e o braço
Pra usina do dono
do teu cansaço
Acorda meu amor
é hora de trabalhar
O dia já raiou
é hora de trabalhar
Madrugou, madrugou
A mancha branca do sol
Acordou o dia
E o dia já levantou

Ele sai, ele vai
a usina já tocou
Bom dia, bom dia
até logo, meu amor

Gilberto Gil//Nana Caymmi

O Cristal e o Marfim

Eu te amei
Fui ao céu
Mas ceguei
Ao descortinar o véu
Pois era um olhar de cristal
Prisma de luzes sem fim
Que nunca olhou por igual
Para mim
Face da cor da ilusão
Entre a sombra e o carmim
Que tinha o meu coração
Como o seu camarim
Eu chorei
Foi cruel
Pois nem sei
Até hoje o meu papel
E a gota de dor que rolou
Não foi pintada a nanquim
Como você ensaiou para mim
Fora de cena esse amor
Se tornou frio assim
E em suas mãos sem calor
Eu virei manequim
Mas saí de cartaz
Personagens não quero mais
Contra o amor meu peito fez motim
Que o coração quebrou nesse seu folhetim
Me isolei em torre de marfim
Pra colar o que sobrou de mim

Eduardo Gudin/Paulo César Pinheiro

Demais
Todos acham que eu falo demais
E que eu ando bebendo demais
Que essa vida agitada não serve pra nada
Andar por aí bar em bar, bar em bar
Dizem até que ando rindo demais
E que conto anedotas demais
Que eu não largo o cigarro e dirijo o meu carro
Correndo, chegando, no mesmo lugar
Ninguém sabe é que isso acontece porque
Vou passar toda a vida esquecendo você
E a razão porque vivo esses dias banais
É porque ando triste, ando triste demais
E é por isso que eu falo demais
É por isso que eu bebo demais
E a razão porque vivo essa vida agitada demais
É porque meu amor por você é imenso
O meu amor por você é tão grande
(É porque) Meu amor por você é enorme demais

Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira

Estácio, Holly Estácio

Se alguém quer matar-me de amor
Que me mate no Estácio
Bem no compasso, bem junto ao passo
Do passista da escola de samba
Do Largo do Estácio
O Estácio acalma o sentido dos erros que eu faço
Trago não traço, faço não caço
O amor da morena maldita do Largo do Estácio
Fico manso, amanso a dor
Holliday é um dia de paz
Solto o ódio, mato o amor
Hollyday eu já não penso mais

Luiz Melodia

A Volta do Boêmio

Boemia, aqui me tens de regresso
E suplicante te peço a minha nova inscrição
Voltei pra rever os amigos que um dia
Eu deixei a chorar de alegria, me acompanha o meu violão
Boemia, sabendo que andei distante
Sei que essa gente falante vai agora ironizar
Ele voltou, o boêmio voltou novamente
Partiu daqui tão contente por que razão quer voltar
Acontece que a mulher que floriu meu caminho
De ternura, meiguice e carinho, sendo a vida do meu coração
Compreendeu e abraçou-me dizendo a sorrir
Meu amor você pode partir, não esqueça o seu violão
Vá rever os teus rios, teus montes, cascatas
Vá sonhar em nova serenata e abraçar seus amigos leais
Vá embora, pois me resta o consolo e alegria
De saber que depois da boemia
É de mim que você gosta mais.

Adelino Moreira

Onde A Dor Não Tem Razão

Canto
Para dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranqüilo
Onde a dor não tem razão
Nele a semente de um novo amor nasceu
Livre de todo rancor, em flor se abriu
Venho reabrir as janelas da vida
E cantar como jamais cantei
Esta felicidade ainda
Quem esperou, como eu, por um novo carinho
E viveu tão sozinho
Tem que agradecer
Quando consegue do peito tirar um espinho
É que a velha esperança
Já não pode morrer

Paulinho da Viola/Elton De Medeiros


Somos Dois

Somos dois, começo de vida
Nós dois e uma simples história de amor
Enquanto essa estrada estiver florida
Somos dois querida
Somos dois seguindo na vida
Sentindo que em próximos dias
Diremos talvez
Com os olhos de felicidade
Fomos dois, somos três.

A. Cavalcante/ Klecio L. Antônio

Nada Sei de Eterno

Hoje eu sei
Que esse minuto é tudo
Mas que passa, eu sei
Por isso pede a noite
Que eu pernoite
Em teus receios
Durma nos teus seios
E se o sol
O mesmo antigo
Sol da infância
Vindo da distância
Se firmar no horizonte
É pra não durar
Não vou sonhar
Eu vim do inverno
Nada sei de eterno
Vi o amor chorar
Pra depois mudar
Igual a chuva
Que se curva em arco-íris
Abraçando o espaço
Em completo abraço
Que não deixa queixa
E a sua luz não me seduz
Nascer em ti
Depois morrer de ti
Como essa luz morreu
Eu quero um filho teu
Que me entenda
E que estenda a mão
Ao teu cabelo louro
Quando embranquecer
Que seja o céu e o sol
Em tua estrada ensombrecida
Tudo em tua vida
Eu quero um filho teu
Que me entenda
E que estenda a mão
Ao teu cabelo louro
Quando embranquecer
Que seja o céu e o sol
Em tua estrada ensombrecida
Tudo em tua vida
Quando eu desejava ser

Taiguara

Falso Amor Sincero

O nosso amor é tão bonito
Ela finge que me ama
E eu finjo que acredito

O nosso falso amor é tão sincero
Isso me faz bem feliz
Ela faz tudo que eu quero
Eu faço tudo o que ela diz

Aqueles que se amam de verdade
Invejam a nossa felicidade

Nelson Sargento

Virgem

As coisas não precisam de você
Quem disse que eu tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos também não precisam
O hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Esses nem sabem de você
(Não sabem de você, nem vão querer saber)
E o farol da ilha só gira agora
(E o farol da ilha procura agora)
Por outros olhos e armadilhas
Outros olhos e armadilhas
Eu disse! Outros olhos (e armadilhas)....
As coisas não precisam de você

Marina Lima/Antônio Cícero

Senhorinha

Senhorinha
Moça de fazenda antiga, prenda minha
Gosta de passear de chapéu, sombrinha
Como quem fugiu de uma modinha

Sinhazinha
No balanço da cadeira de palhinha
Gosta de trançar seu retrós de linha
Como quem parece que adivinha (amor)

Será que ela quer casar
Será que eu vou casar com ela
Será que vai ser numa capela
De casa de andorinha
Princesinha
Moça dos contos de amor da carochinha
Gosta de brincar de fada-madrinha
Como quem quer ser minha rainha

Sinhá mocinha
Com seu brinco e seu colar de água-marinha
Gosta de me olhar da casa vizinha
Como quem me quer na camarinha (amor)

Será que eu vou subir no altar
Será que irei nos braços dela
Será que vai ser essa donzela
A musa desse trovador

Ó prenda minha
Ó meu amor
Se torne a minha senhorinha

Guinga /Paulo César Pinheiro

Acalanto Para Um Punhal

Dorme bandoleiro
Dorme punhal, coração
Dos irmãos dos cavalos
Ponta de sal na raiz dos gemidos
Arma branca das trevas
Invejará o ardor
Do teu aço na flor
Que esconde a beleza em profundas crateras
Sangue na prata da lua
Fere a paixão no capim
Dorme em leito carmim
Clarão, violão
Mesmo sol de Sevilha
Acordarás com meu grito
Rasga o silêncio do amor
Mancha o leito de dor
Punhal, coração
Amanhece a campina

Robertinho de Recife/Herman Torres/Fausto Nilo


Perdoa

Meu bem, perdoa
Perdoa meu coração pecador
Você sabe que jamais eu viverei
Sem o seu amor

Ando comprando fiado
Porque meu dinheiro não dá
Imagine se eu fosse casado
Com mais de seis filhos para sustentar

Nunca me deram moleza
E posso dizer que sou trabalhador
Fiz um trato com você
Quando fui receber você não me pagou
Mas ora meu bem

Meu bem, perdoa
Perdoa meu coração pecador
Você sabe que jamais eu viverei
Sem o seu amor

Chama o dono dessa casa
Que eu quero dizer como é o meu nome
Diga um verso bem bonito
Ele vai responder pra matar minha fome

Eu como dono da casa
Não sou obrigado a servir nem banana
Se quiser saber meu nome
É o tal que não come há mais de uma semana
Mas ora meu bem

Meu bem, perdoa
Perdoa meu coração pecador
Você sabe que jamais eu viverei
Sem o seu amor

Chama o dono da quitanda
Que vive sonhando deitado na rede
Diga um verso bem bonito
Ele vai responder pra matar minha sede

O dono dessa quitanda
Não é obrigado a vender pra ninguém
Pode pegar a viola que hoje é Domingo
E cerveja não tem
Mas ora meu bem...

Meu bem, perdoa
Perdoa meu coração pecador
Você sabe que jamais eu viverei
Sem o seu amor

Paulinho da Viola

Mora na Filosofia

Eu vou lhe dar a decisão
botei na balança e você não pesou
botei na peneira e você não passou
mora na filosofia
pra que rimar amor e dor
se seu corpo ficasse marcado
por lábios ou mãos carinhosas
eu saberia, ora vai mulher...
a quantos você pertencia
não vou me preocupar em ver
teu caso não é de ver pra crer
tá na cara

Monsueto/A. Pessoa

Adeus

Adeus! Adeus! Adeus!
Palavra que faz chorar
Adeus! Adeus! Adeus!
Não há quem possa suportar

Adeus é bem triste, que não se resiste
Ninguém jamais com adeus, pode viver em paz
(Foi o último...)

Adeus! Adeus! Adeus!
Palavra que faz chorar
Adeus! Adeus! Adeus!
Não há quem possa suportar

Pra que foste embora?
Por ti, tudo chora!
Sem teu amor, esta vida não tem mais valor
(Foi o último...)

Noel Rosa/ Francisco Alves/Ismael Silva

Minha Vida Num Instante

Quando eu dei por mim
Que não era mais só
Veio a nítida impressão
Da maior transformação
Esse amor me fez
Cruzar fronteira
Varrendo as pedras do caminho
Incendiando tudo com seu brilho
Tão fundo, tão forte,
Será desta vez verdadeiro o sonho?
Como não ouvir
Que o desejo chama
A lua vem falar mais alto
Do alto dessa noite
Quero me esquecer
Perto de você
Longe do insensato mundo
Incendeia tudo com seu brilho
Tão fundo, tão forte,
Será desta vez verdadeiro o sonho?
Toda a minha vida num instante
Revivi ao conhecer você
Por inteiro
Sem reserva, sem receio
Sensação sem volta
Nem freio; nem resposta
Por onde vai essa estrada
Chamada amor
Minha vida num instante
Revivi ao conhecer você
Ao conhecer você.

Guilherme Arantes

Não Existe Pecado ao Sul do Equador

Não existe pecado do lado de baixo do equador
Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor
Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo
Que eu sou professor

Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá
Vê se me usa, me abusa, lambuza
Que a tua cafuza
Não pode esperar
Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá
Vê se esgota, me bota na mesa
Que a tua holandesa
Não pode esperar

Não existe pecado do lado de baixo do equador
Vamos fazer um pecado, rasgado, suado a todo vapor
Me deixa ser teu escracho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é missão de esculacho, olha aí, sai de baixo
Que eu sou embaixador

Chico Buarque/Ruy Guerra

Sua Estupidez

Meu bem, meu bem
Você tem que acreditar em mim
Ninguém pode destruir assim
Um grande amor
Não dê ouvidos à maldade alheia e creia
Sua estupidez não lhe deixa ver
Que eu te amo. Meu bem, meu bem
Use a inteligência uma vez só
Quantos idiotas vivem sós sem ter amor
E você vai ficar também sozinha
E eu sei porque
Sua estupidez não lhe deixa ver
Que eu te amo.
Quantas vezes eu tentei falar
que no mundo não há mais lugar
Pra quem toma decisões na vida sem pensar
Conte ao menos até três
Se precisar conte outra vez
Mas pense outra vez, meu bem, meu bem
Eu te amo. Meu bem, meu bem
Sua incompreensão já é demais
Nunca vi alguém tão incapaz de compreender
Que o meu amor é bem maior que tudo que existe
Mas sua estupidez não lhe deixa ver
Que eu te amo.

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Canção da Despedida

Já vou embora
Mas sei que vou voltar
Amor não chora
Se eu volto é pra ficar
Amor não chora
Que a hora é de deixar
O amor de agora
Pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui
Mas não podia
O meu caminho a ti
Não conduzia
Um rei mal coroado
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora
Eu volto um dia
O rei velho e cansado
Já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando me despedia
No meu canto lhe dizia

Geraldo Azevedo/Geraldo Vandré


O Tic-Tac do Meu Coração

O tic-tac do meu coração
Marca o compasso do meu grande amor
Na alegria bate muito forte
E na tristeza bate fraco
Porque sente dor
O tic-tac do meu coração
Marca o compasso de um atroz viver
É o relógio de uma existência
E pouco a pouco vai morrendo
De tanto sofrer
Meu coração já bate diferente
Dando o sinal do fim da mocidade
O seu pulsar é o soluçar constante
De quem muito amou na vida com sinceridade
Às vezes eu penso que o tic-tac
É um aviso do meu coração
Que já cansado de tanto sofrer
Não quer que eu tenha nesta vida uma desilusão

Alcyr Pires Vermelho/Walfrido Silva


Maldito
Maldito seja o amor, o alucinado amor que me prende
Maldito seja o olhar, aquele frio olhar que me venceu
A mão que me afagou, o beijo que ficou perdido em minha boca
Quem tudo quis de mim, quem fez minha alma assim sozinha e louca

A noite em mim desceu e aconteceu longa e tristonha
Por uma só paixão que humilhação, quanta vergonha
Tudo que chorei, por tudo que passei por minha alma ferida
Por esta imensa dor, maldito seja o amor da minha vida.

Altemar Dutra/Ewaldo Golveia


Mar Corrente

Chegaste estrela, foste a mais cadente
No mar corrente dessa vida errante
E em meu semblante há muito descontente
Se fez presente esta emoção gigante

Chegaste estrela, foste a mais brilhante
No mesmo instante em que fiquei contente
Foste inocente como a flor fragrante
E foste amante por amor somente

Chegaste estrela, foste a mais ardente
E de repente foste a mais distante
Na variante desse amor poente
Partiste estrela na maré vazante

E eu de amante me tornei descrente
Tragicamente, amor, tragicamente

Theo de Barros/Paulo César Pinheiro

Meu Bem Querer

Meu bem querer
É segredo, é sagrado,
Está sacramentado em meu coração...
Meu bem querer tem um “que” de pecado
Acariciado pela emoção...
Meu bem querer,meu encanto...
Estou sofrendo tanto,Amor...
E o que é o sofrer, para mim que estou
Jurado pra morrer de amor...

Djavan

Helena, Helena, Helena

Talvez um dia
Por descuido ou fantasia
Helena, Helena, Helena
Nos meus braços debruçou
Foi por encanto, ou desencanto
Ou até mesmo por meu canto
Por meu pranto
Ou foi por sexo
Ou viu em mim o seu reflexo
Ou quem sabe uma aventura
Até mesmo uma procura
Pra encontrar um grande amor

Mas hoje eu sei que um dia
Por faltar telefonema
Helena, Helena, Helena
Nos meus braços pernoitou
Foi por acaso, por um caso
Ou até mesmo por costume
Pra sentir o meu perfume
Dar amor por um programa
Dar seu corpo num programa
Hoje vai e nem me chama
Um adeus é o que deixou

Talvez um dia, por esperança
Ou ser criança
Deixei Helena, Helena
Com seus braços me guiar
Fui sem destino, tão menino
E hoje eu vejo o desatino
Estou perdido numa estrada
Peço ajuda a quem passa
Tanto amor pra dar de graça
Todo mundo acha graça
Deste fim que me levou

Maria Helena
E seus homens de renome
Entre eles fez seu nome
E entre eles se elevou
Foi sem amor, foi sem pudor
Mas hoje entendo o jeito desses
Pra salvar seus interesses
Dar seu corpo custa nada
E com o ar de apaixonada
Em suas rodas elevadas
Seu destino assegurou

Talvez um dia
Por desejo de poesia
Helena, Helena, Helena
Talvez queira dar a mão
Talvez tão tarde, até em vão
Quem sabe eu tenha um rumo à vista
Ou quem sabe eu nem exista
Ofereço este meu canto a qualquer preço
A qualquer pranto
Não quero amor, não se discute
Eu procuro quem me escute

Taiguara

Depois dos Temporais

Sempre viveram no mesmo barco
Foram farinha do mesmo saco
Da mesma marinha, da mesma rainha
Sob a mesma bandeira
Tremulando no mastro
E assim foram seguindo os astros
Cortaram as amarras e os nós
Deixando pra trás o porto e o cais
Berrando até perder a voz
Em busca do imenso,
Do silêncio mais intenso
Que está depois dos temporais

E assim foram sempre em frente
Fazendo amor pelos sete mares
Inchando a água de alga e peixe
Seguindo os ventos
As marés e as correntes
O caminho dos golfinhos
A trilha das baleias
E não havia arrecifes
Nem bancos de areia
Nem temores, nem mais dores
Não havia cansaço
Só havia, só havia azul e espaço

Ivan Lins/Vitor Martins


A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel

O Edifício Itália
era o rei da Avenida Ipiranga:
alto, majestoso e belo,
ninguém chegava perto
da sua grandeza.
Mas apareceu agora
o prédio do Hilton Hotel
gracioso, moderno e charmoso
roubando as atenções pra sua beleza.

O Edifício Itália ficou enciumado
e declarou à reportagem de Amiga:
que o Hilton, pra ficar todo branquinho
toma chá de pó-de-arroz.
Só anda na moda, se veste direitinho
e se ele subir de branco pela Consolação
até no cemitério vai fazer assombração
o Hilton logo logo respondeu em cima:
a mania de grandeza não te dá vantagem
veja só, posso até ser requintado
mas não dou o que falar
Contigo é diferente,
porque na vizinhança
apesar da tua pose de rapina
já andam te chamando
Zé-Boboca da esquina

E o Hilton sorridente
disse que o Edifício Itália
tem um jeito de Sansão descabelado
e ainda mais, só pensa em dinheiro
não sabe o que é amor
tem corpo de aço,
alma de robô,
porque coração ele não tem pra mostrar
Pois o que bate no seu peito
é máquina de somar.

O Edifício Itália sapateou de raiva
rogou praga
e até insinuou que o Hilton
tinha nascido redondo
pra chamar a atenção
abusava das curvas
pra fazer sensação
e até parecia uma menina louca
ou a torre de Pisa
vestida de noiva

Tom Zé

Muito Amor

Amor febril, amor viril, amor adolescente,
Amor impuro e de luxo, amor ardente
Amor correspondido, amor fingido ou verdadeiro.
Amor intermitente, amor doente, amor primeiro.
Amor sem pretensão, amor paixão que chega de repente.
Que mata e se destrói,
Que arrasa, que corroi e acaba simplesmente,
Amor que se entrega, amor que cega,
Amor que embriaga,que vem feito tufão
E abrindo o coração se espalha feito praga
Amor desesperado, amor mascado, amor proibido,
Amor desilusão, amor em vão, o amor não faz sentido,
Amor interesseiro, amor traiçoeiro,
Amor que não se vende.
Amor que não tem fim,
Só quem amou assim me compreende.

São Beto

Não Tem Solução

Aconteceu um novo amor
Que não devia acontecer
Não era hora de amar
Agora o que eu vou fazer.

Não tem solução
Este novo amor
Um amor a mais me tirou a paz
E eu, que esperava
Nunca mais amar
Não sei o que faço
Com este amor demais
Com este amor demais.

Dorival Caymmi

Amor de Irmão

Está chegando
Um novo tempo de paz
Junto com a chuva
Indo embora pro mar
E num improviso de jazz
Nossas manias se encontram

Está chegando
Um novo tempo de paz
Tanto faz
Com quem esteja a razão
Vamos ser amigos
Enfrentar os perigos
Não amargar nenhuma tensão

Sem paixão
Tanto faz
Amor de irmão
Tá valendo mais

O que antigamente era vida ou morte
Foi ficando real, mais forte
E nossos corações já não sofrem
Do mal da última palavra
E nossas conversas serão
Doces sobremesas calmas

Tá valendo mais
Que qualquer coisa na vida
Mais do que qualquer grilo
O tanto que a gente amou
Que ficou

Cazuza/Roberto Frejat /Dé

Alô

Diga logo de uma vez
O que você quer de mim
Não me torture mais
Não me faça mais sofrer
Insistindo em me dizer
Que pensa em mim demais
Quando você fica só
E precisa ouvir a voz
De quem te ama
Não suporta a solidão
Pega o telefone e então me chama
E quando eu digo alô
Fala de amor, às vezes chora
E mexe com meu coração
Me faz pensar que ainda me ama
E alimenta essa ilusão
Que acaba nas semanas que você me esquece
Quando eu penso que esqueci
O telefone entra rasgando a madrugada a enlouquecer
O coração dispara, a mesma história vejo acontecer
E atordoado eu digo alô
E é você

Roberto Carlos


Boa viagem

Se não mandei você embora, enfim, foi porque me faltou a
coragem
Mas se você vai dar o fora, então, passe bem, boa viagem!
Se não mandei você embora, enfim, foi porque me faltou a
coragem
Mas se você vai dar o fora, então, passe bem, boa viagem!

O amor é como a chama, tem princípio, meio e fim
Se você já não me ama, para que fingir assim?
Não mandei você embora porque sou benevolente
Para que você agora quer sair ocultamente?

Se não mandei você embora, enfim, foi porque me faltou a
coragem
Mas se você vai dar o fora, então, passe bem, boa viagem!

Seu desejo não me assombra, ofereço o meu auxílio
Passa bem, vá pela sombra, acabou-se o nosso idílio
Seu amor e o seu nome, eu também vou esquecer
Desta vez juntou-se a fome com a vontade de comer!

Noel Rosa/Ismael Silva

Lembra de Mim

Lembra de mim
Dos beijos que escrevi nos muros a giz
Os mais bonitos continuam por lá
Documentando que alguém foi feliz

Lembra de mim
Nós dois nas ruas provocando os casais
Amando mais do que o amor é capaz
Perto daqui, ah! tempos atrás

Lembra de mim
A gente sempre se casava ao luar
Depois jogava nossos corpos no mar
Tão naufragados e exaustos de amar

Lembra de mim
Se existe um pouco de prazer em sofrer
Querer te ver talvez eu fosse capaz
Perto daqui, ou, tarde demais

Lembra de mim..

Ivan Lins/Vitor Martins

Linha do Equador

Luz das estrelas
Laço do infinito
Gosto tanto dela assim
Rosa amarela
Voz de todo grito
Gosto tanto dela assim
Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou minha dor
Minha linha do Equador
Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Passa mais além do céu de Brasília
Traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha
Música de preto
Gosto tanto dela assim
Essa desmesura de paixão
É loucura do coração
Minha Foz do Iguaçu
Polo sul, meu azul
Luz do sentimento nu
Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou minha dor
Minha linha do Equador
Mas é doce morrer neste mar
De lembrar e nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isto pra mim é viver
Céu de Brasília, traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha, música de preto
Gosto tanto dela assim
Essa desmesura de paixão
É loucura do coração
Minha Foz do Iguaçu, polo Sul
Meu azul, luz do sentimento blue
Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu for, do que sou
Minha dor, minha linha do Equador
Mas é doce morrer neste mar de lembrar
E nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isto pra mim é viver

Caetano Veloso/Djavan

Um Deus Ateu

Quem
Te roubou o inocente jardim
Tuas faces de rubras maçãs
Teu condão
Talismã
Quem levou
Nossas verdes manhãs de sol
Tardes sem fim
Inventou a distância cruel
Levou a linha, a vareta e o papel
Lavou o céu
Secou o mar
Jogou nuvens de areia nos olhos
Muralhas de pedras
Brilhantes que furtam a visão
Como um deus ateu
Vaguei vagabundo
Morei num barril
Andei condenado
A viver buscando
Cana de açúcar
Duna de sal
Moinho de sonho
Usina do amor
No torvelinho
Na febre no frio
Não se perdeu
Nosso ébrio navio

Guilherme Arantes

Onde Está você

Onde está você
Se o sol morrendo te escondeu?
Onde ouvir você
Se a tua voz a chuva apagou?

Onde buscar se o coração
Bater de amor pra ver você?

Hoje a noite não tem luar
E eu não sei onde te encontrar
Pra dizer como é o amor
Que eu tenho pra te dar

Passa a noite tão devagar
Madrugada é silêncio e paz
E a manhã que já vai chegar
Onde te despertar?

Vem depressa de onde estás
Já é tempo do sol raiar
Meu amor que é tanto
Não pode mais esperar
Oscar Castro Neves/ Luvercy Fiorini

Súplica

Aço frio de um punhal foi seu adeus para mim
Não crendo na verdade, implorei, pedi
As súplicas morreram sem eco, em vão
Batendo nas paredes frias do apartamento
Torpor tomou-me todo
E eu fiquei sem ser mais nada
Envelhecido tenha talvez, quem sabe
Pela janela, aberta, a fria madrugada
Amortalhou-me a dor com o manto da garoa
Esperança morreste muito cedo
Saudade cedo demais chegaste
Uma quando chega, a outra sempre parte
Chorar já lágrimas não tenho
Coração, porque é que tu não paras
As taças do meu sofrer findaste, é inútil prosseguir
Se forças já não tenho
Tu sabes bem que ela era minha vida
Meu doce e grande amor.

Otávio Gabus Mendes/J.Marcílio/F. Riskalla

Nem Mesmo Você

Nem mesmo você pode entender
Porque tanto amor me prende a você
Ainda que eu passe a vida inteira dizendo que não
Você continua a todo momento em meu coração
Mas se eu pudesse me libertar
E te esquecer eu queria um amor
Mas não adianta nem tentar
Porque o amor que eu quero
E que tanto espero
É igual a você.

Helena dos Santos

Lilás

Amanhã outro dia, lua sai ventania
Abraça uma nuvem que passa no ar
Beija brinca e deixa passar
E no ar de outro dia, meu olhar surgia
Nas pontas de estrelas perdidas no mar
Pra chover de emoção trovejar
Raio se libertou ou clareou muito mais
Se encantou pela cor lilás
Prata na luz do amor, no céu azul
Eu quero ver o por do sol
Lindo como ele só
E gente pra ver e viajar
No seu mar de raios

Djavan

Aliança Partida

Nossa casinha, que foi bem construída,
Em um jardim todo em flor,
Era uma linda corbeie, florida,
Com cantos do nosso amor,
E hoje talvez, ao sentir a tua ausência,
Teve uma transformação,
Se transformou, na cruel residência,
Da minha desilusão.
A vida é mesmo assim,
A minha treva, já foi luz,
Tudo que foi, alegria pra mim,
Hoje somente, tristeza traduz,
Até a própria aliança,
Que realizou nossa esperança,
Quando tu foste, ela muito sentiu,
E tristonha, também se partiu !

Benedito Lacerda/RobertoMartins


Rosa dos Ventos

E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão

Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar

Chico Buarque

Balada da Arrasada

Entregou-se sem um zelo ao apelo de sorrir
Ofertou-se inteira e dócil a um fácil seduzir
Sem saber que o destino diz verdades ao mentir
Doce ilusão do amor
Arrasada, acabada, maltratada, torturada
Desprezada, liquidada, sem estrada pra fugir
Tenho pena da pequena que no amor foi se iludir
Tadinha dela
Hoje vive biritada sem ter nem onde cair
Do Acapulco à calçada ou em frente do Samir
Ela busca toda noite algo pra se divertir
Mas não encontra não
Desespera dessa espera por alguém pra lhe ouvir
Sente um frio na costela e uma ânsia de sumir
Transa modelito forte, comprimidos pra dormir
E não acorda mais

Ângela Ro Ro

Nunca

Nunca
Nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar
Nem mesmo assim
As pazes contigo eu farei

Nunca
Quando a gente perde a ilusão
Deve sepultar o coração
Como eu sepultei

Saudade
Diga a essa moça, por favor
Como foi sincero o meu amor
Quanto eu a adorei tempos atrás

Saudade
Não se esqueça também de dizer
Que é você quem me faz adormecer
Pra que eu viva em paz . .

Lupicínio Rodrigues

A Ilha

Um facho de luz
Que a tudo seduz por aqui
Estrela cadente reluzentemente
Sem fim
E um cheiro de amor
Empestado no ar a me entorpecer
Quisera viesse do mar e não de você
Um raio que inunda de brilho
Uma noite perdida
Um estado de coisas tão puras
Que movem uma vida
E um verde profundo no olhar
A me endoidecer
Quisera estivesse no mar e não em você
Porque seu coração é uma ilha
A centenas de milhas daqui

Djavan

Meu Menino, Dorme

Dorme
Meu menino, dorme
Você adormecido
Vestido de calor
É feito do tecido
Com que se faz amor
Você me traz bobagens
Imagens de Ultramar
Meu anjo com mensagens
De mim mesmo pra mim


Dorme
Meu menino, dorme
Não vou prender você
Não sou sua residência
Você ainda vai ser
Fogo e depois ausência
Eu nem busco constância
A vida é um pouco louca
Você é extravagância
E às vezes tudo é um pouco
Frio

Dorme
Meu menino, dorme
Eu fico divagando
Singrando a eternidade...
Você meu contrabando...
Mas basta a realidade
Que eu quis por um segundo
E em vez do paraíso
Um segundo segundo
Do seu gozo e seu riso
Mais

Dorme
Meu menino, dorme
Respira em meu pescoço
Que eu devo ser feliz
Embora sem esboço
Em prosa, do que quis
Você me faz sonhar
E a vida entre nós dois
Bem pouco prá contar
É muito mais que sonho:
Dói.

Marina/Antônio Cícero


O Sal da Terra

Anda, quero te dizer nenhum segredo
Falo desse chão da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver
A paz na terra, amor
O pé na terra
A paz na terra, amor
O sal da Terra,
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
Canta, leva a tua vida em harmonia
e nos alimenta com teus frutos
tu que és do Homem a maçã
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor, deixa fluir o amor
Deixa crescer o amor, deixa viver o amor.

Beto Guedes/Ronaldo Bastos

Me deixa em paz

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

Monsueto/ Ayrton Amorim

A Ilha

Meu pai...
Já não posso mais
Viver nesse mundo em chamas
Meu bem...
Eu te quero bem
Mas vou aonde o amor me chama
Livre, só e em paz
Vou viver na ilha
Onde meus iguais
Serão minha família
Tentei ser como vocês
Viver nesse mundo errado
Adeus
Vou deixar vocês
Chega de viver guardado
Hoje o meu Adeus
Corta o meu destino
Destino que o amor
Faz meu
E eu
Volto ser menino
Menino.

Taiguara

Orgulho

Não se repetirão os dias de amargura
Que por ti chorei
Não se repetirão as noites de vigia
Que por ti passei
Jamais terás noticia que na minha vida
Um outro amor passou
Jamais terás noticia que depois de ti
Alguém me escravizou

Não julgues teu amor o mais profundo amor
Que eu encontrei na vida
Por esse amor faltar não deixarei curvar
A minha flor perdida
Nem que meu coração recue, a minha solidão
Eu irei suportar
Nem a saudade obrigue
Deus que me castigue
Se eu te procurar

R. Bitencourt/F.Petrônio/Carlos Galhardo

Iluminados

O amor tem feito coisas
Que até mesmo Deus duvida
Já curou desenganados
Já fechou tanta ferida
O amor junta os pedaços
Quando um coração se quebra
Mesmo que seja de aço
Mesmo que seja de pedra
Fica tão cicatrizado
Que ninguém diz que é colado
Foi assim que fez em mim
Foi assim que fez em nós

Ivan Lins/Vitor Martins

Os Seus Botões

Os botões da blusa que você usava
E meio confusa desabotoava
Iam pouco a pouco me deixando ver
No meio de tudo um pouco de você.

Nos lençóis macios amantes se dão
Travesseiros soltos, roupas pelo chão
Braços que se abraçam, bocas que murmuram
Palavras de amor enquanto se procuram.

Chovia lá fora e a capa pendurada
Assistia a tudo e não dizia nada
E aquela blusa que você usava
Num canto qualquer tranqüila esperava.

Roberto Carlos/Erasmo Carlos


Amando Sobre os Jornais

Amando noites afora
Fazendo a cama sobre os jornais
Um pouco jogados fora
Um pouco sábios demais
Esparramados no mundo
Molhamos o mundo com delícias
As nossas peles retintas
De notícias

Amando noites a fio
Tramando coisas sobre os jornais
Fazendo entornar um rio
E arder os canaviais
Das páginas flageladas
Sorrimos, mãos dadas e, inocentes
Lavamos os nossos sexos
Nas enchentes

Amando noites a fundo
Tendo jornais como cobertor
Podendo abalar o mundo
No embalo do nosso amor
No ardor de tantos abraços
Caíram palácios
Ruiu um império
Os nossos olhos vidrados
De mistério

Chico Buarque

Alguém me Disse

Alguém me disse
Que tu andas novamente
De novo amor, nova paixão
Toda(o) contente
Conheço bem tuas promessas
Outras ouvi, iguais a essas
Esse teu jeito de enganar
Conheço bem
Pouco me importa
Que te vejam tantas vezes
E que tu mudes de paixão
Todos os meses
Se vais beijar, como eu bem sei
Fazer sonhar como eu sonhei
Mas sem ter nunca
Amor igual ao que eu te dei

Ewaldo Golveia/Jair Amorim


Álibi

Havia mais que um desejo
A força do beijo
Por mais que vadia
Não sacia mais
Meus olhos lacrimejam teu corpo
Exposto à mentira do calor da ira
No afã de um desejo que não contraíra
No amor, a tortura está por um triz
Mas gente se atura e até se mostra feliz
Quando se tem o álibi
De ter nascido ávido
E convivido inválido
Mesmo sem ter havido

Djavan


Assum Preto

Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amô
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amô
Que era a luz, ai, dos óios meus.

Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira

Vieste

Vieste na hora exata
Com ares de festa
E luas de prata
Vieste com encantos
Vieste com beijos silvestres
Colhidos pra mim
Vieste como a natureza
Com mãos camponesas
Plantadas em mim
Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens pra dentro de mim
Meu amor
Vieste à hora e a tempo
Soltando meus barcos
E velas ao vento
Vieste me dando o alento
Me olhando por dentro
Velando por mim
Vieste de olhos fechados
Num dia marcado
Sagrado pra mim
Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens
Pra dentro de mim
Meu amor...

Ivan Lins/Vitor Martins


O Amor Daqui de Casa

A menstruação não desce
A chuva não dá sinal
Quem no mel seu mal padece
Seu bem conserva no sal
Vai doer de novo o parto
Vai secar de novo o açude
Vida aqui tem sala e quarto
Quem não couber que se mude
O amor daqui de casa
Tem um sentimento forte
Que nem gemido na telha
Quando sopra o vento norte
Que nem cheiro de boi morto
Três dias depois da morte
Quem só conhece conforto
Não merece boa sorte
O amor daqui de casa
Tem um sentimento nu
Com gosto de umbú travoso
Com cheiro de couro cru
O amor daqui de casa
Não atrasa no verão (bate asas no verão)
Faz parte da natureza (é parte da natureza)

Gilberto Gil

Asa Partida

Esta saudade
O cigarro
A luz acesa
E a noite posta sobre a mesa
Em cada canto da casa
Asa partida
E dor
Gemido morto
Amor
Tão longe vai
Tão longe vou

Nuvem sem rumo é assim mesmo
Eu não queria
A vida desse jeito
Meu olho armando
Bote sem futuro
Fumaça

E continua
O teu sorriso no meu peito
Essa saudade
O cigarro a luz acesa
E essa noite
Posta sobre a mesa

Em cada canto da casa
Asa partida
E dor
Gemido morto
Amor
Tão longe vai
Tão longe vou..

Fagner/Abel Silva

Paz do Meu Amor

Você é isso
Uma beleza imensa
Toda recompensa
De um amor sem fim
Você é isso
Uma nuvem calma
No céu de minh´alma
É ternura, em mim
Você é isso
Estrela matutina
Luz que descortina
Um mundo encantador
Você é isso
Parto de ternura
Lágrima que é pura
Paz do meu amor

Luiz Vieira

Carinhoso

Meu coração não sei porque
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim foges de mim...
Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso
E o muito muito que te quero
E como é sincero o meu amor...
Eu sei que tu não fugirias mais de mim...
Vem...vem..vem sentir o calor dos lábios meus
A procura dos teus...
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então...
Serei feliz...
Bem feliz...

Pixinguinha

Tanta Saudade

Era tanta saudade
É pra matar
Eu fiquei até doente
Eu fiquei até doente, menina
Se eu não mato a saudade
É, deixa estar
A saudade mata a gente
A saudade mata a gente

Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além
Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem
Quis chegar até o limite
De uma paixão
Baldear o oceano
Com a minha mão
Encontrar o sal da vida
E a solidão
Esgotar o apetite
Todo o apetite do coração

Mas voltou a saudade
É, pra ficar
Ai, eu encarei
Ai, eu encarei, menina
Se eu ficar na saudade
É, deixa estar
A saudade engole a gente
A saudade engole a gente, menina

Ai amor, miragem minha
Minha linha do horizonte
É monte atrás de monte, é monte
A fonte nunca mais que seca
Ai, saudade, inda sou moço
Aquele poço não tem fundo
É um mundo e dentro um mundo
E dentro um mundo e dentro um mundo
E dentro é o mundo que me leva
Chico Buarque/Djavan


Xote das Meninas

Mandacaru, quando fulora
Na seca
É o sinal que a chuva chega no Sertão
Toda menina que enjoa da Boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração
Meia comprida, não quer mais
Sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão
Ela só quer, só pensa em
Namorar
Ela só quer, só pensa em
Namorar

De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doutô
A filha adoentada
Não come nem estuda,
Não dorme, não quer nada
Ela só quer, só pensa em
Namorar
Ela só quer, só pensa em
Namorar

Mas o doutô nem examina
Chamando o pai de lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que pra tal menina
Não há um só remédio
Em toda medicina
Ela só quer, só pensa em
Namorar
Ela só quer, só pensa em
Namorar

Luiz Gonzaga/Zé Dantas

Do Nosso Amor Tão Sincero

Não fosse a nossa consciência
A gente teria mais tempo
Pra ser envolver nos mistérios
De nosso amor tão sincero
Não fosse a tamanha injustiça
Que se alastra por todo o país
A gente teria mais chance
De estar junto e feliz
Não fosse a luta diária
Que mal dá pra ver os filhos
Não fosse o bem desgovernado
Teimando em sair dos trilhos
A gente estaria tranqüilo
Um bem dentro do outro
Vivendo no mesmo corpo
Como devem ser os casais

Sonhando com coisas reais
E dançando..., e cantando...
E dançando..., e cantando...

Não fosse a tamanha injustiça
Que se alastra por todo o país
A gente teria mais chance
De estar junto e feliz
Não fosse a luta diária
Que mal dá pra ver os filhos
Não fosse o bem desgovernado
Teimando em sair dos trilhos
A gente estaria tranqüilo
Um bem dentro do outro
Vivendo no mesmo corpo
Como devem ser os casais

Sonhando com coisas reais
E dançando..., e cantando...
E dançando..., e cantando...
Ivan Lins

Amor de Índio

Tudo que move é sagrado
e remove as montanhas
com todo o cuidado, meu amor.
Enquanto a chama arder
todo dia te ver passar
tudo viver a teu lado
com arco da promessa
do azul pintado, pra durar.
Abelha fazendo o mel
vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
de sentir seu calor
e ser todo
Todo dia é de viver
para ser o que for
e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
e o fruto do trabalho
é mais que sagrado, meu amor.
A massa que faz o pão
vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
e alimenta de horizontes
o tempo acordado, de viver.
No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
no outono te conheçer, primavera poder gostar
no estio me derreter
pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu

Beto Guedes

Azul

Eu não sei
Se vem de Deus
Do céu ficar azul
Ou virá
Dos olhos teus
Essa cor
Que azuleja o dia
Se acaso acontecer
Do céu perder o azul
Entre o mar
E o entardecer
Alga marinha
Vá na maresia
Buscar ali
Um cheiro de azul
Essa cor
Não sai de mim
Bate e finca pé
A sangue de rei
Até o sol nascer
Amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho
Cedinho cedinho
Corre e vá dizer
Pro meu benzinho
Um dizer assim
O amor é azulzinho
Até o sol nascer
Amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho
Cedinho cedinho
Corre e vá dizer
Pro meu benzinho
Um dizer assim
O amor é azulzinho

Djavan

Brigas

Veja só
Que tolice nós dois
Brigarmos tanto assim
Se depois
Vamos nós a sorrir
Trocar de bem no fim
Para que maltratarmos o amor
O amor não se maltrata não
Para que se essa gente o que quer
É ver nossa separação
Brigo eu
Você briga também
Por coisas tão banais
E o amor em momentos assim
Morre um pouquinho mais
E ao morrer então é que se vê
Que quem morreu fui eu e foi você
Pois sem amor
Estamos sós
Morremos nós

Evaldo Gouveia/Jair Amorim

Caminhos Cruzados

Quando um coração que está cansado de sofrer
Encontra um coração também cansado de sofrer
É tempo de se pensar
Que o amor pode de repente chegar

Quando existe alguém que tem saudade de alguém
E este outro alguém não entender
Deixa este novo amor chegar
Mesmo que depois
Seja imprescindível chorar

Que tolo fui eu, que em vão tentei raciocinar
Nas coisas do amor que ninguém pode explicar
Vem nós dois vamos tentar
Só um novo amor
Pode a saudade apagar

Tom Jobim/Dolores Duran

Peço a Deus

Peço a Deus que a vida te seja tão leve
Que não sintas a passagem dos anos
Que haja tanta alegria em teus olhos
Quantos foram os meus desenganos

Peço a Deus que a mágoa que deixaste no peito
Não te faça sofrer nesta vida
E que a lembrança do amor que morreu
Seja alegre, eterna e querida.

Peço a Deus que sorrias lembrando de mim
Quando o inverno da vida envolver-te
Pois a alegria que tive em te amar
Foi maior que a dor de perder-te

David Nasser/Francisco Alves

À francesa

Meu amor se você for embora
Sabe lá o que será de mim
Passeando pelo mundo afora
Na cidade que não tem mais fim
Hora dando fora hora bola
Uma irresponsável pobre de mim

Se eu te peço para ficar ou não
Meu amor eu lhe juro
Que não quero deixá-lo na mão
E nem sozinho no escuro
Mas os momentos felizes
Não estão escondidos
Nem no passado e nem no futuro
Meu amor não vai haver tristeza
Nada além de fim de tarde a mais
Mas depois as luzes todas acesas
Paraísos artificiais
E se você saísse à francesa
Eu viajaria muito mas muito mais

Marina Lima/Antônio Cícero

Drão

Drão o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer!
Nossa caminha dura
Dura caminhada pela estrada escura
Drão não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão, estende-se, infinito
Imenso monolito, nossa arquitetura
Quem poderá fazer aquele amor morrer!
Nossa caminha dura
Cama de tatame pela vida afora
Drão os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Se o amor é como um grão!
Morre, nasce trigo, vive ,morre pão
Drão

Gilberto Gil

Além do Horizonte

Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito pra viver em paz
Onde eu possa encontrar a natureza
Alegria e felicidade com certeza
Lá nesse lugar o amanhecer é lindo
Com flores festejando mais um dia que vem vindo
Onde a gente pode se deitar no campo
Se amar na relva escutando o canto dos pássaros
Aproveitar a tarde sem pensar na vida
Andar despreocupado sem saber a hora de voltar
Bronzear o corpo todo sem censura
Gozar a liberdade de uma vida sem frescura
Se você não vem comigo
Tudo isso vai ficar
No horizonte esperando por nós dois
Se você não vem comigo
Nada disso tem valor
De que vale o paraíso sem amor?
Além do horizonte existe um lugar
Bonito e tranqüilo pra gente se amar.

Roberto Carlos

Gaivota

Gaivota menina
De asas paradas
Voando no sonho
Díaguas da lagoa
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o vento segura
Voa numa boa

Gaivota na ilha
Sem noção da milha
Ficou longe a terra
Gaivota menina
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o alento segura
Voa numa boa

Gaivota, te amo e gaivotaria sempre em ti
Gaivotar seria poder te eleger para mim
Eu te quero, e se fosse o caso, quereria mais ainda
Ser, eu mesmo, gaivota sobre mim
Sobrevoar meus temores, meus amores
E alcançar o alto, alto, o mais alto dos teus sonhos
Dos teus sonhos de subir

De subir aos ares
Gaivota querida
Gaivota menina
Pousa perto de mim

Gilberto Gil

Flor de Lis

Valei-me Deus, é o fim do nosso amor
Perdoa por favor, eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei
Eu só sei que amei, que amei, que amei, que amei
Será, talvez, que minha ilusão
Foi dar meu coração com toda força
Pra essa moça me fazer feliz
E o destino não quis
Me ver como raiz de uma flor de lis
E foi assim que eu vi nosso amor na poeira, poeira
Morto na beleza fria de Maria
E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que plantou Maria
Nem margarida nasceu

Djavan

Eu Te Amo

Eu nunca te disse
Mas agora saiba
Nunca acaba, nunca
O nosso amor
Da cor do azeviche
Da jabuticaba
E da cor da luz do sol
Eu te amo
Vou dizer que eu te amo
Sim, eu te amo
Minha flor
Eu nunca te disse
Não tem onde caiba
Eu te amo
Sim, eu te amo
Serei pra sempre o teu cantor

Caetano Veloso

O Amor é o Meu País

Eu queria, eu queria, eu queria
Um segundo lá no fundo de você
Eu queria me perder, ah! me perdoa
Porque eu ando à toa sem chegar
Quão mais longe se torna o cais, lindo é voltar
É difícil meu caminhar, mas vou tentar
Não importa qual seja a dor,
Nem as pedras que eu vou pisar
Não me importa se é pra chegar
Eu sei, eu sei
De você fiz o meu país
Vestindo, festa e final feliz

Eu vi, eu vi
O amor
É o meu país
Sim, eu vi
O amor
É o meu país

Ivan Lins


Mudou

Mudou
Mudou o tempo e o que eu sonhei pra nós
Mudou a vida, o vento a minha voz
Mudou a rua em que eu te conheci

Mudou
A ilusão da paz do nosso amor
Mudei as rimas do meu verso cru
E o sol mudou de cor meu corpo nu

Mudou
O impulso aflito do dizer que não
A lua é nova e a nova informação
Muda meu céu e vai mudar meu chão

A terra ardeu e o céu desmoronou
E há o que fazer e a flor não me ensinou
E há o que saber e o sonho não mostrou

Mudou
E vai mudar enquanto eu não morrer
E vai mudar pro amor sobreviver
Vê se me entende, eu mesmo não mudei
Eu sou o mesmo livro, podes ler
Eu sou o mesmo, livre para dizer
Que eu amo ainda
Me entrego ainda
Te espero ainda
Pro amor

Taiguara

Sonhos

Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não há caminho,
eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim como
eu sonhei um dia
Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho mais calma,
mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais clara e mais sentida
Quando a poesia realmente fez folia em minha vida
Você veio me falar dessa paixão inesperada
Por outra pessoa
Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu serei mais feliz

Peninha

Gota de Sangue

Não tire da minha mão esse copo
Não pense em mim quando eu calo de dor
Olha meus olhos repletos de ânsia e de amor
Não se perturbe nem fique à vontade
Tira do corpo essa roupa e maldade
Venha de manso ouvir o que eu tenho a contar
Não é muito nem pouco eu diria
Não é pra rir mas nem sério seria
É só uma gota de sangue em forma verbal
Deixa eu sentir muito além do ciúme
Deixa eu beber teu perfume
Embriagar a razão, porque não volto atrás?
Quero você mais e mais que um dia
Não tire da minha boca esse beijo
Nunca confunda carinho e desejo
Beba comigo a gota de sangue final

Ângela Ro Ro

Maresia

O meu amor me deixou
levou minha identidade
não sei mais bem onde estou
nem onde há realidade

há se eu fosse marinheiro
era eu quem tinha partido
mais meu coração ligeiro
não se teria partido

ou se partisse colava
com cola de maresia
eu amava e desamava
surpreso e com poesia

há se eu fosse marinheiro
seria doce meu lar
não só o Rio de Janeiro
a imensidão e o mar

leste oeste norte sul
onde o homem se situa
quando o sol sobre o azul
ou quando no mar a lua

não buscaria conforto
nem juntaria dinheiro
um amor em cada porto

há se eu fosse marinheiro..
não pensaria em dinheiro
um amor em cada porto..
há se eu fosse marinheiro..

Antônio Cícero

Êxtase
Eu nem sonhava te amar desse jeito, hoje nasceu novo sol no meu peito
Quero acordar te sentindo ao meu lado, viver o êxtase de ser amado
Espero que a música que eu canto agora possa expressar o meu súbito amor
Com sua ajuda tranqüila e serena vou aprendendo que amar vale a pena
Que essa amizade é tão gratificante, que esse diálogo é muito importante
Espero que a música que eu canto agora possa expressar o meu súbito amor
Guilherme Arantes

Além da Cama

De amor eu não morro, o que eu posso é morrer de saudade
Mas depois vou tentar refazer minha felicidade
Entreguei minha vida a você e você jogou fora
Fez de mim o que quis, me usou, e depois foi embora

Deixa o tempo passar, você vai perceber
Que fazendo o que fez, só jogou pra perder
Vai lembrar dos momentos que a gente viveu
Que ninguém te amou como eu

E aí pode ser que meu mundo não tenha mudado
Mas também pode ser que outro alguém já esteja ao meu lado
Me dizendo as palavras de amor que você me dizia
Desfrutando de todos os sonhos que eu te oferecia

Ocupando o espaço que você deixou
Aceitando a paixão que você renegou
Eu ainda te amo, eu te quero demais
Meu amor, veja bem o que faz

Eu te quero além da cama
Eu te amo de verdade
É o lado mais puro, mais angelical
É o cheiro, é a pele, é o lado animal

Eu te quero além da cama
Eu te amo de verdade
As loucuras de amor que a gente já fez
Dava tudo de mim pra fazer outra vez

Michael Sullivan/Carlos Colla

Bárbara

Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar

O meu destino é caminhar assim
Desesperada e nua
Sabendo que no fim da noite serei tua
Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulando de prazeres teu leito de viúva

Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar

Vamos ceder enfim à tentação
Das nossas bocas cruas
E mergulhar no poço escuro de nós duas
Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia

Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar
Bárbara

Chico Buarque/ Ruy Guerra


Refazenda

Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba

Gilberto Gil

Ainda te Procuro

Eu ainda te procuro
No claro, no escuro
Nos lugares seguros ou não

Eu ainda te procuro
Com olhos de águia
Com o faro aguado de cão

Eu ainda te procuro
De uma forma sobre-humana
Nas cartas da cigana
Ainda estás nas minhas mãos
E uma chance dessas não se perde assim
Já é hora de eu gostar mais de mim

Eu ainda te procuro
Porque és a minha cara
Um bem que não cortei pela raiz

Eu ainda te procuro
Pelo amor, pelo futuro
Me recuso a desistir de ser feliz

Ivan Lins/Vitor Martins


Geração 70

Porque nascemos hoje por amor
Nós estamos descobrindo os corpos
Como a manhã descobre as imagens
Como o amor descobre a verdade
Como a canção descobre a flor
Nós queremos desvendar a tempo
Esse mistério azul de oxigênio
Nesse desejo imenso de sexo
Nessa fusão de angústias iguais
E nós vamos resistir sem medo
À solidão de um tempo de guerras
E nossos sonhos loucos e livres
Vão descobrir e celebrar
A paz.

Taiguara

Bar da Noite

Garçom, apague esta luz
Que eu quero ficar sozinha
Garçom, me deixe comigo
Que a mágoa que eu tenho é minha
Quantos estão pelas mesas
Bebendo tristezas
Querendo ocultar
O que se afoga no copo
Renasce na alma
Desponta no olhar
Garçom, se o telefone bater
E se for pra mim
Garçom, repita pra ele
Que eu sou mais feliz assim
Você sabe bem que é mentira
Mentira noturna de bar
Bar, tristonho sindicato
De sócios da mesma dor
Bar que é o refúgio barato
Dos fracassados do amor

Bidu Reis/Haroldo Barbosa


Samurai

Ai...
Quanto querer
Cabe em meu coração
Ai...
Me faz sofrer
Faz que me mata
E se não mata fere...
Vai...
Sem me dizer
Na casa da paixão
Sai...
Quando bem quer
Traz uma praga
E me afaga a pele
Crescei, luar
Pra iluminar as trevas
Fundas da paixão
Eu quis lutar
Contra o poder do amor
Caí nos pés do vencedor
Para ser o serviçal
De um samurai
Mas eu tô tão feliz!
Dizem que o amor
Atrai...

Djavan


A Alma do Teu Corpo

A tristeza
Tempo cinza
Logo vai passar
Outras vidas
Desconhecidas
Vêm nos renovar
Se anuncia a paixão
Num perfume quente
Muda as luas e as marés
No fundo da gente
Quebram ondas
Dor de pedra
Não vai resistir
As correntes
Sangue do mar
Têm de se agitar
Vê o amor chegar
Lavando tudo
Na alma do teu corpo
Aceita o amor
Banhar de luz
A alma do teu corpo...

Guilherme Arantes

Romina e Juliano

E se encontraram na esquina
Deram-se as mãos e se foram
Ela tomada do sonho
Ele querendo chegar

Escapuliram do medo
Do preconceito dos velhos
De quem sentiam saudade
Mesmo antes de partir

Mas era mesmo impossível
Que amor tão farto e tão puro
Morasse dentro dos muros
Das cadeias sociais

E era mesmo seguro
Que eles eram um do outro
Que eles nunca duvidaram
Apesar da repressão

E varando a chuva grossa
Se aqueciam e sorriam
E se olhavam e se viam
Entre as gotas que bebiam

E a chuva caía em cacos
Sobre os beijos e os sorrisos
E a chuva caia em guizos
Sobre a sede da paixão

Já vencida a tempestade
Houve pouso pro seu vôo
Houve paz pro seu namoro
Houve leito e houve teto

E nesse instante a calmaria
Tomou conta dos seus corpos
Eram livres e se amavam
Luz acesa olhos abertos

Eram livres e se amavam
Luz acesa olhos abertos

Taiguara

Deixar Você

Deixar você ir
Não vai ser bom
Não vai ser
Bom pra você nem melhor pra mim
Pensar que é só
Deixar de ver e acabou
Vai acabar muito pior
Pra que mentir
E fingir que o horizonte
Termina ali de fronte
E a ponte acaba aqui
Vamos seguir
Reinventar o espaço
Juntos manter o passo
Não ter cansaço
Não crer no fim
O fim do amor, oh não
Alguma dor, talvez sim
Que a luz nasce na escuridão
Deixar você ir....
Pra que mentir...
Que a luz nasce na escuridão
Guarde tudo em seu coração

Gilberto Gil

Meu Benzinho

Pega minha mão
Sem ter medo
O que aconteceu
Vai ser nosso segredo
Tanta gente tenta
A vida inteira em vão
Amar e ser amado
E é só doar o coração

Se você já sofreu
Melhor é nem falar
Eu tenho tanta história
De amor para contar
A mágoa é como um rio
É bom de se ver passar
O amor é como um vinho
Pra se saborear bem juntinho

Vem pra mim neném
Sou o seu carinho
Confio no amor
E nunca estou sozinha
Quer coisa mais bonita
Do que se apaixonar
Se isso é ser feliz
Meu Deus não deixa
Eu nem notar

Angela Ro Ro


Tá Combinado

Então tá combinado, é quase nada
É tudo somente sexo e amizade
Não tem nenhum engano nem mistério
É tudo só brincadeira e verdade.
Podemos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos,
Nos sabermos sós sem estarmos sós.
Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.
Então tá tudo dito e é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
de música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.
Mas e se o amor pra nós chegar,
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?
Mas e se o amor já está,
se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?
Então não fale nada, apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...

Caetano Veloso

Doce Vampiro

Venha me beijar
Meu doce vampiro
Na luz do luar
Venha sugar o calor
De dentro do meu sangue vermelho
Tão vivo, tão eterno veneno
Que mata sua sede
Que me bebe quente como um licor
Brindando à morte e fazendo amor

Meu doce vampiro
Na luz do luar
Me acostumei com você
Sempre reclamando da vida
Me ferindo, me curando a ferida
Mas nada disso importa
Vou abrir a porta pra você entrar
Beijar minha boca
Até me matar de amor!

Rita Lee

Como Dizia o Poeta

Quem já passou por esta vida e não viveu
Pode ser mais mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou , pra quem sofreu
Ai quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão

Toquinho/Vinícius de Moraes

Ela Disse-me Assim

Ela disse-me assim, tenha pena de mim, vá embora
Vais me prejudicar, ele pode chegar, está na hora
E eu não tinha motivo nenhum para me recusar
Mas aos beijos caí em seus braços e pedi pra ficar
Sabe o que se passou, ele nos encontrou e agora
Ela sofre somente porque foi fazer o que eu quis
E o remorso está me torturando
Por ter feito a loucura que fiz
Por um simples prazer
Fui fazer meu amor infeliz

Lupicínio Rodrigues

As Curvas da Estrada de Santos

: Se você pretende saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro e na Estrada de Santos
Você vai me conhecer
Vai até pensar que eu não gosto nem mesmo de mim
E que na minha idade só a felicidade
Anda junto a mim
Mas eu ando sozinho e no meu caminho
O tempo é cada vez menor
Mas eu preciso de ajuda, por favor me acuda
Eu vivo muito só
Mas se acaso numa curva eu me lembro do meu rumo
Eu piso mais fundo, corrijo num segundo,
Não posso parar
Mas eu prefiro as curvas da Estrada de Santos
Onde eu tento esquecer
Um amor que eu tive e que vi pelo espelho
Na distância se perder
Mas se o amor que eu perdi, eu novamente encontrar
As curvas se acabam e na Estrada de Santos
Não vou mais passar

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Pro Dia Nascer Feliz

Todo dia a insônia
Me convence que o céu
Faz tudo ficar infinito

E que a solidão
É pretensão de quem fica
Escondido fazendo fita

Todo dia tem a hora da sessão coruja
Só entende quem namora
Agora vam'bora
Estamos meu bem por um triz

Pro dia nascer feliz
Pro dia nascer feliz
O mundo inteiro acordar
E a gente dormir
Pro dia nascer feliz
Essa é a vida que eu quis
O mundo inteiro acordar
E a gente dormir

Todo dia é dia
Tudo em nome do amor
Ah! Essa é a vida que eu quis

Procurando vaga
Uma hora aqui, outra ali
No vai-e-vem dos seus quadris

Nadando contra a corrente
Só pra exercitar
Todos os músculos que sente
Me dê de presente o seu bis
Por dia nascer feliz
Pro dia nascer feliz
O mundo inteiro acordar
E a gente dormir, dormir

Pro dia nascer feliz
Essa é a vida que eu quis
O mundo inteiro acordar
E a gente dormir

Cazuza/Frejat


Esquadros

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos
Expondo meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Adriana Calcanhoto

A Linha e o Linho

É a sua vida que eu quero bordar
na minha
Como se eu fosse o pano e você fosse
linha
E a agulha do real nas mãos
da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto
nosso dia-a-dia
como se fosse aparecendo aos poucos
nosso amor
Os nossos sentimentos loucos,
nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores
da alegria
A curva generosa
da compreensão
Formando a pétala da rosa
da paixão
A sua vida o meu caminho,
nosso amor
Você a linha e eu o linho,
nosso amor
Nossa colcha de cama,
nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave,
a árvore,

Gilberto Gil

Emoções

Quando eu estou aqui, eu vivo este momento lindo
Olhando pra você e as mesmas emoções sentindo
São tantas já vividas, são momentos que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida, estórias que eu contei aqui
Amigos eu ganhei, saudades eu senti
E às vezes eu deixei você me ver chorar sorrindo
Sei tudo que o amor é capaz de me dar
Eu sei já sofri, mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.
Mas eu estou aqui vivendo este momento lindo
De frente pra você e as emoções se repetindo
Em paz com a vida e o que ela traz,
Na fé que me faz otimista demais
Se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi.

Roberto Carlos


Buda Nagô

Dorival é ímpar
Dorival é par
Dorival é terra
Dorival é mar
Dorival tá no pé
Dorival tá na mão
Dorival tá no céu
Dorival tá no chão
Dorival é belo
Dorival é bom
Dorival é tudo
Que estiver no tom
Dorival vai cantar
Dorival em CD
Dorival vai sambar
Dorival na T-V
Dorival é um Buda nagô
Filho da casa real da inspiração
Como príncipe, principiou
A nova idade de ouro da canção
Mas um dia Xangô
Deu-lhe a iluminação
Á na beira do mar (foi?)
Na praia de Armação (foi não)
Lá no Jardim de Alá (foi?)
Lá no alto sertão (foi não)
Lá na mesa de um bar (foi?)
Dentro do coração
Dorival é Eva
Dorival é Adão
Dorival é lima
Dorival é limão
Dorival é mãe
Dorival é pai
Dorival é o peão
Balança, mas não cai
Dorival é um monge chinês
Nascido na Roma negra, Salvador
Se é que ele fez fortuna, ele a fez
Apostando tudo na carta do amor
Ases, damas e reis
Ele teve e passou (iaiá)
Teve o mundo aos seus pés (ioiô)
Ele viu, nem ligou (iaiá)
Seguidores fiéis (ioiô)
E ele se adiantou (iaiá)
Só levou seus pincéis (ioiô)
A viola e uma flor
Dorival é índio
Desse que anda nu
Que bebe garapa
Que come beiju
Dorival no Japão
Dorival samurai
Dorival é a nação

Gilberto Gil


Correnteza

A correnteza do rio
Vai levando aquela flor
O meu bem já está dormindo
Zombando do meu amor
A correnteza do rio
Vai levando aquela flor
O meu bem já está dormindo
Zombando do meu amor
Na barranceira do rio
O ingá se debruçou
E a fruta que era madura
A correnteza levou, a correnteza levou
A correnteza levou
E choveu uma semana e eu não vi o meu amor
O barro ficou marcado
Aonde a boiada passou
Depois da chuva passada
céu azul se apresentou
Lá à beira da estrada, vem vindo o meu amor
A correnteza do rio
Vai levando aquela flor
E eu adormeci sorrindo
sonhando com nosso amor
Sonhando com nosso amor
Sonhando com nosso amor
Oh, dandá, oh, dandá

Tom Jobim

Virgem dos Olhos de Vidro

Milhares de pessoas pra manter no ar
um jato, um cosmonauta, um comercial
Milhares de aventuras que não vão brilhar
nos olhos dela... nos olhos dela...
Dezenas de novelas pra mostrar no ar
angústia, desventura, solidão e dor
Verdades de mentira que não vão abrir
os olhos dela... os olhos dela...

Lá fora o mundo evita as ilusões
Lá fora há uma procura de prazer
Lá fora, o namorado, que era dela
encontra aquela que, ao ser sua
vai ser mais sua

Milhares de pessoas pra manter no ar
o sonho aprisionado da menina só
que perde o seu amor
e espera da TV, que ela lhe diga...
que ela lhe diga...

Milhares de pessoas pra manter no ar,
um jato, um cosmonauta, um comercial
Verdades de mentira que não vão secar
os olhos dela... os olhos dela...

Taiguara

Fogueira

Por que queimar minha fogueira?
E destruir a companheira
Por que sangrar o meu amor assim?
Não penses ter a vida inteira
Para esconder teu coração
Mas breve que o tempo passa
Vem num galope o meu perdão

Porque temer a minha fêmea?
Se a possuis como ninguém
A cada bem do mal do amor em mim
Não penses ter a vida inteira
Para roubar meu coração
Cada vez é a primeira
Do teu também serás ladrão

Deixa eu cantar
Aquela velha história, o amor
Deixa penar, a liberdade está (também) na dor

Eu vivo a vida a vida inteira
A descobrir o que é o amor
Leve pulsar do sol a me queimar
Não penso ter a vida inteira
Pra guiar meu coração
Eu sei que a vida é passageira
E o amor que eu tenho não!

Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar com a tua outra face, amor

Ângela Ro RO


Morena dos Olhos d'água

Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra te dar.

Descansa um meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar,
Mas que tem abraço estreito, morena,
Com jeito de te agradar.
Vem ouvir lindas histórias
Que por teu amor sonhei.
Vem saber quantas vitórias, morena,
Por mares que só eu sei.

O teu homem foi-se embora,
Prometendo voltar já.
Mas as ondas não tem hora, morena,
De partir ou de voltar.
Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também.
Mas meu canto ainda te implora, morena,
Agora, morena, vem.

Chico Buarque

Esses Moços

Esses moços
Pobres moços
Ah! Se soubessem o que eu sei
Não amavam,
Não passavam,
Aquilo que eu já passei,
Por meus olhos, por meus sonhos,
Por meu sangue, tudo enfim,
É que eu peço,
A esses moços,
Que acreditem em mim.

Se eles julgam
Que a um lindo futuro
Só o amor nesta vida conduz,
Saibam que deixam o céu por ser escuro
E vão ao inferno à procura de luz...
Eu também tive nos meus belos dias,
Esta mania e muito me custou,
Pois só as mágoas
Que eu trago hoje em dia,
E estas rugas que o amor me deixou

Lupicínio Rodrigues

Pra Luiza

Amo o verde claro que circunda
as pupilas vivas de Luiza

O amarelo ameno em seu cabelo
ouro velho, pardo, cobre, feno

Amo o azul mistério dessa espera
onde habita o sol de nossas vidas

Branco esse amor livre e sem fronteiras
sonha fecundar a terra inteira

Taiguara

Mais Feliz

O nosso amor não vai parar de rolar
De fugir e seguir por um rio
Me diga coisas bonitas
O nosso amor não vai olhar para trás
Desencantar,nem ser tema de livro
A vida inteira eu quis um verso simples
Pra transformar o que eu digo
Rimas fáceis, calafrios
Fura o dedo, faz um pacto comigo
Num segundo teu no meu furo
Por um segundo mais feliz...

Cazuza/Bebel Gilberto

Epitáfio

Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído

Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier

Sérgio Britto

Aconteceu Você

Aconteceu você
Tudo foi tão veloz
Nem deu tempo de ouvir a voz
Que dizia ao meu coração
Que não tem aflição maior
Do que estar perdido de amor
(Dessa vez era pra valer)

Desliguei o mundo
E mergulhei de cabeça
Só pra me perder com você...

Aconteceu você
Doce raio de sol
Tomou conta do meu quintal
Trouxe as cores que eu nunca vi
Os sorrisos que eu nunca dei
Trouxe um frio na barriga
Que eu já nem sei...

Desliguei o mundo
E mergulhei de cabeça
Só pra me perder com você...

Guilherme Arantes


Beira Mar

Na terra em que o mar não bate
Não bate o meu coração
O mar onde o céu flutua
Onde morre o sol e a lua
E acaba o caminho do chão
Nasci numa onda verde
Na espuma me batizei
Vim trazido numa rede
Na areia me enterrarei
Na areia me enterrarei
Ou então nasci na palma
Palha da palma no chão
Tenho a alma de água clara
Meu braço espalhado em praia
Meu braço espalhado em praia
E o mar na palma da mão
No cais, na beira do cais
Senti o meu primeiro amor
E num cais que era só um cais
Somente mar ao redor
Somente mar ao redor
Mas o mar não é todo mar
Mar que em todo mundo exista
O melhor, é o mar do mundo
De um certo ponto de vista
De onde só se avista o mar
A ilha de Itaparica
A Bahia é que é o cais
A praia, a beira, a espuma
E a Bahia só tem uma
Costa, clara, litoral
Costa, clara, litoral
É por isso que o azul
Cor de minha devoção
Não qualquer azul, azul
De qualquer céu, qualquer dia
O azul de qualquer poesia
De samba tirado em vão
É o azul que agente fita
No azul do mar da Bahia
É a cor que lá principia
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração

Gilberto Gil

Sobre a Tarde

Cai a tarde, como sempre
Como sempre, diferente
Cai a tarde, de onde não se sabe
Pela Farme
Sobre a gente, cai a tarde sem parar...
Cai a tarde, e tudo parda
Cai a tarde, meu amor regue as plantas...
Cai a tarde, a tarde toda... na velocidade da luz
Cai a tarde, que é seu fim...
Cai a tarde, que é sem fim...
Cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde...
Cai a tarde, como sempre
Como sempre, diferente
Cai a tarde, de onde não se sabe
Pela Farme.
Sobre a gente, cai a tarde sem parar...
Cai a tarde, e tudo parda
Cai a tarde, meu amor regue as plantas...
Cai a tarde, a tarde toda... na velocidade da luz
Cai a tarde, que é seu fim...
Cai a tarde, que é sem fim...
Cai a tarde, em sua finalidade...
Cai a tarde, em sua finalidade
Cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde,
Cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde,
Cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde, cai a tarde... em sua finalidade..

Adriana Calcanhoto

Espere Por Mim Morena

Espere por mim, morena
Espere que eu chego já
O amor por você, morena
Faz a saudade me apressar
Tire um sono na rede
Deixe a porta encostada
Que o vento da madrugada
Já me leva pra você
E antes de acontecer
O sol a barra vir quebrar
Estarei nos teus braços
Para nunca mais voar
E nas noites de frio
Serei o teu cobertor
Quietarei o teu corpo
Com meu calor

Ah, minha santa, te juro
Por Deus, Nosso Senhor
Nunca mais minha morena
Vou fugir do teu amor

Espere por mim, morena
Espere que eu chego já
O amor por você, morena
Faz a saudade me apressar

Gonzaguinha


Trampolim

Sem olhar, sem respirar
Sem rir, sem pensar, sem falar
Só te provo um lugar
Qualquer piscina ou mar de Amaralina
O amor não é mais do que o ato
Da gente ficar
No ar antes de mergulhar
Antes de mergulhar
Dance, dance, cante, cante
Muito alto, sem medo de tudo
De nada, sem medo de errar
Vejo uma boca vermelhar galhar
A paixão não é mais do que o ato
Da gente ficar
No ar antes de mergulhar
Antes de mergulhar

Caetano Veloso

Nobreza

Nossa velha amizade nasceu
De uma luz que acendeu
Aos olhos de abril
Com cuidado e espanto eu te olhei
E no entanto você sorriu
Concedendo-me a graça de ver
Talhado em você a nobreza de frente
O amor se desnudando
No meio de tanta gente
Um doce descascado pra mim
Eu guardo pro fim pra comer demorado
Uma grande amizade é assim
Dois homens apaixonados
E sentir a alegria de ver
A mão do prazer acenando pra gente
O amor crescendo enfim
Como capim pra os meus dentes

Djavan

Chuvas de Verão

Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado, no presente
Repetem velhos temas tão banais
Ressentimentos passam como o vento
São coisas de momento
São chuvas de verão
Trazer uma aflição dentro do peito.
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão
Estranha no meu peito
Estranha na minha alma
Agora eu tenho calma
Não te desejo mais
Podemos ser amigos simplesmente
Amigos, simplesmente, nada mais

Fernando Lobo

Minha Voz, Minha Vida

Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto
Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente por que eu trago a vida aqui na voz
Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto
Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente por que eu trago a vida aqui na voz

Caetano Veloso

Medo de Amar

Você diz que eu te assusto
Você diz que eu te desvio
Também diz que eu sou um bruto
E me chama de vadio
Você diz que eu te desprezo
Que eu me comporto muito mal
Também diz que eu nunca rezo
Ainda me chama de animal
Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo é do amor
Que você guarda para mim
Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo de você
Você tem medo de querer ?
Você diz que eu sou demente
Que eu não tenho salvação
Você diz que simplesmente
Sou carente de razão
Você diz que eu te envergonho
Também diz que eu sou cruel
Que no teatro do teu sonho
Para mim não tem papel
Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo é do amor
Que você guarda para mim
Você não tem medo de mim
Você não tem medo de mim
Você tem medo de você
Você tem medo de querer

Adriana Calcanhoto

Orquídea

Bela orquídea
Pureza tão frágil mistério de toda mulher
Bela orquídea
Não vive da seiva roubada de um caule qualquer
Bela orquídea
A mais orgulhosa de tudo o que é flor
Bela orquídea
Rainha do amor

Bela menina
Trepada num galho se enfeita pra quando eu passar
Cabelo de índia
Na boca molhada da mata
Eu vou procurar
Bela orquídea
As flores mais caras de Nosso Senhor
Bela orquídea
Rainha do amor

Bela orquídea
Pureza tão frágil mistério de toda mulher
Bela orquídea
Não vive da seiva roubada de um caule qualquer
Bela orquídea
A mais orgulhosa de tudo o que é flor
Bela orquídea
Rainha do amor

Bela menina
Trepada num galho se enfeita pra quando eu passar
Cabelo de índia
Na boca molhada da mata
Eu vou procurar
Bela orquídea
As flores mais caras de Nosso Senhor
Bela orquídea
Rainha do amor
Guilherme Arantes


Coisas do Mundo Minha Nega

Hoje eu vim minha nega
Como venho quando posso
Na boca as mesmas palavras
No peito o mesmo remorso
Nas mãos a mesma viola onde gravei o teu nome
Venho do samba há tempo, nega
Venho parando por ai
Primeiro achei Zé Fuleiro que me falou de doença
Que a sorte nunca lhe chega
Que está sem amor e sem dinheiro
Perguntou se não dispunha de algum que pudesse dar
Puxei então da viola
Cantei um samba para ele
Foi um samba sincopado
Que zombou de seu azar

Hoje eu vim, minha nega
Andar contigo no espaço
Tentar fazer em teus braços um samba puro de amor
Sem melodia ou palavra para não perder o valor

Depois encontrei Seu Bento, nega
Que bebeu a noite inteira
Estirou-se na calçada
Sem ter vontade qualquer
Esqueceu do compromisso que assumiu com a mulher
Não chegar de madrugada
E não beber mais cachaça
Ela fez até promessa
Pagou e se arrependeu
Cantei um samba para ele que sorriu e adormeceu

Hoje eu vim, minha nega
Querendo aquele sorriso
Que tu entregas para o céu
Quando eu te aperto em meus braços
Guarda bem minha viola, meu amor e meu cansaço

Por fim achei um corpo, nega
Iluminado ao redor
Disseram que foi bobagem
Um queria ser melhor
Não foi amor nem dinheiro a causa da discussão
Foi apenas um pandeiro
Que depois ficou no chão
Não tirei minha viola
Parei, olhei, fui-me embora
Ninguém compreenderia um samba naquela hora

Hoje eu vim, minha nega
Sem saber nada da vida
Querendo aprender contigo a forma de se viver
As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender

Paulinho da Viola

A Ostra e o Vento

Vai a onda
Vem a nuvem
Cai a folha
Quem sopra meu nome?
Raia o dia
Tem sereno
O pai ralha
Meu bem trouxe um perfume?
O meu amigo secreto
Põe meu coração a balançar
Pai, o tempo está virando
Pai, me deixa respirar o vento
Vento

Nem um barco
Nem um peixe
Cai a tarde
Quem sabe meu nome?
Paisagem
Ninguém se mexe
Paira o sol
Meu bem terá ciúme?
Meu namorado erradio
Sai de déu em déu a me buscar
Pai, olha que o tempo vira
Pai, me deixa caminha ao vento
Vento

Se o mar tem o coral
A estrela, o caramujo
Um galeão no lodo
Jogada num quintal
Enxuta, a concha guarda o mar
No seu estojo
Ai, meu amor para sempre
Nunca me conceda descansar
Pai, o tempo vai virar
Meu pai, deixa me carregar o vento
Vento
Vento, vento

Chico Buarque


Lente do Amor

Pela lente do amor
Uma grande angular
Vejo o lado, acima e atrás
Pela lente do amor
Sou capaz de enxergar
Toda moça e todo rapaz
Pela lente do amor
Vejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor
Pela lente do amor
Até vejo você
Numa estrela da Ursa Maior

Abrir o ângulo, fechar o foco
sobre a vida
Transcender pela lente do amor
Sair do cético, entrar num
beco sem saída
Transcender, pela lente do amor
Do amor
Pela lente do amor
Pela lente do amor
Sou capaz de entender
Os detalhes da alma de alguém
Pela lente do amor
Vejo a flor me dizer
Que ainda posso enxergar mais
além
Pela lente do amor
Vejo a cor do prazer
Vejo a dor com a cara que tem
Pela lente do amor
Vejo o barco correr
Pelas águas do mal e do bem
Mostrar ao médico, encarar,
Curar sua ferida
Transcender pela lente do amor
Cantar o mântrico
Pegar o kármico na lida
Transcender, pela lente do amor
Pela lente do amor
Ser capaz de entender
Os detalhes da alma de alguém
Pela lente do amor
Vejo a flor me dizer
Que ainda posso enxergar mais
Além

Gilberto Gil

Acontece

Esquece nosso amor, vê se esquece
Porque tudo na vida acontece
acontece que eu já não sei mais amar
Vai sofrer, vai chorar, e você não merece
Acontece que meu coração ficou frio
o nosso ninho de amor está vazio
Mas não posso, não devo fazê-lo
Isso não acontece

Cartola

Anos Dourados

Parece que dizes
Te amo, Maria
Na fotografia
Estamos felizes
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador
Vai ser engraçado
Se tens um novo amor
Me vejo a teu lado
Te amo?
Não lembro
Parece dezembro
De um ano dourado
Parece bolero
Te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
É desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

Chico Buarque

Trem das onze

Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã
E além disso mulher
Tem outra coisa
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar
Sou filho único
Tenho a minha casa pra olhar
E eu não posso ficar . . .
não posso ficar

Adoniran Barbosa

Agora é cinza

Você partiu
Saudades me deixou
Eu chorei
O nosso amor foi uma chama
Que o sopro do passado desfaz
Agora é cinza
Tudo acabado
E nada mais.....
Você partiu de madrugada
E não me disse nada
Isso não se faz
Me deixou cheio de saudade e paixão
Não me conformo
Com a sua ingratidão (chorei porque)
Agora desfeito o nosso amor
Eu vou chorar de dor
Não posso esquecer
Vou viver distante dos teus olhos
Oh querida, não me deu
Um adeus por despedida ( chorei porque)

Bidê/ Marçal

Faz parte do Meu Show

Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor
Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor
Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão

Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Confundo as tuas coxas com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo no peito do meu traidor

Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou
Vivo num 'clip' sem nexo
Um pierrot retrocesso
meio bossa nova e 'rock'n roll'

Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Meu amor, meu amor, meu amor...

Cazuza

O Seu Amor

O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é

Gilberto Gil

Nosso Amor

Se falei de você
Só falei por falar
Não tinha mais de quem falar

Só sonhei com você
Pois não pude evitar
Temos que sonhar

Se fiquei com você
Só fiquei por ficar
Quem fica, fica por ficar

Se aceitei seu amor
Aceitei sem pensar
Não sei recusar

Se ainda estou com você
Ainda estou por estar

Nosso amor
Afinal, não tem nada de especial
Não é paixão, não é fatal
Não é assim essencial
Nem é só sentimento
Circunstancial
Não é tanta coisa
Mas é tão legal

Infeliz de quem vem
Até aqui me buscar
Quem busca, adora rebuscar

E me vê com você
Vendo o tempo passar
É só o que verá

Sem saber se esse amor
Ainda vai decolar
Se cola, pode decolar

Eu por mim
Deixo assim como está

Nosso amor
Se tornou uma história singular
É só calor e se calar
É só compor sem cantar
Nosso amor se espreguiça
Só quer vadiar
Vai passando os dias sem se entediar

Uma das dúvidas típicas
Que ficam no ar
Como que um amor que não quer nada pode continuar?
Nosso amor não cansa de durar
Sempre foi assim
Sempre será
Não se pode esperar muito disso
Mas também porque esperar?

Se falei de você
Só falei por falar
Não tinha mais de quem falar

Se fiquei com você
Só fiquei por ficar
Quem fica, fica por ficar

Infeliz de quem vem
Até aqui me buscar
Quem busca adora rebuscar

Sem saber se esse amor
Ainda vai decolar
Se cola, pode decolar

Dante Ozzetti/Luiz Tatit

Abismo de Rosas

Ao amor em vão fugir procurei pois tu
Breve me fizeste ouvir tua voz, mentira deliciosa
E hoje é meu ideal um abismo de rosas
Onde a sonhar eu devo, enfim, sofrer e amar !
Mas hoje que importa se tua alma é fria
Meu coração se conforta na tua própria agonia
Se há no meu rosto um rir de ventura
Que importa o mudo desgosto de minha dor assim, sem fim
Se minha esperança o que não se alcança
Sonhou buscar devo calar
Hoje, meu sofrer e jamais dele te dizer
O amor se é puro suporta obscuro
Quase a sorrir a dor de ver, a mais linda ilusão morrer.
Humilde, bem vês que vou, a teus pés levar,
Meu coração que jurou, sempre ser, amigo e dedicado,
Tenha, embora, que viver, neste sonho enganado,
Jamais direi, que assim vivi, porque te amei !

Américo Jacobino/ João do Sul


Béradero

Os olhos tristes da fita
Rodando no gravador
Uma moça cosendo roupa
Com a linha do Equador
A voz da santa dizendo:
O que é que eu tô fazendo
Cá em cima desse andor
A tinta pinta o asfalto
Enfeita a alma motorista
É cor na cor da cidade
Batom no lábio nortista
O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu na boca paulista
Cadeiras elétricas da baiana
Sentença que o turista cheire
E os sem amor e os sem-teto
E os sem paixão, sem alqueire
No peito dos sem peito uma seta
E a cigana analfabeta
Lendo a mão de Paulo Freire
A contenteza do triste
Tristezura do contente
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente
São sons de sins, não, contudo
Pé quebrado, verso mudo
Grito no hospital da gente

Chico César

Mar e Lua

Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar

E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar

Chico Buarque

O Patrão Nosso de Cada Dia

Eu quero amor da flor de cactus
Ela não quis
Eu dei-lhe a flor de minha vida
Vivo agitado
Eu já não sei se sei
De tudo ou quase tudo
Eu só sei de mim, de nós

De todo mundo

Eu vivo preso à sua senha
Sou enganado
Eu solto o ar no fim do dia
Perdi a vida
Eu já não sei se sei
De nada ou quase nada
Eu só sei de mim

Só sei de mim
Só sei de mim
O patrão nosso de cada dia
Dia após dia
O patrão nosso de cada dia
Dia após dia
O patrão nosso de cada dia
Dia após dia
O patrão nosso de cada dia

João Ricardo/Secos e Molhados


Esquinas

Só eu sei, as esquinas por onde passei
Só eu sei, só eu sei
Sabe lá, o que é não ter e ter pra dar
Sabe lá, sabe lá
E quem será, nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei, só eu sei
Sabe lá, o que é morrer de sede
Em frente ao mar
Sabe lá, sabe lá
E quem será na correnteza do amor
Que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga
De leve e traz toda paz
Que um dia o desejo levou
Só eu sei
As esquinas porque passei
Só eu sei, só eu sei
E quem será na correnteza do amor
Que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga
De leve e traz toda paz
Que um dia o desejo levou
Só eu sei, as esquinas porque passei

Djavan


Sob o Efeito Desse Olhar

Hoje eu quero a companhia preciosa do amor
O velho amor
Roupa leve colorida como a áurea do amor
Um novo amor
A atmosfera limpa como a essência do amor
O puro amor
E um por do sol dourado que eu conheço quando estou....apaixonado
O universo vai se abrir, sob o efeito de um olhar
Em cada espuma que morreu na areia
Em cada estrela alva que nasceu, em cada ave que voou
O céu, a lua, especialmente pra nós
A noite feita pra sonhar
Sentindo o vento nos acariciar em nossa boca

Guilherme Arantes


Os Povos

Na beira do mundo
Portão de ferro, aldeia morta, multidão
Meu povo, meu povo,
não quis saber do que é novo nunca mais
Ê minha cidade
Aldeia morta, anel de ouro, meu amor
Na beira da vida a gente torna a se encontrar só
Casa iluminada, portão de ferro, cadeado coração
E eu reconquistado vou passeando, passeando e morrer
Perto de seus olhos
Anel de ouro aniversário meu amor
Em minha cidade a gente aprende a viver só

Ah! Um dia qualquer dia de calor
É sempre mais um dia de lembrar
A cordilheira de sonhos que a noite apagou
Ê minha cidade
Portão de ouro aldeia morta solidão
Meu povo meu povo aldeia morta cadeado coração
Eu reconquistado vou caminhando, caminhando e morrer
Dentro de seus braços
A gente aprende a morrer só
Meu povo, meu povo
Pela cidade a viver só

Milton Nascimento/Fernando Brandt

Você é Linda

Fonte de mel
Nuns olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás

Linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios
Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir
No Abaeté
Areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim
Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Caetano Veloso

A Rita
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de são Francisco
E um bom disco de Noel

A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão

Chico Buarque

Detalhes

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito tempo em sua vida eu vou viver

Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E a toda hora vão estar presentes
Você vai ver
Se um outro cabeludo aparecer na sua rua
E isso lhe trouxer saudades minhas, a culpa é sua
O ronco barulhento do meu carro
A velha calça desbotada ou coisa assim
Imediatamente você vai lembrar de mim

Eu sei que um outro deve estar falando ao seu ouvido
Palavras de amor como eu falei, mas, eu duvido
Duvido que ele tenha tanto amor
E até os erros do meu português ruim
E nessa hora você vai lembrar de mim

A noite envolvida no silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura o meu retrato
Mas na moldura não sou eu quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso mesmo assim
E tudo isso vai fazer você lembrar de mim

Se alguém tocar seu corpo como eu, não diga nada
Não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada
Pensando ter amor nesse momento, desesperada, você tenta até o fim
E até nesse momento você vai lembrar de mim

Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma todo amor em quase nada
Mas quase também é mais um detalhe
Um grande amor não vai morrer assim
Por isso, de vez em quando você vai lembrar de mim

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito e muito tempo em sua vida eu vou viver

Roberto Carlos/ Erasmo Carlos


Momento do Amor

Neném... eu percebi quando te amei
Teu medo foi maior que o teu amor, neném
Neném... abre o teu peito e diz pra mim
tudo o que te faz temer assim
Neném... dor que se guarda fere mais,
faz medo, desespera e esfria o amor, neném
Meu bem... faz no meu leito um sol pra nós
Faz da tua treva, o amanhecer

Vida é só uma estrada, e faz chegar
aonde o teu amor puder
Vida é teu momento de entregar
É dentro do teu ser...
mulher...

Neném. Agora sim. Num corpo só,
os nossos corpos sós vão se encontrar no amor
Amor. Agora sim eu vou te amar
Mais do que te amar, vou te saber
Assim... meu colo acolhe tua mão
E colhe em tua mão o tato bom do amor
Assim... meu braço estreita o nosso amor
Deita sobre o teu, o meu viver...

Quero e esse é o momento de alcançar -
vir junto e mergulhar no amor
Quero deixar no mundo do teu ser
no fundo do teu ser
o amor.

Comigo agora. Vem.
Vem, neném, comigo agora. Vem.

Taiguara

Caçador de Mim

Por tanto amor, por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz, manso ou feroz
Eu, caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões que nunca tiveram fim
Vou me encontrar longe do meu lugar
eu, caçador de mim

Nada a temer
Senão o correr da luta
Nada a fazer
Senão esquecer o medo
Abrir o peito à força
Numa procura
Fugir das armadilhas da mata escura

Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim
Milton Nascimento

Nervos de Aço

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um tipo qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nenhum pedaço do meu pode ser
Há pessoas com nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
| Talvez não lhes venha qualquer reação
Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor

Lupicínio Rodrigues


A Paz

A paz invadiu o meu coração
e de repente me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais
A paz, fez o mar da revolução
Invadir meu destino, a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão na paz
Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz
Eu vim, vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos "ais"

Gilberto Gil/ João Donato


Bicho Solto

. Não sei julgar o que há em ti
Sentir com precisão
Se é fogo ou água, já desisti
O meu coração que agüente
Não há nada mais louco
Mais sensível
Que você junto de mim
Com o seu amor indizível
Eu faço e aconteço
Pra estar com você
Eu te abraço, amor
Te desfaço em flor
Nesse abraço a gente
Se veste um ao outro
Pra virar um bicho solto
Desordenar por aí
'cê de quatro, amor
Beira art-déco
Uma imagem no altar da luxúria
Você com esse jeito seu
Me venceu
Ah, gosto de você em mim!
O lascivo chega a brilhar
De incandescer mais que o sol
Lá no limiar do prazer
Estrelas pulam de alegria
Se fantasiam, mudam de cor
Pra ver o amor nascer

Djavan

Traços do Amor

Lá fora os carros fazem
noturna sinfonia
pela veneziana
a luz invade a cama
em listas no teu corpo
no cetim do céu
lá vai a lua
deslizando entre os prédios
entre os fios
entra pela fresta da janela
em traços de amor
no teu corpo.
Chegou o verão
me sinto em movimento
você me incita tanto
me põe bem lá no alto
me dá impulso, eu salto
mergulho no teu corpo.

Guilherme Arantes

Descaminho

Quero te fazer amor
Quero te fazer feliz, meu benzinho
Esquecer aquele adeus
Que foi a gota d'água pro meu descaminho...
Sem tua presença
Eu sou como um peixe, num rio sem água
É dor, desespero
É pranto que rola, me enchendo de mágoa
Sem teus lindos olhos não vejo a vida
Pois não há paixão que não seja sofrida
Até o teu cheiro não sai mais de mim
É uma saudade que nunca tem fim
Desejo difícil de saciar
Doença imprudente que custa sarar
Só fazendo amor pra melhorar
Só fazendo amor pra melhorar

Demônios da Garoa

O Nosso Amor a Gente Inventa

O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu
O nosso amor a gente inventa, inventa
O nosso amor a gente inventa, inventa
Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa
Mas ficou tudo fora do lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma estória romântica
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu

Cazuza


A Flor e o Espinho

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor.

Eu só errei quando juntei minha alma à sua
O sol não pode viver perto da lua.

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor.

É no espelho que eu vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus olhos rasos da água
E eu na sua vida já fui uma vez
Hoje sou espinho ao seu amor

Guilherme de Brito


Aos Pés da Cruz

Aos pés da Santa-Cruz
Você se ajoelhou
E em nome de Jesus
Um grande amor você jurou
Jurou, mas não cumpriu,
Fingiu e me enganou,
Pra mim você mentiu,
Pra Deus você pecou
O coração tem razões
Que a própria razão desconhece
Faz promessas e juras
Depois esquece
Seguindo este princípio
Você também prometeu,
Chegou até a jurar um grande amor
Mas depois esqueceu.

Marino Pinto/Zé Gonçalves


Amor

leve como leve pluma
muito leve leve pousa
na simples e suave coisa
suave coisa nenhuma

sombra silêncio ou espuma
nuvem azul que arrefece

simples e suave coisa
suave coisa nenhuma
que em mim amadurece

João Ricardo/João Apolinário


Asa Morena

Asa Morena
Me faz pequena, asa morena
me alivia a dor,
aliviando a dor que mata
me faz ser teu amor.

Me toma no crescer de um beijo muito louco,
me implodindo aos poucos
no universo a desvendar a vastidão
do teu amor.

Me toma sem pensar num gesto muito forte,
unindo o sul e o norte do meu corpo, frágil corpo
com a mais pura emoção.

Me toma no crescer de um beijo muito louco
me implodindo aos poucos
no universo a desvendar
a imensidão do teu amor.

Me faz pequena
Asa morena.

Zé Caradípia

Quero Ficar Com Você

Quero ficar com você
E é tão fundo
Que eu posso dizer
Que o fim do mundo
Não vai chegar mais

Quero ficar com você
E é glória do saber querer
Com longa história
Pra frente e pra trás

Não quero que o nosso amor
Seja um buraco no chão
Mas sinal da trajetória
Da vida e da canção
Marca de queda e vitória
Na palma da mão
Sombra, memória e porvir do coração

Não deixe que o nosso amor
Seja um corisco no caos
Mas passos da liberdade
Pisando seus degraus
Feitos de momentos bons
E de momentos maus
De descobertas, de ventos, velas, naus

Caetano Veloso

Tudo por Amor

Sei que um erro fisgou o anzol da paixão
Mas pra que represar as mágoas em mim
melhor é chorar
Do que buscar, sem ter fim,
Lógica no que aconteceu...
Esquecendo, enfim,
Não há razão no rancor
Pois tudo o que eu fiz foi por amor ...
Nem pressenti os perigos no fundo azul
Do seu mar...
Se mergulhei fui atrás de um mundo de paz...
Doce mar...
Nas cores que eu vi
Tão deslumbrado esqueci
Na superfície um temporal
Me fez naufragar
Na eternidade nadar
Ao despertar na ilha estava só...
Não vou te culpar por ter me perdido
Vou me perdoar ter te achado
O certo e o errado
Foi tudo por amor

Guilherme Arantes

Apoteose do Amor

Deus, só Deus
Sabe que os olhos teus
São para mim
Dois faróis clareando o mar
Na fúria do mar
Onde naufraga uma barca
Que o leme perdeu
Coitada, essa barca sou eu
A naufragar
Na existência que é o mar
Socorre-me com a luz desses faróis
Que são teus olhos azuis
São dois lírios os teus seios alabastrinos
Quase divinos
Parecem feitos para o meu beijo
Muito almejo dos lábios teus
Por um som
Pela glória do nosso amor
Musa dos versos meus
Inspira-me por quem és
Minha alma, bendito amor
Curvada aos teus pés
Rosa opulenta
Que o meu jardim ostenta
A queima em dor
Inspiração do meu amor
Eu nem sei por que foi que te amei
Pois tudo em ti é formosura e singular
Amei teu perfil
Amei teus olhos azuis
Eu amei teu olhar
Por fim nem tens pena de mim
Que sofro e choro
Na ânsia de te amar
Ah, triste de quem
Vive a chorar por alguém

Cândido das Neves


Esse Amor

Se alguém pudesse ser um siboney
Boiando à flor do sol
Se alguém, seu arquipélago, seu rei
Seu golfo e seu farol
Captasse a cor das cores da razão do sal da vida
Talvez chegasse a ler o que este amor tem como lei
Se alguém, judeu, iorubá, nissei, bundo,
Rei na diáspora
Abrisse as suas asas sobre o mundo
Sem ter nem precisar
E o mundo abrisse já, por sua vez,
Asas e pétalas
Não é bem, talvez, em flor
Que se desvela o que este amor
(Tua boca brilhando, boca de mulher,
Nem mel, nem mentira,
O que ela me fez sofrer, o que ela me deu de prazer,
O que de mim ninguém tira
Carne da palavra, carne do silêncio,
Minha paz e minha ira
Boca, tua boca, boca, tua boca, cala minha boca)
Se alguém, cantasse mais do que ninguém
Do que o silêncio e o grito
Mais íntimo e remoto, perto além
Mais feio e mais bonito
Se alguém pudesse erguer o seu Gilgal em Bethania...
Que anjo exterminador tem como guia o deste amor?
Se alguém, nalgum bolero, nalgum som
Perdesse a máscara
E achasse verdadeiro e muito bom
O que não passará
Dindinha lua brilharia mais no céu da ilha
E a luz da maravilha
E a luz do amor
Sobre este amor

Caetano Veloso


Tenha Paciência

Tenha paciência meu amor
A fé é tudo nesse mundo
Estamos com nosso Senhor
Deus o Criador do céu, da terra e do mar
Há de dar forças para a gente caminhar
Vamos pra bem longe da maldade
Deus que nos guie
Em direção à bondade
Vai por mim
É sempre assim
Quando se é feliz
Tem sempre alguém
Para nos invejar
E aconselhar
Essa gente

Nelson Cavaquinho

Canto da Lira

Esse menino!
Encantaram o meu amor
ela foi encantada
pelo canto da lira
e nunca mais voltou
o canto da lira
deliraria
qualquer donzela
da cidade ou do interior
do meu Brasil
encanta

A mãe da noite
o pai do dia
encanta o cantor
eu desconfio
que não tem jeito
essa ave tem um canto
tão perfeito
que encantou
até o mal feito
e o malfeitor

Djavan

Olha

Olha você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim
Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui
Olha você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
E eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é pra valer
Olha, vem comigo aonde eu for
Seja minha amante, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor

Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Nem Morta

Eu só fico em teus braços porque não tenho forças pra tentar ir à luta
Eu só sigo os teus passos pois não sei te deixar e essa idéia me assusta
Eu só faço o que mandas pelo amor que é cego que me castra e domina
Eu só digo o que dizes, foi assim que aprendi a ser tua menina
Pra você falo tudo no fim de cada noite
Te exponho o meu dia, mas que tola ironia
Pois você fica mudo, nesse mundo só teu cheio de fantasias
Eu só deito contigo porque quando me abraças
Nada disso me importa, coração abre a porta
Sempre que eu me pergunto quando vou te deixar
Me respondo: nem morta

Michael Sullivan/Paulo Massadas

Paula e Bebeto

Ê vida, vida, que amor brincadeira, à vera
Eles se amaram de qualquer maneira, à vera

Qualquer maneira de amor vale à pena
Qualquer maneira de amor vale amar

Pena, que pena, que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá

Eles partiram por outros assuntos, muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito

Qualquer maneira que eu cante este canto
Qualquer maneira me vale cantar

Eles se amam de qualquer maneira, à vera
Eles se amam é pra vida inteira, à vera

Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá

Pena, que pena, que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga

Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira de amor me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá


Milton Nascimento /Caetano Veloso


Enquanto Houver Saudade

Não posso acreditar
Que algumas vezes
Não lembres com vontade de chorar
Daqueles deliciosos quatro meses
Vividos sem sentir e sem pensar
Não posso acreditar
Que hoje não sintas
Saudade dessa história singular
Escrita com as mais suaves tintas
Que existem pra escrever o verbo amar
Enquanto houver saudade
Pensarás em mim
Pois a felicidade
Não se esquece assim
O amor passa mas deixa
Sempre a recordação
De um beijo ou de uma queixa
No coração

Custódio Mesquita/Mário Lago

Maria do Futuro

Duna branca - Lua imensa - Maria deita
Nua e branda como as nuvens que a lua enleita
Duas tranças, uma flor e Maria enfeita
Suas mansas curvas cheias que a areia aceita

Era noite de verão
Vi o amor nascer
Num sorriso seu
O luar me convidou
O mar nos temperou
E ela me envolveu

Nessa rede ela prendeu
Minha dor civil
Minha solidão
Nessa rede eu vi nascer
Minha liberdade

Tua rede, minha sede e o amor te trouxe
Quero ver o mar salgando teu seio doce
E em cadeias de amor puro viver guardado
Joga areias do futuro no meu passado.

Taiguara

Coração Vulgar

Morre mais um amor num coração vulgar
deixa desilusão a quem não sabe amar.

E quem não sabe amar há de sofrer
porque não poderá compreender
que o amor que morre é uma ilusão,
e uma ilusão deve morrer

um verdadeiro amor nunca perece
que pouca gente ainda o conhece
meu bem, se o seu amor morrer,
é porque ninguém o entendeu
deixa o teu coração viver em paz
o teu pecado é querer amar demais.

Paulinho da Viola

Quanta

Quanta do latim
Plural de quantum
Quando quase não há
Quantidade que se medir
Qualidade que se expressar
Fragmento infinitésimo
Quase que apenas mental
Quantum granulado no mel
Quantum ondulado no sal
Mel de urânio, sal de rádio
Qualquer coisa quase ideal

Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos


Canto de louvor
De amor ao vento
Vento arte do ar
Balançando o corpo da flor
Levando o veleiro pro mar
Vento de calor
De pensamento em chamas
Inspiração
Arte de criar o saber
Arte, descoberta, invenção
Teoria em grego quer dizer
O ser em contemplação

Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos

Sei que a arte é irmã da ciência
Ambas filhas de um Deus fugaz
Que faz num momento
E no mesmo momento desfaz
Esse vago Deus por trás do mundo
Por detrás do detrás

Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos

Gilberto Gil

Queixa

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diz onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejo de vingança
Dessa desnatureza
Bateu forte sem esperança
Contra a tua dureza

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa

Caetano Veloso

Intimidade (Sou Eu)

Sou seu Colombo, seu coração
Sou seu canário, eu sou seu dragão
Sou seu São Jorge, seu mau freguês
Sou seu vampiro, seu amor cortês
Eu sou seu Hitler, seu Peter Pan
Seu João Batista, eu sou seu Tarzan
Sou seu palhaço, seu urubu
Seu cavalheiro, seu Danúbio Azul
Sou seu maestro, seu Frankeinstein
Sou seu boneco, eu sou seu neném
Seu mascarado, sou seu Romeu
Seu labirinto, eu sou seu Teseu
Sou seu

Adriana Calcanhoto

Flor de Lis

Valei-me Deus, é o fim do nosso amor
Perdoa por favor, eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei
Eu só sei que amei, que amei, que amei, que amei
Será, talvez, que minha ilusão
Foi dar meu coração com toda força
Pra essa moça me fazer feliz
E o destino não quis
Me ver como raiz de uma flor de lis
E foi assim que eu vi nosso amor na poeira, poeira
Morto na beleza fria de Maria
E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que plantou Maria
Nem margarida nasceu

Djavan

Dança da Solidão

Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão
Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão
Camélia ficou viúva, Joana se apaixonou
Maria tentou a morte, por causa do seu amor
Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado
Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão
Quando vem a madrugada, meu pensamento vagueia
Corro os dedos na viola, contemplando a lua cheia
Apesar de tudo existe, uma fonte de água pura
Quem beber daquela água não terá mais amargura.

Paulinho da Viola

Juízo Final

O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será extinta a semente
O amor será eterno novamente
É o juízo final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer.

Nelson Cavaquinho

Bom Dia

Um dia quero mudar tudo
No outro eu morro de rir,
Um dia tô cheia de vida
No outro não sei onde ir,
Um dia escapo por pouco
No outro não sei se vou me livrar,
Um dia esqueço de tudo
No outro não posso deixar de lembrar,
Um dia você me maltrata
No outro me faz muito bem,
Um dia eu digo a verdade
No outro não engano ninguém,
Um dia parece que tudo
Tem tudo pra ser o que eu sempre sonhei,
No outro dá tudo errado
E acabo perdendo o que já ganhei

Logo de manhã, bom dia...

Um dia eu sou diferente
No outro sou bem comportada,
Um dia eu durmo até tarde
No outro eu acordo cansada,
Um dia te beijo gostoso
No outro nem vem que eu quero respirar,
Um dia quero mudar tudo no mundo
No outro eu vou devagar,
Um dia penso no futuro
No outro eu deixo pra lá,
Um dia eu acho a saída
No outro eu fico no ar,
Um dia na vida da gente,
Um dia sem nada de mais,
Só sei que eu acordo e gosto da vida
Os dias não são nunca iguais!

Swami Jr/Paulo Freire

As Vitrines

Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar

Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Chico Buarque


Contrato de Separação

Olha, essa saudade
Que maltrata o meu peito
É ilusão
E por ser ilusão é mais difícil de apagar

Ela vai me consumindo lentamente
Ela brinca com meu peito
E leva sempre a melhor

Eu quis fazer com ela um contrato de separação
Negou-se, então, a aceitar
Sorrindo da minha ilusão

Só tem um jeito agora
É tentar de vez me libertar
Brigar com a lembrança
Pra não mais lembrar

Dominguinhos - Anastácia

Metáfora

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo/nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora

Gilberto Gil


Valsa Brasileira

Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu

Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer

Chico Buarque/Edu Lobo

Cordilheira

Eu quero ter a sensação das cordilheiras, desabando sobre as flores inocentes e rasteiras.
Eu quero ver a procissão dos suicidas, caminhando para a morte pelo bem de nossas vidas.
Eu quero crer nas solução dos evangelhos, obrigando os nossos moços ao poder dos nossos velhos.
Eu quero ler o coração dos comandantes, condenando os seus soldados pela orgia dos farsantes.
Eu quero apenas ser cruel naturalmente, e descobrir onde o mal nasce e destruir sua semente.
Eu quero ser da legião dos grandes mitos, transformando a juventude num exército de aflitos.
Eu quero ver a ascensão de Iscariotes, e no sábado um Jesus crucificado em cada poste.
Eu quero ler na sagração dos estandartes, uma frase escrita a fogo pelo punho de deus Marte .

Paulo César Pinheiro/Sueli Costa

Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Chico Buarque/Tom Jobim

Primavera

A primavera é quando ninguém mais espera
A primavera é quando não
A primavera é quando do escuro da terra
Acende a música da paixão
A primavera é quando ninguém mais espera
E desespera tudo em flor
A primavera é quando acredita
E ressuscita por amor
A primavera é quando espera
A primavera é quando não
A primavera é quando do escuro da terra
Acende a música do tesão

José Miguel Wisnik

Canto em Qualquer Canto

Vim cantar sobre essa terra
Antes de mais nada aviso
Trago facão, paixão crua
E bons rocks no arquivo
Tem gente que pira e berra
Eu já canto pio e silvo
Se fosse minha essa rua
O pé de ipê estava vivo

Pro topo daquela serra
Vamos nós dois vídeo e livros
Vou ficar na minha e sua
Isso é mais que bom motivo
Gorjearei pela terra
Para dar e ter alívio
Gorjeando eu fico nua
Entre o choro e o riso

Pintassilga, pomba, mélroa
Águia lá do paraíso
Passarim, mundo da lua
Quando não trino não sirvo
Caso a bela com a fera
Canto porque é preciso
Porque essa vida é árdua
Prá não perder o juízo

Ná Ozzetti/Itamar Assumpção

Cálice

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Comoé difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Gilberto Gil/Chico Buarque

Meu Erro

Eu quis dizer
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas...

Eu não quero te ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou...

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer
Que estar ao seu lado
Bastaria!
Ah! Meu Deus!
Era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone...

Mesmo querendo
Eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe prá trás...

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer
Que estar ao seu lado
Bastaria!
Ah! Meu Deus!
Era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone jamais...

Mesmo querendo
Eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe prá trás...

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer
Que estar ao seu lado
Bastaria!
Ah! Meu Deus!
Era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone jamais...

Não me abandone jamais...

Hebert Vianna

Catavento e Girassol

Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço, eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea

Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho

Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta você dança havaiana

Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, scarpin, soiré
Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho

A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos

Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea

Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho

Guinga /Aldir Blanc


Sangue Latino

Jurei mentiras
E sigo sozinho
Assumo os pecados
Uh! Uh! Uh! Uh!...

Os ventos do norte
Não movem moinhos
E o que me resta
É só um gemido...

Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Uh! Uh! Uh! Uh!
Minh'alma cativa...

Rompi tratados
Traí os ritos
Quebrei a lança
Lancei no espaço
Um grito, um desabafo...

E o que me importa
É não estar vencido
Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa...

João Ricardo / Paulinho Mendonça

Crápula

Cara-de-pau
Já chega e crau!
Faz o que quer
Dá um beijo e tchau!
Sempre que vem
Faz tudo igual
Quando não vem
É menos mal

Superficial
Muito além do normal
Muito aquém do animal
Racional

Gasta legal
Só dá preju
Bem baixo-astral
É um urubú
Se vem me ver
Não sei pra quê
Vou dizer "oi"
Saiu, já foi

Crápula!
É duro que dói
É ele que vem
Que sempre destrói
Que pega um amor
Sincero e corrói
É esse o vilão
Que agora é herói

Crédula!
Deixei-me levar
Foi pura emoção
E agora tá aí
Mais uma canção
Saiu sem querer
Pra ele!

Pra dar prazer é
Só virtual
Para ofender
É um punhal
Para atacar
É um carcará
Pra se livrar
Só diz: "foi mal"
Pra disfarçar
Fica assim
De perfil
Pra dizer que não viu
Distraiu...

Não tem amor
Que ele não traia
Dom de iludir
É a sua praia
Não vi ninguém
Da sua laia
Até num show
Ele vai e vaia
Crápula!..

Dante Ozzetti /Luiz Tatit

As Forças da Natureza

Quando o Sol
Se derramar em toda sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar
Com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal
Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar o barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal

Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer, la la la
O esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural
Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir, ô, ô
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar afinal

As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval

João Nogueira/Paulo Cesar Pinheiro

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

Chico Buarque

A Vida Que a Gente Leva

Não tenho medo de nada
porque vivo minha vida
como quem sorve uma taça
de preciosa bebida
saboreio lentamente
cada hora, cada dia
nas coisas que tão somente
fazem a minha alegria

Eu te dou um forte abraço
eu canto
eu digo um agrado
tudo pra ver teu sorriso
o teu sorriso é sagrado
e, às vezes, apenas isto
é luz que dissipa a treva

A gente leva da vida, amor
a vida que a gente leva

Fátima Guedes

Flores

Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem

Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem

Tony Bellotto / Sérgio Britto / Charles Gavin / Paulo Miklos


Azul da Cor do Mar

Ah!
Se o mundo inteiro
Me pudesse ouvir
Tenho muito prá contar
Dizer que aprendi...

E na vida a gente
Tem que entender
Que um nasce prá sofrer
Enquanto o outro ri..

Mas quem sofre
Sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver...

Ver na vida algum motivo
Prá sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar...

Mas quem sofre
Sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver...

Ver na vida algum motivo
Prá sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar..

Tim Maia


Mais que a paixão

Não espere de mim
Nada mais que a paixão
Não espere nada demais
Do meu coração
Que bate, rebate e grita
Geme, chora e se agita
Sambando nas cordas bambas
De uma viola vadia, vadia.
Não espere encontrar numa canção
Nada além de um sonho
Nada além de uma ilusão
Talvez, quem sabe,
A verdade, a infinita vontade
De arrancar de dentro da noite
A barra clara do dia.

Egberto Gismonti/João Carlos Pádua




Lanterna Dos Afogados

Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar

Há uma luz no túnel dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar

Eu estou na lanterna dos afogados
Eu estou te esperando
Vê se não vai demorar

Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mais ainda sei me virar

Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar

Hebert Vianna


Sargaço Mar

Quando se for esse fim de som
Doida canção
Que não fui eu que fiz
Verde luz verde cor de arrebentação
Sargaço mar, sargaço ar
Deusa do amor, deusa do mar
Vou me atirar, beber o mar
Alucnar desesperar
Querer morrer para vier com Iemanjá
Iemanjá, odoiá...

Dorival Caymmi


Fado Tropical

Oh! musa do meu fado
Oh! minha mãe gentil
Te deixo consternado, no primeiro abril
Oh! não sê tão ingrata, não esqueça de quem te amou.
e em tua densa mata, se perdeu e se encontrou.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai
tornar-se um imenso Portugal.
Com avencas na caatinga, alecrins no carnaval, licores
na moringa, um vinho tropical.
E a linda mulata, com rendas do Além-Tejo, de quem
numa bravata arrebatou um beijo.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai
tornar-se um imenso Portugal.
Guitarras e sanfonas, jasmins, coqueiros, fontes,
sardinhas, mandioca, num suave azulejo.
O rio Amazonas, que corre Trás-os-Montes, e numa
pororoca, desagua no tejo.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai
tornar-se um imenso Portugal.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai
tornar-se um imenso Portugal.

Chico Buarque/Ruy Guerra

A 60 Minutos Por Hora

A 60 minutos por hora
sem pressa nem demora
a 60 minutos por hora pela vida afora
venha, não tenha pressa
pra chegar a lugar nenhum

Walter Franco

Capitu

De um lado vem você com seu jeitinho
Hábil, hábil, hábil
E pronto!
Me conquista com seu dom

De outro esse seu site petulante
WWW ponto poderosa ponto com

É esse o seu modo de ser ambíguo sábio, sábio
E todo encanto Canto, canto
Raposa e sereia
Da terra e do mar
Na tela e no ar

Você é virtualmente amada amante
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante

Um método de agir que é tão astuto
Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo
É só se entregar, é não resistir, é capitular

Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu

De um lado vem você com seu jeitinho
Hábil, hábil, hábil
E pronto!
Me conquista com seu dom

De outro esse seu site petulante
WWW ponto poderosa ponto com

É esse o seu modo de ser ambíguo sábio, sábio
E todo encanto Canto, canto
Raposa e sereia
Da terra e do mar
Na tela e no ar

Você é virtualmente amada amante
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante

No site o seu poder provoca o ócio, o ócio
Um passo para o vício, o vício, o vício
É só navegar, é só te seguir, e então naufragar

Capitu
Feminino com arte
A traição atraente
Um capítulo à parte
Quase vírus ardente
Imperando no site
Capitu

De um lado vem você com seu jeitinho
Hábil, hábil, hábil
E pronto!
Me conquista com seu dom

De outro esse seu site petulante
WWW ponto poderosa ponto com

É esse o seu modo de ser ambíguo sábio, sábio
E todo encanto Canto, canto
Raposa e sereia
Da terra e do mar
Na tela e no ar

Você é virtualmente amada amante
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante

Um método de agir que é tão astuto
Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo
É só se entregar, é não resistir, é capitular

Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu
Feminino com arte
A traição atraente
Um capítulo à parte
Quase vírus ardente
Imperando no site
Capitu

Luiz Tatit


Desenredo

Por toda terra que passo me espanta tudo que vejo
A morte tece seu fio de vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego eu me enredo
Nas tranças do teu desejo
O mundo todo marcado à ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo, a morte o fim do novelo
O olhar que assusta anda morto
O olhar que avisa anda aceso
Mas quando eu chego eu me perco
Nas tramas do teu segredo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe
A cera da vela queimando, o homem fazendo seu preço
A morte que a vida anda armando, a vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego eu me enrosco
Nas cordas do seu cabelo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe...

Dori Caymmi / Paulo César Pinheiro


As Rosas Não Falam

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim

Volto ao jardim
Com a certeza de que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
Cartola

Viver, Amar, Valeu

Quando a atitude de viver
É uma extensão do coração
É muito mais que um prazer
É toda carga da emoção
Que era o encontro com o sonho
Que só pintava no horizonte
E, de repente, diz presente
Sorri e beija a nossa fronte
E abraça e arrebenta a gente
É bom dizer viver, valeu
Ah! já não é nem mais alegria
Já não é nem felicidade
É tudo aquilo num sol riso
É tudo aquilo que é preciso
É tudo aquilo paraíso
Não há palavra que explique
É só dizer viver, valeu
Ah! eu me ofereço esse momento
Que não tem paga e nem tem preço
Essa magia eu reconheço
Aqui está a minha sorte
Me descobrir tão fraco e forte
Me descobrir tão sal e doce
E o que era amargo acabou-se
É bom dizer viver, valeu
É bom dizer amar, valeu.
Amar, valeu.

Gonzaguinha

Neblinas e Flâmulas

Vivemos de olhares
em todos os lugares
e a gentileza em nós
nos faz heróis covardes
dois bichos desejando
em jaulas diferentes
num cio infindo atrás de grades
e a possibilidade
de gozo e de saudade
floresce sem dar fruto
e o luto sem saída
da hora não-vivida
é bem pior pro coração
que a despedida.
Entre a neblina ouvimos
o som dos nossos sinos
e ansiamos nos tocar:
os olhos criam luzes.
Cada encontro
os teus olhos barcos pedem aos meus um cais.
Nas noites estreladas com velas desfraldadas
vejo você se aproximar
e os olhos brilham:
acendo a minha quilha,
enfeito toda a ilha
pra esse encontro imorredouro
e no ancoradouro
as flâmulas que aceno
se cobrem de sereno:
são lágrimas choradas
em cada madrugada...
quem viu o amor renunciar ao desvario?
Mas, no fim da viagem,
na hora da abordagem,
sinto você se desviar...
Netuno sopra as luzes.
Fim do encontro:
os teus olhos barcos gritam adeus no mar dos meus.

Guinga/Aldir Blanc


Água E Vinho

Todos os dias passeava secamente na soleira do quintal
À hora morta, pedra morta, agonia e as laranjas do quintal
A vida ia entre o muro e as paredes de silêncio
E os cães que vigiavam o seu sono não dormiam
Viam sombras no ar, viam sombras no jardim
A lua morta, noite morta, ventania e um rosário sobre o chão
E um incêndio amarelo e provisório consumia o coração
E começou a procurar pelas fogueiras lentamente
E o seu coração já não temia as chamas do inferno
E das trevas sem fim haveria de chegar o amor.

Egberto Gismonti


Jorge Da Capadocia

Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham pés, não me alcancem
Para que meus inimigos tenham mãos, não me peguem, não me toquem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal

Armas de fogo, meu corpo não alcançará
Facas, lanças se quebrem, sem o meu corpo tocar
Cordas, correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

Jorge é de Capadócia, viva Jorge!
Jorge é de Capadócia, salve Jorge!

Perseverança, ganhou do sórdido fingimento
E disso tudo nasceu o amor
Perseverança, ganhou do sórdido fingimento
E disso tudo nasceu o amor

Ogam toca pra Ogum
Ogam toca pra Ogum
Ogam, Ogam toca pra Ogum

Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia

Ogam toca pra Ogum
Ogam toca pra Ogum

Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia

Ogam toca pra Ogum
Ogam toca pra Ogum

Jorge da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia


Jorge Ben Jor

Doralice

Doralice eu bem que lhe disse,
Amar é tolice,
É bobagem, ilusão
Eu prefiro viver tão sozinho,
Ao som do lamento do meu violão
Doralice eu bem que lhe disse,
Olha essa embrulhada,
Em que vou me meter
Agora amor, Doralice meu bem,
Como é que nós vamos fazer?
Um belo dia você me surgiu,
Eu quis fugir mas você insistiu
Alguma coisa bem que andava me avisando,
Até parece que eu estava adivinhando
Eu bem que não queria me casar contigo,
Bem que não queria enfrentar, esse perigo
Doralice
Agora você tem que me dizer,
Como é que nós vamos fazer?

Dorival Caymmi / Antônio Almeida

Viola Enluarada

A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra,
Mata o mundo, fere a terra.
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino,
Louva à morte.
Viola em noite enluarada
No sertão é como espada,
Esperança de vingança.
O mesmo pé que dança um samba
Se preciso vai à luta,
Capoeira.
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Mão, violão, canção e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade,
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando
Liberdade.
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando
Liberdade.
Liberdade, liberdade, liberdade...
Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle


Eu quero é botar meu bloco na rua

Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca
Que eu fugi da briga
Que eu cai do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa
Mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar pra dar e vender
Eu por mim queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo
Um grilo menos nisso
É disso que eu preciso
Ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval
Eu quero é botar meu bloco na rua...
Há quem diga que eu dormi de touca...
Há quem diga que eu não sei de nada...
Eu quero é botar meu bloco na rua...
Sérgio Sampaio


Na Primeira Manhã

Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma bumba-meu-boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como um boi no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão.

Alceu Valença

Leão do Norte

Sou o coração do folclore nordestino
Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá
Sou o boneco do Mestre Vitalino
Dançando uma ciranda em Itamaracá
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho
Num frevo de Capiba
Ao som da orquestra armorial
Sou Capibaribe
Num livro de João Cabral
Sou mamulengo de São Bento do Una
Vindo no baque solto de Maracatu
Eu sou um alto de Ariano Suassuna
No meio da Feira de Caruaru
Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta
Levando a flor da lira
Pra Nova Jerusalém
Sou Luis Gonzaga
E vou dando um cheiro em meu bem

Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte

Sou Macambira de Joaquim Cardoso
Banda de Pife no meio do Canavial
Na noite dos tambores silenciosos
Sou a calunga revelando o Carnaval
Sou a folia que desce lá de Olinda
O homem da meia-noite puxando esse cordão
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão
Eu sou mameluco...

Lenine e Paulo César Pinheiro

Noturno

O aço dos meus olhos
E o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silêncio
Mas deixaram suas marcas...

Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania
Vem mais forte...

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou...

Ai, Coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fogo ingênuo, da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança...

Nessa estrada
Só quem pode me seguir
Sou eu!
Sou eu! Sou eu!...

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou...

Ai, Coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fogo ingênuo, da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança...

Nessa estrada
Só quem pode me seguir
Sou eu!
Sou eu! Sou eu! Sou eu!...

Ai, Coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fôgo ingênuo, da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança...

Nessa estrada
Só quem pode me seguir
Sou eu!
Sou eu! Sou eu! Sou eu!...

Graco / Caio Sílvio


Que Maravilha

Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só prá ver o meu amor
Pois ela vem toda de branco
Toda molhada linda e despenteada, que maravilha
Que coisa linda que é o meu amor
Por entre bancários, jatomóveis, ruas e avenidas
Milhões de buzinas tocando minha harmonia sem cessar
Ela vem chegando de branco, meiga pura linda e muito tímida
Com a chuva molhando o seu corpo lindo
Que eu vou abraçar
E a gente no meio da rua do mundo
No meio da chuva, a girar, que maravilha
A girar, que maravilha
A girar

Jorge Ben Jor

Fadas

Devo de ir fadas
Inseto voa incerto sem direção
Meu bem te vi nada
ou fada borboleta ou fada canção
as ilusões fartas
na fada com varinha virei condão
rabo de pipa olho de vidro
pra suportar uma costela de Adão
um toque de sonhar sozinho
te leva em qualquer direção
de flauta remo ou moinho
de passo a passo, passo...

Luis Melodia


Rio 40 Graus

Rio 40 Graus..
Rio 40 Graus..

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos...

Capital do sangue quente
Do Brasil
Capital do sangue quente
Do melhor e do pior
Do Brasil...

Cidade sangue quente
Maravilha mutante...

O Rio é uma cidade
De cidades misturadas
O Rio é uma cidade
De cidades camufladas
Com governos misturados
Camuflados, paralelos
Sorrateiros
Ocultando comandos...

Comando de comando
Submundo oficial
Comando de comando
Submundo bandidaço
Comando de comando
Submundo classe média
Comando de comando
Submundo camelô
Comando de comando
Submáfia manicure
Comando de comando
Submáfia de boate
Comando de comando
Submundo de madame
Comando de comando
Submundo da TV
Submundo deputado
Submáfia aposentado
Submundo de papai
Submáfia da mamãe
Submundo da vovó
Submáfia criancinha
Submundo dos filhinhos...

Na cidade sangue quente
Na cidade maravilha mutante...

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos...

Rio 40 graus
Purgatório da beleza
E do caos...

Eh! Rio 40 graus...

Quem é dono desse bêco?
Quem é dono dessa rua?
De quem é esse edifício?
De quem é esse lugar?...

É meu esse lugar
Sou carioca
Pô!
(Sou carioca!)
Eu quero meu crachá
Sou carioca
Pô!...

"Canil veterinário
É assaltado liberando
Cachorrada doentia
Atropelando!
Na xuxa das esquinas
De macumba violenta
Escopeta de sainha plissada
Na xuxa das esquinas
De macumba gigantescas
Escopêta de shortinho algodão"...

Cachorrada doentia do Joá, eh!
Cachorrada doentia São Cristóvão
É Cachorrada doentia Bonsucesso
Cachorrada doentia Madureira
É Cachorrada doentia da Rocinha
É Cachorrada doentia do Estácio...

Na cidade sangue quente
Na cidade maravilha mutante...

Rio!...

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos...

Rio 40 graus
Purgatório da beleza
E do caos...

A novidade cultural
Da garotada
Favelada, suburbana
Classe média marginal
É informática metralha
Sub-uzi equipadinha
Com cartucho musical
De batucada digital...

Gatinho de disket
Marcação pagode, funk
De gatinho marcação
Do samba-lance
Com batuque digital
Na sub-uzi musical
De batucada digital
Eh!...

Meio batuque inovação
De marcação prá pagodeira
Curtição de falação
De batucada
Com cartucho sub-uzi
De batuque digital
Metralhadora musical...

De marcação invocação
Prá gritaria
De torcida da galera
Funk!
De marcação invocação
Prá gritaria
De torcida da galera
Samba!
De marcação invocação
Prá gritaria
De torcida da galera
Tiroteio!
De gatilho digital
De sub-uzi equipadinha
Com cartucho musical
De contrabando militar
Da novidade cultural
Da garotada
Favelada suburbana
De shortinho, de chinelo
Sem camisa, carregando
Sub-uzi equipadinha
Com cartucho musical
De batucada digital
Ulalá!...

Na cidade sangue quente
Na cidade maravilha mutante
Huuuummm!...

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos...

Rio 40 graus
Purgatório da beleza
E do caos...

Capital do sangue quente
Do Brasil
Capital do sangue quente
Do melhor e do pior
Do Brasil...

(O Rio de Janeiro!)
(O Rio De Janeiro!)
(Soy Loco Por Ti!)...

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos...

Rio 40 graus
Purgatório da beleza
E do caos...

Fausto Fawcett

Naquela Mesa

Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre, o que é viver melhor,
Naquela mesa ele contava estórias
Que hoje na memoria eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente e contava contente
O que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho, eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa no canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto doi a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguem mais fala no seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele
Tá doendo em mim

Sérgio Bittencourt

Minha Alma (A Paz Que Eu Nao Quero)

A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!
(Sêgo! Sêgo! Sêgo! Sêgo!)
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!
(Medo! Medo! Medo! Medo!)

As vezes eu falo com a vida,
As vezes é ela quem diz:
"Qual a paz que eu não quero conservar,
Prá tentar ser feliz?"

As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão

Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo, domingo!

Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido...
É pela paz que eu não quero seguir admitido

É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir admitido
Marcelo Yuka

Timoneiro

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar

E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
- Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar

Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar

A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz

Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho

Bem Leve

Bem leve leve, releve,
Quem pouse a pele em cima de madeira
Beira beira, quem dera, mera mera, cadeira
Mas breve breve, revele
Vele, vele quem pese, dos pés à caveira
Dali da beira uma palavra cai no chão, caixão
Dessa maneira,
Uma palavra de madeira em cada mão,
Imbuia, Cerejeira

Bem leve leve, releve,
Quem pouse a pele em cima de madeira
Beira beira, quem dera, mera mera, cadeira
Mas breve breve, revele
Vele vele quem pese dos pés à caveira

Jacarandá, Peroba, Pinho, Jatobá, Cabreúva, Garapera

Uma palavra de madeira cai no chão
Caixão, dessa maneira

Marisa Monte/Arnaldo Antunes

Toada

Fiz um verso tão bonito
Que carrego na lembrança
Nunca mais eu vi o mundo
Com meus olhos de criança

Quis prender a quem amava
A corrente se quebrou
A esperança que eu guardava
Era pouca e se acabou

Não conheço mar bravio
Que me faça retornar
Não conheço nenhum rio
Que não corra para o mar

Rio abaixo, rio acima
Meu destino dá no mar
Eu que não sou marinheiro
Eu que nem sei navegar

Edu Lobo / Cacaso

A Palo Seco

Se você vier me perguntar por ande andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos te direi, amigo eu me desesperava
Sei que assim falando pensas que este desespero é moda em 73
E eu ando um pouco descontente
desesperadamente eu falo em português
Tenho 25 anos de sonho e de sangue e de América do Sul
Mas por força do meu destino
um tango argentino me pega bem melhor que um blues
Sei que assim falando pensas que este desespero é moda em 73
Eu quero é que este canto torto, feito faca, corte a carne de vocês

Belchior


Pavão Misterioso

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...

Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse seu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda, cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo, oh!
Que não é certo não...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar...

Ednardo

Estrada do sertão

Coisa que não arrenego
nem tão pouco desapega
ter gostado de você
foi gostar desenchavido
encruado e recolhido
de ninguém se aperceber

Matutando vou na estrada
nos meus óios a passarada
faz um ninho pra você
juriti espreita triste
a jandaia não resiste
chora junto por você

Nos teus óios faz clarão
é um verde, um azulão
tiê sangue furta cor
que me dá desassossego
que me suga que nem morcego,
mangando que é beija-flor

Não me encrespe a vida assim
já me basta o que de mim essa vida caçoou
não me faz essa graçola
de me abrir essa gaiola
pra depois não me prender.

Canta firme juriti
vê se entoa uma canção
sabiá me roça aqui
bem junto do meu coração
pousa aqui meu colibri
vê se tu tem pena d´eu
quero ser teu bacuri
quero ser de vóis meçê

Quanto mais me desfeiteia,
me despreza, mais me arrasto pra você.

João Pernambuco/Hermínio Bello de Carvalho

Viagem

Oh! tristeza me desculpe,
Estou de malas prontas,
Hoje, a poesia veio ao meu encontro
Já raiou o dia, vamos viajar...

Vamos indo de carona,
Na garupa leve, de um vento macio,
Que vem caminhando,
Desde muito longe,
Lá do fim do mar...

Vamos visitar a estrela,
Da manhã raiada,
Que pensei perdida,
Pela madrugada,
Mas que vai escondida,
Querendo brincar...

Senta nessa nuvem clara
Minha poesia, anda, se prepara
traz uma cantiga
Vamos espalhando música no ar

Olha quantas aves brancas,
Minha poesia, dançam nossa valsa,
Pelo céu, que o dia,
Fez todo bordado de raios de sol...

Oh! poesia, me ajude,
Vou colher avencas, lírios, rosas, dálias,
Pelos campos verdes, que você batiza,
De jardins do céu...

Mas, pode ficar tranqüila,
Minha poesia, pois nós voltaremos,
Numa estrela guia, num clarão de lua,
Quando serenar...

Ou talvez, até quem sabe,
Nós só voltaremos, num cavalo baio,
No alazão da noite, cujo nome é raio,
Raio de luar...

João de Aquino / Paulo Cesar Pinheiro

Interiores

Sentei na pedra lisa sem musgo ou capim
O mundo inteiro tinha o cheiro do jasmim
Saí de mim, fui passear pelo sem fim
Meu pensamento viajante flutuou
No vôo elétrico, infantil, do beija flor
Por um Brasil rural., sutil pintura zen
Na tela viva, líquida, que estranha cor
Que o lago refletia desta paisagem
Ali fiquei,corpo em tensão
Mas libertei meu eu da prisão
Passei a tarde com tamanha liberdade
Que nem sei se foi verdade, fantasia, mas foi bom
O que me importa é que a porta se entreabriu
Meu coração tão oprimido reagiu
A reação num raio tênue de intuição
Bálsamo bento bem no centro da aflição
Tão de repente a certeza de que ali
A natureza percebeu que eu percebi
Juntou-se o nada, a água, a terra, o fogo e o ar
E eu consegui, por puro instinsto, despertar.

Cristóvão Bastos/Sérgio Natureza


Serra do Luar

Amor vim te buscar em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei pra te contar
Viajei, fui pra serra do luar
Eu mergulhei, ai, eu quis voar
Agora vem, vem pra terra descansar

Viver é afinar o instrumento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora, a todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro

A toda hora, a todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora, a todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
Walter Franco



Somos todos iguais nesta noite

Somos todos iguais nesta noite
Na frieza de um riso pintado
Na certeza de um sonho acabado
É o circo de novo...

Nós vivemos debaixo do pano
Entre espadas e rodas de fogo
Entre luzes e a dança das cores
Onde estão os atores..

Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Vamos dançar mais uma vez...

Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Vamos entrar mais uma vez...

Somos todos iguais nesta noite
Pelo ensaio diário de um drama
Pelo medo da chuva e da lama
É o circo de novo...

Nós vivemos debaixo do pano
Pelo truque malfeito dos magos
Pelo chicote dos domadores
E o rufar dos tambores...

Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado...
Vamos dançar mais uma vez...

Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado...
Vamos dançar mais uma vez...


O meu guri

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri

Chico Buarque


Promessas do Sol

Você me quer forte
E eu não sou forte mais
Sou o fim da raça, o velho que se foi
Chamo pela lua de prata pra me salvar
Rezo pelos deuses da mata pra me matar

Você me quer belo
E eu não sou belo mais
Me levaram tudo que um homem podia ter
Me cortaram o corpo à faca sem terminar
Me deixaram vivo, sem sangue, apodrecer

Você me quer justo
E eu não sou justo mais
Promessas de sol já não queimam meu coração
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?

Milton Nascimento e Fernando Brant


Meu Amigo, Meu Herói

Oh meu amigo, meu herói
Oh como dói saber que a ti também corrói
A dor da solidão
Oh meu amado, minha luz
Descansa tua mão cansada sobre a minha
Sobre a minha mão
A força do universo não te deixará
O lume das estrelas te alumiará
Na casa do meu coração pequeno
No quarto do meu coração menino
No canto do meu coração espero
Agasalhar-te a ilusão
Oh meu amigo, meu herói
Oh como dói
Oh como dói

Gilberto Gil

A Lua e Eu

Mais um ano se passou
E nem sequer ouvi falar seu nome, a lua e eu
Caminhando pela estrada
Eu olho em volta e só vejo pegadas
Mas não são as suas eu sei,
Eu sei, eu sei
O vento faz eu lembrar você
As folhas caem mortas como eu
Quando olho no espelho
Estou ficando velho e acabado
Procuro encontrar
não sei onde está você
Você você....
o Vento faz eu lembrar você
As folhas caem mortas como eu...
A lua e eu
Cassiano

Na Pancada do Ganzá

Eu estava em casa
Mastigando o pensamento,
Olhando pro firmamento,
Que era noite de luar.
E de repente
Uma estrela cadente,
Piscando na minha frente,
Parou pra me falar.

Ela me disse:
Meu poeta camarada,
Tome aqui, quero lhe dar
Um presente magistral.
E foi tirando
Do seu peito colossal
Um instrumento real
Que ela chamava ganzá.
Meu ganzá, meu ganzarino,
Meu ganzarino real,
Gira o mundo, treme a terra,
E eu na pancada do ganzá.
Quando eu peguei
Meu ganzá pra cantar coco
Eu pensei que tava louco,
Eu não pude acreditar,
Pois na primeira
Batida da minha mão
Meu ganzá caiu no chão
E deitou logo a falar:

Salve o coquista
Que chegou de longe agora
Você veio bem na hora
De poder me resgatar
Da solidão
Onde eu tenho vivido,
Onde têm me escondido
Para eu não me revelar.
Sou um instrumento
Pequeno, feio, chinfrim
Que trago dentro de mim
Basculho pra sacolejar,
Garrafa velha
Qualquer coisa reciclada
Dou beleza ritmada
Quando vêm me balançar.

Dou marcação
Pro samba, pro fox-trote
Pro baião, forró e xote
E o que mais venham inventar.
E o que vier,
Até som do outro mundo,
Sou primeiro sem segundo
Na arte de ritmar.

E o ganzá
Se colou na minha mão,
Apertei ele e então
Senti forte um balançar.
Fazia assim:
Tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum
Como no peito o baticum
Que tá pronto pra amar.

E fui cantando,
Fui dizendo ao ganzarino:
Te conheço de menino
Mas hoje fui te encontrar.
Ele falou:
Te conheço há bem mais tempo
Mas não vai ter contratempo
Que possa nos separar.

E disse mais:
Meu cantor, meu menestrel,
Eu conheço esses céus
Antes de Cabral chegar;
Pode ir me ver
Onde eu fui desenhado:
Pelo pré-homem datado
Lá na pedra do ingá.

Eu aprendi
Sobre ele e ele de mim,
E tem sido sempre assim
E assim sempre será,
Pois nessa vida
Quem ensina sempre aprende
E a gente mais entende
O que foi e o que virá.

Fomos cantando
O país do futebol,
D'amazônia, praia e sol
Do babau, do boi-bumbá
Do São João, da cavalhada
Do repente, da congada
Da catira e do guará

Esse país,
Feio, rico, pobre, lindo
Que eu não sei pr'onde tá indo
Mas eu sei que chega lá.
Fomos ouvir
A floresta tropical,
O sertão, o litoral
Ver a seca, a preamar.

Por isso eu digo,
Meu amigo, camarada
Se não tá fazendo nada
Por que cê não vem pra cá?
Tire a gravata
Do pescoço, solte o nó,
Abra o peito e o gogó
Eu, você e meu ganzá.

Antonio Nóbrega/Wilson Freire


Roda Morta

O triste nisso tudo é tudo isso
Quer dizer, tirando nada, só me resta o compromisso
Com os dentes cariados da alegria
Com o desgosto e a agonia da manada dos normais.

O triste em tudo isso é isso tudo
A sordidez do conteúdo desses dias maquinais
E as máquinas cavando um poço fundo entre os braçais,
eu mesmo e o mundo dos salões coloniais.

Colônias de abutres colunáveis
Gaviões bem sociáveis vomitando entre os cristais
E as cristas desses galos de brinquedo
Cuja covardia e medo dão ao sol um tom lilás.

Eu vejo um mofo verde no meu fraque
E as moscas mortas no conhaque que eu herdei dos ancestrais
E as hordas de demônios quando eu durmo
Infestando o horror noturno dos meu sonhos infernais.

Eu sei que quando acordo eu visto a cara falsa e infame
como a tara do mais vil dentre os mortais
E morro quando adentro o gabinete
Onde o sócio o e o alcaguete não me deixam nunca em paz

O triste em tudo isso é que eu sei disso
Eu vivo disso e além disso
Eu quero sempre mais e mais.
mais e mais

Sérgio Sampaio/ Sérgio Natureza

Acqua Márcia

Em todo lugar sou estrangeira
Menos na minha casa
E mesmo na minha casa
Nenhum habitante sabe
Que o gosto justo da água
É aquele daquela água
Que em minha terra se bebe

Ivan Lins e Marina Colasanti

Blues da Piedade

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Cazuza/Frejat

Tamandaré

Zé qualquer tava sem samba, sem dinheiro
Sem Maria sequer
Sem qualquer paradeiro
Quando encontrou um samba
Inútil e derradeiro
Numa inútil e derradeira
Velha nota de um cruzeiro

"Seu Marquês", "Seu" Almirante
Do semblante meio contrariado
Que fazes parado
No meio dessa nota de um cruzeiro rasgado
"Seu Marquês", "Seu" Almirante
Sei que antigamente era bem diferente
Desculpe a liberdade
E o samba sem maldade
Deste Zé qualquer
Perdão Marquês de Tamandaré
Perdão Marquês de Tamandaré

Pois é, Tamandaré
A maré não tá boa
Vai virar a canoa
E este mar não dá pé, Tamandaré
Cadê as batalhas
Cadê as medalhas
Cadê a nobreza
Cadê a marquesa, cadê
Não diga que o vento levou
Teu amor até

Pois é, Tamandaré
A maré não tá boa
Vai virar a canoa
E este mar não dá pé, Tamandaré
Meu marquês de papel
Cadê teu troféu
Cadê teu valor
Meu caro almirante
O tempo inconstante roubou

Zé qualquer tornou-se amigo do marquês
Solidário na dor
Que eu contei a vocês
Menos que queira ou mais que faça
É o fim do samba, é o fim da raça
Zé qualquer tá caducando
Desvalorizando
Como o tempo passa, passando
Virando fumaça, virando
Caindo em desgraça, caindo
Sumindo, saindo da praça
Passando, sumindo
Saindo da praça
Passando, sumindo

Chico Buarque

Diariamente

Para calar a boca: Rícino
Para lavar a roupa: Omo
Para viagem longa: Jato
Para difíceis contas: Calculadora
Para o pneu na lona: Jacaré
Para a pantalona: Nesga
Para pular a onda: Litoral
Para lápis ter ponta: apontador
Para o Pará e o Amazonas: Látex
Para parar na Pamplona: Assis
Para trazer à tona: Homem-rã
Para a melhor azeitona: Ibéria
Para o presente da noiva: Marzipã
Para adidas o conga: Nacional
Para o outono a folha: Exclusão
Para embaixo da sombra: Guarda-sol
Para todas as coisas: Dicionário
Para que fiquem prontas: Paciência
Para dormir a fronha: Madrigal
Para brincar na gangorra: Dois
Para fazer uma toca: Bobs
Para beber uma coca: Drops
Para ferver uma sopa: Graus
Para a luz lá na roça: 220 volts
Para vigias em ronda: Café
Para limpar a lousa: Apagador
Para o beijo da moça: Paladar
Para uma voz muito rouca: Hortelã
Para a cor roxa: Ataúde
Para a galocha: Verlon
Para ser moda: Melancia
Para abrir a rosa: Temporada
Para aumentar a vitrola: Sábado
Para a cama de mola: Hóspede
Para trancar bem a porta: Cadeado
Para que serve a calota: Volkswagen
Para quem não acorda: Balde
Para a letra torta: Pauta
Para parecer mais nova: Avon
Para os dias de prova: Amnésia
Para estourar pipoca: Barulho
Para quem se afoga: Isopor
Para levar na escola: Condução
Para os dias de folga: Namorado
Para o automóvel que capota: Guincho
Para fechar uma aposta: Paraninfo
Para quem se comporta: Brinde
Para a mulher que aborta: Repouso
Para saber a resposta: Vide-o-verso
Para escolher a compota: Jundiaí
Para a menina que engorda: Hipofagi
Para a comida das orcas: Krill
Para o telefone que toca
Para a água lá na poça
Para a mesa que vai ser posta
Para você o que você gosta: diariamente

Nando Reis

Rebento

Rebento
subtantivo abstrato
O ato, a criação, o seu momento
Como uma estrela nova e o seu barato
que só Deus sabe, lá no firmamento
Rebento
Tudo o que nasce é Rebento
Tudo que brota, que vinga, que medra
Rebento raro como flor na terra,
rebento farto como trigo ao vento
Outras vezes rebento simplesmente
no presente do indicativo
Como as correntes de um cão furioso,
ou as mãos de um lavrador ativo
às vezes mesmo perigosamente
como acidente em forno radioativo
Às vezes, só porque fico nervoso, rebento
às vezes, somente porque estou vivo!
Rebento, a reação imediata
a cada sensação de abatimento
Rebento, o coração dizendo: Bata!
a cada bofetão do sofrimento
Rebento, esse trovão dentro da mata
e a imensidão do som nesse momento

Gilberto Gil

Avenida São João

Da janela do último andar
A cidade se suicida
É difícil nãos se jogar
É tão fácil acabar com a vida

Fim de tarde Avenida São João
Na cidade a natureza é meio morta
A saudade é o luar do sertão
É o Catulo da Paixão cantando moda
Noites morenas moça da roça
Verdes veredas Guimarães Rosa

Vento deu lá no buriti
Urubu arribou no ar
Meu amor se esqueceu
Que me prometeu
Que a gente ía se casar

E não tá fácil de ser feliz
Mas meu lado simples de ser
Diz que a gente é que é besta
E não pega a deixa
E não deixa acontecer

Fim de tarde Avenida São João
Na cidade a natureza é meio morta
A saudade é o luar do sertão
É o Catulo da Paixão cantando moda
Noites morenas moça da roça
Verdes veredas Guimarães Rosa

Se o assunto é viver "seu moço"
Viver sim é que é perigoso
É que o gozo tem preço
O certo é o avesso
E o medo não larga o osso

E não tá fácil de ser feliz
Mas meu lado simples de ser
Diz que a gente é que é besta
E não pega a deixa
E não deixa acontecer

Fim de tarde Avenida São João
Na cidade a natureza é meio morta
A saudade é o luar do sertão
É o Catulo da Paixão cantando moda
Noites morenas moça da roça
Verdes veredas Guimarães Rosa

Jean Garfunkel/ Paulo Garfunkel

Formicida, Corda e Flor

Uma banda de gillette
Suco de maracujá
Uma caixa de chicletes
Lençol branco no sofá
Bandeirolas na janela
Uma caixa de hidrocor
Sopa amarga na panela
Formicida, corda e flor
Vou trancar o apartamento
Se chamarem não estou
Vou botar o sofrimento
Num desenho de terror
Vou bolar um bom cenário
Pro meu ato derradeiro
Vou mandar o meu diário
Para o meu amor primeiro
Vou morrer de amor perdido
Parto desta pra melhor
Ando tão desiludido
Ando mesmo na pior
Tenho tudo quanto quero
Formicida, corda e flor
E o meu último bolero
Pra chorar a minha dor
Vou morrer de amor perdido
Parto desta pra melhor
Ando tão desiludido
Ando mesmo na pior
Tenho tudo quanto quero
Formicida, corda e flor
E o meu último bolero
Pra chorar a minha dor

Rosa Passos / Fernando de Oliveira


O Romance de Riobaldo e Diadorim

Quando eu vi aqueles olhos,
Verdes como nenhum pasto,
Cortantes palhas de cana,
De lembrá-los não me gasto.
Desejei não fossem embora,
E deles nunca me afasto.

Vivemos a desventura
De um mal de amor oculto,
Que cresceu dentro de nós
Como sombra, feito um vulto.
Que não conheceu afago,
Só guerra, fogo e insulto.

Na noite-grande-fatal,
O meu amor encantou-se.
Desnudo corpo inteiro
Desencantado mostrou-se.
E o que era um segredo,
Sem mais nada revelou-se.

Sob as roupas de jagunço,
Corpo de mulher eu via.
A deus, já dada, sem vida,
O vau da minha alegria.
Diadorim, diadorim...
Minha incontida sangria.

Antonio Nóbrega/Wilson Freire

Uma Palavra

Palavra prima
Uma palavra só, a crua palavra
Que quer dizer
Tudo
Anterior ao entendimento, palavra

Palavra viva
Palavra com temperatura, palavra
Que se produz
Muda
Feita de lua mais que de vento, palavra

Palavra dócil
Palavra d'agua pra qualquer moldura
Que se acomoda em baldo, em verso, em mágoa
Qualquer feição de se manter palavra

Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra

Talvez à noite
Quase-palavra que um de nós murmura
Que ela mistura as letras que eu invento
Outras pronúncias do prazer, palavra

Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra


O Primeiro Jornal

Quero cantar pra você
Segunda-feira de manhã
Pelo seu rádio de pilha tão docemente
E te ajudar a encarar esse dia mais facilmente

Quero juntar minha voz matinal
Aos restos dos sons noturnos
E aos cheiros domingueiros que ainda boiam
Na casa e em você
Para que junto com o café e o pão se dê
O milagre de ouvir latir o coração
Ou quem sabe algum projeto, uma lembrança
Uma saudade à toa
Venha nascendo com o dia numa boa
E estar com você na primeira brasa do cigarro
No primeiro jorro da torneira
Nos primeiros aprontos de um guerreiro de manhã
Para que saias com alguma alegria bem normal
Que dure pelo menos até você comprar e ler
O primeiro jornal

Sueli Costa e Abel Silva


Sentimental Eu Fico

Sentimental eu fico
Quando pouso na mesa de um bar
Eu sou um lobo cansado carente
De cerveja e velhos amigos
Na costura da minha vida
Mais um ponto
No arremate do sorriso mais um nó
Aqui pra nós cantar não tá pra peixe
Tem coisa transformando a água em pó
E apesar de estar no bar caçando amores
Eu nego tudo e invento explicações
Amigo velho amar não me compete
Eu quero é destilar as emoções
Sentimental eu fico . . .
E os projetos todos tolos combinados
Perecerão nas margens da manhã
Uma tontura solta na cabeça
Um olho em Deus e outro com satã
E quando o sol raiar desentendido
Eu vou ferir a vista no amanhã
E olharei para quem vai pro trabalho
Com os olhos feito os olhos de uma rã.
Renato Teixeira


Canto Latino

Você que é tão avoada
Pousou em meu coração
Moça, escuta esta toada
Cantada em sua intenção
Nasci com a minha morte
Dela não vou abrir mão
Não quero o azar da sorte
Nem da morte ser irmão
Da sombra eu tiro o meu sol
E de fio da canção
Amarro essa certeza
De saber que cada passo
Não é fuga nem defesa
Não é ferrugem no aço
É uma outra beleza
Feita de talho e de corte
E a dor que agora traz
Aponta de ponta o norte
Crava no chão a paz
Sem a qual o fraco é forte
E a calmaria é engano
Pra viver nesse chão duro
Tem de dar fora o fulano
Apodrecer o maduro
Pois esse canto latino
Canto pra americano
E se morre vai menino
Montando na fome ufano
Teus poucos anos de vida
Valem mais do que cem anos
Quando a morte é vivida
E o corpo vira semente
De outra vida aguerrida
Que morre mais lá na frente
Da cor de ferro ou de escuro
Ou de verde ou de maduro
A primavera que espero
Por ti, irmão e hermano
Só brota em ponta de cano
Em brilho de punhal ruço
Brota em guerra e maravilha
Na hora, dia e futuro

Milton Nascimento/Ruy Guerra

História Antiga

Na varanda da sacada
Clareando a noite nua
O olhar da minha amada
Refletia a luz da lua
E na noite enluarada
Não se ouvia quase nada
Só meu violão na rua

Pela sombra da ramada
No portão da moradia
O olhar da minha amada
Docemente reluzia
E com voz apaixonada
Eu cantava ao pé da escada
Uma triste melodia

Quando vinha a madrugada
No soprar de um vento frio
O olhar da minha amada
Retornava ao casario
E eu seguia a caminhada
Mas deixava pela estrada
O meu resto de assovio

Hoje a lua na calçada
É só uma velha amiga
O olhar da minha amada
Já virou história antiga
Muita vida foi passada
Mas em noite enluarada
Inda lembro da cantiga

Dori Caymmi/Paulo César Pinheiro

A noite

A noite tem bordado
Nas toalhas dos bares
Corações arpoados
Corações torturados
Corações de ressaca
Corações desabrigados demais

A noite tem falado
Nas cadeiras dos bares
De paixões afogadas
De paixões recusadas
De paixões descabidas
De paixões envelhecidas demais


A noite traz no rosto sinais
De quem tem chorado demais

A noite tem deixado
Seus rancores gravados
À faca e canivete
À lápis e gilette
Por dentro das pessoas
Por dentro dos toilettes e mais
Por dentro de mim

Ivan Lins/ Vítor Martins


O Homem Velho

O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais

A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock'n'roll
As coisas migram e ele serve de farol

A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fulgaz
Do sexo das meninas

Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom

Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal

Caetano Veloso


Noite de Paz

Dá-me, Senhor
Uma noite sem pensar
Dá-me Senhor
Uma noite bem comum
Uma só noite em que eu possa descansar
Sem esperança e sem sonho nenhum
Por uma só noite assim posso trocar
O que eu tiver de mais puro e mais sincero
Uma só noite de paz pra não lembrar
Que eu não devia esperar e ainda espero.

Dolores Duran


Malandragem

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
Esperando o ônibus da escola sozinha
Cansada com minhas meias três-quartos
Rezando baixo pelos cantos
Por ser uma menina má
Quem sabe o príncipe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar

Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança e não conheço a verdade
Eu sou poeta e não aprendi a amar

Bobeira é não viver a realidade
E eu ainda tenho uma tarde inteira
Eu ando nas ruas, eu troco um cheque
Muda uma planta de lugar
Dirijo meu carro
Tomo o meu pileque
E ainda tenho tempo pra cantar

Cazuza/Frejat

Flora

Imagino-te já idosa
Frondosa toda a folhagem
Multiplicada a ramagem
De agora

Tendo tudo transcorrido
Flores e frutos da imagem
Com que faço essa viagem
Pelo reino do teu nome
Ó, Flora

Imagino-te jaqueira
Postada à beira da estrada
Velha, forte, farta, bela
Senhora

Pelo chão, muitos caroços
Como que restos dos nossos
Próprios sonhos devorados
Pelo pássaro da aurora
Ó, Flora

Imagino-te futura
Ainda mais linda, madura
Pura no sabor de amor e
De amora

Toda aquela luz acesa
Na doçura e na beleza
Terei sono, com certeza
Debaixo da tua sombra
Ó, Flora

Gilberto Gil

Eu Sei Que Vou te Amar

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Tom Jobim / Vinícius de Moraes

Se Eu Quiser Falar Com Deus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
Gilberto Gil


Lunário Perpétuo

Meu lunário tem antigas
Alquimias de almanaque.
Já enfrentou intempéries,
Roubos, incêndios e saques:
Dos homens, das traças, das garras das eras.
Carrega segredos, decifra quimeras,
Venceu todos os ataques

O meu lunário perpétuo
Sob o sol é luzidio.
Meu lunário foi forjado
Num fogo de desafio,
Que vibra, esquenta, atiça, aperreia,
Faísca, enlouquece, que pega na veia.
Pelos séculos a fio.

O meu lunário perpétuo
Guarda as vozes seculares
Do profeta de Canudos
E do mártir dos Palmares,
Sonhando com o reino do espírito santo
Na terra, no céu, em todo recanto.
Nos terreiros e altares.

O meu lunário perpétuo
É meu livro precioso,
Minha cartilha primeira,
Minha bíblia de trancoso.
João grilo, chico, malazartes, mateus,
Os órfãos da terra, os filhos de deus,
Heróis do maravilhoso.

Meu lunário é a memória
De um país que vai passando
Diante dos nossos olhos,
Rindo, mexendo, cantando.
Mestiço, latino, caboclo, nativo.
É velho, é criança, morreu e tá vivo...
Presente, mas até quando?

Meu lunário é conselheiro,
Meu folheto, é meu missal,
Atravessando os milênios,
Cada ponto cardeal.
De norte a sul, de pai para filho,
De lá para cá, meu livrinho andarilho,
Fabuloso romançal.

Antonio Nóbrega/ Wilson Freire/ Bráulio Tavares

Fortaleza

A minha tristeza não é feita de angústias
A minha tristeza não é feita de angústias
A minha surpresa
A minha surpresa é só feita de fatos
De sangue nos olhos e lama nos sapatos
Minha fortaleza
Minha fortaleza é de um silêncio infame
Bastando a si mesma, retendo o derrame
A minha represa

Chico Buarque/ Ruy Guerra

Labiata

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
A sombra uma paisagem
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra ao meu favor
Às vezes eu pressinto
E é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussura em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa...

Lenine

Conversando no bar

Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira
E o motorneiro parava a orquestra um minuto
Para me contar casos da campanha da Itália
E de um tiro que ele não levou, levei um susto imenso
Nas asas da Pan Air
Descobri que as coisas mudam e que o mundo é pequeno
Nas asas da Pan Air
E lá vai menino xingando padre e pedra
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo fruto
Sem nenhum pecado, sem pavor
O medo em minha vida nasceu muito depois
Descobri que a minha arma é o que a memória guarda
Dos tempos da Pan Air
Nada existe que não se esqueça, alguém insiste e fala ao coração
Tudo de triste existe que não se esquece, alguém insiste e fere o coração
Nada de novo existe neste planeta que não se fale aqui na mesa de bar
E aquela briga e aquela fome de bola
E aquele tango e aquela dama da noite
E aquela mancha e a fala oculta
Que no fundo do quintal morreu, morri a cada dia dos dias que vivi
Cerveja que tomo hoje é apenas em memória dos tempos da Pan Air
A primeira Coca-Cola foi, me lembro bem agora, nas asas da Pan Air
A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo nas asas da Pan Air
Em volta dessa mesa velhos e moços lembrando o que já foi
Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual
Em volta dessas mesas existe a rua vivendo o seu normal
Em volta dessa rua uma cidade sonhando seus metais
Em volta da cidade...

Milton Nascimento/Fernando Brandt


Chão de Giz

Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde!
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes...

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom...

Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Prá sempre fui acorrentada
No seu calcanhar
Meus vinte anos de "boy"
That's over, baby!
Freud explica...

Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular...

No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais!...
Zé Ramalho


Bonito

Podia ser um fox-trot
Até mesmo mais um rock
Até porque nunca pintou de minha parte
O preconceito, o despeito
O disparate, a intolerância
Quero distância
De quem pensa assim de mim

Eu quero todo o meu direito
E o que preciso
Pois simplesmente não resisto ao bonito
Quero o sorriso da Yara e suas rosas
Correndo as mesas
Pelas noites da cidade
Tão maravilhosa

Não é saudade
Nem por falta de caminho
Querer a flauta
O violão e o cavaquinho
Caminho a gente faz
Saudade a gente mata
Ou então descarta
Suporta
E fim

Sou mais Portela
Com a cabeça do Paulinho
Sou mais Elis
Ainda que depois da porta
Sou mais Aldir e o bom Bosco
Para sempre, para sempre
O Nazaré, o Radamés e o Jobim
Sou mais a noite
Com a Leny e o Luis Eça
Depois um chopp geladinho
E pouca pressa

Não é saudade
Nem por falta de caminho
Querer a flauta
O violão e o cavaquinho
Caminho a gente faz
Saudade a gente mata
Ou então descarta
Suporta
E fim

Sou mais Portela
Com a cabeça do Paulinho
Sou mais Elis
Ainda que depois da porta
Sou mais Aldir e o bom Bosco
Para sempre, para sempre
O Nazaré, o Radamés e o Jobim
Sou mais a noite
Com a Leny e o Luis Eça
Depois um chopp geladinho
E pouca pressa

Ivan Lins/ Vitor Martins


Comida

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...

Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto


Altos e baixos

Foi, quem sabe, esse disco
Esse risco de sombra em teus cílios
Foi ou não meu poema no chão
Ou talvez nossos filhos
As sandálias de saltos tão altos
O relógio batendo, o sol posto, o relógio
As sandálias, e eu bantendo em teu rosto
E a queda dos saltos tão altos
Sobre os nossos filhos
Com um raio de sangue no chão
Do risco em teus cílios
Foram discos demais, desculpas demais
Já vão tarde essas tardes e mais tuas aulas
Meu táxi, whisky, Dietil, Diempax
Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos
O amor quando traz tanta vida
Que até pra morrer leva tempo demais...

Sueli Costa/Aldir Blanc

Assum Branco

Quando ouvi o teu cantar
Me lembrei nem sei do quê
Me senti tão só
Tão feliz tão só
Só e junto de você

Pois o só do meu sofrer
Bateu asas e voou
Para um lugar
Onde o teu cantar
Foi levando e me levou

E onde a graça de viver
Como a chuva no sertão
Fez que onde for
Lá se encontre a flor
Que só há no coração

Que só há no bem-querer
E na negra escuridão
Assum preto foi
Asa branca dói
Muito além da solidão

José Miguel Wisnik

Diamante Verdadeiro

Nesse universo todo de brilhos e bolhas
Muitos beijinhos, muitas rolhas
Disparadas nos pescoços das Chandon
Não cabe um terço de meu berço de menino
Você se chama grã-fino e eu afino
Tanto quanto desafino do seu tom
Pois francamente meu amor
Meu ambiente é o que se instaura de repente
Onde quer que chegue, só por eu chegar
Como pessoa soberana nesse mundo
Eu vou fundo na existência
E para nossa convivência
Você também tem que saber se inventar
Pois todo toque do que você faz e diz
Só faz fazer de Nova Iorque algo assim como Paris
Enquanto eu invento e desinvento moda
Minha roupa, minha roda
Brinco entre o que deve e o que não deve ser
E pulo sobre as bolhas da champanhe que você bebe
E bailo pelo alto de sua montanha de neve
Eu sou primeiro, eu sou mais leve, eu sou mais eu
Do mesmo modo como é verdadeiro
O diamante que você me deu.

Caetano Veloso

Ana de Amsterdam

Sou Ana do dique e das docas
Da compra, da venda, das trocas de pernas
Dos braços, das bocas, do lixo, dos bichos, das fichas
Sou Ana das loucas
Até amanhã
Sou Ana
Da cama, da cana, fulana, sacana
Sou Ana de Amsterdam

Eu cruzei um oceano
Na esperança de casar
Fiz mil bocas pra Solano
Fui beijada por Gaspar

Sou Ana de cabo a tenente
Sou Ana de toda patente, das Índias
Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada
Sou Ana, obrigada
Até amanhã, sou Ana
Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos
Sou Ana de Amsterdam

Arrisquei muita braçada
Na esperança de outro mar
Hoje sou carta marcada
Hoje sou jogo de azar

Sou Ana de vinte minutos
Sou Ana da brasa dos brutos na coxa
Que apaga charutos
Sou Ana dos dentes rangendo
E dos olhos enxutos
Até amanhã, sou Ana
Das marcas, das macas, da vacas, das pratas
Sou Ana de Amsterdam

Chico Buarque/Ruy Guerra

Ouro de Tolo

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...

Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa...

Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...

Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...

Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...

É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...

E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...

Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...

Raul Seixas

Mais Simples

É sobre-humano amar
'cê sabe muito bem
É sobre-humano amar sentir doer
Gozar
Ser feliz
Vê que sou eu quem te diz
Não fique triste assim
É soberano e está em ti querer até
Muito mais

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples

Mas deixa tudo e me chama
Eu gosto de te ter
Como se já não fosse a coisa mais
Humana
Esquecer
É sobre-humano viver
E como não seria?
Sinto que fiz esta canção em parceria
Com você

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples

José Miguel Wisnik

Roda Viva

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...

No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
Chico Buarque


Asa Branca

Quando oiei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Quando o verde dos teus óio
Se espanhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Luiz Gonzaga /Humberto Teixeira

Cajuína

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

Caetano Veloso


Segundo Sol

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar
As órbitas dos planetas
Derrubando com
O assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa...

Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão
Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação...

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar
As órbitas dos planetas
Derrubando com
O assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa...

Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão
Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão
Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação...

Explicação, não tem
Não tem Explicação...

Explicação, não tem
Sem Explicação!...

Explicação, não tem
Explicação!
Não tem, não tem!

Nando Reis

Sentado À Beira Do Caminho

Eu não posso mais ficar aqui a esperar
Que um dia de repente você volte para mim
Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim
Estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim

Meu olhar se perde na poeira desta estrada triste
Onde a tristeza e a saudade de você ainda existe
Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança
De ao menos ver de perto seu olhar que eu trago na lembrança

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo ....

Vem a chuva molha o meu rosto e então eu choro tanto
Minhas lágrimas e os pingos dessa chuva se confundem com meu pranto
Olho pra mim mesmo, me procuro e não encontro nada
Sou um pobre resto de esperança na beira de uma estrada

Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo tudo se confunde em minha mente
Minha sombra me acompanha e vê que eu estou morrendo lentamente
Só você não vê que eu não posso mais ficar aqui sozinho
Esperando a vida inteira por você sentado à beira de um caminho

Roberto Carlos/Erasmo Carlos


Cada Tempo Em Seu Lugar

Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar
Não vou mudar um mundo louco dando socos para o ar
Não posso me esquecer que a pressa
É a inimiga da perfeição
Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos
Aprendi a ser o último a sair do avião

Preciso me livrar do ofício de ter que ser sempre bom
Bondade pode ser um vício, levar a lugar nenhum
Não posso me esquecer que o açoite
Também foi usado por Jesus
Se eu ando o tempo todo aflito, ao menos
Aprendi a dar meu grito e a carregar a minha cruz

Cada coisa em seu lugar
A bondade, quando for bom ser bom
A justiça, quando for melhor
O perdão:
Se for preciso perdoar

Agora deve estar chegando a hora de ir descansar
Um velho sábio na Bahia recomendou: "Devagar"
Não posso me esquecer que um dia
Houve em que eu nem estava aqui
Se eu ando por aí correndo, ao menos
Eu vou aprendendo o jeito de não ter mais aonde ir

Cada tempo em seu lugar
A velocidade, quando for bom
A saudade, quando for melhor
Solidão:
Quando a desilusão chegar

Gilberto Gil

Mãos de Afeto

Preparei minhas mãos de afeto
Pra esse rapaz encantado
Pra esse rapaz namorado.
O mais belo capataz de todos
Os cafezais
O mais belo vaqueiro de todos
Os cerrados
O mais belo vaqueiro de todos
Os cerrados

Eu tinha um ombro de algodão
Pra ajeitar seu sono
Eu tinha uma água morna
Pra lavar o seu suor
E o meu corpo uma fogueira
Pra esquentar seu frio
E minha barriga livre
Pra gerar seu filho

Preparei minhas mãos de afeto
Pra esse rapaz encantado
Pra esse rapaz namorado
Que partiu pra nunca mais
Traído nos cafezais
E os seus olhos roubaram
O verde dos cerrados
E os meus olhos lavaram todos
Os meus pecados

Ivan Lins/Vitor Martins


Luar do Sertão

Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há,ó gente,ó não
Luar como esse do sertão

Oh!que saudade do luar da minha terra
Lá na terra branquejando folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
E a gente pega na viola que ponteia
E a canção e a lua cheia a nos nascer do coração

Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Mas como é lindo ver depois por entre o mato
Deslizar calmo regato,tranparente como um véu
No leito azul das suas águas murmurando
E por sua vez, roubando as estrelas lá do céu

Não há, ó gente, ó não,
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Catulo da Paixão Cearense / João Pernambuco


Romaria

É de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó, de gibeira o jiló,
Dessa vida cumprida a sol

Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão, minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
Em busca de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
Me disseram porém que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Renato Teixeira


Voz e Suor

Guarda de mim
O que for o melhor
Os meus sonhos, os delírios
A voz e o suor
Pois sempre na vida
Chega o momento em que
Se desatam os nós
É a vida que afasta
Apaga ou faz brilhar
A chama no peito dos homens
Mas nunca a minha garganta
Dirá meu amor
Nunca mais
Mas nunca a minha garganta
Dirá meu amor
Nunca mais

Esqueça o que for
Pequenino e vulgar
Aquela palavra
Ferina e mordaz
Esqueça o gesto da hora infeliz
O meu coração sempre soube
O que quis
Mas nunca a minha garganta
Dirá meus amor
Nunca mais
Mas nunca a minha garganta
Dirá meu amor
Nunca mais

Sueli Costa/Abel Silva

Língua

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.

Caetano Veloso

Morro Dois Irmãos

Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada
E a teus pés vão-se encostar os intrumentos
Aprendi a respeitar tua prumada
E desconfiar do teu silêncio

Penso ouvir a pulsação atravessada
Do que foi e o que será noutra existência
É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos

É assim como se o ritmo do nada
Fosse, sim, todos os ritmos por dentro
Ou, então, como um música parada
Sobre um montanha em movimento

Chico Buarque

O Dia Em Que Faremos Contato

A nave quando desceu, desceu no morro
Ficou da meia-noite ao meio-dia
Saiu, deixou uma gente
Tão igual e diferente
Falava e todo mundo entendia

Os homens se perguntaram
Por que não desembarcaram
em São Paulo, em Brasilia ou Natal?
Vieram pedir socorro
Pois quem mora lá no morro
Vive perto do espaço sideral

Pois em toda via láctea
Não existe um só planeta
Igual a esse daqui
A galáxia tá em guerra
Paz so existe na terra
A paz começou aqui

Sete Artes e dez mandamentos
Só tem aqui
Cinco sentidos, terra, mar, firmamento
Só tem aqui
Essa coisa de riso e de festa
Só tem aqui
Baticum, ziriguidum, dois mil e um
Só tem aqui

A nave estremeceu, subiu de novo
Deixou um rastro de luz do meio-dia
Entrou de volta nas trevas Foi buscar futuras levas
Pra conhecer o amor e a alegria

A nave quando desceu, desceu no morro
Cheia de ET vestido de Orixá
Vieram pedir socorro
E se deram vez ao morro
Todo o universo vai sambar...

Lenine / Bráulio Tavares


A Bela e a Fera

Ouve a declaração, oh bela
De um sonhador titã
Um que dá nó em paralela
E almoça rolimã
O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta

Não brilharia a estrela, oh bela
Sem noite por detrás
Tua beleza de gazela
Sob o meu corpo é mais
Uma centelha num graveto
Queima canaviais
Queima canaviais
Quase que eu fiz um soneto

Mais que na lua ou no cometa
Ou na constelação
O sangue impresso na gazeta
Tem mais inspiração
No bucho do analfabeto
Letras de macarrão
Letras de macarrão
Fazem poema concreto

Oh bela, gera a primavera
Aciona o teu condão
Oh bela, faz da besta fera
Um príncipe cristão
Recebe o teu poeta, oh bela
Abre teu coração
Abre teu coração
Ou eu arrombo a janela

Chico Buarque/Edu Lobo


Outras Palavras

Nada dessa cica de palavra triste em mim na boca
Travo, trava mãe e papai, alma buena, dicha louca
Neca desse sono de nunca jamais nem never more
Sim, dizer que sim pra Cilu, pra Dedé, pra Dadi e Dó
Crista do desejo o destino deslinda-se em beleza:
Outras palavras

Tudo seu azul, tudo céu, tudo azul e furta-cor
Tudo meu amor, tudo mel, tudo amor e ouro e sol
Na televisão, na palavra, no átimo, no chão
Quero essa mulher solamente pra mim, mais, muito mais
Rima, pra que faz tanto, mas tudo dor, amor e gozo:
Outras palavras

Nem vem que não tem, vem que tem coração, tamanho trem
Como na palavra, palavra, a palavra estou em mim
E fora de mim
quando você parece que não dá
Você diz que diz em silêncio o que eu não desejo ouvir
Tem me feito muito infeliz mas agora minha filha:
Outras palavras

Quase João, Gil, Ben, muito bem mas barroco como eu
Cérebro, máquina, palavras, sentidos, corações
Hiperestesia, Buarque, voilá, tu sais de cor
Tinjo-me romântico mas sou vadio computador
Só que sofri tanto que grita porém daqui pra a frente:
Outras palavras

Parafins, gatins, alphaluz, sexonhei da guerrapaz
Ouraxé, palávoras, driz, okê, cris, espacial
Projeitinho, imanso, ciumortevida, vivavid
Lambetelho, frúturo, orgasmaravalha-me Logun
Homenina nel paraís de felicidadania:
Outras palavras

Caetano Veloso

E termino por aqui minha pequena antologia de letras/poemas, pedindo desculpas pelas milhares de omissões que devo estar cometendo.O leitor que sentir falta de um poema da música popular que não tenha aqui sido incluído, não deixe de colocá-lo na parte de comentários. Será muito bem vindo. Os que discordarem de algo que aqui foi incluído, no todo ou em parte, estejam também à vontade para se manifestarem.

Nelson Rodrigues de Souza